Poema: Os Lusíadas -
as cinco primeiras estrofes
Luís de Camões
Canto I
As armas e os Barões
assinalados
Que da Ocidental praia
Lusitana
Por mares nunca de antes
navegados
Passaram ainda além da
Taprobana,
Em perigos e guerras
esforçados
Mais do que prometia a força
humana,
E entre gente remota
edificaram
Novo Reino, que tanto
sublimaram;
II
E também as memórias
gloriosas
Daqueles Reis que foram
dilatando
A Fé, o Império, e as terras
viciosas
De África e de Ásia andaram
devastando,
E aqueles que por obras
valerosas
Se vão da lei da Morte
libertando,
Cantando espalharei por toda
a parte,
Se a tanto me ajudar o
engenho e arte.
III
Cessem do sábio Grego e do
Troiano
As navegações grandes que
fizeram;
Cale-se de Alexandre e de
Trajano
A fama das vitórias que
tiveram;
Que eu canto o peito ilustre
Lusitano,
A quem Netuno e Marte
obedeceram.
Cesse tudo o que a Musa
antiga canta,
Que outro valor mais alto se
alevanta.
IV
E vós, Tágides minhas, pois
criado
Tendes em mi um novo engenho
ardente,
Se sempre em verso humilde,
celebrado
Foi de mi vosso rio
alegremente,
Dai-me agora um som alto e
sublimado,
Um estilo grandiloco e
corrente,
Por que de vossas águas Febo
ordene
Que não tenham inveja às de
Hipocrene.
V
Dai-me uma fúria grande e
sonorosa,
E não de agreste avena ou
frauta ruda,
Mas de tuba canora e
belicosa,
Que o peito acende e a cor
ao gesto muda;
Dai-me igual canto aos
feitos da famosa
Gente vossa, que a Marte
tanto ajuda;
Que se espalhe e se cante no
universo,
Se tão sublime preço cabe em
verso.
CAMÕES, Luís de. Os
Lusíadas. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP, 1980.
Fonte: Livro – Língua
Portuguesa – Heloísa Harue Takazaki – ensino médio – Coleção Vitória-Régia –
Volume único – IBEP. 2004, p. 72-3.
Entendendo o poema:
01 – De acordo com o texto,
qual o significado das palavras abaixo:
·
Barões: homens ilustres.
·
Taprobana: designação da ilha de Ceilão, hoje conhecida por Sri Lanka.
·
Terras
viciosas: terras pagãs, que não conheciam
o cristianismo.
·
Libertar-se
da lei da Morte: imortalizar-se.
·
Sábio
grego: Ulisses, herói principal da
Odisseia.
·
Troiano: Enéas, herói da Eneida e fundador de Roma.
·
Alexandre: O Grande, imperador macedônico.
·
Trajano: imperador romano.
·
Peito
ilustre lusitano: o valor do povo
português.
·
Netuno: deus do mar.
·
Marte: deus da guerra.
·
Musa
antiga: musa inspiradora dos poetas da
antiguidade.
·
Tágides: ninfas do Tejo.
·
Grandiloco: grandiloquente, que se expressa de maneira pomposa.
·
Febo: outro nome de Apolo, deus da poesia e da música.
·
Hipocreme: fonte mágica que dava inspiração aos poetas que dela bebiam.
·
Fúria
grande: inspiração elevada.
·
Avena: flautinha feita do caule da planta que dá a aveia.
·
Frauta
ruda: flauta rude.
·
Tuba
belicosa: espécie de trombeta usada na
guerra.
02 – Como você já viu, a
proposição, segundo a tradição do gênero épico, constitui a primeira parte da
estrutura interna da epopeia e, nessa parte, anuncia-se o propósito da obra.
a) Transcreva o verso em que esse propósito é explicitado.
“Cantando espalharei por toda a parte”.
b) Sabendo que a epopeia celebra “heróis fora do comum”, explique a gradação homens-heróis-mito.
A gradação guarda relação com o objetivo do poema: transformar
homens valorosos que se fizeram heróis em mitos, que “se vão da lei da morte
libertando”.
c) Observe que o poeta assume uma posição de humildade face à grandiosidade de seu projeto. Justifique essa afirmativa.
O verso “se a tanto me ajudar o engenho e arte” sugere que o poeta
precisa de ajuda para louvar tão grandes feitos.
03 – O herói de Os Lusíadas
distingue-se do herói das epopeias clássicas.
a) Que verso identifica, de forma sintética, o herói do poema?
“Que eu canto o peito ilustre lusitano”.
b) Relacione com o título da obras.
Os Lusíadas é uma homenagem ao povo português. Na realidade,
canta-se os valores e as bravuras de um povo.
04 – Que elementos presentes
na proposição remetem à Antiguidade Clássica greco-latina?
As referências
aos mitos gregos: Ulisses, Enéias, Netuno, Marte e à própria poesia épica
antiga: Musa antiga.
05 – Que parte do texto se
refere aos objetivos das grandes navegações?
Na segunda estrofe, com os versos:
“Daqueles Reis que foram dilatando / A Fé, o Império, e as terras viciosas”.
06 – Explique os dois
últimos versos da terceira estrofe.
O poeta avisa que
cantará feitos que superam tudo o que já foi celebrado pelas antigas epopeias.
07 – Depois de anunciada sua
proposta, o poeta pretende que seu canto seja digno da grandiosidade do povo
português. Como ele pretende atingir seu objetivo?
Com um estilo elevado, grandioso.
08 – O poeta define, muito
claramente, como pretende obter um estilo grandioso.
a) O que caracteriza esse estilo?
Um som alto e sublimado, grandiloquente.
b) Observa-se que o poeta referiu-se a um outro estilo que se opõe ao que ele deseja. Que estilo é esse?
O estilo pastoril, simples, humilde, próprio da poesia bucólica.
c) Que imagens foram utilizadas para simbolizar esses dois estilos?
“Avena” e “Flauta rude”, simbolizam a poesia pastoril e “Tuba canora
e belicosa” simboliza a poesia épica.
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