AUTOBIOGRAFIA: RÚSSIA - BRASIL
Tatiana Belinky
Eu não nasci no Brasil: sou imigrante.
Nasci na Rússia, na então capital, que já não se chamava São Petersburgo, como
quando foi fundada e construída pelo imperador Pedro, o Grande, e ainda não se
chamava Leningrado – agora São Petersburgo, recuperando assim seu nome
original. Quando eu nasci, dois anos depois da Revolução Russa, um ano após o
término da Primeira Guerra Mundial, a cidade se chamava Petrogrado – “cidade de
Pedro”, em russo. O país estava em plena guerra civil, havia mesmo fome na
cidade, os alimentos estavam racionados, a vida era muito difícil. Então meus
pais, que eram cidadãos letonianos, resolveram voltar para Riga, capital da
Letônia, um dos pequenos países do Mar Báltico. E foi assim que, de um ano de idade
até os dez vivi com meus pais e meus dois irmãos [...] na bonita cidade de
Riga, conhecida principalmente pela madeira que exportava para o mundo inteiro,
o famoso pinho-de-Riga.
Mas também em Riga a vida não era
fácil. A situação econômica era ruim, a política, pior ainda, e as coisas não
andavam boas para meus pais, gente de classe média remediada. Até que a
situação se tornou insustentável, e meus pais resolveram sair do país, tentar
arrumar a vida em outra terras.
[...]
Então sou – ou fui – imigrante. Mas sou
brasileira, como consta no meu “RG” – casada com brasileiro, com filhos e netos
brasileiros: marido santista, filhos, netos e bisnetos paulistanos.
[...]
Só que eu não virei brasileira de
repente, do dia para a noite, sem mais nem menos. Quando cheguei ao Brasil,
tinha pouco mais de dez anos e todo um passado europeu atrás de mim: toda uma
vida, todo um “caldo de cultura”. Clima, costumes, educação, idioma, até a
maneira de vestir e de morar eram muito diferentes. E levei algum tempo até me
“aclimatar” e acostumar com todas as coisas novas que me esperavam no Brasil,
na cidade de São Paulo e, principalmente, na Rua Jaguaribe [...].
Hoje – e já há muito tempo – eu não
trocaria o Brasil por nenhuma espécie de “paraíso terrestre” em qualquer outra
parte do mundo. (E, note-se que eu viajei muito, vi muitos países, coisas
bonitas e interessantes...) [...]
Viajar para o Brasil! Foi o que nos
disseram papai e mamãe, naquele dia: nós íamos viajar para o Brasil, um país
que ficava na América, muito longe, do outro lado do oceano. E que nós íamos
navegar até lá num navio transatlântico – que coisa romântica e empolgante!
[...]
Papai de fato partiu antes de nós –
para “apalpar o terreno” e, finalmente, três meses depois, chegou também a hora
da nossa partida. [...]
Saímos de Riga de trem noturno, até
Berlim, de onde iríamos para Hamburgo, e de lá, desse velho porto alemão,
embarcaríamos rumo ao Brasil.
As despedidas na estação ferroviária de
Riga foram emocionadas e emocionantes. De repente a gente se deu conta de que
estávamos deixando para trás toda a nossa grande família, boa parte da qual se
apinhava na plataforma: vovô e vovó, tios e tias, primos e primas, adultos e
crianças – toda uma multidão de pessoas próximas e queridas, que sempre fizeram
parte integrante da nossa vida – e das quais de repente íamos ficar separados e
distantes, não sabíamos por quanto tempo.
Por fim, vinte e um dia depois de alçarmos
âncora em Hamburgo, chegamos! Chegamos ao Rio de Janeiro. O General Mitre
entrou na Baía de Guanabara ao anoitecer e ficou fora da barra à espera da
licença de ancorar até a manhã do dia seguinte. Todo mundo correu para as
amuradas, e ficamos olhando de longe aquela vista incomparável: a linha
harmoniosamente curva da praia de Copacabana, toda faiscante no seu “colar de
pérolas”, como era chamada, carinhosamente, a iluminação da Avenida Atlântica.
[...]
O nosso primeiro contato com a paisagem
brasileira foi o Rio de Janeiro, e não podia ter sido mais encantador.
BELINKY, Tatiana.
Transplante de menina. São Paulo: Uno Educação, 2008.
Entendendo o texto:
01 – Qual o significado de
Petrogrado?
Significa
Cidade de Pedro, em Russo.
02 – Por que os pais da
narradora resolveram voltar para a cidade de Riga, na Letônia?
Porque o país
estava em plena Guerra Civil, e tinha muita fome, os alimentos racionados e a
vida era muito difícil.
03 – Como era a vida em
Riga?
A vida não era fácil.
04 – Por que os pais da
narradora decidiram sair de seu país?
Porque a
situação econômica era ruim, a política, pior ainda, e as coisas não andavam
boas para meus pais, gente de classe média remediada. Até que a situação se
tornou insustentável, e meus pais resolveram sair do país, tentar arrumar a
vida em outra terras.
05 – Por que a narradora
afirma que não virou brasileira, de repente, de uma hora para outra?
Porque ela já
tinha vivido até os dez anos na Europa. E vindo para o Brasil teve que aprender
tudo de novo.
06 – A expressão “caldo de cultura” se refere a que
aspectos presentes no texto?
Refere-se a tudo
que ela teve que aprender e acostumar num outro país: Clima, costumes,
educação, idioma diferente, etc.
07 – Que parágrafo do texto
mostra que a narradora gosta do Brasil?
“Hoje – e já há muito tempo – eu não
trocaria o Brasil por nenhuma espécie de “paraíso terrestre” em qualquer outra
parte do mundo.”
08 – Qual o efeito de
sentido das exclamações, no sexto parágrafo?
Tem o sentido de
afirmação e de alegria e felicidade.
09 – Qual o efeito de
sentido das aspas na expressão “apalpar
o terreno” no sétimo parágrafo?
Tem o efeito de
conhecer, verificar se é uma boa ideia mudar para aquele lugar.
10 – A que se refere “desse velho porto alemão” no oitavo
parágrafo?
Refere-se ao
local de onde eles partiram rumo ao Brasil.
11 – Qual a diferença entre EMOCIONADA e EMOCIONANTE, no décimo parágrafo?
·
Emocionada: é o sentimento de felicidade, de
conquista.
·
Emocionante: é algo que causa emoção.
12 – No décimo primeiro
parágrafo, a que se refere General Mitre?
Refere-se ao
Navio Transatlântico.
13 – A que a iluminação da
Avenida Atlântica era comparada?
Era comparada a
um colar de pérolas.
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