domingo, 1 de junho de 2025

POEMA: CRISTO - JOSÉ RÉGIO - COM GABARITO

 Poema: CRISTO

             José Régio
Quando eu nasci, Senhor, já tu lá estavas,
Crucificado, lívido, esquecido.
Não respondeste, pois, ao meu gemido,
Que há muito tempo já que não falavas...

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWG6vl1XSyX4Q8hPNlTZVkSl_9ojQTVpZw2kFyw-kbQ3OHYXZugDLFajBVtBh6Ueu_HwIJZaGvc6jRqwQ6TuhfEsaRkU6JQlJvKf8HZr1cIQcjTL3g0stZ7WJUX3IrnHR_j0JCzpaY6IhG1zJk_Zb_Jxy3t_jYVwfUbUTG1yEBHLGWX1dNOL-zcZXNhvI/s1600/download.png



Redemoinhavam, longe, as turbas bravas,
Alevantando ao ar fumo e alarido.
E a tua benta Cruz de Deus vencido,
Quis eu erguê-la em minhas mãos escravas!

A turba veio então, seguiu-me os rastros;
E riu-se, e eu nem sequer fui açoitado,
E dos braços da Cruz fizeram mastros...

Senhor! eis-me vencido e tolerado:
Resta-me abrir os braços a teu lado,
E apodrecer contigo à luz dos astros!

Poemas de Deus e do diabo. 8. ed. Porto: Brasília Ed. 1972. p. 31.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 3ª Série – Ensino Médio – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª ed. – São Paulo: Saraiva Editora, 2013. p. 211.

Entendendo o poema:

01 – Qual a primeira constatação do eu lírico ao se referir a Cristo no início do poema, e que tom essa constatação estabelece para o restante dos versos?

      A primeira constatação do eu lírico é que, no momento de seu nascimento, Cristo já estava crucificado, "lívido, esquecido". Esse tom estabelece uma atmosfera de sofrimento preexistente, de abandono e de um silêncio divino que precede a própria existência do eu lírico, permeando todo o poema com uma sensação de ausência de resposta e de um fardo já imposto.

02 – Como o eu lírico descreve a reação das "turbas bravas" e qual o contraste que ele estabelece com a imagem de Cristo na cruz?

      O eu lírico descreve as "turbas bravas" como algo distante, em movimento caótico ("Redemoinhavam, longe"), produzindo "fumo e alarido". Esse barulho e agitação contrastam fortemente com a imagem de Cristo "crucificado, lívido, esquecido" e com o seu silêncio, evidenciando a indiferença ou hostilidade do mundo em relação ao sofrimento de Cristo.

03 – Qual a ação que o eu lírico deseja realizar em relação à cruz de Cristo e o que essa ação simboliza?

      O eu lírico deseja erguer a "benta Cruz de Deus vencido" em suas "mãos escravas". Essa ação simboliza uma tentativa de resgate, de identificação com o sofrimento de Cristo e talvez um desejo de dar um novo significado ou de assumir o peso dessa cruz em um mundo que parece tê-la abandonado.

04 – Descreva a reação da turba diante da tentativa do eu lírico de erguer a cruz. Qual a ironia presente nessa reação?

      A turba seguiu os rastros do eu lírico e riu-se dele, e ele sequer foi açoitado. A ironia reside no fato de que Cristo, ao carregar a cruz, sofreu açoitamento e a crucificação, enquanto o eu lírico, em sua tentativa de reerguer o símbolo desse sofrimento, é apenas ridicularizado e ignorado pela mesma turba. Isso sugere uma banalização do sacrifício e uma perda da sua significância para o mundo.

05 – Qual a resolução final do eu lírico diante de sua própria derrota e da aparente indiferença do mundo? Que imagem final encerra o poema?

      A resolução final do eu lírico é aceitar sua derrota ("eis-me vencido e tolerado") e se unir ao sofrimento de Cristo: "Resta-me abrir os braços a teu lado, / E apodrecer contigo à luz dos astros!". A imagem final é a de ambos, o eu lírico e Cristo, em um estado de decadência lado a lado, sob a fria e distante luz dos astros, enfatizando um sentimento de desolação e de um destino compartilhado de sofrimento e esquecimento.

 

CRÔNICA: ALFABETIZAR ... TATIANA BELINKY - COM GABARITO

 Crônica: Alfabetizar...

               Tatiana Belinky

        Eu não sou professora – não tenho direito a esse título, não tive formação acadêmica para merecê-lo, até porque parei no segundo ano de Filosofia, e dali em diante "filosofei" pela vida por minha própria conta... Mas hoje, se fosse para ostentar um título muito honroso, eu gostaria que ele fosse o de alfabetizadora. Sim, porque para mim o momento mais importante do magistério, de todo o magistério, é o do professor primário, o "mestre-escola"; e dentro deste, o degrau verdadeiramente fundamental, primordial, é o do alfabetizador – ou quiçá deva dizer da alfabetizadora, a mulher, representante sem dúvida majoritária desta mais nobre das profissões.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhlEWPrRuLD4D3RFhWWwy8BwHxrjVJADxmgVSioNbj9OLN4Xipxsjxb3zmKy-EnJq0vihPvL6j61qDrorNTrzvM9Oi8D-LjbEinmZdqL5PCSKyIjfDiX_g5mDFJHZGar-k40XEtRuFvgrvMgt70PYedfNIAuU8Uev-nXniVJgnSyMto0OlVylLLK9hRuNc/s1600/images.jpg


        Alfabetizar, qualquer que seja o método – e hoje os há mais eficientes do que muitos antigos, haja vista os de Paulo Freire ou Emília Ferreiro, para só citar dois (embora os métodos mais antigos não tenham deixado de produzir grandes nomes de escritores, poetas, dramaturgos, romancistas, pensadores, há séculos e mesmo milênios) –, alfabetizar é abrir os olhos de crianças, de jovens e de adultos para o mundo deslumbrante de Sua Majestade, a Palavra, na sua grande função de ferramenta do pensamento. A Palavra Escrita, para ser lida...

