Poema: Tânatos Tanajura
Carlos Drummond de Andrade
I
Tanajura
flor de chuva
chuviflor
em revoo
de arco-íris.

Erráticas
no ar escuro
que se aclara
ao sol da caça.
Foi o trovão,
tanajura,
tempo de amar,
tanajura,
tempinho de botar ovo
e de morrer,
tanajura.
II
Corre-corre na rua
a colher na enxurrada
a chuvatanajura.
Na tonta procura,
qual a mais gordinha
rainha do reino obscuro?
Oi, tana, tana, tanajura,
morte bailante
na tarde impura.
Esta hei de guardá-la,
esta hei de querer-lhe
como ao gato, ao caramujo
de minha estimação.
Carlos Drummond de Andrade. Farewell. Rio de Janeiro, Record, 1996.
Fonte: Gramática da
Língua Portuguesa Uso e Abuso. Suzana d’Avila – Volume Único. Editora do Brasil
S/A. Ensino de 1º grau. 1997. p. 70.
Entendendo o poema:
01
– Qual é a principal dualidade temática explorada no título e ao longo do poema
"Tânatos Tanajura"?
A principal
dualidade temática é a oposição e a união entre Vida e Morte. O termo Tânatos
(personificação grega da Morte) e Tanajura (um inseto de vida breve e cíclica)
juntos exploram a natureza efêmera da existência, onde o tempo de voar, amar e
botar ovo é, simultaneamente, o "tempinho... de morrer".
02
– Explique o significado das expressões "flor de chuva" e
"chuviflor" aplicadas à Tanajura na primeira estrofe da Parte I?
Essas expressões são
metáforas que associam a Tanajura à beleza, fragilidade e efemeridade das
flores. Elas sublinham que a aparição do inseto é diretamente ligada à chuva
(fenômeno sazonal), indicando uma existência breve e uma beleza passageira,
como o florescer que dura apenas um momento.
03
– Na terceira estrofe da Parte I, a repetição do vocativo "tanajura"
em versos sucessivos confere qual efeito ao ritmo e ao tom do poema?
“Foi o trovão, tanajura, tempo de amar,
tanajura, tempinho de botar ovo e de morrer, tanajura.”
A repetição
(anáfora/vocativo) estabelece um tom de cantiga, lamento ou oração ritmada. Ela
confere ao trecho um efeito de ternura melancólica e reforça a fatalidade e a
simplicidade do ciclo de vida do inseto, quase como se o eu lírico estivesse se
despedindo.
04
– Na Parte II, o que a frase "morte bailante na tarde impura" sugere
sobre o destino das tanajuras e a relação humana com elas?
A frase sugere um forte contraste
trágico: o "bailante" remete ao voo gracioso e à liberdade do inseto,
que é subitamente interrompido pela "morte" causada pela caça humana.
O termo "tarde impura" pode ser uma reflexão do eu lírico sobre a
visão predatória e o abate em massa dos insetos pelos coletores.
05
– Qual é o significado do verso final na Parte II, quando o eu lírico afirma
que irá "guardá-la" e "querer-lhe / como ao gato, ao caramujo de
minha estimação"?
Este verso
representa um ato de individualização e afeto que contrasta com a caça em
massa. O eu lírico retira uma Tanajura específica do destino coletivo (ser
comida) para conceder-lhe um valor individual e sentimental, elevando o inseto
efêmero ao status de um animal de estimação, demonstrando ternura e uma crítica
sutil à indiferença humana.
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