domingo, 20 de setembro de 2020

POEMA: O CARVALHO E O JUNCO - PEDRO BANDEIRA - SME RIO - COM GABARITO

 POEMA: O CARVALHO E O JUNCO

                    Pedro Bandeira

Na beira da de um riacho, espalhava-se um carvalho.

Forte, belo, majestoso, da raiz até o galho.

 

Bem pertinho ali crescia um caniço, um mato à-toa

Era um junco muito fino, a fraqueza era em pessoa.

 

Lá na sombra do carvalho, pobre junco assim vivia.

Nada tinha pra fazer e era isso que fazia.

 

“Que matinho mais sem jeito!”, disse orgulho só o carvalho.

“Não tem flor e nem tem fruto, não tem folhas, nem tem galho!”

 

“Mil perdões se eu lhe incomodo e perturbo sua altivez.

Não sou mato, sou um junco...”,respondeu com timidez.

 

“Isso pra mim é o mesmo, se é capim, se é junco ou grama.

Pois eu vivo aqui em cima, você não: vive na lama!”

 

“Eu lhe peço mil desculpas por ser tão inferior.

Nem prato dos é possível nascer tão grande senhor...”

 

“Olhe, eu digo que dá pena ver um junco fraco assim.

Tão feioso, tão pelado, tão estranho isso é pra mim!”

O matinho ficou triste, até mesmo se ofendeu,

e, olhando para cima, decidido respondeu:

 

“Não estranhe a natureza, que não faz nada por mal.

Nela tudo tem valor, mas nem sempre é tudo igual...”

 

Foi aí que uma aragem, um ventinho passageiro,

soprou leve pelos campos, bem fresquinho, bem ligeiro.

 

O carvalho, lá em cima, nem prestou muita atenção,

mas o junco, coitadinho, viu-se em má situação.

 

Fraco e fino como era, pelo vento era dobrado,

arrastava-se no chão e tombava para o lado.

 

“Ui, carvalho, me acuda, se não for muito trabalho!”

Lá do alto só se ouvia a risada do carvalho:

 

“Ah, ah, ah! E a natureza? Fez o vento para quê?

Ah, pois se ela nunca erra, errou quando fez você!”

 

Muito triste estava o junco quando a tal brisa passou

e ficou bem caladinho depois que se endireitou.

 

E o tempo foi passando lá na beira do riacho,

com o junco e o carvalho, um por cima, outro por baixo.

Mas um dia, de repente, veio um vento furioso.

Um tufão logo seguido de um barulho pavoroso!

 

Todo bicho correu logo, percebendo o perigo.

Qualquer canto protegido serviria como abrigo.

 

Lá na copa do carvalho, até mesmo os passarinhos

resolveram ir embora e deixaram os seus ninhos.

 

Vai que o junco, tão fraquinho, contra a força do tufão

resistir não poderia e dobrou-se rente ao chão.

 

O carvalho, no entanto, não poderia se dobrar.

Resistiu com toda a força, agarrando-se ao lugar.

 

Mas o vento era  demais e ele não aguentou.

O tufão forçou sua copa e na terra o derrubou!

 

Quando tudo se acalmou, foi a vez de o junco ver

que o enorme do carvalho nunca mais ia se erguer.

 

“Ainda bem que sou fraquinho!”, disse o junco, aliviado.

Se eu fosse como ele, já estaria derrubado!”

 

BANDEIRA, Pedro. Fábulas palpitadas. São Paulo: Moderna, 2007.

SME Rio - LP5 4BIM ALUNO 2013 - Else Lopes Emrich Portilho - Elaboração.

ENTENDENDO O POEMA

1)   Você consegue deduzir o significado de majestoso? Essa palavra se parece com uma outra que você conhece...

Resposta pessoal.

Sugestão: A palavra lembra majestade. Majestoso significa “que tem porte, imponente, grandioso”.

