domingo, 25 de outubro de 2020

REPORTAGEM: A GUERRA DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL - EDUARDO SZKLARZ - COM GABARITO

 Reportagem: A guerra da inteligência artificial

                         Eduardo Szklarz

        O robô do teste de Rensselaer, o que demonstrou consciência, [...] não é nenhum gênio. Ele se chama NAO, foi criado em 2010 pela empresa francesa Aldebaran Robotics e consegue manter con – versas simples. Não é um modelo de vanguarda – mas conseguiu fazer algo extraordinário. Na experiência, os cientistas pegaram três robôs desse tipo, e programaram a seguinte instrução na memória deles: “Dois de vocês ficaram mudos”. Os cientistas não informaram quais. Em seguida, perguntaram a cada robô: quem está mudo aqui? Normalmente, os robôs ficam quietos (porque estão mudos), ou respondem “não sei”. Até que, após várias tentativas, um deles teve a sacada: “Desculpe. Eu sei a resposta agora. Eu não estou mudo”. Logo, os mudos são os outros dois. O robô conseguiu enxergar a si próprio “de fora” e raciocinar a respeito. Ou seja, tomou consciência de que existe, e pensou sobre isso. De forma rudimentar, claro. Mas que, até onde se sabe, nenhuma máquina tinha conseguido fazer antes.

        O NAO só conseguiu fazer isso porque foi construído usando o modelo de rede neural artificial – que tenta criar máquinas capazes de pensar por si mesmas. Em vez de programar um conjunto de regras rígidas na memória do robô, ensinando o que ele deve ou não fazer, você deixa que ele aprenda sozinho, por tentativa e erro – o robô experimenta todas as ações possíveis, vê as que apresentam o resultado correto (determinado por você), e passa a adotá-las, eliminando as que não funcionam. É uma estratégia semelhante à da seleção natural. E significa que, quando as circunstâncias mudam, a máquina é capaz de se ajustar a elas e evoluir sozinha, repetindo o processo de tentativa e erro. As redes neurais já estão presentes em algumas coisas do dia a dia (são usadas pelos robôs do Google Imagens para classificar e agrupar as fotos da internet, por exemplo), e são consideradas o caminho mais promissor para a inteligência artificial.

        Mas a capacidade de aprender sozinho também permite agir de forma diferente do esperado. Em junho deste ano, um software de rede neural desenvolvido por dois pesquisadores do Google teve uma reação imprevista. Ele foi treinado para conversar – coisa que aprendeu lendo e analisando 62 milhões de legendas de filmes, baixadas do site. Os pesquisadores fizeram dezenas de perguntas ao robô, como “quantas patas tem um gato?”, “qual a cor do céu?”, “o que é altruísmo?”. Ele acertou, sempre dando respostas bem diretas. Exceto numa das questões. Quando perguntado “de que cor é o sangue?”, a máquina disse: “da mesma cor que um olho roxo”. Uma ameaça velada – que ela certamente aprendeu nos filmes, mas que não tinha sido programada para fazer. Em 2013 o supercomputador Watson, da IBM, passou por um caso parecido. Seus criadores o colocaram para ler o site, que explica os significados de gírias. Não acabou bem. Watson se tornou boca-suja. Um dia, respondeu a um pesquisador dizendo que a pergunta dele era bullshit (expressão chula que significa papo-furado). Ele não tinha sido programado para falar palavrão. Acabou falando.

        Xingar não é o fim do mundo. Mas quando máquinas inteligentes estiverem envolvidas em situações críticas, qualquer surpresa poderá ter consequências graves.

Eduardo Szklarz. Disponível em: https://super.abril.com.br/tecnologia/a-guerra-da-inteligencia-artificial. Acesso em: 8 ago. 2018.

Entendendo a reportagem:

01 – O autor da reportagem fez questão de indicar que o NÃO não é um robô sofisticado. Quais trechos informam isso?

      Os trechos são estes: “Não é nenhum gênio”; “Consegue manter conversas simples” e “Não é um modelo de vanguarda”.

02 – Por que a resposta dada por NÃO foi surpreendente?

      Porque ela não estava programada; o robô chegou a uma conclusão “refletindo” sobre a situação em que estava inserido, enxergando a si próprio, tomando consciência de que existe.

03 – Que aspecto físico permitiu a ele dar essa resposta?

      NÃO foi construído usando o modelo de rede neural artificial.

04 – Explique a semelhança existente entre o modo como NÃO e os seres vivos aprendem.

      A aprendizagem ocorre por tentativa e erro, com o indivíduo verificando quais respostas ou ações têm o resultado esperado e descartando as demais.

05 – Por que o caso de NÃO e o de alguns outros computadores têm preocupado os cientistas e inventores?

      Porque as máquinas têm tido reações imprevistas, o que mostra que não é possível o controle total sobre elas.

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