MACUNAÍMA
– GÊNERO LITERÁRIO – COM GABARITO
No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente. Era
preto retinto e filho do medo da noite. Houve um momento em que o silêncio foi
tão grande escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índia tapanhumas pariu
uma criança feia. Essa criança é que chamaram Macunaíma.
Já na meninice faz coisas de sarapantar. De primeiro passou mais de seis
anos não falando. Si o incitavam a falar exclamava:
--- Ai! que preguiça! ...
E não dizia mais nada. Ficava no canto da maloca, trepado no jirau de
paxiúba, espiando o trabalho dos outros e principalmente dos dois manos que
tinha. Maanape já velhinho e Jiguê na força do homem. O divertimento dele era
decepar cabeça de saúva. Vivia deitado mas si punha os olhos em dinheiro,
Macunaíma dandava pra ganhar vintém. E também esperava quando a família ia
tomar banho no rio, todos juntos e nus. Passava o tempo do banho dando
mergulho, e as mulheres soltavam gritos gozados por causa dos guaimuns diz que
habitando água doce por lá. No mucambo si alguma cunhatã que se aproximava dele
para fazer festinha, Macunaíma punha a mão nas graças dela, cunhatã se
afastava. Nos machos guspia na cara. Porém respeitava os velhos e frequentava
com aplicação a murua, a poracê, o bacorocô, a cucuicoque, todas essas danças
religiosas da tribo.
Quando era pra dormir trepava no macuru pequeninho sempre se esquecendo
de mijar. Como a rede da mãe estava por baixo do berço mijava quente na velha,
espantando os mosquitos bem. Então adormecia sonhando palavras feias,
imoralidades estrambólicas e dava patadas no ar.
Nas conversas das mulheres no pino do dia o assunto era sempre as
peraltagens do herói. As mulheres se riam muito simpatizadas, falando que
“espinho que pinica, de pequeno já traz ponta”. Em uma pajelança Rei Nagô fez
um discurso e avisou que o herói era inteligente.
Mário de Andrade. Macunaíma, o herói sem nenhum caráter.
São Paulo, Martins Editora, 1973, p. 1.
1 – A leitura do texto, como um todo e, em
especial, a passagem em que o narrador insere a imagem de Macunaíma como “herói
da nossa gente”, possibilita reconhecer a seguinte classificação para o
personagem em questão:
a)
Herói
clássico caracterizado.
b)
Herói
moderno idealizado.
c)
Herói
clássico em forma de vilão.
d)
Herói
moderno formatado em anti-herói.
2 – O personagem tem várias de suas
características acentuadas pelo narrador ao longo do texto, e uma delas
expõe-no como interesseiro. Tal característica fica marcada em uma das
passagens do texto através do uso de oração subordinada, cujo valor
circunstancial é de:
a)
Causa.
b)
Comparação.
c)
Finalidade.
d)
Conclusão.
3 – Um dos recursos linguísticos bastante
frequente em textos literários e não literários é a retomada de um vocábulo
através de outro (ou outros), evitando-se, assim, a sua repetição formal, que
empobrece o estilo e enfastia o leitor.
Um desses vocábulos de retomada é o
pronome relativo, que só NÃO
pode ser encontrado em:
a)
“... e
avisou que o herói era inteligente.”
b)
“...
espinho que pinica...”
c)
“Houve
um momento em que o silêncio foi tão grande...”
d)
“...
si alguma cunhatã que se aproximava...”
4 – A elipse,
ou apagamento de um termo da frase que pode ser recuperado pelo contexto, é um
expediente de coesão. Na elipse,
temos a retomada de um termo que seria repetido, mas que é apagado, por ser
facilmente depreendido pelo contexto.
No texto, Macunaíma, o personagem
protagonista, é explicitamente sujeito de alguns verbos e, implicitamente, de
vários outros.
A opção em que o sujeito elíptico NÃO
retoma o termo Macunaíma é:
a)
“E
também esperava quando a família ia tomar banho no rio...”
b)
“Passava
o tempo do banho dando mergulho...”
c)
“Então
adormecia sonhando palavras feias...”
d)
“...
avisou que o herói era inteligente.”
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