Notícia: O lugar da publicidade na liberdade de imprensa´
Por Eugênio Buco em
08/09/2015 na edição 867
Há quem diga que o direito de anunciar
mercadorias é o pilar de sustentação do jornalismo independente. Se isso mesmo?
Qual é, afinal de contas, o ponto de apoio – econômico e também político – da atividade
profissional daqueles que estão incumbidos de informar a sociedade sobre os
assuntos de interesse público?
Encaremos essas interrogações com algum
método e com um pouco de calma. Quando falamos em “sustentação” ou em “ponto de
apoio”, estamos falando em base institucional, em legitimidade. Ao mesmo tempo,
estamos falando em fonte de recursos, em viabilidade financeira. A sustentação
deve ser compreendida no plano político e também no plano econômico. [...]
A imprensa não deve depender de
governos em termos legais ou institucionais, mas também não deve depender deles
em termos econômicos. Quando os governantes pagam as contas das redações é
sinal de que algo desandou. E então, quem deve pagar essas contas? Tem-se
repetido que a publicidade é que assina o cheque. A publicidade seria a maior
da imprensa. Pelo menos é assim que tem sido. O dinheiro arrecadado com a venda
de exemplares avulsos e de assinaturas (incluindo assinaturas digitais) ainda
não é suficiente. E no caso das emissoras de rádio e televisão de sinal aberto
é igual a zero.
Absolutamente toda a arrecadação vem da
publicidade. Desse modo, há quem diga ser a própria garantidora da liberdade de
imprensa. Outros vão ainda mais longe e estabelecem um sinal de igual entre a
liberdade de imprensa e a liberdade de veicular anúncios comerciais. Imprensa e
publicidade seriam, enfim, as duas pernas com que o corpo da liberdade de
expressão consegue caminhar. Uma não poderia existir sem a outra.
[...]
Já em nossos dias vemos a publicidade
buscar seus caminhos longe dos veículos jornalísticos [...]. Vai ficando óbvio
que a missão primeira da publicidade nada tem que ver com sustentar a Imprensa,
mas com alcançar seus clientes onde quer que eles estejam. Isso não a torna
mais feia ou mais bonita. Apenas é o que é.
Rumos
Diferentes
[...] A liberdade de anunciar deve ser
compreendida, assim, como uma liberdade acessória à liberdade de fazer
comércio. Seus limites legais – e democráticos - são dados pelos limites da
própria atividade comercial. Já a liberdade de imprensa é fundamental,
primordial. [...]
O que se deu foi o oposto: a
industrialização dos jornais, ainda no século 19, é que permitiu que os
anúncios pagassem carona nos veículos impressos, o que terminou por impulsionar
as duas atividades.
No mais, a imprensa precede a
publicidade. Mas ainda, a liberdade de imprensa abriu horizontes para a
liberdade de anunciar.
Do ponto de vista dos jornalistas,
enxergar essas distinções ajuda a evitar identificações entre os interesses
gerais (não particulares) do mercado anunciante e os interesses gerais da
imprensa. Eles não são idênticos, ainda que, com justiça e com legitimidade,
ambos possam associar-se. Por vezes, porém, eles são antagônicos – e, se não
estiverem atentos, os jornalistas podem tomar por seus os interesses que os
tomam (e os descartam) como meios. Fora isso, quanto mais sociedade for chamada
a pagar diretamente a conta das redações, por assinaturas e outras formas de
apoio, melhor.
Eugênio Bucci é jornalista e
professor das Escola de comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.
Bucci, Eugênio. O
lugar da publicidade na liberdade de imprensa. Observando da Imprensa/Projor,
São Paulo, 8 set. 2015, ed. 867. Disponível em: <https://bit.ly/1Nn8MTg>.
Acesso em: 29 set. 2018.
Fonte: Livro – Tecendo Linguagens – Língua Portuguesa – 8º
ano – Ensino Fundamental – IBEP 5ª edição – São Paulo, 2018, p. 227-8.
Entendendo a notícia:
01 – Qual é o questionamento e a tese apresentados pelo autor nesse
artigo de opinião?
Se o direito de anunciar mercadorias é a base de
sustentação do jornalismo independente. E a tese é que são interesses
independentes que não podem ser confundidos para que se mantenha a liberdade de
imprensa.
02 – Segundo o autor, quem financia a imprensa em diferentes mídias? Por
que os veículos de comunicação não conseguem sobreviver com a vendagem de
exemplares ou assinaturas?
A publicidade que sustenta as diferentes mídias,
porque a vendagem de jornais e assinaturas não cobre os custos.
03 – Por que o autor afirma que “a imprensa não deve depender de
governos em termos legais ou institucionais, mas também não deve depender deles
em termos econômicos”? Explique.
Porque pode vincular o jornal aos interesses
políticos de quem governa.
04 – Releia o trecho:
“Outros vão ainda mais longe e estabelecem um sinal de igual entre a
liberdade de imprensa e a liberdade de veicular anúncios comerciais. [...]”.
a) O autor concorda com esse argumento apresentado no trecho? Por quê?
O autor não concorda, porque a liberdade de
imprensa deve preceder a liberdade de anunciar para vender. A liberdade de
imprensa que garante o direito das empresas e dos governos de anunciar.
b) Qual é o papel da publicidade, segundo ele?
O papel da publicidade é alcançar seus clientes
onde quer que eles estejam.
c) Qual é o papel da imprensa? No que a liberdade de imprensa ajudou na liberdade de anunciar?
A imprensa tem o papel de garantir a informação
objetiva. Segundo o autor, a industrialização dos jornais, ainda no século 19,
permitiu que os anúncios fossem veiculados, o que impulsionou as duas
atividades.
d) Por que os jornalistas e as empresas de comunicação precisam, segundo o autor, distinguir o papel de cada um desses campos?
Porque há o risco de privilegiar os interesses dos
anunciantes.
e) O autor do artigo se coloca contra a publicidade? Explique.
Não, ele não é contra, mas acha que os interesses
da publicidade não podem sobrepor-se aos da liberdade de imprensa.
05 – Releia a notícia “Publicidade infantil deve ser feita com
responsabilidade em vez de proibida, dizem especialistas” e responda:
a) Qual interesse foi colocado em primeiro plano nessa notícia: os da imprensa ou da publicidade? Explique.
Foram colocados os interesses da publicidade,
porque a imprensa deveria informar os dois lados e não apenas o que interessa
um setor da sociedade.
b) Quais escolhas as editorias devem fazer para colocar à disposição do leitor todos os lados da informação? Isso ocorreu nessa notícia?
As editorias deveriam apresentar os argumentos de
quem é a favor da proibição de publicidade infantil. Isso não ocorreu na
notícia.
Pode fazer a 6
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