        Ensinar a ler, que maravilha! Abrir o caminho para a leitura, para o livro, maravilha! Dá vontade de fazer algumas citações, como por exemplo, "Bendito quem semeia, / livros à mancheia, / e faz o povo pensar!", de Castro Alves; ou "Um país se faz com homens e livros", de Monteiro Lobato. Ou até a "sacada" brilhante de Ziraldo: "Ler é mais importante do que estudar"...

        O grande papel do alfabetizador é, sim, ensinar a ler – mas a ler "de verdade", com fluência natural, sem decifrar penosamente o código escrito, sem tropeçar em letras, sílabas e palavras, sem "gaguejar" nas frases –, a ler "como quem respira" (ainda citando Ziraldo). E isto se consegue só com textos que de uma forma ou outra interessem aos alunos de qualquer tipo ou idade e nunca com "frases de cartilha" ocas e sem sentido...

        Alfabetizar é dar instrumentos ao estudante para saber fazer uso dessa habilidade adquirida em fins práticos, sim. Mas principalmente para presenteá-lo com o dom da leitura prazerosa – o acesso à literatura, com as suas emoções estéticas e éticas, a poesia, o romance, a aventura – toda uma riqueza sem fim... É ensiná-lo a "querer" ler, sem nunca "mandar". Ensiná-lo a gostar de ler...

        E aqui vai mais uma das minhas citações preferidas, do premiado escritor francês e professor de literatura, Daniel Pennac, na primeira frase do primeiro capítulo do seu livro Como um romance: "O verbo ler não comporta imperativo – como o verbo amar e o verbo sonhar... Não se manda – não se pode – mandar amar ou mandar sonhar. E o mesmo deve valer para a leitura, o encantamento e o prazer de ler – de ler de livre e espontânea vontade – o que só é possível quando se é alfabetizado 'pra valer'."

        E isto inclui, naturalmente, o aprender a escrever, a se expressar e se comunicar por escrito – mas aqui já se trata da segunda parte da alfabetização básica – “uma outra história que fica para uma outra vez", e não cabe no espaço desta pequena crônica...

        O que cabe aqui é mesmo uma entusiasmada saudação à Equipe Pedagógica do Programa de Formação de Professores Alfabetizadores, com os votos de merecido sucesso da Tatiana Belinky.

Fonte: Letra e Vida. Programa de Formação de Professores Alfabetizadores – Coletânea de textos – Módulo 3 – CENP - São Paulo – 2005. p. 15-16.

Entendendo a crônica:

01 – Por que Tatiana Belinky, apesar de não ser professora, gostaria de ser reconhecida como alfabetizadora?

      Tatiana Belinky, mesmo sem formação acadêmica em pedagogia, gostaria do título de alfabetizadora porque considera essa a profissão mais nobre e o momento mais fundamental do magistério. Para ela, o ato de alfabetizar é o alicerce de todo o aprendizado e a chave para abrir o mundo do conhecimento.

02 – Qual é a principal função da Palavra Escrita, segundo a autora?

      A principal função da Palavra Escrita, segundo a autora, é ser a "ferramenta do pensamento". Ao abrir o mundo deslumbrante da Palavra, o alfabetizador oferece o instrumento essencial para que o indivíduo possa refletir, compreender e se expressar de forma mais profunda.

03 – Quais são os dois objetivos centrais do processo de alfabetização, além do uso prático da habilidade?

      Os dois objetivos centrais são, primeiro, ensinar a ler "de verdade", ou seja, com fluência natural e sem dificuldade, "como quem respira". Em segundo lugar, e talvez mais importante, é presentear o aluno com o dom da leitura prazerosa, abrindo o acesso à literatura, às emoções estéticas e éticas, e ensinando-o a "querer" ler, sem imposição.

04 – Como a crônica contrapõe os métodos de alfabetização antigos e modernos?

      A crônica menciona que, embora haja métodos modernos mais eficientes (citando Paulo Freire e Emília Ferreiro), os métodos antigos também produziram grandes nomes da literatura e do pensamento. Isso sugere que a eficácia da alfabetização vai além do método em si, focando mais no resultado de abrir o mundo da leitura para o indivíduo.

05 – Qual a importância de se usar textos que interessem aos alunos no processo de alfabetização?

      É crucial usar textos que interessem aos alunos porque isso permite que a leitura se torne fluente e natural, sem a necessidade de decifrar penosamente o código. A autora enfatiza que o prazer e o engajamento são alcançados com "textos que de uma forma ou outra interessem" e nunca com "frases de cartilha" ocas e sem sentido.

06 – O que a citação de Daniel Pennac sobre o verbo "ler" revela sobre a filosofia de ensino da autora?

      A citação de Daniel Pennac ("O verbo ler não comporta imperativo – como o verbo amar e o verbo sonhar...") revela a filosofia da autora de que a leitura não deve ser imposta. Assim como o amor e o sonho, o prazer de ler deve ser uma escolha livre e espontânea, algo que só é possível quando a pessoa é alfabetizada "pra valer" e desenvolve o desejo genuíno pela leitura.

07 – Por que a crônica não aprofunda o tema da escrita, apesar de mencioná-lo como parte da alfabetização básica?

        A crônica não aprofunda o tema da escrita porque, para a autora, o aprender a escrever e se expressar por escrito é a "segunda parte da alfabetização básica". Ela considera esse um tópico que "fica para uma outra vez" e que "não cabe no espaço desta pequena crônica", focando no objetivo principal de saudar o processo de alfabetização e o papel do alfabetizador na iniciação à leitura.

 

 

POEMA: OS CORTEJOS - MÁRIO DE ANDRADE - COM GABARITO

 Poema: Os cortejos

             Mário de Andrade

Monotonias das minhas retinas...

