sábado, 29 de agosto de 2020

REPORTAGEM: GERAÇÃO TIPO ASSIM - JORNAL DO BRASIL - COM GABARITO

 Reportagem: GERAÇÃO TIPO ASSIM

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Imagens comparativas e novas gírias reacendem a discussão sobre a erosão da linguagem entre os jovens

         Ao adolescente dos anos 90 que não consegue entender o que se conversa numa roda de contemporâneos, resta o consolo de não pertencer aos grupos acusados de promoverem a chamada erosão da linguagem. Para esses grupos, segundo estudiosos como o poeta, tradutor e ensaísta José Paulo Paes, tem sido cada vez mais cômodo seguir o caminho das imagens comparativas, evitando expor o próprio potencial intelectual ao risco de um raciocínio elaborado. Não é à toa que um dos recursos mais usados hoje para facilitar a explicação de uma ideia é o “tipo assim” (“Ele é um cara tipo assim...”). [...]

         Enquanto a discussão volta a mobilizar estudiosos, novas gírias são criadas e absorvidas numa velocidade impressionante. [...] “A conversa de adolescentes é feita de diálogos exclamativos e sem fluência, próprios de quem apenas reafirma um comportamento de grupo”, alerta Paes. O poeta reconhece, no entanto, que “existem gírias muito saborosas”. Mas restringe: “Gíria é coisa de moda. Muitas vezes você substitui uma boa intensão verbal de gírias anteriores sem que haja ganhos expressivos.”

         Em outra vertente, o escritor Affonso Romano de Sant´Anna acha normal que cada grupo social crie sua própria linguagem. “E os jovens que passaram a existir socialmente a partir dos anos 60, coma emergência do poder juvenil, também tem a sua linguagem”, diz. “Esse é um fato que não recrimino nem reprovo, mas sua constatação é inevitável.” O escritor vê a leitura como única solução para as divergências entre as linguagem usadas por jovens e adultos. “É lendo que você aumenta seu vocabulário”, sugere.

         Affonso Romano observa que hoje os jovens não são a única tribo a usar uma linguagem própria, de difícil entendimento por quem está de fora: “O mesmo acontece, por exemplo, com o pessoal que mexe com computador. Sua linguagem é restrita, falava em códigos.” [...]

         Os adolescentes não veem problema no uso de gírias e expressões recém-criadas, e julgam seu vocabulário “inofensivo”. “As gírias são um meio muito legal de se comunicar e simplificar as coisas. Além disso, é irado falar de um jeito que os professores e o pessoal lá de casa não entendam”, diz Thiago, 16 anos.

         “A moda não muda? A de coração não muda? Qual é o problema de atualizar também o vocabulário?”, questiona Tatiana, 17 anos. Sua colega Maíra, 16 anos, tenta explicar o uso frequente de expressões, como o tipo assim: “Você quer falar alguma coisa e descobre uma expressão que consegue resumir seu pensamento. O tipo assim é o espaço que a gente usa para pensar e articular as palavras. É impossível contar uma história sem usar pelo menos um aí”.

         “As gírias mudam e não vão deixar de existir. A gente não fala mais é uma brasa, mora? Que era moda nos anos 70. No lugar disso, falamos outras coisas”, justifica o estudante Marcos, 17 anos. “O mais legal disso tudo é que ampliamos o nosso vocabulário”, opina Thiago, afirmando em seguida: “Eu também sei falar formalmente, mas não gosto. Não me dirijo ao padre do colégio com um, aí velhinho. Estou apto a usar a linguagem formal, quando necessário.”

         A babel de gírias também afeta os diferentes grupos da mesma geração. “Tenho amigos que convivem com o pessoal que frequenta bailes funk. Eles usam gírias próprias e eu não entendo nada”, conta Tatiana. “Não vejo problema nenhum no fato das tribos não se entenderem. A gente traduz e aprende cada vez mais”, assegura Gabriel, 17 anos.

                                                      Jornal do Brasil, Caderno B, 5 maio 1996, p. 7.

