SONETO – (Descreve o que era naquele tempo a cidade da Bahia)
Gregório de Matos
A cada canto um
grande conselheiro,
Que nos quer governar
cabana e vinha;
Não sabem governar
sua cozinha,
E podem governar o
mundo inteiro.
Em cada porta um
frequente olheiro,
Que a vida do vizinho
e da vizinha
Pesquisa, escuta,
espreita e esquadrinha,
Para a levar à praça
e ao terreiro.
Muitos mulatos
desavergonhados,
Trazidos sob os pés
os homens nobres1,
Posta nas palmas toda
a picardia,
Estupendas usuras nos
mercados,
Todos os que não
furtam muito pobres:
E eis aqui a cidade
da Bahia.
WISNIK, José Miguel (Org.). Poemas
escolhidos de Gregório de Matos. São Paulo: Cultrix, 1989. p. 41.
1. Na visão de Gregório de Matos, os
mulatos em ascensão subjugam com esperteza os verdadeiros "homens
nobres" [nota de José Miguel Wisnik].
Fonte: Livro: Língua Portuguesa: linguagem e interação/ Faraco, Moura, Maruxo Jr. – 3.ed. São Paulo: Ática, 2016. p.150-1.
Glossário:
cabana e vinha: significa casa e trabalho; desfeita.
picardia: pirraça; desfeita.
usura: desejo exacerbado de poder e riqueza; cobiça.
FONTE: Mauricio Pierro/Arquivo da
editora
Entendendo o texto
1.Há uma ironia na
primeira estrofe. Que ironia é essa?
A ironia
repousa no fato de o eu lírico falar na grande quantidade de conselheiros,
querendo dizer que não se tratava de conselheiros, mas de fofoqueiros.
2.O que você consegue
entender do segundo verso da última estrofe?
O eu lírico
afirma que só quem furta consegue sair da condição de muito pobre.
3. Qual é a caracterização
da Bahia feita pelo poeta Gregório de Matos?
A descrição
feita por Gregório de Matos é satírica, tem o objetivo de criticar a cidade da
Bahia, e seu enunciador se coloca como um conhecedor das pessoas e dos costumes
do local.
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