sábado, 29 de agosto de 2020

ENTREVISTA: "HÁ UMA GERAÇÃO SEM PALAVRAS" - JOSÉ PAULO PAES - COM GABARITO

 Entrevista: "HÁ UMA GERAÇÃO SEM PALAVRAS”

      José Paulo Paes

              A malhação física encanta a juventude com seus que pode ser bom. Mas seria ainda melhores se eles se preocupassem um pouco mais com os “músculos cerebrais”, porque, como diz o poeta e tradutor José Paulo Paes, “produzem satisfações infinitamente superiores”.

 Marili Ribeiro

        -- O senhor já disse que a identidade nacional estava abalada pelo desrespeito à língua portuguesa. A situação continua a mesma ou se agravou?

        -- Temos hoje o que poderíamos classificar de uma geração sem palavras. O jovem em geral tem um vocabulário limitado e quase não tem o costume de conversar. Hoje eles vivem experiências praticamente idênticas. Eles assistem ao mesmo filme, jogam o mesmo videogame, torcem para os mesmos times ou um time diferente que nem chega a ser tão diferente assim. De modo que eles não têm o que comunicar um ao outro. A conversa deles é legal, ou então é isso aí. É uma espécie de linguagem enfática, de confirmação. Com isso eles vão perdendo a capacidade de formular o pensamento. A questão da língua não é tanto a questão da correção gramatical. O principal da língua é a capacidade de expressão, de construir pensamentos e de transmiti-los, fazendo-os inteligíveis. Esta capacidade é que está se perdendo progressivamente. A gente conversa com um jovem e vê que o falar dele é interrompido a todo o momento. Muitas vezes ele não chega a completar a frase. (...)

        -- Por que o que é mais fácil, digerível, atinge mais rápido as pessoas?

        -- Tudo vai depender do ambiente em que se vive. Se o indivíduo tem suas qualidades e virtualidades estimuladas vai desenvolve-las, caso contrário elas ficarão adormecidas. Um exemplo de luta contra a inércia muito presente na atual juventude pode ser vista na preocupação com a malhação, a ginástica e o esporte. É evidente que a ginástica interior é muito mais cansativa. Os músculos da inteligência são mais difíceis de adestrar, mas dão satisfações muito maiores. (...)

        -- Some-se a isso o que o senhor chama nossa síndrome do mazombismo...

        -- No Brasil estamos vivendo uma época de total mazombismo. É o Brasil da capital Miami. Que bom se fosse Brasil capital Atenas, ou Moscou. Cidades culturais. Mas é Miami. Na linguagem nós temos o chamado latim do marketing, que é o inglês. Eu tenho uma proposta que seria a de nós adotarmos o inglês como língua nacional, para podermos estudar o português como segunda língua. Aí todos a aprenderiam.

Jornal do Brasil, Caderno B, Rio de Janeiroloja virtual de roupas, 28 dez. 1996, p. 6.

          Fonte: Português – Uma proposta para o letramento – Ensino fundamental – 8ª série – Magda Soares – Ed. Moderna, 2002 – p. 169/172.

Entendendo a entrevista:

01 – Explique a frase do entrevistado que dá título à entrevista: “Há uma geração sem palavras”.

a)   Recorde o conceito de geração, e determine: a que geração o entrevistado se refere?

Refere-se à geração jovem.

b)   Calcule a idade que o entrevistado tinha quando deu a entrevista e conclua: a que geração ele pertencia?

À geração idosa; a aproximadamente duas gerações depois da geração jovem. (Tinha 70 anos: 1996 – 1926).

c)   Explique o significado que o entrevistado atribui à expressão “sem palavras”.

Vocabulário limitado, dificuldade de expressar o pensamento, frases incompletas.

02 – O entrevistado afirma que os jovens “quase não têm o costume de conversar”, que “não têm o que comunicar um ao outro”.

a)   Segundo o entrevistado, qual é causa de os jovens não terem o que comunicar um ao outro?

Vivem experiências praticamente idênticas, veem, fazem, sentem as mesmas coisas.

b)   Você concorda que os jovens não têm o costume de conversar, não têm o que comunicar um ao outro? Justifique sua resposta.

Resposta pessoal do aluno.

03 – O entrevistado caracteriza a linguagem dos jovens como uma “linguagem enfática, de confirmação”. Com base nos exemplos que o entrevistado dá – as expressões legal, é isto aí –, explique o que ele chama de linguagem enfática, de confirmação.