2)   O Junco “Nada tinha pra fazer e era isso que fazia. ”A que se refere a palavra em negrito? Que sentido tem essa palavra no verso?

Refere-se à falta do que fazer do junco. O sentido é o de que o junco tinha uma existência praticamente inútil.

 3)   Na fala do carvalho “Pois eu vivo aqui em cima, você não: vive na lama!”, qual a função dos dois pontos?

Os dois pontos indicam que haverá uma explicação, um complemento.

 4)   Agora, experimente substituir os dois pontos por uma vírgula e, depois, por um ponto. Leia com os seus colegas e observe se mudou o sentido. Tente também um ponto de exclamação.

Resposta pessoal.

Atividades de leitura dramatizada auxiliam na compreensão do uso dos sinais de pontuação e, como consequência direta, na compreensão e interpretação dos textos.

         5)             Vamos mexer mais uma vez na pontuação do trecho anterior! Veja o que acontece se você ler o trecho ignorando os dois pontos. Escreva o que você descobriu.

Resposta pessoal.

POEMA: DOIS IRMÃOS - LÚCIA ROMEU - COM GABARITO

 POEMA:DOIS IRMÃOS

                                                 Lúcia Romeu

A árvore grande

tinha um galho especial

que era o balanço mais gostoso daquele quintal...

O menino queria pra

sempre, viver ali, naquela

árvore,

e convenceu a sua mãe,

que ele, menino,

era uma árvore também...

Olha só o que ele tem:

Ele tem raiz, dos cabelos...

Ele tem maçãs, do rosto...

E os olhos?

Duas jabuticabas...

Ah! Tem planta, do pé...

E tem batata da perna...

Menino engraçado esse...

Fruto criança que amadurece,

E que renova a natureza,

Enquanto cresce, cresce,

Cresce

Menino!

BEDRAN, Bia. Quintal. Niterói Discos, 1992.

ENTENDENDO O POEMA

1)   Que tema é abordado nesse texto?

É um poema sobre um menino que tem muito em comum com uma árvore.

 

2)   No texto, a quem o narrador se dirige em “Olha só o que ele tem:”?

O narrador se dirige ao leitor.

 

3-O menino do texto queria muito viver naquela árvore.

a)   Que motivo havia para esse desejo tão grande?

A árvore tinha um galho especial que era o balanço mais gostoso daquele quintal.

 

b)   E como o menino consegue convencer sua mãe? 

Ele se compara a uma árvore: tem raiz dos cabelos, maçãs do rosto, tem olhos como duas jabuticabas, tem planta do pé e batata da perna.

  

4)   Que efeito de sentido tema repetição nos versos

 “Ele tem raiz, dos cabelos.../

Ele tem maçãs, do rosto.../Ah! Tem planta, do pé.../E tem batata da perna...”?

A repetição reforça a quantidade de partes do corpo que o menino tem comum com a árvore.

 

POEMA: AS ÁRVORES - ARNALDO ANTUNES - COM GABARITO

 POEMA: AS ÁRVORES

                   Arnaldo Antunes

 As árvores são fáceis de achar

Ficam plantadas no chão

Mamam do sol pelas folhas

E pela terra

Também bebem água

Cantam no vento

E recebem a chuva de galhos abertos

Há as que dão frutas

E as que dão frutos

As de copa larga

E as que habitam esquilos

As que chovem depois da chuva

As cabeludas, as mais jovens mudas

As árvores ficam paradas

Uma a uma enfileiradas

Na alameda

Crescem pra cima como as pessoas

Mas nunca se deitam

O céu aceitam

Crescem como as pessoas

Mas não são soltas nos passos

São maiores, mas

Ocupam menos espaço

Árvore da vida

Árvore querida

Perdão pelo coração

Que eu desenhei em você

Com o nome do meu amor.

ANTUNES, Arnaldo. As coisas. Editora Iluminuras: São Paulo, 2000

  ENTENDENDO O POEMA

 1)   O poeta usa uma linguagem divertida para falar sobre a árvore. Copie, do poema, os versos que a comparam, claramente, aos seres humanos.

