sexta-feira, 23 de outubro de 2020

HISTÓRIA: O MINOTAURO NO LABIRINTO DE CRETA (CAP. XXI)- MONTEIRO LOBATO - COM GABARITO

 HISTÓRIA: O MINOTAURO NO LABIRINTO DE CRETA

                   Monteiro Lobato

         Foram despertar na Ilha de Creta, onde logo descobriram o labirinto. Era um palácio imenso, com mil corredores dispostos de tal maneira que quem entrasse, nunca mais conseguiria sair – e acabaria devorado pelo monstro. O Minotauro só comia carne humana.

         Diante do labirinto, os três “pica-paus” pararam para refletir.

         — Quem entra, não sai mais e acaba no papo do monstro – disse Pedrinho - Mas nós sabemos o jeito de entrar e sair: é irmos desenrolando um fio de linha. Ah, se eu tivesse trazido um carretel...

         — Pois eu trouxe três! – gritou Emília triunfalmente - E dos grandes, número 50. Desça a mala, Visconde, abra-a.

        A mala foi descida e aberta. Emília tirou os carretéis e deu um a Pedrinho, outro ao Visconde, ficando com o terceiro.

         Entraram no Labirinto e foram desenrolando o primeiro carretel; quando a linha acabou, desenrolaram o segundo; e quando a linha do segundo acabou, começaram a desenrolar o terceiro. Eram corredores e mais corredores, construídos da maneira mais atrapalhada possível de propósito para que quem entrasse, não pudesse sair. Antes do terceiro carretel chegar ao fim, Emília “sentiu” a aproximação de qualquer coisa.

          Percebo uma catinga no ar – disse ela baixinho, farejando – O monstro deve ter seus aposentos por aqui...

         Uns passos mais e pronto: lá estava o Minotauro, numa espécie de trono, a mastigar lentamente qualquer coisa que havia numa grande cesta.

         — Mas como está gordo! – cochichou Emília - Muito mais que aquele célebre cevado que Dona Benta comprou do Elias Turco. Parece que nem pode erguer-se do trono.

         De fato, o monstro estava gordíssimo, quase obeso, com três papadas caídas; o seu corpanzil afundava dentro do tronco. Que teria acontecido?

         Mesmo assim, era perigoso aproximar-se, de modo que novamente, Emília recorreu ao Visconde.  

       — Vá lá, meu bem, chegue-se ao “gordo” e com muito cuidado peça informações sobre a tia Nastácia.

      — E se ele me devorar?

      — Não há perigo. Nem a Esfinge o devorou, quanto mais o Minotauro. Só as vacas devoram os sabugos.

      — Mas ele é um touro, e os touros também comem sabugos.

     — Menos este, que é antropófago. Vá sem medo.

    O Visconde arriou a maletinha e foi. Instantes depois, voltara.

    — E então? - perguntou Pedrinho.

    — Não fala, não responde. Perguntei por tia Nastácia e ele só me olhou com um olho parado, sempre a mastigar umas coisas que tira daquela cesta – “isto” e mostrou o que havia na cesta.

     Emília arrancou-lhe o “isto” da mão. Era um bolinho. Era um bolinho de tia Nastácia. Que alegria! Aquele bolinho era a prova mais absoluta que tia Nastácia estava lá – e viva! Pedrinho comeu o bolinho inteiro e lamentou que o Visconde só tivesse trazido um.

      — Vamos procurá-la com o resto de linha que ainda temos – disse Emília examinando o carretel - Há de dar.

 [...]

LOBATO, Monteiro. O Minotauro. Editora Brasiliense: São Paulo, 1954. p. 206-209.

O texto que você leu foi escrito por Monteiro Lobato, que criou obras consideradas clássicas da literatura infanto-juvenil brasileira. As aventuras do Sítio do Picapau Amarelo foram adaptadas para várias mídias e formatos, como séries para a televisão, histórias em quadrinhos, jogos etc. Conhecer essa obra de forma crítica é muito importante para compreender o universo fantástico e rico criado pelo autor.

 Após a leitura do texto, responda às questões propostas.

1)   O que o uso de aspas em “pica-paus” indica?

O uso das aspas indica uma referência a Pedrinho, Emília e Visconde (eles são os “pica-paus”, personagens do Sítio criado por Lobato).

 2)   No texto, duas palavras estão em negrito: antropófago e cevado. Pesquise o significado delas. Sugere-se orientar os estudantes a pesquisarem o significado das palavras no dicionário (é importante tê-los na sala de aula) físico ou digital.

Antropófago: aquele que se alimenta de carne humana. 9 Cevado: nutrido, saciado.

 3)   O que o comportamento da personagem Emília nos permite inferir sobre ela? E a personagem Visconde? Como o texto apresenta a relação dos dois?

Explicar aos estudantes sobre a inferência de informações no texto, fazendo a correlação entre as personagens apresentadas. Emília é precavida, pois leva os carretéis para marcar o caminho a fim de não se perderem na volta do labirinto. O Visconde demonstra submissão, pois segue todas as ordens de Emília.

 4)   Como o uso dos carretéis iria ajudar as personagens a saírem do labirinto?

O uso dos carretéis ajudaria a encontrar o caminho de volta do labirinto, fazendo as marcações pelo caminho por onde passavam.

5)   Minotauro é um ser considerado antropófago. Isso se confirma no texto lido?

Sim, porque o Minotauro se alimentava de carne humana.

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