Conto: Ananse
vira o dono das histórias
Apenas uma coisa preocupava Ananse:
como ele seria lembrado quando morresse! Seria bom poder deixar uma reputação.
Seria bom poder ser lembrado entre os grandes e cantado como herói.
Mas Ananse não dispunha de bravura
militar, força assombrosa e sábios provérbios. Tinha apenas sua astúcia. Ele
vivia de sua astúcia.
“Seria bom”, pensou, “se todas as
histórias me pertencessem”.
-- “As histórias de Ananse” – ele
proferiu, em voz alta, e achou que soava bem. Todos se lembrariam dele quando
passassem as noites contando histórias.
Ananse não perdeu tempo vangloriando-se
do título. Mas, quando o rei das florestas ouviu falar daquilo, disse a Ananse:
-- Nomes grandiosos são dados àqueles
que empreendem grandes façanhas. O que você fez para merecer tal honra?
Submeta-me a uma prova, grande rei, e
descobrirá que não mereço menos – respondeu Ananse, ser se deixar perturbar.
-- Até hoje ninguém capturou, com vida,
três coisas: Wowa, a família inteira de abelhas melíferas; Aboatia, da floresta
de gnomos; e Nanka, a píton. Realize esse feito e as histórias serão suas.
-- Estou à sua disposição, majestade –
respondeu Ananse – Embora seja pequeno, aprendi a descobrir as fraquezas dos
grandes. Em três dias, terá prova de minha superioridade.
Ananse passou a noite seguinte
planejando suas conquistas e, de manhã cedo, iniciou sua jornada.
Todo mundo sabe como as abelhas são
ocupadas e como ficam zangadas quando as perturbamos e como aferroam quando as
aborrecemos. Ananse levou isso em consideração quando se aventurou até a
colmeia.
-- Deve existir muitas de vocês por
aqui – ele disse, como forma de saudação.
-- Somos trezentas – respondeu a
operária-chefe.
-- O que? – gritou Ananse. – Disse que
são duzentas?
-- Trezentas – repetiu a abelha.
-- Oh. Ouvi dizer que eram duzentas, na
semana passada – mentiu Ananse. – Deve haver duzentas de vocês.
-- Trezentas – zumbiu a operária-chefe,
irritada.
-- Duzentas – insistiu Ananse, em tom
de desafio.
Em pouco tempo, muitas abelhas entraram
na discussão e todas gritavam os números que haviam contado.
-- Muito bem – bradou Ananse, calando o
zumbido.
-- Para resolver essa questão de uma
vez por todas, por que não me deixam conta-las?
A sugestão pareceu justa aos
interessados. Ananse mostrou às abelhas uma garrafa e disse:
-- Basta que voem, uma de cada vez,
para dentro da garrafa, que eu as contarei.
A primeira foi a operária-chefe e, uma
de cada vez, todas entraram na garrafa, até mesmo a rainha.
-- Quantas somos? – Indagaram as
abelhas.
-- Trezentas – respondeu Ananse,
selando a boca da garrafa.
-- Eu falei – disse a operária-chefe.
-- Sim, mas agora capturei todas vocês!
– Disse Ananse. Embora zunissem com toda sua força, ela as carregou até sua
casa.
[...]
O monarca ficou impressionado. Ele
reconheceu a grandeza de Ananse e o consagrou como dono das histórias.
Até hoje, em todo lugar onde se contam
histórias, o nome de Ananse é mencionado como o senhor das melhores narrativas.
Adwoa Badoe e Baba
Wagué Diakité. Histórias de Ananse. São Paulo: SM, 2006.
Fonte: Livro: JORNADAS.port – Língua Portuguesa - Dileta
Delmanto/Laiz B. de Carvalho – 6º ano – Editora Saraiva. p.136 a 138.
Entendendo o conto:
01 – Releia este trecho do
conto: “Mas Ananse não dispunha de bravura militar, força assombrosa e sábios
provérbios. Tinha apenas sua astúcia. Ele vivia de sua astúcia.”
a)
Pensando nas atitudes de Ananse na história,
explique o significado da palavra ASTÚCIA.
Astúcia é habilidade para não se deixar enganar ou para enganar
outras pessoas.
b)
Você conhece outra personagem de conto ou
lenda que seja famosa por tua astúcia?
Resposta pessoal do aluno. Possibilidade: A raposa.
02 – De que forma Ananse
engana as abelhas?
Provoca uma
discussão sobre o número de abelhas na colmeia; propõe-se a conta-las para
tirar a dúvida e, com isso, consegue aprisiona-las em uma garrafa.
03 – Ananse diz: “Aprendi a
descobrir as fraquezas dos grandes”. Qual é a fraqueza das abelhas?
A zanga ou ira e
o fato de quererem mostrar que estavam certas.
04 – Releia estes trechos:
“Todos
se lembrariam dele quando passassem as noites contando histórias.”
“Até hoje, em todo lugar onde se contam
histórias, o nome de Ananse é mencionado como o senhor das melhores
narrativas.”
Quais são as características
do conto popular que podemos reconhecer nesses trechos?
A tradição oral e
sua transmissão de geração a geração.
05 – Os fatos vividos por
Ananse são contados na terceira pessoa, mas há um momento em que o narrador se
dirige diretamente ao leitor. Localize o trecho no texto e copie-o em seu
caderno.
Todo mundo sabe como as abelhas são
ocupadas e como ficam zangadas quando as perturbamos e como aferroam quando as
aborrecemos.
06 – Copie em seu caderno a
frase que indica, nesse conto, que a história está chegando ao fim.
a)
“Quantas somos? – indagaram as abelhas”.
b)
“Trezentas – respondeu Ananse, selando a
garrafa.”
c)
“Basta que voem, uma de cada vez, par dentro
da garrafa, que eu as contarei.”
d)
“A primeira foi a operária-chefe e,
uma de cada vez, todas entraram na garrafa, até mesmo a rainha.”
07 – Consulte um dicionário
se necessário for, e define as palavras abaixo:
·
Consagrar: conferir um título, uma honra.
·
Gnomo: anão sem idade definida, que, segundo certa crença, vive no
interior da Terra e tem a guarda de seus tesouros em pedras e metais preciosos.
·
Melífero: que produz mel.
·
Píton: serpente de até 8,5 m de comprimento, da região indo-malaia.
·
Vangloriar-se: ostentar os próprios méritos e conquistas, reais ou não.
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