Crescem pra cima como as pessoas.

Crescem como as pessoas.

 2)   A que parte do corpo humano se relacionam os “galhos abertos”?

Os galhos abertos têm relação com os braços abertos.

  3)   Agora, veja se você consegue descobrir, no texto, outras características e ações próprias de seres humanos:

Ações: mamam, bebem água, cantam, choram.

Características: cabeludas, mudas.

 4)   Releia: “Mamam do sol pelas folhas / E pela terra / Também bebem água”. Como é possível isso? Parece até uma aula de Ciências!

As árvores recebem a energia do sol pelas folhas e retiram a água do solo pelas raízes.

5)   O que o poeta quis dizer com “Crescem como as pessoas / Mas não são soltas nos passos”?

As árvores crescem como as pessoas, mas não andam, não saem do lugar.

       6)   Em “As cabeludas, as mais jovens mudas”, como podemos entender a palavra em destaque?

“Mudas” têm o sentido de “caladas, sem falar” e também significam “plantas ainda jovens”.

 7)   Copie, os versos em que o eu do texto se dirige, com carinho, à árvore.

          “Árvore da vida

           Árvore querida”.

sábado, 19 de setembro de 2020

VIDEOCLIPE DA CANÇÃO: CRUEL - NINA FERNANDES - COM GABARITO

 Videoclipe Canção: Cruel

              


                                               Nina Fernandes

Puxa que eu vou indo junto
Quem fala primeiro?
Fecha esse olho
Pra sentir.

Anda que eu vou indo atrás
Quem ama primeiro?
Nesse sufoco
De não dizer.

Tem prazo, selo, validade
Limite, tem fronteira
Audácia contra desafio
Vaidade, busco uma maneira.

Cama, foto rasgada
Volta esse filme, amor
Eu quero ver você.

Fala que é de verdade, que a realidade
Poderia ser
Menos cruel
Comigo e com você.

Nina Fernandes.

Entendendo a canção:

01 – “Cruel” é uma canção de amor. No videoclipe, a protagonista aparece segurando uma casinha. Que outros objetos apresentados ao longo do clipe lembram o amor da protagonista?

      O cachorro, a flor, os abajures, a máquina fotográfica, o telefone, o disco de vinil e o gramofone.

02 – O que as diretoras do clipe fazem para mostrar que a protagonista está se sentindo sozinha?

      Elas mostram a cantora pequena diante de objetos como uma flor imensa. Além disso, ela é filmada de cima para baixo e a distância (ampliando a sensação de solidão), toca piano sozinha em meio a uma grande paisagem; e surge isolada em um arrozal, um milharal e uma praia deserto.

03 – Que objetos sugerem o contato que a protagonista da história narrada no videoclipe tem com o universo da música?

      Um piano, um gramofone e um disco de vinil.

 

CONTO: PIRATAS SEM PIEDADE - SUELY MENDES BRAZÃO - COM GABARITO

 Conto: Piratas sem piedade


Suely Mendes Brazão

        Voltando das ilhas do Caribe, o pirata francês Jean-Thomas Dulaien comandava seus dois navios, que se chamavam Sem rumo e Sem piedade.

        Na altura da linha do Equador, desviou-se rapidamente da rota programada e veio dar nas costas do Maranhão.

        -- Que sorte! – exclamou de repente. – [...]. Não acredito no que estou vendo. Vou procurar imediatamente um bom local para lançar âncora. Esta era a grande oportunidade que eu esperava na vida....

        O que tanto encantava Dulaien era, na verdade, uma visão macabra. A poucas milhas do litoral, mas fora do alcance da vista de quem estivesse em terra, uma nau portuguesa, com a cruz de malta estampada em suas velas, estava adernada a estibordo. Com certeza, tinha sido atingida à noite por forte tempestade: seus mastros estava partidos, o velame rasgado, o timão quebrado e, boiando no mar, nas proximidades do barco, havia corpos de marinheiros mortos.