Serpentinas de entes frementes a se desenrolar...

Todos os sempres das minhas visões! "Bon Giorno, caro".

 

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5oBec4uoOuK4I1zlfWTmaL33TxJJw8eKWiCsy9bmo8GHeptXRnb4Ab6ZY2S9oSkwmTFJkrbqUTT3z6huSNXhjR2RkVJj0jSD46y4A48fekT79zEC3NPUNpNmcgFkKwLOmlcHcLNTcxfgPBGMYArMzvDpbIYTviThvDrw3g9BJ9nwj2Nc-CNDYsxysdKI/s320/cortejo-ao-mar-fotos-carlos-de-los-santos-1-720x475.jpg

Horríveis as cidades!

Vaidades e mais vaidades...

Nada de asas! Nada de poesia! Nada de alegria!

Oh! os tumultuários das ausências!

Paulicéia — a grande boca de mil dentes;

e os jorros dentre a língua trissulca

de pus e de mais pus de distinção...

Giram homens fracos, baixos, magros...

Serpentinas de entes frementes a se desenrolar...

 

Estes homens de São Paulo,

todos iguais e desiguais,

quando vivem dentro dos meus olhos tão ricos,

parecem-me uns macacos, uns macacos.

Poesias completas. São Paulo: Círculo do Livro. s. d. p. 40.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 3ª Série – Ensino Médio – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª ed. – São Paulo: Saraiva Editora, 2013. p. 95.

Entendendo o poema:

01 – Qual a sensação inicial expressa pelo eu lírico em relação às suas próprias percepções ("Monotonias das minhas retinas...") e como ele descreve o movimento das pessoas que observa?

      A sensação inicial expressa pelo eu lírico é de monotonia em suas próprias percepções ("Monotonias das minhas retinas..."). Ele descreve o movimento das pessoas que observa como "Serpentinas de entes frementes a se desenrolar...", sugerindo um fluxo contínuo, talvez repetitivo e inquietante, de indivíduos.

02 – Como o eu lírico expressa sua aversão às cidades na segunda estrofe? Quais elementos ele associa a essa crítica?

      O eu lírico expressa sua aversão às cidades chamando-as de "Horríveis!" e as associa a "Vaidades e mais vaidades...". Ele sente falta de elementos que considera essenciais, como "Nada de asas! Nada de poesia! Nada de alegria!". A cidade é vista como um lugar de "tumultuários das ausências", onde algo fundamental está faltando.

03 – Que imagem forte e negativa o eu lírico utiliza para descrever a cidade de São Paulo ("Paulicéia")?

      O eu lírico utiliza a imagem forte e negativa de "Paulicéia — a grande boca de mil dentes; / e os jorros dentre a língua trissulca / de pus e de mais pus de distinção...". Essa metáfora apresenta a cidade como uma entidade voraz e doentia, com uma linguagem corrompida pela superficialidade e pela busca incessante por distinção social.

04 – Como o eu lírico descreve fisicamente os homens de São Paulo que observa, e a que comparação depreciativa ele os associa quando os vê através de seus "olhos tão ricos"?

      O eu lírico descreve fisicamente os homens de São Paulo como "fracos, baixos, magros...". Quando os observa através de seus "olhos tão ricos", ele os associa a uma comparação depreciativa, chamando-os de "uns macacos, uns macacos", sugerindo uma visão de inferioridade, imitação ou falta de individualidade.

05 – Qual a principal crítica social e/ou existencial que parece emergir do poema "Os Cortejos"?

      A principal crítica que emerge do poema parece ser uma crítica à superficialidade, à monotonia e à falta de autenticidade da vida urbana moderna, especialmente em São Paulo. O eu lírico expressa um profundo desencanto com as vaidades sociais, a ausência de poesia e alegria, e a aparente homogeneização e perda de individualidade dos habitantes da cidade, vistos como seres repetitivos e até mesmo animalescos. O poema revela um olhar crítico e desiludido sobre a sociedade e a condição humana no contexto urbano.

 

 

TEXTO: MASSACRE DE ELDORADO DOS CARAJÁS - JOSÉ SARAMAGO - COM GABARITO

 Texto: MASSACRE DE ELDORADO DOS CARAJÁS

           JOSÉ SARAMAGO

        No dia 17 de abril de 1996, no estado brasileiro do Pará, perto de uma povoação chamada Eldorado dos Carajás (Eldorado: como pode ser sarcástico o destino de certas palavras...), 155 soldados da polícia militarizada, armados de espingardas e metralhadoras, abriram fogo contra uma manifestação de camponeses que bloqueavam a estrada em ação de protesto pelo atraso dos procedimentos legais de expropriação de terras, como parte do esboço ou simulacro de uma suposta reforma agrária na qual, entre avanços mínimos e dramáticos recuos, se gastaram já cinquenta anos, sem que alguma vez tivesse sido dada suficiente satisfação aos gravíssimos problemas de subsistência (seria mais rigoroso dizer sobrevivência) dos trabalhadores do campo. Naquele dia, no chão de Eldorado dos Carajás ficaram 19 mortos, além de umas quantas dezenas de pessoas feridas.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2FkMfVFKs5fQce2KUfkLj6Dj8pq9xxHG9FlAnU-q4ejzTkfTLIryyippfZjLNEl6KdHpcceODg_6f0AB-g1vnQ5BUln9MIs3XNKSzPZiuVvjMHcDBeZnVV0KIRjfHpulH97H0UjBFOzx_W69hbB_H6SwIWec7Y0IXoeVzcD3QfoqEPGEIqFtq3jr63mA/s1600/images.jpg

        Passados três meses sobre este sangrento acontecimento, a polícia do estado do Pará, arvorando-se a si mesma em juiz numa causa em que, obviamente, só poderia ser a parte acusada, veio a público declarar inocentes de qualquer culpa seus 155 soldados, alegando que tinham agido em legítima defesa, e, como se isto lhe parecesse pouco, reclamou processamento judicial contra três dos camponeses, por desacato, lesões e detenção ilegal de armas. O arsenal bélico dos manifestantes era constituído por três pistolas, pedras e instrumentos de lavoura mais ou menos manejáveis. Demasiado sabemos que, muito antes da invenção das primeiras armas de fogo, já as pedras, as foices e os chuços haviam sido considerados ilegais nas mãos daqueles que, obrigados pela necessidade a reclamar pão para comer e terra para trabalhar, encontraram pela frente a polícia militarizada do tempo, armada de espadas, lanças e alabardas. Ao contrário do que geralmente se pretende fazer acreditar, não há nada mais fácil de compreender que a história do mundo, que muita gente ilustrada ainda teima em afirmar ser complicada demais para o entendimento rude do povo.

