Poema: Luar
Cecília Meireles
Face do muro tão plana,
com o sabugueiro florido.
O luar parece que abana
as ramagens na parede.

A noite toda é um zumbido
e um florir de vagalumes.
A boca morre de sede
junto à frescura dos galhos.
Andam nascendo os perfumes
na seda crespa dos cravos.
Brota o sono dos canteiros
como o cristal dos orvalhos.
Cecília Meireles. Viagem, Obra Poética. Aguilar, 1972.
Fonte: Gramática da
Língua Portuguesa Uso e Abuso. Suzana d’Avila – Volume Único. Editora do Brasil
S/A. Ensino de 1º grau. 1997. p. 71.
Entendendo o poema:
01
– Qual é a atmosfera geral criada pelo poema "Luar" e de que forma o
foco na luz noturna contribui para esse clima?
A atmosfera geral
é de paz, mistério e profunda tranquilidade noturna. O foco na luz noturna (o
luar e o florir de vagalumes) contribui para isso ao criar um ambiente de
meias-sombras e brilhos intermitentes, tornando a cena mais etérea e sutil. O
luar não ilumina de forma agressiva, mas sugere a leveza e a quietude da
paisagem.
02
– Além da visão (a face do muro, o sabugueiro, os vagalumes), quais outros
sentidos humanos são ativados no poema e quais elementos os evocam?
Audição: Pelo "zumbido" da noite, que indica um som
contínuo e baixo, típico da atividade dos insetos noturnos.
Olfato: Pelos
"perfumes" que "nascem" na "seda crespa dos
cravos".
Tato/Paladar
(Metafórico): Pela sensação de "sede" junto à "frescura dos
galhos", expressando um anseio ou desejo por absorver a pureza e a umidade
da noite.
03
– Identifique e analise o recurso estilístico empregado no verso "O luar
parece que abana as ramagens na parede."
O recurso é a
Personificação (ou Prosopopeia). O luar, um elemento inanimado, é dotado da
ação humana de "abanar" (mover suavemente). Isso sugere que o
movimento das sombras projetadas na parede, causado pela luz da lua, cria uma
ilusão de vida e dança na cena, reforçando o caráter sutil e quase onírico da
observação.
04
– O que a imagem da "boca morre de sede junto à frescura dos galhos"
pode sugerir em um contexto que é primariamente sensorial e natural?
A imagem é uma
metáfora que expressa um intenso desejo ou anseio. A sede, neste contexto de
frescor e perfume, sugere uma carência que transcende o físico — uma sede
espiritual ou emocional. O eu lírico anseia por absorver a pureza, a paz e a
renovação que a natureza noturna oferece, mas sente-se separado ou incapaz de
alcançar plenamente essa "frescura".
05
– Analise o significado da metáfora que encerra o poema: "Brota o sono dos
canteiros / como o cristal dos orvalhos."
Esta metáfora
encerra a cena com uma imagem de total quietude. Ela compara o surgimento do
sono (o repouso completo da natureza) ao surgimento do orvalho (a umidade que
se condensa). O sono, um estado abstrato, é materializado e visualizado de
forma tangível, pura e brilhante ("cristal"), indicando que a
tranquilidade noturna está completa e é tão preciosa quanto o brilho das
gotículas de orvalho ao amanhecer.
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