      Uma linguagem feita de expressões que apenas realçam e aprovam o que o outro diz.

04 – Localize, na entrevista, o trecho em que o entrevistado fala do que ele considera ser “o principal da língua”.

a)   Segundo o entrevistado, “a questão da língua não é tanto a questão da correção gramatical”. Se essa fosse “a questão da língua”, o que se esperaria da linguagem dos jovens?

Uma linguagem de acordo com as normas gramaticais.

b)   Levando em conta aquilo que o entrevistado considera “o principal da língua”, o que se espera da linguagem dos jovens?

Que seja capaz de expressar o pensamento de forma inteligível, compreensível.

05 – Releia o início da resposta do entrevistado à segunda pergunta: ela fala dos estímulos que o jovem recebe, hoje, de seu ambiente, para lutar “contra a inércia”. Explique.

a)   A atual juventude recebe estímulos para lutar contra que tipo de inércia? Lutar como?

Contra a inércia do corpo; lutar malhando, fazendo ginástica, praticando esporte.

b)   Infere-se das palavras do entrevistado que a juventude atual não recebe estímulos para lutar contra que tipo de inércia?

Contra a inércia da mente, da inteligência.

06 – Na resposta à segunda pergunta, o entrevistado se refere a uma “ginástica interior”, e a “músculos da inteligência”.

a)   A ginástica exercita o corpo; a “ginastica interior” exercita o quê?

Exercita a mente, a inteligência.

b)   A que se refere a expressão “músculos da inteligência”?

Aos pensamentos, ideias, reflexões.

c)   Segundo o entrevistado, os “músculos da inteligência são mais difíceis de adestrar mas dão satisfações muito maiores”: quais satisfações?

O prazer de conhecer, de compreender; O prazer de ler; O prazer de descobrir, inventar, criar...

07 – Em sua resposta à última pergunta, o entrevistado reclama do “Brasil capital Miami”, e deseja um “Brasil capital Atenas, ou Moscou”.

a)   Nessas expressões, Miami simboliza o quê? Atenas e Moscou simbolizam o quê?

Miami – o modo de vida norte-americano; o consumismo, a tecnologia, o progresso material.... Atenas e Moscou – a cultura, as tradições e valores intelectuais, morais...

b)   O que caracteriza um “Brasil capital Miami”?

Um Brasil que privilegia o progresso material, o desenvolvimento tecnológico, o consumismo....

c)   O que caracterizaria um “Brasil capital Atenas, ou Moscou”?

Um Brasil que privilegiaria o desenvolvimento cultural, os valores intelectuais, a preservação das tradições.

08 – O entrevistado afirma que “no Brasil estamos vivendo uma época de total mazombismo”. Explique: estamos vivendo uma época de quê?

      De nostalgia por não sermos iguais aos Estados Unidos, de desejo de sermos como os países mais desenvolvidos.

09 – O entrevistado chama a língua inglesa de “latim do marketing”. Para explicar essa expressão, leia as informações:

        LATIM – Durante o Império Romano, a língua latina dominou grande parte do mundo; até o século XVIII, o latim foi língua de prestígio, usada para a comunicação entre eruditos, cientistas, intelectuais.

        MARKETING – Nesta expressão, significa: conjunto de ações que visam influenciar as pessoas quanto a determinada ideia, marca, pessoa, produto, etc.

        Conclua: por que o inglês é chamado, hoje, de “latim do marketing”?

      O inglês é o latim de hoje, porque é o que foi o latim: uma língua de prestígio, que domina quase todas as áreas de comunicação; é uma língua de marketing porque sua supremacia exerce influência sobre as pessoas para que assumam as características, os valores, os produtos, os comportamentos das culturas em que o inglês é a língua oficial, principalmente os Estados Unidos.

10 – Em suas últimas palavras, o entrevistado usa de ironia.

a)   Ao propor que se adote o inglês como língua nacional, o entrevistado diz o contrário do que realmente pensa. O que é que ele, na verdade, pensa?

Pensa que o inglês não deveria ter tanto prestígio, que é necessário valorizar a língua nacional, o português.

b)   A proposta feita pelo entrevistado cria um efeito humorístico: por quê?

É uma proposta absurda, irrealizável, por isso se torna cômica, engraçada; tem efeito humorístico também porque ridiculariza a importância que as pessoas atribuem ao inglês, em detrimento de sua própria língua.

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