(O sobrenome dos adolescentes citados e o nome do colégio em que estudam foram omitidos.)

   Fonte: Português – Uma proposta para o letramento – Ensino fundamental – 8ª série – Magda Soares – Ed. Moderna, 2002 – p. 174-8.

Entendendo a reportagem:

01 – Identifique a data em que a reportagem foi publicada, observe as palavras com que ela começa e responda:

a)   A reportagem se refere a adolescentes de que época?

Dos anos 90 do século XX.

b)   Quanto tempo separa os adolescentes de hoje dos adolescentes a que a reportagem se refere?

A resposta depende da época em que a questão estiver sendo respondida; provavelmente, de 10 a 15 anos.

c)   Os adolescentes atuais também tem um modo próprio de usar a língua, como os adolescentes da reportagem? Tem opiniões semelhantes às dos adolescentes citados na reportagem?

Resposta pessoal; o mais provável é que a resposta seja sim, já que adolescentes de qualquer época usam gírias e defendem esse uso.

02 – Releia a primeira frase da reportagem: ela se refere a um adolescente para quem resta um consolo.

a)   Se resta um consolo, significa que esse adolescente tem um problema de que precisa ser consolado; qual é o problema?

Não consegue entender a conversa de outros adolescentes como ele.

b)   Que consolo resta ao adolescente? Por que isso é um consolo?

O consolo de não pertencer aos grupos acusados de promoverem a erosão da linguagem. É um consolo porque esses grupos são criticados, censurados, depreciados.

03 – As opiniões de José Paulo Paes citadas na reportagem coincidem com as que ele dá na entrevista reproduzida nas páginas 169-170? Comprove sua resposta comparando palavras do escritor na reportagem e na entrevista.

       O objetivo é que o aluno identifique os mesmos pensamentos expressos de formas diferente.

04 – Observe a expressão que introduz o terceiro parágrafo:

       “Em outra vertente...”

a)   Que relação essa expressão estabelece entre o que se vai dizer em seguida e o que se disse antes?

Relação de oposição, de contraste, de divergência.

b)   Cite outras expressões que poderiam ser usadas para introduzir o terceiro parágrafo.

Resposta pessoal; exemplos: Ao contrário, ...Em oposição, ...Assumindo outra posição, ...Diferentemente, ...

05 – Confronte as palavras de Affonso Romano de Sant´Anna com as de José Paulo Paes:

a)   Os dois escritores tem opiniões diferentes em relação à linguagem dos jovens: qual é a diferença?

José Paulo Paes recrimina, censura a linguagem dos jovens; Affonso Romano acha normal que os jovens tenham sua própria linguagem.

b)   Com qual dos dois escritores você concorda? Ou não concorda com nenhum dos dois? Justifique sua resposta.

Resposta pessoal.

06 – Affonso Romano sugere uma solução “para as divergências entre as linguagens usadas por jovens e adultos”: a leitura.

a)   Com que argumento o escritor justifica sua proposta de que a leitura é uma solução para essas divergências?

A leitura aumenta o vocabulário.

b)   A justificativa que o escritor apresenta para a proposta da leitura como solução revela qual é a diferença que ele vê entre a linguagem dos jovens e a dos adultos: qual é essa diferença?

Diferença de vocabulário; se a solução é a leitura porque ela aumenta o vocabulário, o escritor considera que os jovens têm de aumentar seu vocabulário para que sejam superadas as divergências entre sua linguagem e a dos adultos.

c)   Há uma contradição entre a opinião de Affonso Romano a respeito da linguagem dos jovens e a proposta de uma solução. Qual é a contradição?

Ele reprova a linguagem dos jovens, acha normal que eles tenham uma linguagem própria, mas contraditoriamente sugere solução para que essa linguagem não seja divergente da dos adultos.

07 – Releia as falas dos adolescentes citadas na reportagem.

a)   Identifique os argumentos que os adolescentes apresentam para justificar o uso de gírias.

