domingo, 25 de outubro de 2020

TEXTO: INVEJA - KÁTIA FERRAS - COM GABARITO

 Texto: Inveja

            Kátia Ferras

        A jornalista Kátia Ferraz, 40, cresceu ouvindo histórias da avó sobre olho gordo e inveja. Cética, ela nunca deu muita bola e achava que se tratava de folclore.

        Casada e recém-formada com pouco mais de 20 anos, criou com o marido duas empresas: uma de assessoria de comunicação e outra que montava cestas de Natal para empresas.

        Como as encomendas não paravam de chegar, os dois alugaram um galpão grande na Vila Maria, na zona norte de São Paulo. De um dia para o outro, tudo começou a dar errado.

        Eles perderam um cliente grande, em Manaus, que cancelou pedidos, não conseguiram pagar os fornecedores, acabaram perdendo outros clientes, o galpão, acumularam mais dívidas e tiveram que vender os próprios carros para pagar os credores.

        -- "Tudo começou com a visita de um amigo nosso e o padrasto dele lá no galpão", conta.

        Segundo Kátia, o padrasto, desempregado na época, ficou impressionado com as instalações e com aquele monte de cestas.

        -- "Nossa, vocês têm tanta coisa aqui! Tão novinhos e já com tudo isso. A vida é assim: contempla uns e outros não", teria dito ele.

        No dia seguinte, o cliente de Manaus cancelou o pedido. Segundo Kátia, foi um efeito dominó violento. "Chegou uma hora em que não tínhamos dinheiro para mais nada. Começamos a brigar muito e até o nosso casamento acabou", diz a jornalista.

        Para piorar, nos meses em que eles foram afundando, o padrasto do amigo repetia, segundo a jornalista, com prazer, "bem que eu avisei".

        Kátia diz que aprendeu a lição e não conta nada sobre seus planos antes de serem realizados. Um negócio, um emprego, uma compra, ela só mostra depois de realizado. "Não existe inveja boa", diz.

        Além de não existir em versão boa, a inveja é, segundo o psiquiatra e doutor em saúde mental Joaquim Lopes Alho Filho, o único dos sete pecados que pressupõe agressão.

        -- "A inveja é a raiz de toda a violência. O indivíduo pensa "ele é e tem o que eu não sou nem tenho'", diz o médico. "Isso é uma fonte de frustração e o sujeito quer destruir o outro por não ter e não ser."

Folha de São Paulo, 21/4/2005.

Fonte: Língua Portuguesa. Viva Português. 9° ano. Editora Ática. Elizabeth Campos. Paula Marques Cardoso. Silvia Letícia de Andrade. 2ª edição. 2011. P. 52-3.

Entendendo o texto:

01 – Na sua opinião, a inveja pode causar muito mal?

      Resposta pessoal do aluno.

02 – De que maneiras ela pode afetar as pessoas envolvidas?

      Resposta pessoal do aluno.

03 – A jornalista narra alguma ação concreta do padrasto do amigo que possa justificar sua conclusão?

      Não. Ela afirma apenas que ele sentiu inveja.

04 – Releiam: “Kátia diz que aprendeu a lição [...]”.

a)   Que lição é essa?

A de que não se deve contar os planos antes de serem realizados.

b)   A lição aprendida por Kátia se baseia em qual raciocínio?

Se ela contar o plano antes de sua realização, ele não dará certo, pois alguém poderá invejá-la.

05 – Que outras causas mais concretas e facilmente comprováveis a jornalista poderia encontrar para o problema da primeira desistência, a da empresa de Manaus?

      A empresa de Manaus poderia estar passando por dificuldades, ou então um concorrente ofereceu cestas mais baratas.

06 – E vocês? Para explicar acontecimentos do seu dia-a-dia (com amigos, com a família...), vocês procuram causas que possam ser comprovadas ou apelam para causas “nebulosas”?

      Resposta pessoal do aluno.

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