segunda-feira, 9 de maio de 2022

CRÔNICA: DETALHES - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO

 CRÔNICA: DETALHES

 ("Domingo", revista do Jornal do Brasil, n. 117.)

                                         Luís Fernando Veríssimo

        O velho porteiro do palácio chega em casa, trêmulo. Como faz sempre que tem baile no palácio, sua mulher o espera com café da manhã reforçado. Mas desta vez ele nem olha para a xícara fumegante, o bolo, a manteiga, as geleias. Vai direto à aguardente. Atira-se na sua poltrona perto do fogão e toma um longo gole da bebida, pelo gargalo.

       - Helmuth, o que foi?

       - Espera, Helga. Deixe eu me controlar primeiro.

      Toma outro gole de aguardente.

      - Conta, homem! O que houve com você? Aconteceu alguma coisa no baile?

      - Co-começou tudo bem. As pessoas chegando, todo mundo de gala, todos com convite, tudo direitinho. Sempre tem, claro, o filhinho de papai sem convite que quer me levar na conversa, mas já estou acostumado. Comigo não tem conversa. De repente, chega a maior carruagem que eu já vi. Enorme. E toda de ouro. Puxada por três parelhas de cavalos brancos. Cavalões! Elefantes! De dentro da carruagem salta uma dona. Sozinha. Uma beleza. Eu me preparo para barrar a entrada dela porque mulher desacompanhada não entra em baile do palácio. Mas essa dona é tão bonita, tão, sei lá, radiante, que eu não digo nada e deixo ela entrar.

     - Bom, Helmuth. Até aí...

     - Espera. O baile continua. Tudo normal. Às vezes rola um bêbado pela escadaria, mas nada de mais. E então bate a meia-noite. Há um rebuliço na porta do palácio. Olho para trás e vejo uma mulher maltrapilha que desce pela escadaria, correndo. Ela perde um sapato. E o príncipe atrás dela.

     - O príncipe?!

     - Ele mesmo. E gritando para eu segurar a esfarrapada. “Segura! Segura!” Me preparo para segurá-la quando ouço uma espécie de “vum” acompanhado de um clarão. Me viro e...

     - E o quê, meu Deus?

    O porteiro esvazia a garrafa com um último gole.

    - Você não vai acreditar.

    - Conta!

    - A tal carruagem. A de ouro. Tinha se transformado numa abóbora.

    - Numa o quê?!

    - Eu disse que você não ia acreditar.

    - Uma abóbora?

    - E os cavalos em ratos.

    - Helmuth... !!!

    - Não tem mais aguardente?

    - Acho que você já bebeu demais por hoje.

    - Juro que não bebi nada!

    - Esse trabalho no palácio está acabando com você, Helmuth. Pede para ser transferido para o almoxarifado.

 INTERPRETAÇÃO DO TEXTO

 

01.               “O velho porteiro do palácio...”. Qual a diferença entre velho porteiro e porteiro velho?

  Antigo na profissão e idoso.

02.               Nesse componente ocorre a fusão de elementos do cotidiano com outros, estranhos à nossa realidade. Quais os elementos estranhos aqui presentes?

   O tipo de café da manhã, distante do café da manhã de um porteiro.

03.               Levando-se em consideração o início da narrativa, qual deve ser a sequência mais provável da história narrada?

  A explicação do porteiro.

04.               O que indica a primeira pergunta da mulher do porteiro?

 Espanto.

      05.O texto é uma nova visão de que tradicional história infantil. De que conto se trata? Transcreva uma passagem do texto que justifique sua resposta. 

          Cinderela.

” De repente, chega a maior carruagem que eu já vi. Enorme. E toda de ouro. Puxada por três parelhas de cavalos brancos. Cavalões! Elefantes! De dentro da carruagem salta uma dona. Sozinha. Uma beleza.”

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