Lenda: JURUVA
SALVOU O FOGO
De repente, o fogo se apagou nos
quatro cantos da Terra. Não se sabia por que, mas apagou. Antes disso
acontecer, havia fogueiras espalhadas pelo mundo: fogueiras grandes que
serviam às tribos para se comunicarem umas com as outras;
fogueiras menores, para os índios se aquecerem nas noites de friagem;
fogueiras pequenas, para cozinhar os alimentos; e até fogueirinhas, acesas
de brincadeira, pelas crianças.
De repente, sem nenhuma razão, as
fogueiras se apagaram.
Nunca
os índios souberam por quê. Nunca se soube por que as fogueiras se
apagaram ao mesmo tempo. As fogueiras e os braseiros apagaram-se!
Somente
num lugar distante, longe, muito longe, havia uma última brasinha acessa,
prestes a extinguir-se. Quem poderia ir buscá-la tão depressa como era
necessário?
Alguém
deveria chegar a tempo de salvar aquela última centelha, antes do fogo
apagar-se para sempre.
Os
índios Parecis reuniram-se e chamaram os animais da floresta, para ajudarem a
trazer a última brasa. Todos se recusaram. Uns diziam que não dava tempo;
outros alegavam que se queimariam; outros nem responderam, partiram sem dar
explicações.
Os
índios Parecis, então, chamaram os pássaros da floresta para ajudá-los. Perguntaram
qual dentre eles iria buscar a última brasa que se apagava num lugar distante.
Juruva
não se fez rogar. Ofereceu-se logo para trazer a última brasa que restava acesa
na terra. Não havia tempo a perder, e o pássaro partiu ligeiro como seta de
zarabatana.
Voou.
Voou. Voou... Por fim, chegou àquele lugar, longe, muito longe, que ninguém
sabia onde ficava.
Revolveu
o borralho, e tirou das cinzas aquela última brasinha. E, agora, como a
levaria? Não tinha mãos.
Tomou-a
no bico, mas logo sentiu o ardor de queimadura. Virou daqui, virou dali,
saltitando, mas nada de achar um jeito de segurar a brasa. De repente, teve uma
ideia. Apanhou a brasinha entre as duas penas compridas da cauda, e
voltou, voando depressa ao encontro dos Pareci.
Ao
chegar, entregou a preciosa brasa quase apagada. Os índios receberam-na com
muito cuidado. Colocaram-na entre ervas delicadas, musgos e palhinhas secas,
uma espécie de ninho preparado para receber aquele tesouro.
A
tribo reuniu-se ao redor, e todos começaram a soprar a brasinha, que aos poucos
parecia reanimar-se. De repente, apareceu uma chama minúscula, um quase nada,
uma esperançazinha...
Foi
o bastante para os índios se alegrarem. Todos sopraram com mais força.
Entregou-se uma língua de fogo; a seguir outra, e mais outra ... o fogo estava
salvo!
Os
Parecis atiraram flechas secas e gravetos, até subirem altas labaredas
vermelhas, com fulgores azulados. Agora, era preciso alimentar o fogo.
Primeiro, trouxeram galhos pequenos; depois, maiores e, por fim, grandes toros
de madeira seca. A fogueira ardia. Pipocavam faíscas de ouro como se o próprio
ar se incendiasse.
Era
quase noite quando a dança começou.
Primeiro,
o bastão de ritmo golpeou o chão. Depois, os pés golpearam o chão num
baticum formidável.
O
fogo roncava, bravo como um jaguar. Lampejos de ouro dançavam na folhagem. A
floresta estremecia ao som dos cantos e das danças rituais.
Encarapitado numa árvore, Juruva via o
fogo subir em labaredas, que punham clarões no céu, e reflexos metálicos em sua
plumagem colorida. Olhou para a própria cauda. Antes, era tão bonita, e
agora apresentava duas falhas bem no lugarzinho em que a brasa queimara!
Ficaria com aquela falha para sempre!
“Não
logo” – disse consigo mesmo. “Todos vão saber que salvei o fogo, para
entregá-lo aos índios Parecis.”
Antonieta Dias de
Morais (org.). Contos e lendas de índios no
Brasil: para crianças. São Paulo, Nacional.
Entendendo a lenda:
01 – Qual é o problema que a
história apresenta e que tenta resolver?
A falta do fogo
nas aldeias.
02 – O que os índios deixaram de fazer sem o fogo?
Deixaram de comunicar com outras tribos,
aquecer nas noites frias, cozinhar os alimentos, etc.
03 – Quem era Juruva?
Era
um pássaro.
04 – A quem os índios
Parecis chamou primeiro para poder buscar a última brasa?
Chamou os animais, e nenhum aceitou ir buscar a brasa.
05 – Quando eles chamaram os pássaros, quem aceitou ir
buscar?
Foi
o Juruva.
06 – Observe o trecho: “Voou. Voou. Voou ...”
Por que você acha que o autor repetiu a
palavra voou?
Porque era longe a distância. E foi um
meio de mostrar o tamanho da distância.
07 – Observe mais esse trecho:
“Ergueu-se uma língua de fogo; a seguir
outra, e mais outra... O fogo estava salvo!”
a) Qual
o significado das reticências no trecho acima?
Significa que tem
mais algumas palavras (frase) escrita.
b) Agora
explique por que foi utilizado o ponto de exclamação.
Foi utilizado como
uma afirmativa.
c) Se você tivesse que reescrever
essa frase: “O fogo estava salvo!”,
que palavras do quadro abaixo acrescentaria para dar mais emoção ainda ao
trecho?
Ufa! – Ih! – Credo! – Oh! – Ai! – Tomara!
Resposta pessoal do aluno.
08 – Como o Juruva conseguiu
trazer a brasinha para os Índios Parecis?
Trouxe entre as duas penas compridas da sua calda.
09 – Em que lugar foi colocado a brasinha pelos índios?
Colocaram-na entre ervas delicadas, musgos e palhinhas secas.
10 – De que maneira eles
conseguiram fazer da brasinha, uma enorme fogueira?
Todos começaram a
assoprar a brasinha, logo pareceu reanimar-se. Então eles sopraram cada vez
mais.
11 – Após acender a
brasinha, eles precisavam alimentar o fogo, o que eles fizeram?
Primeiro
trouxeram galhos pequenos, depois maiores e por fim grandes toras de madeira
seca.
12 – De acordo com o texto,
qual foi o pensamento do Juruva?
“Todos vão saber que salvei o fogo, para
entrega-lo aos Índios Parecis.”
13 – Quem é o autor do texto
“Juruva salvou o fogo”?
Antonieta Dias de
Morais.
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