José Saramago. In: Sebastião Salgado. Terra. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p. 11.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 3ª Série – Ensino Médio – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª ed. – São Paulo: Saraiva Editora, 2013. p. 19.

Entendendo o texto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

-- Alabarda: arma antiga, formada por haste de madeira em ferro largo e pontiagudo, atravessando por outro em forma de meia-lua.

-- Chuço: vara ou pau armado de ponta de ferro ou de aço.

-- Simulacro: ação simulada, falsificação.

02 – Qual foi o contexto e o motivo da manifestação dos camponeses em Eldorado dos Carajás, segundo o texto de José Saramago?

      A manifestação dos camponeses ocorreu em protesto contra o atraso nos procedimentos legais de expropriação de terras, parte de uma reforma agrária que, após cinquenta anos, ainda não havia oferecido soluções significativas para os graves problemas de subsistência dos trabalhadores rurais. Eles bloquearam a estrada como forma de pressionar por seus direitos.

03 – Descreva a ação da polícia militarizada contra os manifestantes e as consequências imediatas desse confronto.

      No dia 17 de abril de 1996, 155 soldados da polícia militarizada, armados com espingardas e metralhadoras, abriram fogo contra a manifestação pacífica dos camponeses. O resultado imediato foi a morte de 19 pessoas e dezenas de feridos.

04 – Qual foi a alegação da polícia do estado do Pará três meses após o massacre, e como José Saramago a critica no texto?

      Três meses após o massacre, a polícia do Pará declarou publicamente a inocência de seus 155 soldados, alegando legítima defesa. Saramago critica essa postura ao apontar a contradição de a polícia se colocar como juíza em uma situação em que era claramente a parte acusada. Ele também ironiza a alegação ao contrastar o armamento pesado da polícia com as "armas" dos camponeses: três pistolas, pedras e instrumentos de lavoura.

05 – Segundo o texto, qual era a principal reivindicação dos camponeses e como Saramago relaciona essa reivindicação com a história da luta por direitos?

      A principal reivindicação dos camponeses era "pão para comer e terra para trabalhar", ou seja, condições básicas de sobrevivência e dignidade através do acesso à terra. Saramago relaciona essa reivindicação com a longa história da luta por direitos, mencionando que mesmo antes das armas de fogo, instrumentos simples como pedras e foices eram considerados ilegais nas mãos daqueles que lutavam por necessidades básicas. Ele sugere que essa dinâmica de opressão persiste ao longo da história.

06 – Qual a crítica geral de José Saramago presente no texto em relação à compreensão da história e à situação dos trabalhadores do campo?

      Saramago critica a ideia de que a história é excessivamente complexa para o entendimento do povo, argumentando que, na verdade, a história do mundo é facilmente compreensível, especialmente no que diz respeito à luta dos oprimidos por seus direitos. Ele denuncia a persistente falta de atenção e solução para os gravíssimos problemas de subsistência dos trabalhadores do campo no Brasil, evidenciada pela lentidão e ineficácia da reforma agrária.

 

POEMA: AS JANELAS - FRAGMENTO - GUILLAUME APOLLINAIRE - COM GABARITO

 Poema: AS JANELAS – Fragmento

            Guillaume Apollinaire

Do vermelho ao verde todo amarelo morre
Quando cantam as araras nas florestas natais
[...]
Aves chinesas de uma asa só voando em dupla
É preciso um poema sobre isso
Enviaremos mensagem telefônica

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOLFx3Lec2D_B3-MMWbKzGgF9a7BIxzeq73G4P-hMKTeqE9st46FxhInQIUSqypQP1moi6vQX0rdSCFfTMD5nWwX7f2zCFlrHz4eueJdEQMf4KeZOteRnh7emzDVvo2LRcpvgYRESTImKWeGmJZuJxLdi0HF1SbM8uHgY0nBvsQngfILdoaM9mPaTb-us/s320/JANELAS.jpg


Traumatismo gigante
Faz escorrer os olhos
Garota bonita entre jovens turinenses
O moço pobre se assoava na gravata branca
Você vai erguer a cortina
E agora veja a janela se abre
Aranhas quando as mãos teciam a luz
Beleza palidez insondáveis violetas
Tentaremos em vão ter algum descanso
Vamos começar à meia-noite
Quando se tem tempo tem-se a liberdade
Marisco Lampreia múltiplos Sóis e o Ouriço do crepúsculo
Um velho par de sapatos amarelos diante da janela
Tours

As Torres são as ruas
[...]

Ó Paris
Do vermelho ao verde todo jovem perece
Paris Vancouver Hyères Maintenon Nova York e as Antilhas
A janela se abre como uma laranja
O belo fruto da luz.

Guillaume Apollinaire. Tradução de Décio Pignatari. In: Décio Pignatari, org. 31 poetas e 214 poemas – Do Rig-Veda e Safo a Apollinaire. São Paulo: Companhia das Letras, 199. p. 109-110.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 3ª Série – Ensino Médio – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª ed. – São Paulo: Saraiva Editora, 2013. p. 31.

