sexta-feira, 15 de março de 2019

AUTOBIOGRAFIA: RÚSSIA - BRASIL - TATIANA BELINKY - COM QUESTÕES GABARITADAS

AUTOBIOGRAFIA: RÚSSIA - BRASIL
                           Tatiana Belinky

        Eu não nasci no Brasil: sou imigrante. Nasci na Rússia, na então capital, que já não se chamava São Petersburgo, como quando foi fundada e construída pelo imperador Pedro, o Grande, e ainda não se chamava Leningrado – agora São Petersburgo, recuperando assim seu nome original. Quando eu nasci, dois anos depois da Revolução Russa, um ano após o término da Primeira Guerra Mundial, a cidade se chamava Petrogrado – “cidade de Pedro”, em russo. O país estava em plena guerra civil, havia mesmo fome na cidade, os alimentos estavam racionados, a vida era muito difícil. Então meus pais, que eram cidadãos letonianos, resolveram voltar para Riga, capital da Letônia, um dos pequenos países do Mar Báltico. E foi assim que, de um ano de idade até os dez vivi com meus pais e meus dois irmãos [...] na bonita cidade de Riga, conhecida principalmente pela madeira que exportava para o mundo inteiro, o famoso pinho-de-Riga.
        Mas também em Riga a vida não era fácil. A situação econômica era ruim, a política, pior ainda, e as coisas não andavam boas para meus pais, gente de classe média remediada. Até que a situação se tornou insustentável, e meus pais resolveram sair do país, tentar arrumar a vida em outra terras.
        [...]
        Então sou – ou fui – imigrante. Mas sou brasileira, como consta no meu “RG” – casada com brasileiro, com filhos e netos brasileiros: marido santista, filhos, netos e bisnetos paulistanos.
        [...]
        Só que eu não virei brasileira de repente, do dia para a noite, sem mais nem menos. Quando cheguei ao Brasil, tinha pouco mais de dez anos e todo um passado europeu atrás de mim: toda uma vida, todo um “caldo de cultura”. Clima, costumes, educação, idioma, até a maneira de vestir e de morar eram muito diferentes. E levei algum tempo até me “aclimatar” e acostumar com todas as coisas novas que me esperavam no Brasil, na cidade de São Paulo e, principalmente, na Rua Jaguaribe [...].
        Hoje – e já há muito tempo – eu não trocaria o Brasil por nenhuma espécie de “paraíso terrestre” em qualquer outra parte do mundo. (E, note-se que eu viajei muito, vi muitos países, coisas bonitas e interessantes...) [...]
        Viajar para o Brasil! Foi o que nos disseram papai e mamãe, naquele dia: nós íamos viajar para o Brasil, um país que ficava na América, muito longe, do outro lado do oceano. E que nós íamos navegar até lá num navio transatlântico – que coisa romântica e empolgante!
        [...]
        Papai de fato partiu antes de nós – para “apalpar o terreno” e, finalmente, três meses depois, chegou também a hora da nossa partida. [...]
        Saímos de Riga de trem noturno, até Berlim, de onde iríamos para Hamburgo, e de lá, desse velho porto alemão, embarcaríamos rumo ao Brasil.
        As despedidas na estação ferroviária de Riga foram emocionadas e emocionantes. De repente a gente se deu conta de que estávamos deixando para trás toda a nossa grande família, boa parte da qual se apinhava na plataforma: vovô e vovó, tios e tias, primos e primas, adultos e crianças – toda uma multidão de pessoas próximas e queridas, que sempre fizeram parte integrante da nossa vida – e das quais de repente íamos ficar separados e distantes, não sabíamos por quanto tempo.
        Por fim, vinte e um dia depois de alçarmos âncora em Hamburgo, chegamos! Chegamos ao Rio de Janeiro. O General Mitre entrou na Baía de Guanabara ao anoitecer e ficou fora da barra à espera da licença de ancorar até a manhã do dia seguinte. Todo mundo correu para as amuradas, e ficamos olhando de longe aquela vista incomparável: a linha harmoniosamente curva da praia de Copacabana, toda faiscante no seu “colar de pérolas”, como era chamada, carinhosamente, a iluminação da Avenida Atlântica. [...]
        O nosso primeiro contato com a paisagem brasileira foi o Rio de Janeiro, e não podia ter sido mais encantador.

BELINKY, Tatiana. Transplante de menina. São Paulo: Uno Educação, 2008.

Entendendo o texto:

01 – Qual o significado de Petrogrado?
        Significa Cidade de Pedro, em Russo.

02 – Por que os pais da narradora resolveram voltar para a cidade de Riga, na Letônia?
      Porque o país estava em plena Guerra Civil, e tinha muita fome, os alimentos racionados e a vida era muito difícil.

03 – Como era a vida em Riga?
        A vida não era fácil.

04 – Por que os pais da narradora decidiram sair de seu país?
       Porque a situação econômica era ruim, a política, pior ainda, e as coisas não andavam boas para meus pais, gente de classe média remediada. Até que a situação se tornou insustentável, e meus pais resolveram sair do país, tentar arrumar a vida em outra terras.

05 – Por que a narradora afirma que não virou brasileira, de repente, de uma hora para outra?
      Porque ela já tinha vivido até os dez anos na Europa. E vindo para o Brasil teve que aprender tudo de novo.

06 – A expressão “caldo de cultura” se refere a que aspectos presentes no texto?
      Refere-se a tudo que ela teve que aprender e acostumar num outro país: Clima, costumes, educação, idioma diferente, etc.

07 – Que parágrafo do texto mostra que a narradora gosta do Brasil?
      “Hoje – e já há muito tempo – eu não trocaria o Brasil por nenhuma espécie de “paraíso terrestre” em qualquer outra parte do mundo.”

08 – Qual o efeito de sentido das exclamações, no sexto parágrafo?
      Tem o sentido de afirmação e de alegria e felicidade.

09 – Qual o efeito de sentido das aspas na expressão “apalpar o terreno” no sétimo parágrafo?
      Tem o efeito de conhecer, verificar se é uma boa ideia mudar para aquele lugar.

10 – A que se refere “desse velho porto alemão” no oitavo parágrafo?
      Refere-se ao local de onde eles partiram rumo ao Brasil.

11 – Qual a diferença entre EMOCIONADA e EMOCIONANTE, no décimo parágrafo?
·        Emocionada: é o sentimento de felicidade, de conquista.
·        Emocionante: é algo que causa emoção.

12 – No décimo primeiro parágrafo, a que se refere General Mitre?
      Refere-se ao Navio Transatlântico.

13 – A que a iluminação da Avenida Atlântica era comparada?
      Era comparada a um colar de pérolas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário