sexta-feira, 10 de outubro de 2025

POEMA: TÂNATOS TANAJURA - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

 Poema: Tânatos Tanajura

          Carlos Drummond de Andrade

I
Tanajura
flor de chuva
chuviflor
em revoo
de arco-íris.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKwgvrCUOQz2WthyphenhyphenvH1QtJHVmdWpY4xMq68IvNYJ4qtcn-uMuUIublQHioaGMUqqqhPsK9y95328hsC8FZO9ArsMHoJf44I1yKZIlbnGGYRS9esMJwJs-41GGuUOI91BtERy_AeQzwieL8pX1uJ8WUlkqc7pMoU4P51M9B_B4jnXu1or_-ZwIBq0o76Jg/s320/ARCO%20IRIS.jpg



Erráticas
no ar escuro
que se aclara
ao sol da caça.

Foi o trovão,
tanajura,
tempo de amar,
tanajura,
tempinho de botar ovo
e de morrer,
tanajura.

II
Corre-corre na rua
a colher na enxurrada
a chuvatanajura.

Na tonta procura,
qual a mais gordinha
rainha do reino obscuro?
Oi, tana, tana, tanajura,
morte bailante
na tarde impura.

Esta hei de guardá-la,
esta hei de querer-lhe
como ao gato, ao caramujo
de minha estimação.

Carlos Drummond de Andrade. Farewell. Rio de Janeiro, Record, 1996.

Fonte: Gramática da Língua Portuguesa Uso e Abuso. Suzana d’Avila – Volume Único. Editora do Brasil S/A. Ensino de 1º grau. 1997. p. 70.

Entendendo o poema:

01 – Qual é a principal dualidade temática explorada no título e ao longo do poema "Tânatos Tanajura"?

      A principal dualidade temática é a oposição e a união entre Vida e Morte. O termo Tânatos (personificação grega da Morte) e Tanajura (um inseto de vida breve e cíclica) juntos exploram a natureza efêmera da existência, onde o tempo de voar, amar e botar ovo é, simultaneamente, o "tempinho... de morrer".

02 – Explique o significado das expressões "flor de chuva" e "chuviflor" aplicadas à Tanajura na primeira estrofe da Parte I?

      Essas expressões são metáforas que associam a Tanajura à beleza, fragilidade e efemeridade das flores. Elas sublinham que a aparição do inseto é diretamente ligada à chuva (fenômeno sazonal), indicando uma existência breve e uma beleza passageira, como o florescer que dura apenas um momento.

03 – Na terceira estrofe da Parte I, a repetição do vocativo "tanajura" em versos sucessivos confere qual efeito ao ritmo e ao tom do poema?

        “Foi o trovão, tanajura, tempo de amar, tanajura, tempinho de botar ovo e de morrer, tanajura.”

      A repetição (anáfora/vocativo) estabelece um tom de cantiga, lamento ou oração ritmada. Ela confere ao trecho um efeito de ternura melancólica e reforça a fatalidade e a simplicidade do ciclo de vida do inseto, quase como se o eu lírico estivesse se despedindo.

04 – Na Parte II, o que a frase "morte bailante na tarde impura" sugere sobre o destino das tanajuras e a relação humana com elas?

      A frase sugere um forte contraste trágico: o "bailante" remete ao voo gracioso e à liberdade do inseto, que é subitamente interrompido pela "morte" causada pela caça humana. O termo "tarde impura" pode ser uma reflexão do eu lírico sobre a visão predatória e o abate em massa dos insetos pelos coletores.

05 – Qual é o significado do verso final na Parte II, quando o eu lírico afirma que irá "guardá-la" e "querer-lhe / como ao gato, ao caramujo de minha estimação"?

      Este verso representa um ato de individualização e afeto que contrasta com a caça em massa. O eu lírico retira uma Tanajura específica do destino coletivo (ser comida) para conceder-lhe um valor individual e sentimental, elevando o inseto efêmero ao status de um animal de estimação, demonstrando ternura e uma crítica sutil à indiferença humana.

 

 

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