domingo, 20 de maio de 2018

CONTO: ROSAS NA CABECEIRA - MARINA COLASANTI - COM GABARITO

CONTO: Rosas na cabeceira
             Marina Colasanti

        Mulher de cadeiras largas, sem esforço pariu o primeiro filho na cama que havia sido da sua família. Oferecia-lhe o peito ainda deitada, quando a vizinha veio visitá-la. Debruçou-se elogiando o pequeno, entregou à mãe a laranja que havia trazido, e cedo despediu-se. Mas ainda na porta voltou-se, olhou a cama.
       – Leito de vida, leito de morte – disse sem alegria.
       E se foi.
     Era uma bela cama, de madeira lustrada por longo tempo e muitas mãos. Havia acolhido sua mãe, e a mãe de sua mãe. Mas a partir daquele dia a mulher não conseguiu deitar-se nela. Sem lembrar as palavras da vizinha. Pesadelos infiltravam-se em seus sonhos.
       Esperou a vinda do mascate. Na tarde em que finalmente ouviu sua cantilena ecoando entre as casas, correu à rua e ofereceu-lhe a cama.
      – Não estou interessado em móveis – respondeu o mascate, que sabia tirar vantagem do desejo alheio. – Nem tenho serventia para esse.
        E como a mulher insistisse:
      – Se é para lhe fazer um favor, levo. Mas só posso pagar quatro moedas.
     A mulher alisou mais uma vez as rosas entalhadas na cabeceira. Depois entregou a cama em troca das quatro moedas, e a viu afastar-se na carroça do mascate.
    Quatro moedas de pouco lhe serviam. Aquelas pareciam queimar na palma da mão. A mulher foi até o fundo do quintal, cavou um buraco na terra escura, e enterrou as moedas.
    Passadas algumas semanas, como saber, entre tantas plantas, que uma muda despontava no lugar da terra mexida?
    E a mulher teve outros filhos e seus filhos cresceram. E um dia sentiu uma tonteira, pensou que o sol estava escurecendo antes da hora, apoiou-se na parede. A mulher havia adoecido.
    Deitou-se naquele dia em sua cama estreita. No dia seguinte, começou a definhar.
     Definhou, definhou. Forças para levantar-se não teve mais.
     Estava tão magra e frágil que o marido, querendo dar-lhe algum conforto, decidiu fazer para ela uma cama nova. A muda era agora uma árvore copada.       O marido foi até o fundo do quintal e a abateu.
    Durante dias serrou, lixou, martelou. Durante dias entranhou na madeira o seu próprio suor. Pronta a cama, firmes os encaixes, ainda poliu a cabeceira. Depois pegou o formão e, com cuidado, entalhou quatro rosas.

COLASANTI, Marina. In.: Com certeza tenho amor.
Ed. Gaudi, p.47-49: São Paulo.

Entendendo o texto:
01 – “Leito de vida, leito de morte...” De quem é essa fala:
(X) da vizinha.
( ) da mulher de cadeiras largas.
( ) do marido da mulher de cadeiras largas.
( ) do marido da vizinha.

02 – Porque a cama era tão importante para a mulher de cadeiras largas?
( ) porque ela achava a cama bonita.
( ) porque a cama foi um presente do marido.
(X) porque a cama estava em sua família desde a época da avó.
( ) porque a cama era de madeira lustrada.

03 – A mulher queria a todo custo se livrar da cama com “Rosas na Cabeceira”, por isso, quando o mascate passou ela ofereceu para ele. Este respondeu que não estava interessado em móveis, no entanto, acabou comprando por quatro moedas. Por que ele tomou essa atitude?
( ) porque ele era um bom homem e quis ajudar a mulher a se livrar da cama.
(X) porque ele era interesseiro e tinha a intenção de lucrar com a venda da cama.
( ) porque se ele não comprasse a mulher iria jogar a cama fora.
( ) porque ele quis fazer um grande favor à mulher.

04 – O que a mulher fez com as moedas que ganhou com a venda da cama? E o que nasceu no local onde as moedas foram colocadas?
      A mulher foi até o fundo do quintal, cavou um buraco na terra escura, e enterrou as moedas. Nasceu uma árvore.

05 – Explique, como a profecia da vizinha se realizou?
      O marido da mulher de cadeiras largas derrubou a árvore que nasceu no lugar das moedas, que ela enterrou e com intenção de dar conforto a ela fez uma cama e para agradá-la entalhou quatro rosas na cabeceira.

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