POEMA – VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA
Manuel Bandeira
Vou-me
embora pra Pasárgada
Lá sou amigo
do rei
Lá tenho a
mulher que eu quero
Na cama que
escolherei
Vou-me
embora pra Pasárgada
Vou-me
embora pra Pasárgada
Aqui eu não
sou feliz
Lá a
existência é uma aventura
De tal modo
inconsequente
Que Joana a
Louca de Espanha
Rainha e
falsa demente
Vem a ser
contraparente
Da nora que
nunca tive
E como farei
ginástica
Andarei de
bicicleta
Montarei em
burro brabo
Subirei no
pau-de-sebo
Tomarei
banhos de mar!
E quando
estiver cansado
Deito na
beira do rio
Mando chamar
a mãe-d`água
Pra me
contar as histórias
Que no tempo
de eu menino
Rosa vinha
me contar
Vou-me
embora pra Pasárgada
Em Pasárgada
tem tudo
É outra
civilização
Tem um
processo seguro
De impedir a
concepção
Tem telefone
automático
Tem
alcaloide à vontade
Tem
prostitutas bonitas
Para a gente
namorar
E quando eu
estiver mais triste
Mas triste d
não ter jeito
Quando de
noite me der
Vontade de
me matar
- Lá sou
amigo do rei –
Terei a
mulher que eu quero
Na cama que
escolherei
Vou-me
embora pra Pasárgada.
BANDEIRA, Manuel. Vou-me embora pra Pasárgada.
In:
______. Poesia completa & prosa. Rio de Janeiro.
Aguilar, 1967. p. 264-5.
1 – Levando
em conta a informação que precede o poema e a biografia de Bandeira, qual é o significado
de Pasárgada para o eu-lírico?
É o mundo imaginário onde ele poderia
ser uma criança como as outras, sem as limitações da doença.
2 –
Identifique os espaços indicados pelos advérbios lá e aqui.
Lá = Pasárgada; Aqui = o espaço real do poeta.
3 – Na
terceira estrofe são enumeradas ações bastante corriqueiras. Por que elas
assumem tanta importância para o poeta?
Porque são coisas que um indivíduo
doente está privado de fazer, embora sejam comuns.
4 – Compare
esse poema com a “Canção do exílio”. Que semelhança é possível apontar entre os
dois?
O aluno deverá deduzir que os dois
poetas opõem um mundo idealizado a um mundo concreto.
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