CONTO: Rosas
na cabeceira
Marina Colasanti
Mulher de cadeiras largas, sem esforço
pariu o primeiro filho na cama que havia sido da sua família. Oferecia-lhe o
peito ainda deitada, quando a vizinha veio visitá-la. Debruçou-se elogiando o
pequeno, entregou à mãe a laranja que havia trazido, e cedo despediu-se. Mas
ainda na porta voltou-se, olhou a cama.
– Leito de vida, leito de morte – disse sem
alegria.
E se foi.
Era uma bela cama, de madeira lustrada por
longo tempo e muitas mãos. Havia acolhido sua mãe, e a mãe de sua mãe. Mas a
partir daquele dia a mulher não conseguiu deitar-se nela. Sem lembrar as
palavras da vizinha. Pesadelos infiltravam-se em seus sonhos.
Esperou a vinda do mascate. Na tarde em que
finalmente ouviu sua cantilena ecoando entre as casas, correu à rua e
ofereceu-lhe a cama.
– Não estou interessado em móveis – respondeu
o mascate, que sabia tirar vantagem do desejo alheio. – Nem tenho serventia
para esse.
E
como a mulher insistisse:
– Se é para lhe fazer um favor, levo. Mas só
posso pagar quatro moedas.
A mulher alisou mais uma vez as rosas
entalhadas na cabeceira. Depois entregou a cama em troca das quatro moedas, e a
viu afastar-se na carroça do mascate.
Quatro moedas
de pouco lhe serviam. Aquelas pareciam queimar na palma da mão. A mulher foi
até o fundo do quintal, cavou um buraco na terra escura, e enterrou as moedas.
Passadas
algumas semanas, como saber, entre tantas plantas, que uma muda despontava no
lugar da terra mexida?
E a mulher
teve outros filhos e seus filhos cresceram. E um dia sentiu uma tonteira,
pensou que o sol estava escurecendo antes da hora, apoiou-se na parede. A
mulher havia adoecido.
Deitou-se
naquele dia em sua cama estreita. No dia seguinte, começou a definhar.
Definhou,
definhou. Forças para levantar-se não teve mais.
Estava tão magra e frágil que o marido,
querendo dar-lhe algum conforto, decidiu fazer para ela uma cama nova. A muda
era agora uma árvore copada. O marido foi até o fundo do quintal e a abateu.
Durante dias
serrou, lixou, martelou. Durante dias entranhou na madeira o seu próprio suor.
Pronta a cama, firmes os encaixes, ainda poliu a cabeceira. Depois pegou o
formão e, com cuidado, entalhou quatro rosas.
COLASANTI, Marina.
In.: Com certeza tenho amor.
Ed. Gaudi, p.47-49:
São Paulo.
Entendendo o texto:
01 – “Leito de vida, leito
de morte...” De quem é essa fala:
(X) da vizinha.
( ) da mulher de cadeiras
largas.
( ) do marido da mulher de
cadeiras largas.
( ) do marido da vizinha.
02 – Porque a cama era tão
importante para a mulher de cadeiras largas?
( ) porque ela achava a cama
bonita.
( ) porque a cama foi um
presente do marido.
(X) porque a cama
estava em sua família desde a época da avó.
( ) porque a cama era de
madeira lustrada.
03 – A mulher queria a todo
custo se livrar da cama com “Rosas na Cabeceira”, por isso, quando o mascate
passou ela ofereceu para ele. Este respondeu que não estava interessado em
móveis, no entanto, acabou comprando por quatro moedas. Por que ele tomou essa
atitude?
( ) porque ele era um bom
homem e quis ajudar a mulher a se livrar da cama.
(X) porque ele era
interesseiro e tinha a intenção de lucrar com a venda da cama.
( ) porque se ele não
comprasse a mulher iria jogar a cama fora.
( ) porque ele quis fazer um
grande favor à mulher.
04 – O que a mulher fez com
as moedas que ganhou com a venda da cama? E o que nasceu no local onde as
moedas foram colocadas?
A mulher foi até
o fundo do quintal, cavou um buraco na terra escura, e enterrou as moedas.
Nasceu uma árvore.
05 – Explique, como a
profecia da vizinha se realizou?
O marido da
mulher de cadeiras largas derrubou a árvore que nasceu no lugar das moedas, que
ela enterrou e com intenção de dar conforto a ela fez uma cama e para agradá-la
entalhou quatro rosas na cabeceira.
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