domingo, 25 de outubro de 2020

TEXTO: INTELIGÊNCIA É FUNDAMENTAL - BIA SANTANA - COM GABARITO

Texto: Inteligência é fundamental

          Você abriria mão da sua inteligência para ser mais bonito? Tem gente que sim, numa boa. Vaidade descontrolada, consumismo, culpa da mídia, que expõe padrões estéticos irreais, ou intolerância?  Pense um pouco – e, para isso, beleza não ajuda.

Bia Santanna

        “Apesar de saber que a inteligência é o que conta no final, certamente trocaria um pouco da minha por beleza. Acho que teria menos conflitos, melhoraria minha autoestima. Na balada, por exemplo, não tem jeito: todo mundo procura gente bonita”, assume Alexandre Ribeiro, de 19 anos, que diz estar sempre de regime e preocupado com a pele e o cabelo.

        Do outro lado do front, o estudante Ivan Petrich, de 17 anos, acredita que “de cara, a beleza ajuda muito mais que o fato de ser inteligente”. E completa: “Já consegui várias coisas na vida por ser ‘mais ajeitadinho’, por pior que isso possa soar. Na noite, por exemplo, sempre pego umas meninas mais bonitas e levo a melhor numa disputa com um cara considerado mais feio”.

        Verdade seja dita: a garota que tem a pele malcuidada ou o cara com vários quilinhos a mais despertam menos interesse numa festa, por exemplo. Mas a obsessão da rapaziada com a beleza e a vaidade descontrolada não estão virando loucura? Não é exagero, pra dizer o mínimo, aceitar de bom grado trocar inteligência por beleza, ainda mais sabendo que a beleza estética é limitada pelo tempo e a inteligência não? E se alguém parasse pra conversar com a garota espinhuda ou com o cara gordinho na festa não poderia se surpreender com outro tipo de beleza – aquela que não se põe na mesa?

        Na versão de 2005 do Dossiê Universo Jovem, uma pesquisa da MTV com brasileiros de 15 a 30 anos para detectar tendências e entender comportamentos, 60% dos 2.359 entrevistados acreditam que pessoas bonitas têm mais oportunidade na vida. Mais que isso: cerca de 350 delas abririam mão de 25% do conhecimento acumulado para serem 25% mais bonitos. Numa interpretação livre dos dados, dá pra dizer, entre aspas mesmo, que “eles preferem ser bonitos e burros a inteligentes e feios”.

        A busca por um visual mais descolado, magro e malhado parece ter mais importância do que ser inteligente, acumular conhecimento, se embrenhar em cursos legais e aprender línguas pelo mundo. Numa espécie de Teoria da Evolução às avessas, vivemos num mundo onde, aparentemente, só os bonitos sobrevivem. E a vaidade estética ganha de lavada da vaidade intelectual, como se ninguém mais pensasse em ler um bom livro, fazer uma faculdade legal ou aprender a tocar um instrumento. O negócio é ser bonito, custe o que custar, e ponto. Há dezenas de reality shows mundo afora que, quanto maior a mudança estética dos candidatos, maior o ibope. Mas não há nenhum em que você possa ficar enfurnado numa casa durante um mês, que seja, alimentando a alma com informação, lendo livros incríveis, tendo palestras com filósofos inspiradores, conversando com poetas e escritores escolhidos a dedo e escutando só sonzeira da boa.

        “Infelizmente, beleza abre muitas portas. Pode ver, todo mundo é pressionado por essa ditadura da magreza, está sempre fazendo mil dietas, se acabando na academia. Eu já fiz plástica pra reduzir os seios. Não tinha problema de coluna nem nada, mas achava que assim ia ficar mais bonita”, conta Regiane Ferreira, de 21 anos, que entrou tranquilamente em uma concorrida universidade pública do interior paulista. “Claro que não queria ficar burra, mas acho que, sei lá, se trocasse um pouco da minha inteligência por um pouco de beleza não ia ter que ficar me matando por um monte de coisas, estudando feito louca. Eu ia ser modelo e pronto!”.

