segunda-feira, 8 de maio de 2017

MACUNAÍMA – GÊNERO LITERÁRIO – COM GABARITO


 MACUNAÍMAGÊNERO LITERÁRIO – COM GABARITO

        No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índia tapanhumas pariu uma criança feia. Essa criança é que chamaram Macunaíma.
        Já na meninice faz coisas de sarapantar. De primeiro passou mais de seis anos não falando. Si o incitavam a falar exclamava:
        --- Ai! que preguiça! ...
        E não dizia mais nada. Ficava no canto da maloca, trepado no jirau de paxiúba, espiando o trabalho dos outros e principalmente dos dois manos que tinha. Maanape já velhinho e Jiguê na força do homem. O divertimento dele era decepar cabeça de saúva. Vivia deitado mas si punha os olhos em dinheiro, Macunaíma dandava pra ganhar vintém. E também esperava quando a família ia tomar banho no rio, todos juntos e nus. Passava o tempo do banho dando mergulho, e as mulheres soltavam gritos gozados por causa dos guaimuns diz que habitando água doce por lá. No mucambo si alguma cunhatã que se aproximava dele para fazer festinha, Macunaíma punha a mão nas graças dela, cunhatã se afastava. Nos machos guspia na cara. Porém respeitava os velhos e frequentava com aplicação a murua, a poracê, o bacorocô, a cucuicoque, todas essas danças religiosas da tribo.
        Quando era pra dormir trepava no macuru pequeninho sempre se esquecendo de mijar. Como a rede da mãe estava por baixo do berço mijava quente na velha, espantando os mosquitos bem. Então adormecia sonhando palavras feias, imoralidades estrambólicas e dava patadas no ar.
        Nas conversas das mulheres no pino do dia o assunto era sempre as peraltagens do herói. As mulheres se riam muito simpatizadas, falando que “espinho que pinica, de pequeno já traz ponta”. Em uma pajelança Rei Nagô fez um discurso e avisou que o herói era inteligente.

                                              Mário de Andrade. Macunaíma, o herói sem nenhum caráter.
                                                                                        São Paulo, Martins Editora, 1973, p. 1.

1 – A leitura do texto, como um todo e, em especial, a passagem em que o narrador insere a imagem de Macunaíma como “herói da nossa gente”, possibilita reconhecer a seguinte classificação para o personagem em questão:
a)      Herói clássico caracterizado.
b)      Herói moderno idealizado.
c)      Herói clássico em forma de vilão.
d)      Herói moderno formatado em anti-herói.

2 – O personagem tem várias de suas características acentuadas pelo narrador ao longo do texto, e uma delas expõe-no como interesseiro. Tal característica fica marcada em uma das passagens do texto através do uso de oração subordinada, cujo valor circunstancial é de:
a)      Causa.
b)      Comparação.
c)      Finalidade.
d)      Conclusão.

3 – Um dos recursos linguísticos bastante frequente em textos literários e não literários é a retomada de um vocábulo através de outro (ou outros), evitando-se, assim, a sua repetição formal, que empobrece o estilo e enfastia o leitor.
Um desses vocábulos de retomada é o pronome relativo, que só NÃO pode ser encontrado em:
a)      “... e avisou que o herói era inteligente.”
b)      “... espinho que pinica...”
c)      “Houve um momento em que o silêncio foi tão grande...”
d)      “... si alguma cunhatã que se aproximava...”

4 – A elipse, ou apagamento de um termo da frase que pode ser recuperado pelo contexto, é um expediente de coesão. Na elipse, temos a retomada de um termo que seria repetido, mas que é apagado, por ser facilmente depreendido pelo contexto.
No texto, Macunaíma, o personagem protagonista, é explicitamente sujeito de alguns verbos e, implicitamente, de vários outros.
A opção em que o sujeito elíptico NÃO retoma o termo Macunaíma é:
a)      “E também esperava quando a família ia tomar banho no rio...”
b)      “Passava o tempo do banho dando mergulho...”
c)      “Então adormecia sonhando palavras feias...”

d)      “... avisou que o herói era inteligente.”

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