terça-feira, 16 de maio de 2017

POEMA: NOTURNO - FAGUNDES VARELA - COM GABARITO

POEMA – NOTURNO
                  Fagundes Varela 

Nem uma luz de esperança,
Nem um sopro de bonança
Na fronte sinto passar!
Os invernos me despiram
E as ilusões que fugiram
Nunca mais hão de voltar!


Tombam as selvas frondosas,
Cantam as aves mimosas
As nênias da viuvez;
Tudo, tudo, finando,
Mas eu pergunto chorando:
Quando será minha vez?

No véu etéreo os planetas;
No casulo as borboletas
Gozam da calma final;
Porém meus olhos cansados
São a mirar condenados
Dos seres o funeral!

Quero morrer! Este mundo
Com seu sarcasmo profundo
Manchou-se de lodo e fel!
Minha esperança esvaiu-se,
Meu talento consumiu-se
Dos martírios ao tropel!

Quero morrer! não é crime
O fardo que me comprime,
Dos ombros, lança-lo ao chão;
Do pó desprender-me rindo
E as asas brancas abrindo
Perder-me pela amplidão!

Vem, oh! Morte! A turba imunda
Em sua ilusão profunda
Te odeia, te calúnia,
Pobre noiva tão formosa
Que nos espera amorosa
No termo da romaria!

Virgens, anjos e crianças
Coroadas de esperança
Dobram a fronte a teus pés!
Os vivos vão repousando!
E tu me deixas chorando!
Quando virá minha vez?

Minha alma é como deserto
Por onde o romeiro incerto
Procura uma sombra em vão;
É como a ilha maldita
Que as vagas palpita
Queimada por vulcão!
                                                     Fagundes Varela, Poesia, Rio de Janeiro: Agir.

1 – No Romantismo, o tema da morte prematura e constante. No texto, que motivos o eu lírico tem pra querer morrer
       Não há mais ilusões, sonhos, esperanças que lhe dêem razão para viver.

2 – Na sétima estrofe, o poeta manifesta um sentimento de indignação. A que se deve essa manifestação interior?
       A manifestação deve-se ao fato de o eu lírico ver morrerem os que não deviam, mas a morte não o leva, e ele quer morrer.

3 – Os vocábulos “rindo” e “chorando” representam momentos distintos na exposição dos sentimentos do poeta, e constituem ideias em oposição.
a)     Que nome se dá a essa figura semântica?
Antítese.

b)    Que fundo ela exerce na expressão lírica do poeta?
A oposição entre vida e morte, sendo que a primeira o faz chorar, pois lhe traz infelicidades; a segunda traz-lhe satisfação, pois representa o fim do sofrimento.

4 – A disposição das palavras no texto pode servir para realçar elemento do plano do conteúdo. É o que acontece nos dois versos finais do trecho a seguir, em que não foi apenas para manter a estrutura de rima que o poeta usou o artifício:
                                       “Porém meus olhos cansados
                                       São a mirar condenados
                                       Dos seres o funeral!”
a)     Que nome se dá a tal recurso utilizado nesta passagem?
Inversão.

b)    Reescreva o trecho, dando-lhe a disposição considerada direta, “natural” ou “normal” segundo o padrão culto.
Porém, meus olhos cansados/são condenados a mirar o funeral dos seres.

5 – No trecho a seguir ocorre o conector e que, além de ligar partes do texto, estabelece uma certa relação semântica:
                                        “Os vivos vão repousando!
                                        E tu me deixas chorando!”
a)     Que valor semântico esse conector estabelece?
Adversidade.

b)    O trecho não teria o seu sentido alterado se substituíssemos o e por outro conector?
Mas.

6 – Há palavras que, no texto, no processo coesivo, retomam uma outra palavra. O pronome pessoal reto tu retoma que substantivo?
       Morte.

7 – Em que aspectos poéticos os textos se aproximam
       Preocupação existencial e pessimismo.

Um comentário:

  1. sabe me dizer se esse poema foi feito antes ou depois da morte do segundo filho de Fagundes?

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