Artigo de opinião: Água em discussão – ouro azul não é ouro de tolo
Quarta-Feira, 21 de Março de 2018, 19h:15
Por
Carlos Augusto Figueiredo
Artigo
de responsabilidade do autor
[...]
Uma das riquezas do Brasil é a água em
abundância, nosso Ouro Azul. Ou, pelo menos, é o que se ouve de maneira
relativamente descompromissada. O que o senso comum não se dá conta é o porquê
de termos água em abundância. E, diga-se de passagem, que vários Brasis já não
têm tanta água assim e alguns nunca tiveram desde o tempo da colonização.
Vamos começar por aí. O Brasil não é
extremamente rico em água. A Amazônia é, o Pantanal é, mas a Mata Atlântica –
onde vivem cerca de 70% dos brasileiros – está deixando de ser. O país é
dividido pela Agência Nacional de Águas em 12 regiões hidrográficas e dessas a
região amazônica tem aproximadamente 80% da disponibilidade hídrica total do
País. Ou seja, nas regiões mais populosas, a disponibilidade hídrica se assemelha
à de regiões igualmente populosas na Europa.
Agora, por que o Brasil é rico em água?
Primeiro, por causa da Bacia Amazônica e por suas complexas interações entre o
ecossistema amazônico e a “produção de água”. A vegetação, especialmente a
nativa, tem enorme importância na transpiração e na diminuição do escoamento
superficial das chuvas. E o que isso tem a ver com o tema central do Fórum
Mundial da Água? Ora, se uma de nossas riquezas é a água em abundância, como
fazemos para compartilhá-la? Aí é que começa o conflito. O ser humano não é
hábil em compartilhar e quando se trata de um bem tão precioso, os ânimos se
acirram.
Em primeiro lugar, quando falamos de
compartilhamento, estamos falando dos quase 80% de toda a água consumida mundialmente
na irrigação e pecuária. O consumo doméstico, tanto no Brasil quanto no resto
do mundo, é de aproximadamente 10% da água disponível. Os 10% restantes vão
para a indústria. Isso quer dizer que o grande volume de água consumida está
direcionado para o setor produtivo.
A principal forma de compartilhamento
da água, ao contrário do que se pode pensar, não é o transporte e distribuição
de água líquida em si, mas o que se chama de transferência virtual de água, que
acontece quando a produção, principalmente agrícola, é levada de sua área de
produção para os centros consumidores. Desde locais próximos como a Serra do
Mar, entre as cidades de Teresópolis e Nova Friburgo para a cidade do Rio de
Janeiro (RJ), como distantes como as grandes quantidades de soja brasileira
exportada internacionalmente. As verduras do interior fluminense transferem a
disponibilidade hídrica da região para a grande metrópole. A soja brasileira
teve 77,8% de sua exportação em 2017 destinada à China, que recentemente triplicou
sua importação de produtos que transferem água, desta forma contribuindo para
aliviar o estrese hídrico chinês. Assim como a soja, uma importante commodity
brasileira, outros produtos agropecuários carregam um forte componente de
disponibilidade de água (e território) que não é levado em conta na
comercialização. Em termos internacionais, quem detém água, detém alimentos; e
nações dependentes de importação para alimentação estão em forte desvantagem na
geopolítica. Se por um lado a transferência virtual de água pode ser vista como
instrumento de pressão geopolítica, por outro, pode também ser vista como
solução para otimizar o consumo hídrico no planeta. O mesmo dilema pelo qual
passa o comércio internacional globalizado.
[...]
Disponível em: https://capitalnews.com.br/opiniao/agua-em-discussao-ouro-azul-nao-e-ouro-de-tolo/315165.
Acesso em: 09 mar.
2020.
Entendendo o artigo de
opinião:
01 – Como principal meio de
compartilhar água, o autor defende a tese de que há transferência virtual de
água. Para isso ele utiliza o argumento:
a)
“As verduras do interior fluminense
transferem a disponibilidade hídrica da região para a grande metrópole”.
b)
“O ser humano não é hábil em compartilhar e
quando se trata de um bem tão precioso, os ânimos se acirram.”.
c)
“O consumo doméstico, tanto no Brasil quanto
no resto do mundo, é de aproximadamente 10% da água disponível.”.
d)
“A vegetação, especialmente a nativa, tem
enorme importância na transpiração e na diminuição do escoamento superficial
das chuvas.”.
02 – Em:
“e nações dependentes de importação para alimentação estão em forte desvantagem na
geopolítica.”, a palavra em destaque produz um sentido que:
a)
Intensifica a desvantagem de falta
de recursos hídricos de algumas nações.
b)
Demonstra que as nações com pouca
disponibilidade hídrica são autônomas.
c)
Diminui a desvantagem presente nos países
dependentes de alimentação.
d)
Reforça a capacidade de enfrentar a falta de
recursos como os alimentos.
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