        Tudo isso, porém, não estava interessando a Dulaien: seus olhos brilhavam porque, do alto da gávea de seu barco, onde estava pendurado, ele já a imaginava com o carregamento da nau: sacos e arcas abarrotados, de moedas e lingotes de ouro, dos quais poderia se apossar.

        Tudo seria seu! Bastava chegar à nau antes que afundasse de vez e ordenar a seus homens que, cuidadosamente, a saqueassem.

        E Dulaien estava certo. O feixe de luz que se espalhou ao se abrirem as portas dos porões do navio fez refulgir o ouro, que transbordava de sacos e mais sacos e se espalhava pelo chão.

        – Vamos, molengas, vamos ao saque! – gritou, animando seus homens. – O lucro é bom. Mas façam depressa, antes que esta banheira afunde!

        Muito experientes em pilhagens, os piratas de Dulaien esvaziaram a nau em menos de uma hora. Quando a embarcação afundou, o Sem piedade já estava cheio de ouro, conforme as ordens do capitão.

        – E agora, meus caros, vamos festejar! Tragam para este navio toda a comida e toda a bebida que houver no Sem rumo. A festa hoje vai ser aqui, ao lado de nossas riquezas.

        – Mas é mesmo para levar tudo, capitão? Temos suprimentos para toda a viagem de volta à França. É muita coisa, senhor.

        – Não ouse contrariar minhas ordens, se não quiser ser trancado no porão a pão e água!

        Os homens fizeram o que Dulaien mandou e, logo em seguida, os dois navios piratas rumaram para as proximidades de uma ilha. Ao cair da noite, os festejos a bordo: mais beberam do que comeram, fazendo tinir as moedas de ouro sobre a tosca madeira da grande mesa improvisada no convés.

        Alta hora da madrugada, Dulaien sugeriu:

        – Vamos todos para a terra! Quero que meus homens descansem ao ar livre... [...]

        Sem condições de discutir nada, os homens saíram nos botes, remando lentamente. O capitão pirata ia à frente: ao contrário de seus comandados, parecia sóbrio, forte, sem sono.

        Duas horas depois, quando todos já dormiam, cobertos pelas estrelas e embalados pelo vinho, um barquinho afastou-se sorrateiramente da ilha, rumo ao Sem piedade: era Dulaien, que só, com todo o ouro, bem escondido nos porões, fugia para a Europa. [...]

        No dia seguinte, por volta do meio-dia, ao acordar, os marinheiros não tiveram outra opção.

        Voltaram ao Sem rumo e procuraram o porto brasileiro mais próximo. Para não morrer de fome e para poder voltar à Europa, tentaram saquear a cidade, mas foram presos imediatamente e trancafiados na mais subterrânea e escura masmorra.

        E é bem provável que tenham morrido lá, pois quem iria salvá-los?

Suely Mendes Brazão. Contos de piratas, corsários e bandidos. São Paulo: Ática, 1992.

Fonte: Língua Portuguesa. Entre palavras – Edição renovada. Mauro Ferreira. 5ª série. Ed. FTD – São Paulo – 1ª edição – 2002. P. 29-32.

 

Entendendo o conto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Adernado: inclinado, tombado.

·        Convés: piso ou pavimento de um navio, especialmente aquele em céu aberto.

·        Cruz de malta: símbolo do cristianismo, utilizado em navios portugueses.

·        Estibordo: lado direito de uma embarcação.

·        Gávea: plataforma semelhante a um cesto entalada no alto do mastro.

·        Lingote: metal fundido em forma de barra.

·        Macabro: relativo à morte; sinistro.

·        Masmorra: prisão.

·        Nau: navio de grande porte.

·        Pilhagem: roubo praticado por um grupo de pessoas.

·        Refulgir: brilhar com intensidade.

·        Saquear: roubar, apossar-se com violência.