Entendendo o poema:

01 – Qual o significado da palavra lampreia, no texto?

      É um animal marinho.

02 – Qual a imagem inicial do poema e o que a cor amarela parece simbolizar na primeira estrofe?

      A imagem inicial do poema é a transição de cores "do vermelho ao verde", culminando na morte do "todo amarelo". A cor amarela, nesse contexto, parece simbolizar transitoriedade, o fim de um ciclo ou talvez um estado de declínio entre a vitalidade (vermelho) e a esperança ou natureza (verde).

03 – Identifique duas imagens que evocam o exótico ou o distante no poema e explique brevemente seus possíveis significados.

      Duas imagens que evocam o exótico são "araras nas florestas natais" e "Aves chinesas de uma asa só voando em dupla". As araras remetem a terras tropicais e exuberantes, sugerindo um lugar distante e talvez idealizado. As aves chinesas de uma asa só, voando em dupla, criam uma imagem surreal e misteriosa, ligada a uma cultura distante e a uma necessidade de complementaridade para alcançar o movimento.

04 – Quais elementos do poema sugerem a modernidade e a quebra com a poesia tradicional?

      Vários elementos sugerem a modernidade e a quebra com a tradição: a menção a "mensagem telefônica" como forma de comunicação, a expressão abrupta "Traumatismo gigante", a justaposição de imagens díspares sem uma conexão lógica aparente ("Garota bonita entre jovens turinenses / O moço pobre se assoava na gravata branca"), e a própria fragmentação do poema. A ausência de rima e métrica regulares também contribui para essa sensação de modernidade e liberdade formal.

05 – Analise a metáfora presente na penúltima estrofe: "A janela se abre como uma laranja / O belo fruto da luz." O que essa comparação sugere?

      A metáfora compara a abertura da janela a uma laranja, descrita como o "belo fruto da luz". Essa comparação sugere uma explosão de luminosidade e vitalidade, assim como ao abrir uma janela e deixar a luz entrar. A laranja, com sua forma arredondada e cor vibrante, evoca também uma sensação de plenitude e frescor, como se a janela fosse uma fonte de energia e beleza natural.

06 – Qual a sensação geral que o fragmento do poema transmite ao leitor, considerando a variedade de imagens e a aparente falta de uma narrativa linear?

      A sensação geral que o fragmento transmite é de fragmentação, dinamismo e uma tentativa de capturar a complexidade e a simultaneidade da experiência moderna. A variedade de imagens, que vão do exótico ao cotidiano, do concreto ao abstrato, cria uma atmosfera onírica e impressionista. A ausência de uma narrativa linear força o leitor a conectar as imagens de forma intuitiva, evocando sentimentos de estranhamento, beleza, melancolia e a constante transformação do mundo ("Do vermelho ao verde todo jovem perece"). O poema parece celebrar a liberdade da linguagem e a capacidade de evocar múltiplas sensações através da justaposição de elementos diversos.

 

 

POEMA: EU SOU TREZENTOS ... MÁRIO DE ANDRADE - COM GABARITO

 Poema: EU SOU TREZENTOS...

             MÁRIO DE ANDRADE

Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cinquenta, 
As sensações renascem de si mesmas sem repouso, 
Ôh espelhos, ôh! Pirineus! ôh caiçaras! 
Si um deus morrer, irei no Piauí buscar outro!

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfcPxp-VuugFgH4YhuL4BQsR3X7Ie6eMTepfPMVr1dhkjprSeSzOAbWQTTrzbg-vRt-RRq_DlztLc7yS47RfBEVfdP2QcJj2vFdL5Labz7YpXd1Q_nIyIl0PfQG5YW0HIJAgrgKHn9dSy8tNfjCK9cc8499e-LLbBUz8UqtMqdDxW_TKG8ElVofLntQas/s320/CAI%C3%87ARA.jpg


Abraço no meu leito as melhores palavras, 
E os suspiros que dou são violinos alheios; 
Eu piso a terra como quem descobre a furto 
Nas esquinas, nos táxis, nas camarinhas seus próprios beijos!

Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cinquenta, 
Mas um dia afinal eu toparei comigo... 
Tenhamos paciência, andorinhas curtas, 
Só o esquecimento é que condensa, 
E então minha alma servirá de abrigo.

Poesias completas. São Paulo: Círculo do Livro. s. d. p. 189.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 3ª Série – Ensino Médio – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª ed. – São Paulo: Saraiva Editora, 2013. p. 96.

Entendendo o poema:

01 – Qual a primeira afirmação do eu lírico e o que sugere essa repetição numérica ("Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cinquenta")?

      A primeira afirmação do eu lírico é "Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cinquenta". Essa repetição numérica sugere uma multiplicidade de identidades, sensações e experiências que o eu lírico sente possuir. A imprecisão do número ("trezentos" e logo em seguida "trezentos-e-cinquenta") reforça a ideia de uma identidade fluida e em constante transformação, difícil de definir com precisão.

02 – Identifique as exclamações na primeira estrofe e interprete o que elas revelam sobre o estado emocional do eu lírico.

      As exclamações na primeira estrofe são "Ôh espelhos, ôh! Pirineus! ôh caiçaras!". Essas exclamações carregam um tom de intensidade, admiração e talvez até de estranhamento diante da variedade de elementos que compõem sua experiência. "Espelhos" podem simbolizar a reflexão sobre si mesmo em suas múltiplas facetas. "Pirineus" evocam uma grandiosidade natural e distante, enquanto "caiçaras" remetem a uma identidade cultural brasileira específica. A disposição dessas exclamações sugere um espírito inquieto e abrangente.

03 – Como o eu lírico descreve a relação com as palavras e os suspiros na segunda estrofe? Que efeito essa descrição produz?

