sábado, 8 de maio de 2021

POEMA: GRITO NEGRO - JOSÉ CRAVEIRINHA - COM GABARITO

 POEMA: GRITO NEGRO


  José Craveirinha

 

Eu sou carvão!

E tu arrancas-me brutalmente do chão

e fazes-me tua mina, patrão.

Eu sou carvão!

e tu acendes-me, patrão

para te servir eternamente como força motriz

mas eternamente não, patrão.

Eu sou carvão

e tenho que arder, sim

e queimar tudo com a força da minha combustão.

Eu sou carvão

tenho que arder na exploração

arder até às cinzas da maldição

arder vivo como alcatrão, meu irmão

até não ser mais a tua mina, patrão.

Eu sou carvão

Tenho que arder

queimar tudo com o fogo da minha combustão.

Sim!

Eu serei o teu carvão, patrão!

(In: Mário de Andrade, org. Antologia temática de poesia africana.

3. ed. Lisboa: Instituto Cabo-Verdeano do Livro, 1980. v. 1. p. 180.).

Fonte: Livro- Português: Linguagem, 1/ William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 11.ed – São Paulo: Saraiva, 2016, p.19/20.

 

GLOSSÁRIO

alcatrão: um dos componentes do carvão.

motriz: que se move ou faz mover alguma coisa

 Entendendo o texto

1. O texto lido é um poema, um dos vários gêneros literários. Nos poemas, é comum o eu lírico expor seus sentimentos e pensamentos.

a) Qual é o tema do poema lido?

É a relação de exploração que há entre o patrão e o eu lírico, supostamente seu escravo ou empregado.

 b) O que predomina nesse poema: aspectos individuais ou sociais?

 Resposta pessoal. Espera-se que os alunos percebam que, além da relação social, a mais evidente, há também a exposição dos sentimentos do eu lírico.

2. Os poemas geralmente utilizam uma linguagem plurissignificativa, isto é, uma linguagem figurada, em que as palavras apresentam mais de um sentido. O eu lírico do poema lido, por exemplo, chama a si mesmo de carvão. Que sentidos têm as palavras carvão e mina no contexto?

 O carvão representa a força de trabalho do negro (“a força motriz”) e a mina representa o próprio negro, ou seja, o lugar de onde o patrão extrai sua riqueza. Logo, carvão e mina representam a exploração do homem pelo homem, ou a exploração do homem negro pelo homem branco.

 3.Para o patrão, o eu lírico é carvão, pois é a força motriz do  trabalho e da produção. O eu lírico aceita sua condição de “carvão”, mas com um sentido diferente do que tem para o patrão. Releia os versos finais do poema e interprete o último verso.

“Eu sou carvão

Tenho que arder

queimar tudo com o fogo da minha

[combustão.

Sim!

Eu serei o teu carvão, patrão!”

 Resposta pessoal. Sugestão: Embora o eu lírico afirme que é carvão, não pretende continuar sendo o combustível da exploração do patrão, e sim “queimar tudo”, isto é, destruir a própria figura do patrão, que representa a exploração..

 4.O poema de Craveirinha, além de expressar os sentimentos e as ideias do eu lírico, é também uma recriação da realidade. Por meio dessa recriação o poeta denuncia as condições de vida a que eram submetidos os negros em Moçambique antes do processo de independência. Na sua opinião, a literatura pode contribuir para transformar a realidade concreta? Explique

Resposta pessoal.

Espera-se que os alunos respondam que sim, pois, denunciando os problemas da realidade, a literatura sensibiliza as pessoas, preparando-as e estimulando-as para as mudanças sociais.

 5.O escritor e educador Rubem Alves afirma que o escritor “escreve para produzir prazer”. Em sua opinião, a literatura proporciona prazer ao ser humano, mesmo quando trata de problemas sociais, como ocorre no poema de Craveirinha? Justifique sua resposta.

Resposta pessoal. Espera-se que os alunos respondam que sim, pois, mesmo quando trata de problemas sociais, a literatura é capaz de provocar emoções e reflexões no ser humano.

 

 

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