SONETO: A VALSA
Casimiro de AbreuTu, ontem,
Na dança
Que cansa,
Voavas
Co'as faces
Em rosas
Formosas
De vivo,
Lascivo
Carmim;
Na valsa
Tão falsa,
Corrias,
Fugias,
Ardente,
Contente,
Tranquila,
Serena,
Sem pena
De mim!
Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!...
- Não negues,
Não mintas...
- Eu vi!...
Valsavas:
- Teus belos
Cabelos,
Já soltos,
Revoltos,
Saltavam,
Voavam,
Brincavam
No colo
Que é meu;
E os olhos
Escuros
Tão puros,
Os olhos
Perjuros
Volvias,
Tremias,
Sorrias,
P'ra outro
Não eu!
Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!...
- Não negues,
Não mintas...
- Eu vi!...
Meu Deus!
Eras bela
Donzela,
Valsando,
Sorrindo,
Fugindo,
Qual silfo
Risonho
Que em sonho
Nos vem!
Mas esse
Sorriso
Tão liso
Que tinhas
Nos lábios
De rosa,
Formosa,
Tu davas,
Mandavas
A quem?!
Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!...
- Não negues,
Não mintas...
- Eu vi!...
Calado,
Sozinho,
Mesquinho,
Em zelos
Ardendo,
Eu vi-te
Correndo
Tão falsa
Na valsa
Veloz!
Eu triste
Vi tudo!
Mas mudo
Não tive
Nas galas
Das salas,
Nem falas,
Nem cantos,
Nem prantos,
Nem voz!
Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!...
- Não negues
Não mintas...
- Eu vi!
Na valsa
Cansaste;
Ficaste
Prostada,
Turbada!
Pensavas,
Cismavas,
E estavas
Tão pálida
Então,
Qual pálida
Rosa,
Mimosa
No vale
Do vento
Cruento
Batida,
Caída
Sem vida,
No chão!
Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!....
- Não negues
Não mintas,
- Eu vi!
ABREU,
Casimiro de. A valsa. In: GONÇALVES, Magaly Trindade; THOMAS DE AQUINO, Zina.
Antologia de antologias - 101 poetas brasileiros "revisitados". São
Paulo: Musa, 1995. p. 228-230.
FONTE:
Andrea Ebert/Arquivo da editora.
Fonte: Livro:
Língua Portuguesa: linguagem e interação/ Faraco, Moura, Maruxo Jr. – 3.ed. São
Paulo: Ática, 2016. p.127-128.
Entendendo o texto
1. Os versos desse poema são bem curtos. Ao ler em voz alta o poema, que tipo de ritmo se pode perceber (rápido, lento, cadenciado)? Que sensação a leitura em voz alta desse poema provoca?
Provocam um ritmo
rápido e cadenciado, que lembra a sonoridade e os movimentos de uma valsa.
2. Que relação essa sensação pode ter, em sua opinião, com o sentido do poema e com a situação que ele procura descrever? Explique.
Resposta pessoal.
3. Explique o recurso que Casimiro de Abreu utilizou para representar sensorialmente o tema indicado no título do poema.
Utilizou o uso de uma
cadência de palavras, que ao declamarmos a poesia somos levados pelo “ritmo
ternário “do poema igual os passos de uma valsa ( 1,2,1,)
4. O
poeta apresentou seus versos com forma de quê?
➖embalo das rimas,
➖jogos de sons,
➖repetições,
➖frases curtas e diretas,
➖pleonasmos.
5. Como o poema está
dividido?
Possui 155 versos breves, com métrica
dissilábica ( 2 ) e acento regular e divididos em estrofes
combinadas de 25 versos cada uma.
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