Poema: Poema das reformas
Cláudio Murilo
É preciso reformar a casa,

Abrir as janelas,
Que o vento penetre
Em todos os cantos.
É preciso destruir as cercas,
Que as crianças entrem,
Pisem nos canteiros,
Construam a sua alegria.
É preciso reformar a rua,
Que todos andem por ela.
As lojas, os bares, os cinemas
Nos mantenham assim
Unidos e em paz.
É preciso reformar a cidade.
É preciso, antes e sempre,
Reformar o homem.
É preciso despi-lo,
É preciso mostrar
Que todos somos irmãos.
É preciso um novo dilúvio.
É preciso reescrever os livros
É preciso reencontrar a terra
É preciso que uma torrente
Invada todos nós
E lave nossa alma.
Affonso Romano de Sant’Anna et alii. Poesia viva I. Rio de Janeiro,
Civilização Brasileira, 1968.
Fonte: Português – 1º
grau – Descobrindo a gramática 8. Gilio Giacomozzi; Gildete Valério; Cláudia
Reda Fenga. São Paulo. FTD, 1992. p. 167.
Entendendo o poema:
01
– Qual é a ideia central ou o tema principal que o poeta Cláudio Murilo busca
transmitir ao longo do poema?
O tema central é
a necessidade urgente de uma transformação profunda e abrangente, que vai da
reforma do espaço físico (casa, rua, cidade) até, e principalmente, a reforma
interior e social do ser humano. O poeta defende a destruição de barreiras
(físicas e sociais) e a purificação da alma para que se estabeleça a
fraternidade e a paz.
02
– O que simbolizam as ações de "abrir as janelas" e "destruir as
cercas" na primeira estrofe?
"Abrir as janelas"
simboliza a necessidade de transparência, renovação e de deixar novas ideias ou
influências entrarem (o "vento") para arejar e purificar o ambiente.
"Destruir as
cercas" representa a quebra de barreiras, divisões e preconceitos que
separam as pessoas. O desejo de que as crianças "entrem" e
"pisem nos canteiros" sugere a valorização da liberdade, da alegria
espontânea e do convívio sem restrições sociais.
03
– Por que o poeta afirma que "É preciso, antes e sempre, / Reformar o
homem"?
O poeta entende
que as reformas estruturais (casa, rua, cidade) são insuficientes se a essência
do problema, que está no próprio ser humano, não for tratada. A reforma do
homem é prioridade porque é a mudança de mentalidade, de valores e a aceitação
da fraternidade ("todos somos irmãos") que sustentarão qualquer
transformação social duradoura. Sem a reforma interior, as reformas externas
não terão impacto real.
04
– Que tipo de transformação radical o poeta propõe ao mencionar "É preciso
um novo dilúvio" e "É preciso que uma torrente / Invada todos nós / E
lave nossa alma"?
Ao invocar a
ideia de um "novo dilúvio" e de uma "torrente", o poeta
sugere a necessidade de uma purificação total e cataclísmica, uma intervenção
drástica para limpar as falhas e vícios da humanidade. O dilúvio aqui não é
literal, mas uma metáfora para uma lavagem espiritual e moral em escala
universal, que "lave nossa alma" e prepare o ser humano para um
recomeço baseado na solidariedade e na verdade.
05
– A reforma proposta no poema é apenas individual ou possui uma dimensão
coletiva e social? Justifique com elementos do texto.
A reforma é
claramente coletiva e social, embora dependa da mudança individual. A dimensão
social é vista na menção explícita à reforma da "rua" e da
"cidade", no desejo de que "todos andem por ela" e que o
comércio e a cultura ("lojas, bares, cinemas") os mantenham
"Unidos e em paz". Além disso, o foco final é na reforma do homem
para que ele aceite que "todos somos irmãos", um conceito
fundamentalmente social e de convivência.
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