domingo, 14 de julho de 2019

CRÔNICA: VÓ CAIU NA PISCINA - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

Crônica: VÓ CAIU NA PISCINA
               CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

        Noite na casa da serra, a luz apagou. Entra o garoto:
        – Pai, vó caiu na piscina.
        – Tudo bem, filho.
        O garoto insiste:
        – Escutou o que eu falei, pai?
        – Escutei, e daí? Tudo bem.
        – Cê não vai lá?
        – Não estou com vontade de cair na piscina.
        – Mas ela tá lá...
        – Eu sei, você já me contou. Agora deixe seu pai fumar um cigarrinho descansado.
        – Tá escuro, pai.
         – Assim até é melhor. Eu gosto de fumar no escuro. Daqui a pouco a luz volta. Se não voltar, dá no mesmo. Pede à sua mãe pra acender a vela na sala. Eu fico aqui mesmo, sossegado.
        – Pai...
        – Meu filho, vá dormir. É melhor você deitar logo. Amanhã cedinho a gente volta pro Rio, e você custa a acordar. Não quero atrasar a descida por sua causa.
        – Vó tá com uma vela.
        – Pois então? Tudo bem. Depois ela acende.
        – Já tá acesa.
        – Se está acesa, não tem problema. Quando ela sair da piscina, pega a vela e volta direitinho pra casa. Não vai errar o caminho, a distância é pequena, você sabe muito
bem que sua avó não precisa de guia.
        – Por quê cê não acredita no que eu digo?
        – Como não acredito? Acredito sim.
        – Cê não tá acreditando.
        – Você falou que a sua avó caiu na piscina, eu acreditei e disse: tudo bem. Que é que você queria que eu dissesse?
        – Não, pai, cê não acreditou ni mim.
        – Ah, você está me enchendo. Vamos acabar com isso. Eu acreditei. Quantas vezes você quer que eu diga isso? Ou você acha que estou dizendo que acreditei mas estou mentindo? Fique sabendo que seu pai não gosta de mentir.
        – Não te chamei de mentiroso.
        – Não chamou, mas está duvidando de mim. Bem, não vamos discutir por causa de uma bobagem. Sua avó caiu na piscina, e daí? É um direito dela. Não tem nada de extraordinário cair na piscina. Eu só não caio porque estou meio resfriado.
        – Ô, pai, cê é de morte!
        O garoto sai, desolado. Aquele velho não compreende mesmo nada. Daí a pouco chega a mãe:
        – Eduardo, você sabe que dona Marieta caiu na piscina?
        – Até você Fátima? Não chega o Nelsinho vir com essa ladainha?
        – Eduardo, está escuro que nem breu, sua mãe tropeçou, escorregou e foi parar dentro da piscina, ouviu? Está com a vela acesa na mão, pedindo para que tirem ela de lá, Eduardo! Não pode sair sozinha, está com a roupa encharcada, pesando muito, e se você não for depressa, ela vai tem uma coisa! Ela morre, Eduardo!
        – Como? Por que aquele diabo não me disse isto? Ele falou apenas que ela tinha caído na piscina, não explicou que ela tinha tropeçado, escorregado e caído!
        Saiu correndo, nem esperou a vela, tropeçou, quase que ia parar também dentro d’água.
        – Mamãe, me desculpe! O menino não me disse nada direito. Falou que a senhora caiu na piscina. Eu pensei que a senhora estava se banhando.
        – Está bem, Eduardo – disse dona Marieta, safando-se da água pela mão do filho, e sempre empunhando a vela que conseguira manter acesa. – Mas de outra vez você vai prestar mais atenção no sentido dos verbos, ouviu? Nelsinho falou direito, você é
que teve um acesso de burrice, meu filho!

                                      ANDRADE, Carlos Drummond de. Moça deitada na grama. Rio de Janeiro: Record, 1987.
Entendendo a crônica:

01 – Percebe-se claramente que houve um mal-entendido gerado por um problema de comunicação entre pai e filho. Esse mal-entendido refere-se à expressão cair na piscina. Explique por que ocorreu esse mal-entendido.
      O pai entendeu a expressão cair na piscina como tomar um banho de piscina e o filho a utilizava no sentido de escorregar e cair dentro da piscina por acidente.

02 – O texto que você acabou de ler é uma crônica. Responda as questões, levando em conta os constituintes básicos de uma narrativa.
a)   Qual é o foco narrativo?
O narrador é onisciente.

b)   Quais são as personagens dessa história?
Os pais, o filho e a avó.

c)   Quais são as principais características psicológicas do pai e do menino?
O pai parecia ser descontraído, alegre, amigável, distraído e o filho, respeitoso, responsável, amoroso, educado e solidário.

d)   Em que local e tempo a narrativa se desenrola?
Em uma casa de montanha, em um tempo atual em relação ao momento da escrita da crônica.

03 – O texto começa com as seguintes informações: “Noite na casa da serra, a luz apagou”. Essas informações justificam que fato da história?
a)   Era tudo que o pai desejava.
b)   Um bom motivo para usar a vela.
c)   A falta de luz é a causa da avó cair na piscina.
d)   É bom descansar no escuro.

04 – Observe no texto, a participação do narrador. Quantas vezes ele aparece?
a)   Três vezes.
b)   Duas vezes.
c)   Quatro vezes.
d)   Nenhuma vez.

05 – Que motivo gerou a falta de entendimento por parte do pai de Nelsinho?
a)   O desinteresse do pai em querer ajudar a avó.
b)   A diferença de interpretação do verbo cair.
c)   O pai de Nelsinho não gosta de ajudar as pessoas.
d)   O pai de Nelsinho é sempre distraído quando descansa.

06 – Nas frases abaixo, assinale aquela em que o verbo CAIR indica acidente.
a)   Nossa! Tudo que eu estudei CAIU na prova!
b)   Vou CAIR no mar, a água deve estar muito gostosa.
c)   A menina CAIU de cama. Está com um febrão enorme.
d)   Chiiiii !!! A diretora CAIU da cadeira.

07 – “O garoto insiste: – Escutou o que eu falei, pai?” Passando para o discurso indireto, teremos:
a)   Escute o que eu falo! - insistiu o garoto.
b)   O garoto insistiu: - Escutou, pai?
c)   Escutou o que eu falei, pai? - o garoto insistiu.
d)   O garoto insistiu para que o pai o escutasse.

08 – Quem foi que conseguiu explicar ao pai o que realmente estava acontecendo?
      A mãe explicou a situação com detalhes, mostrando o que havia acontecido.

09 – Qual foi a reação de Eduardo ao perceber que deixara sua mãe um bom tempo dentro da piscina, sem que ela pudesse sair de lá?
      Ficou desesperado e correu em direção à piscina, quase tropeçando e caindo nela também.

10 – Como a mãe de Eduardo classificou o que aconteceu com o filho em razão de ele não compreender o que o neto explicava?
      Como um “acesso de burrice”.

11 – Levando em conta que o texto é uma crônica, explique o sentido cômico dele.
      O sentido cômico da crônica está no fato de o filho pedir socorro para o pai e ele não perceber o que realmente aconteceu, criando no texto uma série de mal-entendido.

12 – Se você estivesse no lugar do menino, como avisaria ao pai que a avó caiu na piscina?
      Resposta pessoal do aluno.





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