domingo, 1 de maio de 2022

POEMA: DIZES-ME: TU É MAIS ALGUMA COUSA - ALBERTO CAIEIRO - COM GABARITO

 Poema: Dizes-me: tu és mais alguma cousa

            Alberto Caieiro


Dizes-me: tu és mais alguma cousa

Que uma pedra ou uma planta.

Dizes-me: sentes, pensas e sabes

Que pensas e sentes.

Então as pedras escrevem versos?

Então as plantas têm ideias sobre o mundo?

 

Sim: há diferença.

Mas não é a diferença que encontras;

Porque o ter consciência não me obriga a ter teorias sobre as cousas:

Só me obriga a ser consciente.

 

Se sou mais que uma pedra ou uma planta? Não sei.

Sou diferente. Não sei o que é mais ou menos.

 

Ter consciência é mais que ter cor?

Pode ser e pode não ser.

Sei que é diferente apenas.

Ninguém pode provar que é mais que só diferente.

 

Sei que a pedra é a real, e que a planta existe.

Sei isto porque elas existem.

Sei isto porque os meus sentidos mo mostram.

Sei que sou real também.

Sei isto porque os meus sentidos mo mostram,

Embora com menos clareza que me mostram a pedra e a planta.

Não sei mais nada.

 

Sim, escrevo versos, e a pedra não escreve versos.

Sim, faço ideias sobre o mundo, e a planta nenhumas.

Mas é que as pedras não são poetas, são pedras;

E as plantas são plantas só, e não pensadores.

Tanto posso dizer que sou superior a elas por isto,

Como que sou inferior.

Mas não digo isso: digo da pedra, «é uma pedra»,

Digo da planta, «é uma planta»,

Digo de mim «sou eu».

E não digo mais nada. Que mais há a dizer?

CAIEIRO, Alberto. In: PESSOA, Fernando. Obra poética. Rio de Janeiro: Cia José Aguilar Editora, 1969, p. 234.

Fonte: Livro – Língua Portuguesa – Heloísa Harue Takazaki – ensino médio – Coleção Vitória-Régia – Volume único – IBEP. 2004, p. 22-3.

Entendendo o poema:

01 – Fernando Pessoa é o poeta português que foi citado na canção “Língua” de Caetano Veloso – “Gosto do Pessoa na pessoa”. Releia os primeiros versos do poema. Observe que o poeta parece dirigir-se a alguém. Depois da leitura de todo o poema, é possível inferir: quem pode ser esse interlocutor?

      O próprio poeta.

02 – Que dúvidas ele revela nessa primeira estrofe?

      Sobre as diferenças que existem (ou não) entre as pedras, plantas e o homem.

03 – Na segunda, terceira e quarta estrofes, o poeta desenvolve as ideias apresentadas na primeira estrofe, respondendo às questões sobre as pedras e plantas, comparadas a ele, poeta. De acordo com esses versos, que diferenças são reconhecidas?

      A diferença consiste na consciência que o homem possui. Porém essa diferença, segundo o poeta, nada mais é que apenas uma diferença. Isso não daria, ao homem superioridade, por exemplo.

04 – Observe, na quinta e sexta estrofes, a repetição dos verbos sei e existir e da expressão meus sentidos. O que o poeta sabe? O que leva o poeta ao conhecimento das coisas e dele mesmo?

      Sabe da existência de si, das pedras e plantas. A diferença que separa homens de pedras e plantas é o que lhe dá conhecimento das coisas e dele mesmo.

05 – Cada um possui uma identidade, uma essência que os distingue dos demais. Mas nenhuma dessas particularidades leva à ideia de superioridade ou inferioridade. Que verso exemplificaria tal ideia?

      “Ter consciência é mais que ter cor?”.

06 – O que você sabe sobre Literatura?

      Resposta pessoal do aluno.

07 – Para você quais são as diferenças existente entre textos literários e não-literários?

      Resposta pessoal do aluno.

08 – Qual a importância da Literatura para você?

      Resposta pessoal do aluno.

     

 

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