Texto: Inveja
Kátia Ferras
A jornalista Kátia Ferraz, 40, cresceu
ouvindo histórias da avó sobre olho gordo e inveja. Cética, ela nunca deu muita
bola e achava que se tratava de folclore.
Casada e recém-formada com pouco mais de
20 anos, criou com o marido duas empresas: uma de assessoria de comunicação e
outra que montava cestas de Natal para empresas.
Como as encomendas não paravam de
chegar, os dois alugaram um galpão grande na Vila Maria, na zona norte de São
Paulo. De um dia para o outro, tudo começou a dar errado.
Eles perderam um cliente grande, em
Manaus, que cancelou pedidos, não conseguiram pagar os fornecedores, acabaram
perdendo outros clientes, o galpão, acumularam mais dívidas e tiveram que
vender os próprios carros para pagar os credores.
-- "Tudo começou com a visita de
um amigo nosso e o padrasto dele lá no galpão", conta.
Segundo Kátia, o padrasto, desempregado
na época, ficou impressionado com as instalações e com aquele monte de cestas.
-- "Nossa, vocês têm tanta coisa
aqui! Tão novinhos e já com tudo isso. A vida é assim: contempla uns e outros
não", teria dito ele.
No dia seguinte, o cliente de Manaus
cancelou o pedido. Segundo Kátia, foi um efeito dominó violento. "Chegou
uma hora em que não tínhamos dinheiro para mais nada. Começamos a brigar muito
e até o nosso casamento acabou", diz a jornalista.
Para piorar, nos meses em que eles
foram afundando, o padrasto do amigo repetia, segundo a jornalista, com prazer,
"bem que eu avisei".
Kátia diz que aprendeu a lição e não
conta nada sobre seus planos antes de serem realizados. Um negócio, um emprego,
uma compra, ela só mostra depois de realizado. "Não existe inveja
boa", diz.
Além de não existir em versão boa, a
inveja é, segundo o psiquiatra e doutor em saúde mental Joaquim Lopes Alho
Filho, o único dos sete pecados que pressupõe agressão.
-- "A inveja é a raiz de toda a
violência. O indivíduo pensa "ele é e tem o que eu não sou nem tenho'",
diz o médico. "Isso é uma fonte de frustração e o sujeito quer destruir o
outro por não ter e não ser."
Folha de São Paulo,
21/4/2005.
Fonte: Língua
Portuguesa. Viva Português. 9° ano. Editora Ática. Elizabeth Campos. Paula
Marques Cardoso. Silvia Letícia de Andrade. 2ª edição. 2011. P. 52-3.
Entendendo o texto:
01 – Na sua opinião, a
inveja pode causar muito mal?
Resposta pessoal do aluno.
02 – De que maneiras ela
pode afetar as pessoas envolvidas?
Resposta pessoal
do aluno.
03 – A jornalista narra
alguma ação concreta do padrasto do amigo que possa justificar sua conclusão?
Não. Ela afirma
apenas que ele sentiu inveja.
04 – Releiam: “Kátia diz que aprendeu a lição [...]”.
a) Que lição é essa?
A de que não se deve contar os planos antes de serem realizados.
b) A lição aprendida por Kátia se baseia em qual raciocínio?
Se ela contar o plano antes de sua realização, ele não dará certo,
pois alguém poderá invejá-la.
05 – Que outras causas mais
concretas e facilmente comprováveis a jornalista poderia encontrar para o
problema da primeira desistência, a da empresa de Manaus?
A empresa de Manaus poderia estar
passando por dificuldades, ou então um concorrente ofereceu cestas mais
baratas.
06 – E vocês? Para explicar
acontecimentos do seu dia-a-dia (com amigos, com a família...), vocês procuram
causas que possam ser comprovadas ou apelam para causas “nebulosas”?
Resposta pessoal do aluno.
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