      O eu lírico descreve que abraça "no meu leito as melhores palavras" e que seus suspiros são "violinos alheios". Essa descrição produz um efeito de intimidade com a linguagem, como se as palavras fossem um conforto ou um amante. Já a imagem dos suspiros como "violinos alheios" sugere que suas emoções podem ser expressas através de algo externo, talvez através da arte ou da experiência de outros, indicando uma permeabilidade entre o eu e o mundo.

04 – Qual a ação inusitada que o eu lírico descreve em relação ao ato de beijar e o que essa imagem pode simbolizar?

      O eu lírico descreve que pisa a terra "como quem descobre a furto / Nas esquinas, nos táxis, nas camarinhas seus próprios beijos!". Essa imagem inusitada sugere uma busca constante por autoconhecimento e por reafirmação de sua identidade em lugares inesperados e cotidianos. Os "próprios beijos" encontrados furtivamente podem simbolizar momentos de autoaceitação, de reconhecimento de si mesmo em meio à vida agitada da cidade.

05 – Qual a esperança ou resolução expressa na última estrofe em relação ao encontro consigo mesmo e ao papel do esquecimento?

      Na última estrofe, o eu lírico expressa a esperança de que "um dia afinal eu toparei comigo...", indicando uma busca por uma identidade mais unificada. Ele pede paciência ("Tenhamos paciência, andorinhas curtas") e afirma que "só o esquecimento é que condensa", sugerindo que o tempo e o deixar para trás certas experiências são necessários para que sua alma encontre um abrigo, talvez uma forma mais estável ou compreensível de ser. O esquecimento, paradoxalmente, é visto como um processo de sedimentação da identidade.

 

 

MÚSICA(ATIVIDADES): SEGUE O SECO - MARISA MONTE - COM GABARITO

 Música (Atividades): Segue o Seco

             Marisa Monte

A boiada seca
Na enxurrada seca
A trovoada seca
Na enxada seca

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjf01h_Xl7f9-Bjj-KMJl99WwP4NNysbd6U-vCF_BOaAgR8730EoplsF4T7OIFdLLvV7lL1gssa5Ug6oGdedS-IkIwbNErUPL1lZb_77eNsv0hyIgucVj4X9G178xF26yg2DYmhusZUa3xVLcObbCYaQptC9MmKzmHNsnQA6Wp1ifmP9QgAf3SH2YU26tY/s320/SECO.jpg


Segue o seco sem sacar que o caminho é seco
Sem sacar que o espinho é seco
Sem sacar que seco é o Ser Sol

Sem sacar que algum espinho seco secará
E a água que sacar será um tiro seco
E secará o seu destino seca

Ô chuva, vem me dizer
Se posso ir lá em cima pra derramar você
Ó chuva, preste atenção
Se o povo lá de cima vive na solidão

Se acabar não acostumando
Se acabar parado calado
Se acabar baixinho chorando
Se acabar meio abandonado

Pode ser lágrimas de São Pedro
Ou talvez um grande amor chorando
Pode ser o desabotoado céu
Pode ser coco derramado.

Composição: Carlinhos Brown. Marisa Monte. CD Verde anil amarelo cor-de-rosa e carvão, 1994.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 3ª Série – Ensino Médio – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª ed. – São Paulo: Saraiva Editora, 2013. p. 140.

Atividades da música:

01 – Quais são as imagens de seca apresentadas no início da música e qual a sensação que elas transmitem?

      As imagens de seca apresentadas no início da música são "boiada seca", "enxurrada seca", "trovoada seca" e "enxada seca". Essas imagens paradoxais intensificam a sensação de aridez e ausência de vida, sugerindo uma seca tão extrema que afeta até mesmo elementos que normalmente estão associados à água ou à fertilidade. Transmitem uma sensação de desolação e de um ciclo vicioso de falta.

02 – O que significa a repetição da frase "Segue o seco sem sacar que..." e qual a implicação dessa falta de percepção para o personagem da música?

      A repetição da frase "Segue o seco sem sacar que..." enfatiza a ignorância ou a falta de consciência do personagem em relação à sua própria condição e ao ambiente em que vive. Ele continua seguindo em um caminho de seca, sem perceber que o próprio caminho, os obstáculos ("espinho"), e até mesmo a fonte de vida ("Ser Sol") estão secos. A implicação dessa falta de percepção é a perpetuação de seu sofrimento e a dificuldade de encontrar uma saída para a situação.

03 – Qual é o apelo presente no refrão ("Ô chuva, vem me dizer / Se posso ir lá em cima pra derramar você") e o que ele revela sobre a esperança do eu lírico?

      O apelo presente no refrão é um clamor à chuva, personificada como uma entidade capaz de trazer alívio. A pergunta "Se posso ir lá em cima pra derramar você" sugere um desejo intenso de participar da solução para a seca, de trazer a água que falta. Revela uma esperança, mesmo que distante, de que a situação possa mudar e de que ele possa contribuir para essa mudança.

04 – Como a música descreve a possível reação do "povo lá de cima" diante da solidão e do sofrimento?

      A música descreve a possível reação do "povo lá de cima" diante da solidão e do sofrimento de diversas formas: "se acabar não acostumando", "se acabar parado calado", "se acabar baixinho chorando", "se acabar meio abandonado". Essas descrições pintam um quadro de resignação, tristeza e isolamento, mostrando diferentes maneiras pelas quais a dureza da vida pode afetar emocionalmente as pessoas.

05 – Quais são as possíveis origens das "lágrimas" mencionadas no final da música e o que essas diferentes interpretações sugerem sobre a natureza do sofrimento?

      As possíveis origens das "lágrimas" mencionadas no final da música são "lágrimas de São Pedro" (associadas à chuva) ou "talvez um grande amor chorando", "o desabotoado céu" (uma imagem poética para a chuva) e "coco derramado" (algo inesperado e talvez menos significativo). Essas diferentes interpretações sugerem que o sofrimento pode ter diversas origens, desde causas naturais até questões emocionais profundas, e que, por vezes, a explicação pode ser tanto óbvia quanto misteriosa ou surpreendente. A variedade de explicações também enriquece a interpretação da música, deixando espaço para a reflexão sobre as fontes da dor e da esperança.