·        Suprimento: mantimento, estoque de alimentos.

·        Timão: volante com que se manobra a embarcação.

·        Tosco: rústico, grosseiro.

·        Velame: conjunto das velas de uma embarcação.

02 – Piratas eram aventureiros que navegavam pelos mares para atacar navios e roubar suas cargas. Os nomes dos dois navios fazem referência ao modo de viver e de agir dos piratas? Justifique.

      Sim. Sem rumo indica que os piratas, procurando navios para atacar, viajavam sem destino certo. Sem piedade indica o modo cruel como eles agiam: matavam as pessoas, punham fogo nos navios, etc.

03 – O que havia acontecido com o navio português que os piratas encontraram?

      Ele havia sido destruído por uma tempestade e as pessoas que estavam nele haviam se afogado.

04 – Releia a primeira fala do capitão dos piratas.

a)   O que Dulaien quer dizer com “o diabo me ajudou”?

Ele quer dizer que o diabo é que tinha provocado o naufrágio. O fato de o navio estar destruído facilitaria o trabalho dos piratas de roubar o que havia nele.

b)   Quando encontrou o navio português, Dulaien já era um pirata realizado em sua profissão? Justifique, baseando-se na fala do próprio pirata.

Não. Ele afirma: “Esta era a grande oportunidade que eu esperava na vida...”, o que permite concluir que ele ainda não havia tido a oportunidade de saquear um navio com tantas riquezas.

05 – O que o chefe dos piratas pretendeu:

a)   Quando ordenou que toda comida fosse levada para o Sem piedade?

Ele quis deixar o Sem rumo sem nada para os outros piratas comerem. Assim, eles não poderiam perseguir o Sem piedade até a Europa. Se tentassem, morreriam de fome.

b)   Com a festa?

A festa serviu para Dulaien embebedar os piratas. Se eles não estivessem bêbados, talvez desconfiassem dos planos dele e não aceitariam ir para a ilha.

c)   Quando propôs aos piratas que todos fossem para a ilha?

Ele fez isso para que os piratas, já bêbados, dormissem na ilha e ele pudesse fugir sozinho.

06 – Resuma o que aconteceu com os piratas assim que eles acordaram.

      Eles voltaram ao Sem rumo e, como não tinham comida, procuraram um porto brasileiro e atacaram a cidade. Foram presos e provavelmente morreram na prisão.

07 – Responda.

a)   O que você achou do plano de Dulaien?

Resposta pessoal do aluno.

b)   Se você fosse um dos piratas, como se sentiria ao perceber o que Dulaien havia feito?

Resposta pessoal do aluno.

08 – O texto que estudamos é uma narrativa de aventura. Você acha que os fatos narrados são apenas uma história de ficção (isto é, uma história inventada) ou podem ter acontecido no mundo real?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: No texto não tem nenhuma indicação de que se trata de um texto impossível de ter acontecido na realidade.

CRÔNICA: O CAMELO EXTRAVIADO - MARK TWAIN - COM GABARITO

 Crônica: O camelo extraviado

                             Mark Twain

   Um condutor de camelos perdeu o seu camelo e, encontrando um homem, perguntou-lhe: 

  -- Por acaso, o senhor não encontrou um camelo extraviado?

    O homem respondeu:

    -- Não é um camelo cego do olho esquerdo?

   -- Sim. 

        -- Que perdeu um dente de cima?

        -- Sim. 

        -- Que mancava da perna esquerda traseira?

        -- Sim! 

        -- Que carregava milho de um lado e mel do outro?

        -- Sim! O senhor não precisa apresentar mais detalhes. É exatamente o camelo que procuro. Estou com pressa. Onde o senhor o viu?

        -- Eu não vi camelo nenhum, respondeu o homem. 

        -- O senhor não viu? E como pôde descrevê-lo tão detalhadamente?

