sexta-feira, 10 de outubro de 2025

POEMA: O SEGUNDO, QUE ME VIGIA - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

 Poema: O Segundo, Que Me Vigia

           Carlos Drummond de Andrade

Implacável ponteiro dos segundos.
Não, não quero este decassílabo.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfW3-SovoDS_NlOPbjbx_oPdAxIDY4CJm05d_kD-UDciLptV1oiw9_nCt2N0s1O8VLcEKhSa6eGhsKqvJ4OkuvUw5-R37kFsmy7_u8yUCWzbe6D4S16ASi4KzsO2jzLGJ-QUt0pnuDWMpSrOmvvNSFwe2zOmP73eP9Sno_Qmo-MxUL3Yrtx22UhzmUpL4/s320/RELOGIO.jpg


O que eu queria dizer era:
O segundo, não o tempo, é implacável.
Tolera-se o minuto. A hora suporta-se.
Admite-se o dia, o mês, o ano, a vida,
a possível eternidade.
Mas o segundo é implacável.
Sempre vigiando e correndo e vigiando.
De mim não se condói, não para, não perdoa.
Avisa talvez que a morte foi adiada
ou apressada
por quantos segundos?

Carlos Drummond de Andrade. Farewell. Rio de Janeiro, Record, 1996.

Fonte: Gramática da Língua Portuguesa Uso e Abuso. Suzana d’Avila – Volume Único. Editora do Brasil S/A. Ensino de 1º grau. 1997. p. 24.

Entendendo o poema:

01 – Qual é a correção ou a distinção que o eu lírico faz logo no início do poema, e por que ele a considera importante?

      O eu lírico corrige a ideia inicial do "Implacável ponteiro dos segundos," rejeitando o verso por ser um decassílabo (métrica poética) e, principalmente, por ser impreciso. A correção é: "O segundo, não o tempo, é implacável." Essa distinção é crucial porque ele quer isolar a menor e mais rápida unidade de tempo, o segundo, como o agente da implacabilidade. O tempo em suas unidades maiores (minuto, hora, dia) é tolerável; o segundo, por sua constância e rapidez, é o que realmente oprime e vigia.

02 – Por que o eu lírico afirma que as unidades de tempo maiores ("minuto," "hora," "dia," "vida") são mais toleráveis que o segundo?

      O eu lírico sugere que as unidades maiores dão uma ilusão de controle, extensão ou pausa. O minuto, a hora e a vida podem ser "tolerados," "suportados" ou "admitidos" porque oferecem um horizonte mais vasto. Já o segundo, por ser a unidade de medida mais imediata e constante, representa a pressão incessante e ininterrupta do presente que escapa a todo instante, tornando-se o verdadeiro símbolo da implacabilidade.

03 – Quais ações o eu lírico atribui ao segundo que reforçam seu caráter de "vigilante" impiedoso?

      O segundo é personificado com ações de vigilância e falta de piedade. Ele está "Sempre vigiando e correndo e vigiando," e dele se diz que "não se condói, não para, não perdoa." Essas ações atribuem ao segundo uma qualidade de observador constante e juiz severo que não tem empatia pela condição humana e não concede trégua ao sujeito poético.

04 – Qual é a principal relação que o segundo estabelece com a morte na estrofe final?

      O segundo é relacionado à morte como um anunciador ou agente de medida da finitude. A pergunta retórica (o segundo "Avisa talvez que a morte foi adiada / ou apressada / por quantos segundos?") sugere que o segundo é a unidade pela qual se mede o quanto a vida foi prolongada ou encurtada. Ele representa o limite temporal inegociável da existência, sendo a unidade mínima que determina o momento do fim.

05 – O que o poema, em sua brevidade e foco em uma única unidade de tempo, comunica sobre a experiência da passagem do tempo na modernidade ou na consciência individual?

      O poema comunica a ansiedade e a opressão geradas pela passagem do tempo em sua forma mais fragmentada e ininterrupta. Ao focar no segundo, Drummond reflete sobre a percepção aguda da finitude e a sensação de que a vida é constantemente drenada, grão por grão. A implacabilidade do segundo espelha a consciência angustiante de que a vida está sempre correndo, sob vigilância, sem nunca poder ser verdadeiramente detida ou controlada.

 

 

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