segunda-feira, 8 de maio de 2017

VIDAS SECAS – GÊNEROS LITERÁRIOS – COM GABARITO

 VIDAS SECASGÊNEROS LITERÁRIOS – COM GABARITO
Graciliano Ramos

        Fabiano, ia satisfeito. Sim senhor, arrumara-se. Chegara naquele estado, com a família morrendo de fome, comendo raízes.
        Caíra no fim do pátio, de baixo de um juazeiro, depois tomara conta da casa deserta. Ele, a mulher e os filhos tinham-se habituado a camarinha escura, pareciam ratos – e a lembrança dos sofrimentos passados esmorecera.
        Pisou com firmeza no chão gelado, puxou a faca de ponta. esgaravatou as unhas sujas. Tirou do aió um pedaço de fumo, picou-o, fez um cigarro com palha de milho, acendeu-o ao binga, pôs-se a fumar regalado.
        --- Fabiano, você é um homem, exclamou em voz alta.
        Conteve-se, notou que os meninos estavam perto, com certeza iam admirar-se ouvindo-o falar só. E, pensando bem, ele não era homem; era apenas um cabra ocupado em guardar coisas do outro. Vermelho, queimado, tinha os olhos azuis, barba e os cabelos ruivos, mas como vivia em terra alheia, cuidava de animais alheios, descobria-se, encolhia-se na presença dos brancos e julgava-se cabra.
        Olhou em torno, com receio de que, fora os meninos, alguém tivesse percebido a frase imprudente. Corrigiu-a, murmurando:
        --- Você é um bicho, Fabiano.
        Isto para ele era motivo de orgulho. Sim senhor, um bicho, capaz de vencer dificuldades.
        Chegara naquela situação medonha – e ali estava, forte, até gordo, fumando o seu cigarro de palha.
        --- Um bicho, Fabiano.
        Era. Apossara-se da casa porque não tinha onde cair morto, passar uns dias mastigando raiz de bambu, sementes de muçunã. Vira a trovoada. E, com ela, o fazendeiro, que o expulsara. Fabiano fizera-se desentendido e oferecera os seus préstimos, resmungando, coçando os cotovelos, sorrindo aflito. O eito que tinha era ficar. E o patrão aceitara-o, entregar-lhe as marcas de ferro.
         Agora Fabiano era vaqueiro, e ninguém o tiraria dali. Aparecera como um bicho, entocara-se como um bicho, mas criara raízes, estava plantado. Olhou as quipás, os mandacarus e os xique-xiques. Era mais forte que isso, era como as catingueiras e as baraúnas. Ele, Sinhá Vitória, os dois filhos e a cachorra baleia estavam agarrados à terra.
        Chape-chape. As alpercatas batiam no chão rachado. O corpo do vaqueiro derreava-se, as pernas faziam dois arcos, os braços moviam-se desengonçados. Parecia um macaco.
        Entristeceu. Considerar-se plantado em terra alheia! Engano. A sina dele era correr mundo, andar para cima e para baixo, à toa, como judeu errante. Um vagabundo empurrado pela seca. Achava-se ali de passagem, era hóspede que demorava demais, tomava amizade da casa ao curral, chiqueiro das cabras, ao juazeiro que os tinha abrigado uma noite.
                                                                                                                            Graciliano Ramos.
1 – A que gênero literário pertence o texto lido? Justifique.
      Épico – narrativo, visto que se trata de um relato de fatos vinculados à visita da personagem, às suas ações e atitudes diante da realidade.

2 – Classifique o narrador quanto ao ponto de vista.
      Narrador onisciente.

3 – Retire do texto palavras e ou expressões que remetam em que se passam os fatos narrados.
      “Vaqueiro”; “seca”; “fazendeiro”; “juazeiro”.

4 – A caracterização do personagem se dá no nível físico e psicológico. Quanto ao primeiro plano, transcreva uma passagem que a justifique; em relação ao segundo, indique o sentimento que toma conta do personagem.
       “Vermelho, queimado, tinha os olhos azuis, a barba e os cabelos ruivos”. Inferioridade.

5 – Leia os textos a seguir, indicando-lhes o gênero predominante, acrescentando uma característica que justifique a sua resposta:

       Gênero lírico. Expõe os sentimentos do poeta.

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