Notícia: OS SUBTERRÂNEOS DO MORRO DO CASTELO
Correio da Manhã - quinta-feira, 25
de maio de 1905
A atenção pública acha-se agora, mais
que nunca, presa à descoberta das galerias do morro do Castelo; as explorações
criteriosamente iniciadas e levadas a efeito pelo Dr. Pedro Dutra de Carvalho
têm dado os melhores resultados e já se vai afirmando no espírito dos mais
cépticos a crença de que no bojo da imensa mole de argila alguma coisa existe
de precioso, senão os tão falados apóstolos de ouro, pelo menos armas do tempo,
objetos de culto, móveis, instrumentos de suplício, todo um belchior secular,
que poderá fornecer ótimos instrumentos para a reconstituição de uma época
histórica.

A terceira galeria descoberta, já
conhecida por galeria dos capuchinhos, está explorada numa extensão de oitenta
e tantos metros.
Visitamo-la ontem, acompanhados do
amável engenheiro que dirige os trabalhos.
O ponto inicial é uma pequena sala de
forma trapezoidal, de teto em abóbada de berço; esta sala comunica-se com uma
outra galeria secundária, ao que parece, destinada à prisão.
A passagem da sala para esta galeria
faz-se por um pequeno orifício que mal dá passagem a um homem.
A galeria principal estende-se em linha
reta num percurso de sessenta metros; aí desvia-se para a direita, estando,
porém, esta derivação obstruída.
No ponto justo em que termina a parte
reta da galeria, existe uma grande pedra que se supõe ser uma porta disfarçada;
esta pedra ia ser hoje removida.
Os trabalhos têm sido executados com
alguma morosidade; a atmosfera subterrânea é abafada, quentíssima.
Dificilmente pode um homem trabalhar,
pela exiguidade do espaço. O terreno aí é pegajoso, denotando a presença de
hidrato de alumínio.
Têm sido encontrados diversos objetos
curiosos nas escavações, entre os quais salienta-se um grande candelabro de
ferro, que alumiava a pequena sala a que nos referimos acima.
É também interessante uma grande botija
azul, em que se vê gravado, como breveté, um sino.
Além desses objetos encontraram-se
ossos humanos, balas esféricas, um cano de garrucha, um grosso tubo de ferro,
uma chave, etc., objetos estes que se acham expostos em nossa redação.
Correio da Manhã –
quinta-feira, 25 de maio de 1905.
Fonte: Gramática da
Língua Portuguesa Uso e Abuso. Suzana d’Avila – Volume Único. Editora do Brasil
S/A. Ensino de 1º grau. 1997. p. 23.
Entendendo a notícia:
01
– Qual é o principal foco da atenção pública, segundo a notícia, e quem é o
responsável pelas explorações iniciais?
A atenção pública
está focada na descoberta das galerias subterrâneas do Morro do Castelo, no Rio
de Janeiro. O responsável por iniciar e conduzir as explorações de forma
criteriosa é o Dr. Pedro Dutra de Carvalho.
02
– O que o público, mesmo o mais cético, começa a acreditar que pode existir no
"bojo da imensa mole de argila" do Morro do Castelo?
O público,
incluindo os céticos, começa a crer que a massa de argila esconde algo de
precioso. Embora os lendários "apóstolos de ouro" sejam a esperança
mais famosa, eles esperam encontrar artefatos históricos como armas do tempo,
objetos de culto, móveis, instrumentos de suplício, ou seja, um "belchior
secular" (coleção de objetos antigos) que possa ajudar na reconstituição
de uma época histórica.
03
– Qual é o nome pelo qual a terceira galeria descoberta já era conhecida e qual
é a sua extensão?
A terceira
galeria descoberta é conhecida como a "galeria dos capuchinhos" e, no
momento da reportagem, estava explorada em uma extensão de "oitenta e
tantos metros".
04
– Quais eram as dificuldades enfrentadas na execução dos trabalhos de
exploração, segundo o repórter?
As principais
dificuldades eram o espaço físico reduzido ("exiguidade do espaço"),
o que dificultava o trabalho humano. Além disso, a atmosfera subterrânea era
"abafada, quentíssima," e o terreno era "pegajoso," o que
denotava a presença de hidrato de alumínio.
05
– Que descobertas foram feitas na pequena sala inicial e na galeria secundária
ligada a ela?
A pequena sala
(de forma trapezoidal e teto em abóbada de berço) comunicava-se com uma galeria
secundária que se supunha ser destinada à prisão. Na pequena sala, ou em suas
proximidades, foi encontrado um "grande candelabro de ferro" que a
alumiava.
06
– Qual artefato especial foi encontrado e é descrito com detalhes, incluindo a
sua marca de fábrica?
Um dos objetos de
destaque é uma "grande botija azul" (um recipiente, provavelmente de
cerâmica ou vidro) que continha uma gravação, como um breveté (marca registrada
ou patente), de um sino.
07
– Além dos objetos de culto e iluminação, que outros tipos de artefatos foram
encontrados, sugerindo atividades humanas e militares no local?
Foram encontrados
diversos artefatos que sugerem a ocupação e atividades variadas, como ossos
humanos, balas esféricas, um cano de garrucha (arma de fogo), um grosso tubo de
ferro, e uma chave.
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