        -- Porque sei me servir dos olhos para observar as coisas. A maioria das pessoas tem olhos que não lhes servem de nada. Eu sabia que um camelo havia passado porque vi rastros. Sabia que mancava da pata esquerda traseira pelas marcas diferentes deixadas no chão do lado esquerdo. Sabia que era cego de um olho, porque só pastou o capim do lado direito do caminho. Sabia que perdeu um dente de cima porque deixou falhas nas raízes que mordeu. Notei que aves comiam os grãos de milho que foram caindo do lado esquerdo. Sei que o mel escorreu do lado direito porque observei muitas moscas juntas desse lado. Sei tudo sobre o seu camelo, mas não o vi. 

Mark Twain. Fonte: Língua Portuguesa. Entre palavras – Edição renovada. Mauro Ferreira. 5ª série. Ed. FTD – São Paulo – 1ª edição – 2002. P. 10-1.

Entendendo a crônica:

01 – O texto que você leu é um diálogo.

a)   Qual é o assunto do diálogo?

O assunto é um camelo que desapareceu.

b)   Quem está dialogando?

O diálogo ocorre entre dois homens; um deles é o dono do camelo.

02 – Você acha que as pessoas que conversam no texto se conhecem ou são estranhas uma para a outra? Justifique sua resposta.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: São estranhas, pela maneira respeitosa que o trata “senhor”.

03 – O homem não viu o camelo, mas conseguiu descrevê-lo. Como ele concluiu que:

a)   O camelo era cego de um olho?

Porque o animal só pastou o capim de um dos lados da estrada.

b)   O animal havia perdido um dente?

Porque ficaram falhas nas raízes que ele mordeu.

c)   O animal mancava de uma perna?

Porque algumas marcas deixadas no chão eram diferentes das outras.

04 – Como o homem concluiu que, de um lado, o camelo carregava milho e, de outro, levava mel?

      Ele notou que as aves estavam comendo os grãos caídos em um dos lados da estrada e que havia moscas reunidas sobre o mel derramado no outro lado.

05 – Na sua opinião, o homem que indicou as caracterís­ticas do camelo é um bom observador? Justifique sua opinião.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Sim, porque ele soube identificar os sinais que este havia deixado por onde passara.

06 – O que o homem que descreveu o camelo quis dizer com a frase "A maioria das pessoas tem olhos que não lhes servem de nada"?

      Ele deu a entender que muitas pessoas, apesar de enxergarem bem, não aproveitam essa capacidade, pois não prestam atenção àquilo que podem ver, ou seja, não observam atentamente as coisas.

07 – O fato narrado no texto, se realmente tivesse acontecido, poderia ter se passado no Brasil? Por quê?

      Não. Porque no Brasil, a não ser no zoológico, não há camelos. Mesmo que tivesse fugido, não seria um animal de carga.

08 – O autor do texto, ao criar essa história, não quis ape­nas contar um fato a respeito de um camelo. Na verdade, ele inventou esse acontecimento para trans­mitir aos leitores uma mensagem. Explique, com suas palavras, que mensagem seria essa.

      Resposta pessoal do aluno.

 



CRÔNICA: A LÍNGUA PORTUGUESA - LYGIA FAGUNDES TELLES / SONETO: LÍNGUA PORTUGUESA - OLAVO BILAC - COM GABARITO

 Crônica: A LÍNGUA PORTUGUESA


Lygia Fagundes Telles

        Estou me vendo debaixo de uma árvore, lendo a pequena história da literatura brasileira. (...)

        Olavo Bilac! – eu disse em voz alta e de repente parei quase num susto depois que li os primeiros versos do soneto à língua portuguesa: Última flor do Lácio, inculta e bela / És, a um tempo, esplendor e sepultura.

        Fiquei pensando, mas o poeta disse sepultura?! O tal de Lácio eu não sabia onde ficava, mas de sepultura eu entendia bem, disso eu entendia, repensei baixando o olhar para a terra. Se escrevia (e já escrevia) pequenos contos nessa língua, quer dizer que era a sepultura que esperava por esses meus escritos?

