CONTO: O Compadre da Morte
Luís da Câmara Cascudo
Diz que era uma vez um homem que tinha
tantos filhos que não achava mais quem fosse seu compadre. Nascendo mais um
filhinho, saiu para procurar quem o apadrinhasse e depois de muito andar
encontrou a Morte a quem convidou. A Morte aceitou e foi a madrinha da criança.
Quando acabou o batizado voltaram para casa e a madrinha disse ao compadre:
- Compadre! Quero fazer um presente ao
meu afilhado e penso que é melhor enriquecer o pai. Você vai ser médico de hoje
em diante e nunca errará no que disser. Quando for visitar um doente me verá
sempre. Se eu estiver na cabeceira do enfermo, receite até água pura que ele
ficará bom. Se eu estiver nos pés, não faça nada porque é um caso perdido.
O homem assim fez. Botou aviso que era
médico e ficou rico do dia para a noite porque não errava. Olhava o doente e ia
logo dizendo:
Ou então:
- Tratem do caixão dele!
Quem ele tratava, ficava bom. O homem
nadava em dinheiro.
Vai um dia adoeceu o filho do rei e este
mandou buscar o médico, oferecendo uma riqueza pela vida do príncipe. O homem
foi e viu a Morte sentada nos pés da cama. Como não queria perder a fama,
resolveu enganar a comadre, e mandou que os criados virassem a cama, os pés passaram
para a cabeceira e a cabeceira para os pés. A Morte, muito contrariada, foi-se
embora, resmungando.
O médico estava em casa um dia quando
apareceu sua comadre e o convidou para visitá-la.
- Eu vou, disse o médico - se você jurar
que voltarei!
- Prometo! - disse a Morte.
Levou o homem num relâmpago até sua casa.
Tratou muito bem e mostrou a casa toda. O
médico viu um salão cheio-cheio de velas acessas, de todos os tamanhos, uma já
se apagando, outras viva, outras esmorecendo. Perguntou o que era:
É a vida do homem. Cada homem tem uma
vela acessa. Quando a vela acaba, o homem morre.
O médico foi perguntando pela vida dos
amigos e conhecidos e vendo o estado das vidas. Até que lhe palpitou perguntar
pela sua. A Morte mostrou um cotoquinho no fim.
- Virgem Maria! Essa é que é a minha?
Então eu estou, morre-não-morre!
A Morte disse:
- Está com horas de vida e por isso eu
trouxe você para aqui como amigo mas você me fez jurar que voltaria e eu vou levá-lo
para você morrer em casa.
O médico quando deu acordo de si estava na
sua cama rodeado pela família. Chamou a comadre e pediu:
- Comadre, me faça o último favor. Deixe eu
rezar um Padre-Nosso. Não me leves antes. Jura?
- Juro -, prometeu a Morte.
O homem começou a rezar o Padre-Nosso que
estás no céu... E calou-se. Vai a Morte e diz:
- Vamos, compadre, reze o resto da oração!
- Nem pense nisso, comadre! Você jurou que
me dava tempo de rezar o Padre-Nosso mas eu não expliquei quanto tempo vai
durar minha reza. Vai durar anos e anos...
A Morte foi-se embora, zangada pela
sabedoria do compadre.
Anos e anos depois, o médico, velhinho e
engelhado, ia passeando nas suas grandes propriedades quando reparou que os
animais tinham furado a cerca e estragado o jardim, cheio de flores. O homem,
bem contrariado disse:
- Só queria morrer para não ver uma
miséria destas!...
Não fechou a boca e a Morte bateu em
cima, carregando-o. A gente pode enganar a Morte duas vezes mas na terceira é
enganado por ela.
(CASCUDO, Luís da Câmara.Contos
tradicionais do Brasil. Belo Horizonte; São Paulo, Itatiaia, Editora da
Universidade de São Paulo, 1986. Texto Adaptado)
Fonte: Livro: JORNADAS.port – Língua Portuguesa - Dileta
Delmanto/Laiz B. de Carvalho – 6º ano – Editora Saraiva. p.120 a 123.
Nas linhas do texto
1)
No início da história, a personagem principal
é chamada apenas de um homem ou o homem.
a)
Como o narrador passa a se referir à
personagem principal depois que a Morte batiza seu filho?
Compadre.
b)
A partir de qual fato a personagem passa a
ser chamada de médico?
A partir do momento em que a Morte lhe dá o poder de predizer a
morte das pessoas.
2)
Qual foi a forma escolhida pela Morte para
enriquecer seu compadre?
Fazê-lo médico: sempre que fosse visitar um doente, o homem veria a
Morte. Conforme o lugar da cama onde ela estivesse sentada, o homem saberia se
o doente iria se curar ou não: se na cabeceira, o doente se salvaria se nos
pés, ele seria levado pela Morte.
3)
Quando o príncipe adoeceu gravemente, qual
foi o plano do homem para enganar a Morte?
Como a Morte estava sentada nos pés da cama do jovem, o homem mandou
os criados virarem a cama, trocando os pés pela cabeceira; desse modo, a Morte
ficou na cabeceira e não pôde levar o príncipe.
4)
O homem enganou a Morte uma segunda vez.
Quando foi isso e o que ele fez?
Quando o homem estava para morrer, pediu para rezar um padre-nosso e
não ser levado enquanto não terminasse a oração. Só que ele parou no meio da
reza, dizendo que não tinha dito quando ia terminá-la. Assim, a Morte não pôde
levá-lo.
5)
O homem conseguiu enganar a Morte pela
terceira vez? Explique sua resposta.
Não conseguiu: desatento, disse que preferia morrer a ver o jardim
estragado. Tomando essa frase como pretexto, a Morte levou-o.
6)
Ao salvar o filho do rei, o homem desafiou a
Morte. Marque a alternativa mais adequada para explicar o motivo dessa decisão
dele.
a)
Medo do rei.
b)
Vaidade pessoal.
c)
Ganância de mais riqueza.
d)
Provocação feita à Morte.
7)
O homem foi finalmente levado pela Morte
porque:
a)
não se pode enganar a Morte mais de duas
vezes.
b)
ela foi mais esperta,
aproveitando-se de uma distração dele.
c)
ele não conseguiu rezar o padre-nosso até o
fim.
d)
ele estava muito velhinho e vivia
contrariado, desejando morrer.
8)
No final da história, o médico diz: “Só
queria morrer para não ver uma miséria destas!...”. No mesmo instante, a Morte
se aproveitou dessa frase para leva-lo.
a)
Ele queria mesmo morrer ao dizer isso?
Explique sua resposta.
Não, ele apenas queria expressar seu descontentamento com o estrago
no jardim.
b)
De que outro modo ele poderia se expressar
para não dar à Morte a chance de leva-lo?
“Daria todo meu dinheiro para não ver esta desgraça!”, “Não acredito
que estou vendo uma desgraça destas!”, etc.
Muito interessante esse texto! os alunos gostam...
ResponderExcluirSim demorei para ler mais gostei
Excluiresse é um conto de arrepiar ou uma crônica?
ResponderExcluirSim
ExcluirQuero o texto em inglês
ResponderExcluirApartir do texto realize uma descrição objetiva e subjetiva do homem?
ResponderExcluirAlguém pode me dize,onde essa história acontece?
ResponderExcluir