 

 

POEMA: O GATO - MÁRIO QUINTANA - COM GABARITO

 Poema: O GATO

             Mário Quintana

O gato chega à porta do quarto onde escrevo...
Entrepara... hesita... avança...
Fita-me.
Fitamo-nos.
Olhos nos olhos...
Quase com terror!
Como duas criaturas incomunicáveis e solitárias
que fossem feitas cada uma por um Deus diferente.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhELi7a90tErOi9chfbTAr-E77rhOgkzS9S9eSeoO_TchAOlHsX_3tII5W0XEFqK9M3XJs1ygXkQsujgq7e6bEnNmQNEoE6bPWhWxc_VbY42JA-913pdQ51Zr3y0dblpjyCQxVUYWm-xfdbrnSnhdpIK9XueX3p3SQx2D-CsF1nNMW-NqHjrLxCSug-C3A/s320/vida-de-gato.jpg


Mario Quintana. Preparativos de viagem. São Paulo: Globo, 1997. p. 25.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 3ª Série – Ensino Médio – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª ed. – São Paulo: Saraiva Editora, 2013. p. 204.

Entendendo o poema:

01 – Descreva a progressão da chegada do gato ao quarto do eu lírico, destacando os verbos utilizados.

      A chegada do gato é descrita em etapas, com verbos que indicam cautela e hesitação: "chega", "Entrepara", "hesita", "avança". Essa progressão lenta e gradual cria uma atmosfera de expectativa e um certo estranhamento no encontro.

02 – Qual a ação recíproca que ocorre entre o eu lírico e o gato após a entrada do animal no quarto?

      Após a entrada do gato, ocorre uma troca de olhares intensa: "Fita-me. / Fitamo-nos. / Olhos nos olhos...". Essa ação recíproca estabelece um momento de conexão visual direta entre os dois seres.

03 – Que emoção é quase explicitamente mencionada em relação a esse encontro visual?

      A emoção quase explicitamente mencionada em relação a esse encontro visual é o "terror". Essa palavra forte sugere um sentimento de estranheza profunda ou até mesmo de reconhecimento de algo desconhecido e potencialmente perturbador no outro.

04 – Qual a comparação utilizada pelo eu lírico para descrever a sensação de distância e incompreensão mútua entre ele e o gato?

      O eu lírico compara a sensação de distância e incompreensão mútua à de "duas criaturas incomunicáveis e solitárias / que fossem feitas cada uma por um Deus diferente". Essa comparação enfatiza a ideia de origens distintas e, consequentemente, de uma barreira fundamental na comunicação e na compreensão entre os dois seres.

05 – Qual a principal reflexão ou sentimento que o poema evoca sobre a natureza da comunicação e da solidão, mesmo em um encontro aparentemente simples?

      O poema evoca uma reflexão sobre a complexidade da comunicação e a persistência da solidão, mesmo em um encontro direto. A troca de olhares, apesar de intensa, não elimina a sensação de estranhamento e incomunicabilidade. A comparação com criaturas feitas por "Deus diferente" sugere uma barreira essencial que transcende a simples interação física, revelando a potencial solidão intrínseca a cada ser, mesmo na presença do outro.

 

 

POEMA: RAZÃO DE SER - PAULO LEMINSKI - COM GABARITO

 Poema: Razão de ser

             Paulo Leminski

Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso
Preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiamnfNmJMsMChnYyhF89bVDPyEPCtKLCa7JMq3aDeKPVdyKq8Hj-NSfy_91fv62_If96jcUbWoMphRdAMqZwBv-sb32PhAs-T2MYUcyp9PaScmtlLXKJgWcLb6IA8meewetn9IMJQ95yDh49WGRmRe_qNQmdnzvZLbB4fAeKEn-HixjAA1af3IL4JnZms/s320/ESCRITA.jpg


Escrevo porque amanhece,
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?

Paulo Leminski. Melhores poemas. 6. ed. Seleção de Fred Góes, Álvaro Martins. São Paulo: Global, 2002. p. 133.

 Fonte: Livro – Português: Linguagens, 3ª Série – Ensino Médio – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª ed. – São Paulo: Saraiva Editora, 2013. p. 156.

Entendendo o poema:

01 – Qual a resposta concisa que o eu lírico oferece para a sua prática da escrita na primeira e na terceira estrofe?

      Na primeira estrofe, o eu lírico responde com um direto "Escrevo. E pronto." Na terceira estrofe, ele reafirma sua prática com um simples "Eu escrevo apenas." Ambas as respostas sugerem uma ação natural e talvez instintiva, sem a necessidade de justificativas elaboradas.

02 – Quais as duas razões que o eu lírico apresenta como motivações para a escrita nas duas primeiras estrofes?

      As duas razões apresentadas são: a necessidade ("Escrevo porque preciso / Preciso porque estou tonto") e um impulso quase natural ligado ao amanhecer e à inspiração cósmica ("Escrevo porque amanhece, / E as estrelas lá no céu / Lembram letras no papel, / Quando o poema me anoitece"). A primeira razão sugere um estado de desequilíbrio ou confusão que a escrita busca ordenar, enquanto a segunda aponta para uma conexão entre o universo e a criação poética.

03 – Como o eu lírico estabelece uma relação entre os fenômenos naturais (aranha tecendo e peixe agindo) e a sua própria ação de escrever na terceira estrofe?

      O eu lírico estabelece uma relação de paralelismo entre as ações da aranha ("tece teias") e do peixe ("beija e morde o que vê") e a sua própria ação de escrever ("Eu escrevo apenas"). Ao apresentar essas ações da natureza como algo intrínseco e sem questionamento de propósito, ele sugere que a escrita também pode ser uma atividade natural e essencial para ele, dispensando uma razão específica.