São um meio muito legal de se comunicar e de simplificar as coisas; permitem falar de um jeito que os adultos não entendem; ajudam a expressar o pensamento; ampliam o vocabulário.

b)   Você concorda com esses argumentos? Você também defende o uso de gírias pelos jovens?

Resposta pessoal do aluno.

08 – A expressão “tipo assim” é citada na reportagem mais de uma vez, e caracteriza, no título, a geração de jovens. Analise esta expressão:

a)   A reportagem afirma que “tipo assim” é um recurso para introduzir comparações e assim “facilitar a explicação de uma ideia”, e dá, como exemplo, uma frase incompleta: “Ele é um cara tipo assim...”. Escreva essa frase em seu caderno, completando-a com uma comparação. (Por exemplo: Ele é um cara tio assim... um mauricinho.)

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Um cara tipo assim... um filhinho do papai, o primeiro da classe, o bonitão do pedaço.

b)   Segundo José Paulo Paes, o uso de comparações é cômodo, dispensa a pessoa de usar seu “potencial intelectual”. De que modo você poderia dizer a frase de seu exemplo anterior sem usar uma comparação introduzida por “tipo assim”? (Veja como poderia ficar o exemplo anterior: Ele é um cara sempre bem vestido, elegante, só frequenta lugares da moda...).

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Um cara sustentado pelo pai rico e que tem tudo que quer.

c)   Em sua opinião, José Paulo Paes tem razão? A formulação da segunda frase exige mais esforço intelectual que a frase com “tipo assim”?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Sim, já que a substituição da comparação exige busca de palavras que descrevam com precisão o que ela deixa implícito.

d)   Maíra, uma das adolescentes citadas na reportagem, dá uma explicação diferente para o uso de “tipo assim”: que explicação ela dá? Você está de acordo com ela ou com José Paulo Paes? Ou com nenhum dos dois?

A expressão é um modo de ganhar tempo para pensar e articular as palavras. Resposta pessoal do aluno.

09 – Recorde a fala de Thiago: “Eu também sei falar formalmente, mas não gosto. Não me dirijo ao padre do colégio com um ‘aí velhinho’. Estou apto a usar a linguagem formal, quando necessário”.

a)   Imagine as frases com que Thiago se dirige ao padre do colégio: em vez de “aí velhinho”, o que será que ele diz?

Como vai, padre? Bom dia, padre. Como vai o senhor?

b)   Dê exemplos de pessoas a quem Thiago poderia dirigir o cumprimento “aí velhinho”.

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: colegas, amigos.

c)   Thiago sabe usar a linguagem formal, “quando é necessário”: em que situações é necessário usar a linguagem formal?

Quando não há intimidade entre as pessoas; em situações de apresentação formal de um tema, de exposição, de palestra, conferência, etc.

d)   Quando não se usa a modalidade formal da linguagem, que modalidade se usa? E em que situações se usa essa modalidade?

A modalidade informal, em conversas familiares ou entre amigos, entre colegas, quando há intimidade entre pessoas, etc.

e)   Thiago diz que sabe falar formalmente, mas não gosta. Em sua opinião, por que Thiago não gosta de falar formalmente? Você gosta de falar formalmente?

Resposta pessoal do aluno.

10 – A reportagem mostra que a língua não é usada sempre da mesma maneira – ela varia conforme quem fala e conforme a situação em que se fala. Enumere a segunda coluna de acordo com a primeira.

A – Os jovens usam uma linguagem própria, de difícil entendimento por quem pertence a outra geração.

B – Tatiana não entende a linguagem do pessoal que frequenta bailes funk.

C – O pessoal que mexe com computador tem uma linguagem própria.

D – Thiago não fala com o padre do colégio da mesma maneira como fala com seus amigos.

E – Marcos afirma que a língua muda, a gente não fala mais “é uma brasa, mora?”

(C) Cada profissão tem seu vocabulário próprio.

(D) O uso da língua varia conforme o grau de intimidade entre as pessoas.

(E) A língua varia ao longo do tempo.

(A) Adultos e jovens usam a língua de maneira diferente.

(B) Há uma linguagem própria de determinados grupos sociais.

 

 

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