quinta-feira, 8 de outubro de 2020

ARTIGO: DESPERDÍCIO NABABESCO(FRAGMENTO) - DRÁUZIO VARELLA - COM GABARITO

 Artigo: Desperdício nababesco

Dráuzio Varella

Publicado em: 29 de novembro de 2016

Revisado em: 11 de agosto de 2020

        Médicos solicitam excesso de exames que poderiam ser evitados com uma consulta bem feito e que oneram os sistemas de saúde público e privado.

        É nababesco o desperdício de exames no Brasil. No consultório, canso de ouvir a frase: “Doutor, já que vou colher sangue, pede todos os exames, tenho plano de saúde”. Nos atendimentos na Penitenciária Feminina de São Paulo, a mesma solicitação, com a justificativa: “Tenho direito, é o SUS que paga”.

        Fico impressionado com o número de exames inúteis que os pacientes trazem nas consultas. Chegam com sacolas abarrotadas de radiografias, tomografias computadorizadas, ressonâncias magnéticas e uma infinidade de provas laboratoriais que pouco ou nada contribuíram para ajudá-los.

        Num dos grandes laboratórios da cidade, mais de 90% dos resultados caem dentro da faixa de normalidade. Numa das operadoras da Saúde Suplementar, pelo menos um terço das imagens realizadas junta pó nas prateleiras, sem que ninguém se dê ao trabalho de retirá-las.

        São múltiplas as causas dessas distorções.

        Nas consultas-relâmpago em ambulatórios do serviço público e dos convênios, os médicos se defendem pedindo exames, que poderiam ser evitados caso dispusessem de mais tempo para ouvir as queixas, o histórico da doença e examinar os pacientes.

        Para solicitar ultrassom ou tomografia para alguém que se queixa de dores abdominais, basta preencher o pedido. Dá menos trabalho do que avaliar as características e a intensidade da dor, os fatores de melhora e piora, e palpar o abdômen com atenção.

        O SUS e a Saúde Suplementar estão diante do mesmo desafio: como reduzir os custos. Sem fazê-lo, ambos sistemas se tornarão inviáveis, antes do que imaginamos.

Como regra, o paciente sai da consulta confiante de que as imagens revelarão o que se passa no interior de seu organismo, com muito mais precisão do que o médico seria capaz de fazê-lo.

        O problema é que, muitas vezes, o exame será marcado para semanas ou meses mais tarde, porque os serviços de imagem ficam sobrecarregados com o excesso de demanda. A demora prejudicará, sobretudo, aqueles em que há urgência para chegar ao diagnóstico, deixados para trás pela enxurrada de pedidos desnecessários.

        As operadoras de saúde que hoje se queixam da infinidade de exames subsidiários que encarecem as contas a pagar, esquecem que até há pouco faziam comerciais na TV que mostravam resgates por helicóptero e exibiam aparelhos de ressonância, para convencer os usuários de que ofereciam serviços de qualidade.

        Nós, médicos, colaboramos decisivamente para aumentar o custo da Medicina: é de nossos receituários que partem as solicitações. Fazemos a vontade dos que nos pedem “todos os exames”, pedimos provas laboratoriais sem pensar na relevância para o caso e nos damos ao luxo de solicitar exames e prescrever medicamentos sem ter noção de quanto custam.

        Nas faculdades de Medicina, ninguém fala de dinheiro. Os estudantes não recebem noções elementares de economia e o preço dos tratamentos é ignorado, como se vivêssemos em outro planeta.

        Nos hospitais-escola, o descompromisso com a realidade econômica é universal. Com o argumento de que os internos e residentes precisam aprender, ficam justificadas as imagens mais exóticas e a repetição diária de dosagens de íons, provas de função renal e hepática, hemogramas, glicemias e o que mais passar pela cabeça dos plantonistas das UTIs e das unidades semi-intensivas.

        É preciso entender o óbvio: os recursos públicos destinados à saúde são insuficientes. Eles não vêm do governo, saem dos impostos pagos por nós. Cada vez que somos atendidos pelo SUS, fazemos uso de uma parte do dinheiro que é de todos, se o gasto for exagerado muitos ficarão em desvantagem. É bem provável que sejam os mais necessitados.

        Nos planos de saúde acontece o mesmo, com uma diferença: o preço da mensalidade aumenta para todos. É simples, assim. Hoje, os gastos com saúde das empresas constituem a segunda despesa mais alta do orçamento anual, só perdem para a folha de pagamento.

        O SUS e a Saúde Suplementar estão diante do mesmo desafio: como reduzir os custos. Sem fazê-lo, ambos sistemas se tornarão inviáveis, antes do que imaginamos.

        A viabilidade do SUS e da Saúde Suplementar não será alcançada por meio de ideologias, mas com medidas práticas que reduzam os custos da assistência médica e com intervenções preventivas para evitar que as pessoas fiquem doentes.

                                        Dráuzio Varella. Fonte: Livro Se liga na língua. 9° ano. Ed. Moderna, 1° ed. São Paulo, 2018. P. 52.

Entendendo o artigo:

01 – Explique, com suas palavras, a tese do texto.

      O articulista defende a ideia de que grande parte dos exames realizados no Brasil é desnecessária.

02 – Qual é a contribuição da palavra nababesco para a força dessa tese?

      Como nababesco indica algo extremamente custoso, reforça a dimensão do desperdício e, com isso, enfatiza a crítica.

03 – Por que as frases ouvidas dos pacientes podem ser consideradas argumentos nesse contexto?

      As frases provam que os pacientes exigem exames apenas porque têm direito a eles, evidenciando a falta de utilidade de muitos desses exames.

04 – Explique a estratégia usada no terceiro parágrafo para confirmar a validade da tese.

     O autor cita dados numéricos que confirmam a tese.

05 – Para desenvolver a argumentação, o produtor do texto, no último parágrafo transcrito, cria uma relação de causa e consequência. Escreva um período para explicitar essa relação e articule suas partes com o conector uma vez que.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Os médicos pedem muitos exames, uma vez que não têm tempo ou interesse em analisar o paciente para fazer um diagnóstico.

 

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