POEMA: A IDEIA
De onde ela vem?! De que matéria bruta
Vem essa luz que sobre as nebulosas
Cai de incógnitas criptas misteriosas
Como as estalactites duma gruta?!
Vem da psicogenética e alta luta
Do feixe de moléculas nervosas,
Que, em desintegrações maravilhosas,
Delibera, e depois, quer e executa!
Vem do encéfalo absconso que
a constringe,
Chega em seguida às cordas do laringe,
Tísica, tênue, mínima, raquítica ...
Quebra a força centrípeta que
a amarra,
Mas, de repente, e quase morta, esbarra
No mulambo da língua paralítica.
Fonte: Livro- Português:
Linguagem, 3/ William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 11.ed – São
Paulo: Saraiva, 2016.p.27.
Glossário
centrípeta: que
busca o centro.
constringir: apertar.
cripta: caverna,
gruta.
encéfalo: cérebro.
molécula: a
menor partícula em que uma substância pode ser dividida sem que ocorra perda de
suas propriedades químicas.
mulambo: molambo;
farrapo, indivíduo fraco.
nebulosa: nuvem
de poeira e gás em suspensão no espaço sideral.
psicogenética: qualidade
do que é a origem dos processos mentais ou psicológicos da mente e da
personalidade individuais.
tísico: tuberculoso,
fraco.
Entendendo
o texto
1. A linguagem do poema
surpreende e modifica uma tradição poética brasileira, em grande parte construída
com base em sentimentalismo, delicadezas, sonhos e fantasias.
a) Destaque do texto
vocábulos empregados poeticamente por Augusto dos Anjos e tradicionalmente considerados
antipoéticos.
As palavras são: psicogenéticas,
moléculas, encéfalo, laringe, tísica, centrípeta, paralítica
b) De que área do
conhecimento humano provêm esses vocábulos?
Provêm da ciência,
particularmente da Biologia e da Química.
2. O poema pode ser dividido
em duas partes: na primeira, o eu lírico pergunta sobre a origem da Ideia; na
segunda, apresenta uma resposta.
a) Na 1» estrofe, são
empregadas uma metáfora e uma comparação para referir-se à Ideia. Quais são?
Metáfora: essa
luz que sobre as nebulosas cai de incógnitas criptas misteriosas;
Comparação:
como as estalactites duma gruta.
b) Como são a origem e o
percurso da Ideia, conforme a descrição feita pelo eu lírico nas estrofes 2 e
3?
A Ideia origina-se
da luta do feixe de moléculas nervosas, passa pelo encéfalo e chega à laringe.
c) Nesse percurso, a Ideia
mantém-se como na origem ou sofre perdas?
Sofre
perdas, pois o encéfalo a constringe e, ao chegar à laringe, encontra-se
reduzida.
3. No último terceto, o eu
lírico apresenta o momento em que a Ideia adquire forma.
a) Qual é o instrumento
responsável por dar forma à Ideia?
A língua (órgão),
responsável pela fala.
b) Nesse estágio, a Ideia é
reproduzida em sua plenitude?
Não, pois a
língua, órgão responsável pela fala (e pelo código), é frágil e inábil.
4. Segundo a concepção do eu
lírico:
a) A Ideia tem uma origem
material ou imaterial? Explique.
Material. Sua origem é
bioquímica, nasce “do feixe de moléculas nervosas”
b) O vocabulário empregado
pelo eu lírico está de acordo com essa concepção?
Sim. O eu lírico
emprega o vocabulário da ciência.
c) Essa concepção retoma uma
visão romântica do mundo interior do ser humano ou rompe com ela?
Rompe com a
visão romântica de que o ser humano pode ser dotado de genialidade e de grande
riqueza interior; a Ideia é vista como resultado da química do corpo humano.
5. Identifique no texto ao
menos uma característica simbolista e outra naturalista.
A
característica simbolista do texto está no emprego do termo Ideia com
maiúscula, elevando-a a um conceito universal; além disso, há o desespero do eu
lírico diante da impotência da língua para dar sentido a conceitos não prosaicos.
A característica naturalista do poema encontra-se no cientificismo e na base
bioquímica dos processos mentais.
Muito bom
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