        Fui falar com meu pai. Comecei por aquelas minhas sondagens antes de chegar até onde queria, os tais rodeios que ele ia ouvindo com paciência enquanto enrolava o cigarro de palha, fumava nessa época esses cigarros. Comecei por perguntar se minha mãe e ele não tinham viajado para o exterior.

        Meu pai fixou em mim o olhar verde. Viagens, só pelo Brasil, meus avós é que tinham feito aquelas longas viagens de navio, Portugal, França, Itália... Não esquecer que a minha avó, Pedrina Perucchi, era italiana, ele acrescentou. Mas por que essa curiosidade?

        Sentei-me ao lado dele, respirei fundo e comecei a gaguejar, é que não seria tão bom se ambos tivessem nascido lá. Estaria agora escrevendo em italiano, italiano! – fiquei repetindo e abri o livro que trazia na mão: Olha aí, pai, o poeta escreveu com todas as letras, nossa língua é sepultura mesmo, tudo o que a gente fizer vai para debaixo da terra, desaparece!

        Calmamente ele pousou o cigarro no cinzeiro ao lado. Pegou os óculos. O soneto é muito bonito, disse me encarando com severidade. Feio é isso, filha, isso de querer renegar a própria língua. Se você chegar a escrever bem, não precisa ser em italiano ou espanhol ou alemão, você ficará na nossa língua mesmo, está me compreendendo? E as traduções? Renegar a língua é renegar o país, guarde isso nessa cabecinha. E depois (ele voltou a abrir o livro), olha que beleza o que o poeta escreveu em seguida, Amo-te assim, desconhecida e obscura, veja que confissão de amor ele fez à nossa língua! Tem mais, ele precisava da rima para sepultura e calhou tão bem essa obscura, entendeu agora? – acrescentou e levantou-se. Deu alguns passos e ficou olhando a borboleta que entrou na varanda: Já fez a sua lição de casa?

        Fechei o livro e recuei. Sempre que meu pai queria mudar de assunto ele mudava de lugar: saía da poltrona e ia para a cadeira de vime. Saía da cadeira de vime e ia para a rede ou simplesmente começava a andar. Era o sinal. Não quero falar nisso, chega. Então a gente falava noutra coisa ou ficava quieta.

        Tantos anos depois, quando me avisaram lá do pequeno hotel em Jacareí que ele tinha morrido, fiquei pensando nisso, ah! Se quando a morte entrou, se nesse instante ele tivesse mudado de lugar. Mudar depressa de lugar e de assunto. Depressa pai, saia da cama e fique na cadeira ou vá pra rua e feche a porta.

TELES. Lygia Fagundes. Durante aquele estranho chá: perdidos e achados.  Rio de Janeiro: Rocco, 2002, p.109-111.

    Fonte: Português – Uma proposta para o letramento – Ensino fundamental – 8ª série – Magda Soares – Ed. Moderna, 2002 – p. 196-9.

Soneto: Língua portuguesa

              Olavo Bilac

Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura.
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

em que da voz materna ouvi: "meu filho!",
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

Fonte: Português – Uma proposta para o letramento – Ensino fundamental – 8ª série – Magda Soares – Ed. Moderna, 2002 – p. 200.

Entendendo a crônica: 

01 – O poeta chama a língua portuguesa de flor do Lácio.

a)   Recorde o comentário da narradora: “O tal de Lácio eu não sabia onde ficava...”. Você sabe onde ficava “o tal de Lácio”: onde?

Na Península Itálica (região onde surgiu Roma).

b)   Por que o poema chama a língua portuguesa de flor do Lácio?

Porque é um produto excepcionalmente bom, bonito (como uma flor) da língua que se falava no Lácio; porque é uma língua tão bela quanto uma flor que tem sua origem no latim, língua falada no Lácio.

02 – O poeta atribui à língua características que se opõem; explique:

a)   A língua é bela, mas é inculta – por que é inculta?

