quarta-feira, 6 de março de 2019

CRÔNICA: PÉ DE GUERRA - DIRCEU QUINTANILHA - COM QUESTÕES GABARITADAS

Crônica: Pé de guerra

        Zezinho gostaria que os soldados de brinquedo tivessem vida. Lutassem. Gostaria, sim. Até que um dia, no quintal, depois de cavar pequenas trincheiras, conforme vira no cinema do bairro, arrumou-os em posição de combate. Os canhões ficaram atrás.
        A imaginação trabalhou, violenta. As tropas inimigas, frente ao seu pequeno exército, foram vencidas de forma violenta em pouco tempo. Mas a sua vitória lhe trouxe imensa tristeza. Como consertar os inimigos quebrados? Zezinho sentiu que podia destruir: mas estava muito triste. Nem sequer comeu, naquele dia, o jantar que sua mãe preparara.
        -- Só um pouquinho.
        – Não quero.
        – Por que, menino?
        – Mãe…eu matei gente, hoje. Uma porção de soldados.
        – Quê?
        – Soldados sem perna. Sem cabeça. Sem braço. Foi horrível. Tenho vontade de chorar.
        – Que bobagem é essa?
        – Mãe…Você compra aquela ambulância na venda do Onofre? A que tem a cruz vermelha?
        – Para quê?
        – Para tratar deles. Vou fazer muletas de pau-de-fósforos.
        Zezinho teve febre. Chamaram o doutor. Ninguém entendia. Mas a guerra continuava na febre do menino.
        – Avançar! Primeiro canhão, fogo! Continuava a loucura bélica. (…) O médico falou:
        – Não entendo. Ele comeu alguma coisa na rua?
        – Não doutor. Brincou o dia todo no quintal. Foi examinado dos pés à cabeça. Nada.
        – Vou receitar calmante. Ele está muito agitado. Não entendo, mesmo.
        No dia seguinte, Zezinho resolveu enterrar seus mortos. Generais e soldados. Lado a lado. Maneco pulou a cerca e perguntou o que era aquilo.
        – Nada.
        – E esse negócio aí, com a bandeirinha?
        – Nada, vá embora! Já disse.
        Maneco foi. Ele arrumou alguns sobreviventes inimigos. Estava com raiva. Sem tristeza. Arrumou seu exército. Poucos existiam do outro lado. Mas eram inimigos.
        (…) A devastação foi geral. Conferiu: nada mais restava. Olha, depois, suas tropas. Perdera a noção das coisas: destruiu seu próprio exército. Nada mais restava dos brinquedos. Marchou sozinho pelo quadrado de terra, limitado pelas cercas de bambus. Com a corneta, presente do tio Anselmo, tentou atirar alguns sons. Corneta rouca de plástico. Apanhou pedras e foi atirando. Quebrou vidraças. Só então, lembrou-se que os pais brigavam dia e noite. Discutiam. Certa vez, o pai bateu na mãe. Tentou socorrê-la, mas foi atirado contra a parede esburacada. Sangrou.
        Brigavam muito. Principalmente quando o pai chegava bêbado.
        Os soldadinhos eram comprados com as economias da mãe: costurava para fora.
        Chegou em casa e apanhou a caixa de sapatos, vazia. Desenterrou os sepultados mutilados. No tanque, lavou-os com amor: pernas, braços, cabeças.
        Ressuscitava-os na sua imaginação. Arrumou-os na caixa e jogou fora os armamentos. Lamentava aquela guerra inútil, tentando consertar os estragos. Naquele instante, sentiu-se feliz: havia paz.

                                             QUINTANILHA, Dirceu. Pé de Guerra.
Entendendo a crônica:
01 – Pesquise o significado das palavras: agressivo e calmo.
      Agressivo: aquele que perde a calma com facilidade, é explosivo, age com agressividade.
      Calmo: tem domínio próprio, é tranquilo.

02 – Você acha que a guerra é uma forma de violência. Que outros tipos de violência você conhece ou presenciou? Comente.
      Sim, a guerra é uma forma de violência. Assaltos, roubos, mortes, brigas, discussões são outras formas de violência. Resposta pessoal caso o aluno tenha presenciado algum tipo de violência. 

03 – Que resposta você daria para Zezinho, se ele perguntasse: “_ A guerra é boa?”
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: A guerra destrói, causa danos comuns e pessoais.   
    
04 – Será que ganhamos algo quando ficamos nervosos ou sempre que ficamos nesse estado as coisas se complicam? Comente.
     O aluno deve entender que não ganhamos nada quando ficamos nervosos e muitas vezes as coisas se complicam. Estando nervosos podemos falar ou fazer coisas que magoam as pessoas de nossa convivência. 

05 – Às vezes é difícil evitar uma atitude nervosa. No entanto, quando nos depararmos com esse sentimento qual é o melhor caminho, como devemos proceder?
      É importante ter em mente que o nervosismo só piora as situações, portanto quando estivermos nos sentindo nervosos devemos nos isolar e procurar manter a calma. 

06 – Comente a frase: “Olhou, depois, suas tropas, perdera a noção das coisas: destruiu seu próprio exército.”
      Zezinho sentiu que foi também uma vítima da sua própria violência.  
      
07 – Você concorda que sempre que ficamos nervosos perdemos a noção das coisas? Comente.
      Resposta pessoal do aluno.

08 – O que os seres humanos podem fazer para viver em paz e não serem agressivos?
      Dialogar, cultivar o respeito mútuo, ter bons hábitos e com coisas sadias são alguns exemplos para que haja harmonia.      

09 – Para cada palavra com valor negativo abaixo encontre outra com valor positivo:
Tristeza: Alegria.

Maldade: Bondade.

Ódio: Amor.

Guerra: Paz. 

Falsidade: Sinceridade.

Nervoso: Calmo.

Solitário: Acompanhado.

Arrogante: Humilde.

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