04 – Qual a pergunta retórica que encerra o poema e qual o seu possível significado em relação à arte e à necessidade de justificação?

      A pergunta retórica que encerra o poema é "Tem que ter por quê?". Essa pergunta questiona a necessidade de sempre buscar uma razão ou uma finalidade para a arte, no caso, para a escrita. Sugere que a criação pode ser um impulso intrínseco, uma forma de ser e de estar no mundo que não precisa de justificativas racionais ou externas.

05 – Qual a atmosfera geral do poema em relação à escrita: ela é apresentada como um esforço consciente, uma necessidade premente ou algo mais espontâneo e natural? Justifique com elementos do texto.

      A atmosfera geral do poema sugere que a escrita é algo mais espontâneo e natural para o eu lírico. A concisão das afirmações ("Escrevo. E pronto."), a comparação com ações instintivas da natureza (aranha tecendo, peixe agindo), e a pergunta retórica final ("Tem que ter por quê?") indicam que a escrita flui como uma necessidade interna e até mesmo como uma resposta ao mundo ao seu redor (o amanhecer, as estrelas), sem a exigência de uma razão lógica ou premeditada. A "tonteira" inicial sugere um impulso interno que encontra na escrita sua forma de expressão e equilíbrio.

 

 

quarta-feira, 14 de maio de 2025

FÁBULA: A RATOEIRA E O RATO - ESOPO - COM GABARITO

Fábula: “A Ratoeira e o Rato”

              ESOPO

        Numa planície da Ática, perto de Atenas, morava um fazendeiro com sua mulher; ele tinha vários tipos de cultivares, assim como: oliva, grão de bico, lentilha, vinha, cevada e trigo. Ele armazenava tudo num paiol dentro de casa, quando notou que seus cereais e leguminosas, estavam sendo devoradas pelo rato. O velho fazendeiro foi a Atenas vender partes de suas cultivares e aproveitou para comprar uma ratoeira.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZktR-tuni1O_jE2fu_rfaDThgWdMEC4aN8u6F5hPpkc9vRFAa78Fsm7EM16OuxuiLHDgWicngwsyzWAsQma_X_xVSJiCgIoHgFAXBSbGHgr7WA2Yy0qI96O966zUj-7gtnzZYxhVsUOlPTJOlTKnt1oFRRgNiZDxjq3RJzWq7N7c3lbnFXc_dahc2dk0/s320/RATO.png


        Um rato, olhando pelo buraco na parede, vê o fazendeiro e sua esposa abrindo um pacote. Pensou logo no tipo de comida que haveria ali.

       Ao descobrir que era uma ratoeira ficou aterrorizado.

      Correu ao pátio da fazenda advertindo a todos:

       - Há uma ratoeira na casa, uma ratoeira na casa!

      A galinha disse:

      - Desculpe-me Senhor Rato, eu entendo que isso seja um grande problema para o senhor, mas não me prejudica em nada, não me incomoda.

     O rato foi até o porco e disse:

     - Há uma ratoeira na casa, uma ratoeira!

     - Desculpe-me Senhor Rato, disse o porco, mas não há nada que eu possa fazer, a não ser orar. Fique tranquilo que o Senhor será lembrado nas minhas orações.

      O rato dirigiu-se à vaca. E ela lhe disse:

      - O que? Uma ratoeira? Por acaso estou em perigo? Acho que não! Então o rato voltou para casa abatido, para encarar a ratoeira. Naquela noite ouviu-se um barulho, como o da ratoeira pegando sua vítima.

      A mulher do fazendeiro correu para ver o que havia pego.

       No escuro, ela não viu que a ratoeira havia pego a cauda de uma cobra venenosa. E a cobra picou a mulher. O fazendeiro a levou imediatamente ao hospital. Ela voltou com febre.

      Todo mundo sabe que para alimentar alguém com febre, nada melhor que uma canja de galinha. O fazendeiro pegou seu cutelo e foi providenciar o ingrediente principal.

     Como a doença da mulher continuava, os amigos e vizinhos vieram visitá-la.

     Para alimentá-los, o fazendeiro matou o porco.

     A mulher não melhorou e acabou morrendo.

     Muita gente veio para o funeral. O fazendeiro então sacrificou a vaca, para alimentar todo aquele povo.

Moral: Na próxima vez que você ouvir dizer que alguém está diante de um problema e acreditar que o problema não lhe diz respeito, lembre-se que quando há uma ratoeira na casa, toda fazenda corre risco. O problema de um é problema de todos.

Compreendo o texto

01. Em "O fazendeiro pegou seu cutelo e foi providenciar o ingrediente principal", o autor referiu-se:

a. a uma faca grande para matar a vaca.

b. a uma bota para esmagar o rato.

c. a uma faca grande para matar a galinha.

d. a um animal grande desconhecido que serviria de jantar.

02. Qual dos seguintes animais NÃO foi procurado pelo rato para alertar sobre a ratoeira?

a. A galinha.

b. O porco.

c. O gato.

d. A vaca.

03. Onde se passava a história da fábula?

a. Numa floresta distante.

b. Numa cidade movimentada.

c. Numa planície da Ática, perto de Atenas.

d. Numa montanha isolada.

04. Qual foi o primeiro evento inesperado que aconteceu após a ratoeira ser colocada?

a. O rato foi pego na ratoeira.

b. A galinha ficou doente.

c. A ratoeira pegou a cauda de uma cobra venenosa.

d. O porco fugiu da fazenda.

05. Qual foi o último animal sacrificado pelo fazendeiro na história?   

a. galinha.

b. O porco.

c. A vaca.

d. O rato.

06. Qual é a principal moral da fábula "A Ratoeira e o Rato"?

a. Devemos sempre ter medo de coisas novas.

b. Os problemas dos outros não nos afetam.

c. Quando há um perigo para um, todos estão em risco.

d. É importante ter muitos amigos e vizinhos.