É inculta porque não é produto de cultura, é a língua de um povo ainda sem tradição cultural; É inculta porque é primitiva, rude.

b)   A língua é esplendor (brilho, grandiosidade), mas é sepultura – por que é sepultura?

Porque, por ser uma língua desconhecida, o que é escrito nela fica fora do alcance dos outros, fica escondido, oculto.

03 – Por que a narradora ficou tão perturbada ao ver a língua portuguesa chamada de sepultura?

      Porque escrevia e assustou-se com a possibilidade de que não tivesse leitores, de que seus textos ficassem inacessíveis.

04 – Para a narradora, a solução para escapar da língua-sepultura seria escrever em italiano: “Estaria agora escrevendo em italiano, italiano!”.

a)   Por que italiano, e não francês, alemão, inglês...?

Porque era descendente de italianos, poderia ter nascido na Itália, a língua italiana era para ela uma possibilidade que tinha sido perdida.

b)   Escrever em italiano e não em português seria melhor não por causa do número de falantes. Que vantagem teria o italiano sobre o português?

O italiano é uma língua mais difundida no mundo, mais estudada, mais conhecida, é a língua de um país com mais representação econômica, cultural e literária que os países de língua portuguesa.

05 – Recorde a opinião do pai sobre o poema: “O soneto é muito bonito...”. De acordo com o soneto de Olavo Bilac; conte o número de estrofes, o número de versos em cada estrofes e conclua: qual é a forma de um soneto?

      O objetivo é provocar a leitura do poema de Bilac e aproveitar a referência a soneto, na crônica, para que os alunos conheçam esta forma de composição poética.

      Duas estrofes de quatro versos – dois quartetos, e duas estrofes de três versos – dois tercetos.

06 – Recorde o que a narradora diz ao pai: “Olha aí, pai, o poeta escreveu com todas as letras, nossa língua é sepultura mesmo, tudo o que a gente fizer vai para debaixo da terra, desaparece!”. Que argumentos o pai usa para contestar essa afirmação?

      Quem escreve bem, será lido em sua própria língua; há a possibilidade das traduções; não se deve renegar a própria língua, porque seria renegar o próprio país.

07 – Recorde estas palavras do pai: “... veja que confissão de amor ele fez à nossa língua!”. Consulte o soneto, em que versos o poeta confessa seu amor à língua portuguesa?

      O objetivo é mais uma vez remeter à leitura do poema.

      Primeiro verso da segunda estrofe; primeiro e terceiro verso do primeiro terceto.

08 – O pai chama a atenção da filha para um aspecto do soneto: “Tem mais, ele precisava da rima para sepultura e calhou tão bem essa obscura, entendeu agora?”

a)   Identifique, no soneto, as outras palavras que rimam com sepultura, além da palavra obscura.

Impura, ternura.

b)   Por que, entre as palavras que, no soneto, rimam com sepultura, obscura destacou-se como a rima mais apropriada?

As duas palavras se aproximam, quanto ao sentido: em ambos há a ideia de sem luz, sombrio, desconhecido.

09 – Qual é a opinião do pai:

a)   Sobre o soneto?

O soneto é muito bonito, faz uma bela confissão de amor à língua, as rimas são bem escolhidas.

b)   Sobre o destino de obras escritas em língua portuguesa?

Se são bem escritas, permanecerão, mesmo sendo em português, e poderão ser traduzidas.

c)   Sobre a reclamação da filha contra a língua portuguesa?

É uma atitude feia, não se deve renegar a própria língua.

10 – A filha começou a conversa expondo ao pai este problema: “... nossa língua é sepultura mesmo, tudo o que a gente fizer vai pra debaixo da terra, desaparece!”. A crônica não revela se a filha deixou de pensar assim, depois da conversa com o pai.

        Se você estivesse no lugar da filha, teria mudado seu modo de pensar? Justifique sua resposta.

      Resposta pessoal do aluno.