Crônica: A nuvem
Rubem Braga – Fico admirado como é que você,
morando nesta cidade, consegue escrever uma semana inteira sem reclamar, sem
protestar, sem espinafrar! E meu amigo falou da água, telefone, Light em geral,
carne, batata, transporte, custo de vida, buracos na rua, etc. etc. etc. Meu
amigo está, como dizem as pessoas exageradas, grávido de razões. Mas que posso
fazer? Até que tenho reclamado muito isto e aquilo. Mas se eu for ficar
rezingando todo dia, estou roubado: quem é que vai aguentar me ler? Acho que o
leitor gosta de ver suas queixas no jornal, mas em termos.
Além disso, a verdade não está apenas
nos buracos das ruas e outras mazelas. Não é verdade que as amendoeiras neste
inverno deram um show luxuoso de folhas vermelhas voando no ar? E ficaria
demasiado feio eu confessar que há uma jovem gostando de mim? Ah, bem sei que
esses encantamentos de moça por um senhor maduro duram pouco. São caprichos de
certa fase. Mas que importa? Esse carinho me faz bem; eu o recebo terna e
gravemente; sem melancolia, porque sem ilusão. Ele se irá como veio, leve nuvem
solta na brisa, que se tinge um instante de púrpura sobre as cinzas de meu
crepúsculo.
E olhem só que tipo de frase estou
escrevendo! Tome tenência, velho Braga. Deixe a nuvem, olhe para o chão – e
seus tradicionais buracos.
(Rubem
Braga, Ai de ti, Copacabana)
Entendendo a crônica:
01 – É correto afirmar que,
a partir da crítica que o amigo lhe dirige, o narrador cronista:
a) Sente-se obrigado a escrever sobre assuntos exigidos pelo público.
b) Reflete
sobre a oposição entre literatura e realidade.
c) Reflete
sobre diversos aspectos da realidade e sua representação na literatura.
d) Defende
a posição de que a literatura não deve ocupar-se com problemas sociais.
e) Sente
que deve mudar seus temas, pois sua escrita não está acompanhando os novos
tempos.
02 – Em: “E olhem só que tipo de frase estou
escrevendo! (...)”, o sinal de pontuação utilizado serviu para indicar:
a) Uma admiração.
b) Uma
pausa.
c) Uma
indagação.
d) Uma
continuação.
03 – De acordo com o texto,
qual a explicação que o cronista deu por ter deixado de reclamar?
a) Por
ele estar doente.
b) Por
estar estudando outras coisas.
c) Porque se continuasse reclamando ninguém aguentaria ler mais suas
crônicas.
d) Porque
suas crônicas não estavam sendo publicadas.
04 – No trecho: “... eu o
recebo terna e gravemente;
sem melancolia, porque sem ilusão”, o termo sublinhado se refere:
a)
Ao transporte.
b)
Ao telefone.
c)
Ao custo de vida.
d)
Ao carinho.
05 – Segundo o texto, o que
o autor quis dizer quando mencionou o termo “grávido de razões”:
a)
Não tinha razão.
b)
Estava cheio de razões.
c)
Suas razões não eram boas.
d)
A razão não era suficiente.
06 – Com relação ao gênero
do texto, é correto afirmar que a crônica:
a) Parte do assunto cotidiano e acaba por criar reflexões mais amplas.
b) Tem
como função informar o leitor sobre os problemas cotidianos.
c) Apresenta
uma linguagem distante da coloquial, afastando o público leitor.
d) Tem
um modelo fixo, com um diálogo inicial seguido de argumentação objetiva.
e) Consiste
na apresentação de situações pouco realistas, em linguagem metafórica.
07 – Em: “E olhem só que tipo de frase estou
escrevendo! Tome tenência, velho Braga”, o narrador:
a)
Chama a atenção dos leitores para a beleza do
estilo que empregou.
b)
Revela ter consciência de que
cometeu excessos com a linguagem metafórica.
c)
Exalta o estilo por ele conquistado e
convida-se a reverenciá-lo.
d)
Percebe que, por estar velho, seu estilo
também envelheceu.
e)
Dá-se conta de que sua linguagem não será
entendida pelo leitor comum.
08 – Atente para as
seguintes afirmações:
I – A fala do amigo, na
abertura do texto, revela que ele atribui a um cronista profissional a função
de se pronunciar o mais criticamente possível diante dos dramas existenciais
maiores que afligem a humanidade.
II – O cronista supõe que
seus leitores não esperam que ele se dedique a protestar o tempo todo,
deduzindo-se daí que ele considera a possibilidade de uma crônica adotar uma
tonalidade mais leve.
III – O escritor se vale
dessa crônica, para sustentar a convicção de que a maior parte de seus textos
corresponde perfeitamente à expectativa de seu amigo.
Em relação ao texto, está
correto APENAS o que se afirma em:
a)
I e II.
b)
I e III.
c)
II e III.
d)
I.
e)
II.
Muito obrigado pela resposta
ResponderExcluirEle é narrado em qual pessoa?
ResponderExcluir1
ExcluirQual a crítica dessa crônica ?
ResponderExcluiroi
ResponderExcluirquero um poema sobre
ResponderExcluir