        “A beleza pode ser um caminho mais fácil para você mostrar que é também inteligente. Quando se é bonito todo mundo parece mais interessado nas coisas que você tem a dizer”, afirma o estudante de Engenharia Elétrica Lucas Micheletto Sobral, de 22 anos, que emagreceu 20 Kg e viu tudo a sua volta mudar. “O mundo dá muito mais chances e atenção a quem é magro ou bonito. A forma como os outros me tratam mudou junto com o meu corpo. Até quando vou comprar roupa as vendedouras são mais atenciosas do que eram”.

        Afinal, beleza é mesmo fundamental? Sim, pra muita gente é. No Orkut, por exemplo, existem pelo menos 11 comunidades (com quase 3 mil participantes) que defendem esse mundo “mais belo”. Até aí tudo bem. O problema é a busca pelo padrão de beleza se torna o único projeto de vida de uma pessoa. Porque as loucuras, doenças e obsessões que vêm como efeito colateral não costumam ser nada belas.

        Em 2003, depois de ser recusada na última etapa de uma entrevista de emprego porque “meu perfil de beleza não se encaixava no da empresa”, a paulista Viviane Vicente entrou em depressão. Não teve dúvidas: largou a faculdade e se internou num SPA. “Até então meus 80 Kg não incomodavam, mas depois de ouvir que meus cursos, estudos e até os testes da entrevista não bastavam para conseguir a vaga, fiquei neurótica”, conta. Tão neurótica que ganhou mais 70 Kg e se juntou aos mais de 800 mil pacientes por ano que recorrem à cirurgia plástica no Brasil. “Fiz várias cirurgias, redução da mama, reconstrução de umbigo, dez lipos nas costas, lipoescultura e até redução de estômago. Não pensava em mais nada, parei de sair com meus amigos. Só queria ser magra e bonita”. Depois de quase ficar bulímica, ela acredita que são os próprios jovens que se impõem essa neurose de ser bonito. “A menina vê uma outra mais bonita na praia, e ainda o namorado olha para essa outra também, pronto: já quer ser igual. Só pensa nisso”.

        Hoje, com 60 Kg a menos, Viviane retomou os estudos e botou na cabeça a real: o que importa é estar bem consigo mesmo – essa é uma vaidade positiva, que não tem nada a ver com padrões estabelecidos ou com o que os outros pensam sobre você.

Revista MTV, set. 2005.

         Fonte: Língua Portuguesa. Viva Português. 9° ano. Editora Ática. Elizabeth Campos. Paula Marques Cardoso. Silvia Letícia de Andrade. 2ª edição. 2011. P. 159-62.

Entendendo o texto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Bulímico: que sofre de bulimia.

·        De bom grado: com satisfação.

·        Dossiê: conjunto de documentos e informações a respeito de uma pessoa, um grupo, uma instituição, etc.

·        Front: campo de batalha.

·        Embrenhar-se: aprofundar-se, estudar com dedicação.

02 – Faça em seu caderno, um quadro colocando as respostas dadas pelos entrevistados, com relação a estas três perguntas:

·        Beleza ou inteligência?

·        Que reocupações tem ou teve para ficar mais bonito(a)?

·        Qual a vantagem de ser bonito(a)?

a)   Alexandre Ribeiro, 19 anos.

Beleza; Está sempre de regime e preocupa-se com a pele e com o cabelo; Quem é bonito tem menos conflitos, melhora a autoestima e se dá bem nas baladas.

b)   Ivan Petrich, 17 anos.

Beleza; O texto não apresenta nenhuma; A beleza facilita as coisas muito mais do que a inteligência.

c)   Regiane Ferreira, 21 anos.

Beleza; Fez plástica para reduzir os seios; Se fosse bonita seria modelo e não precisaria se esforçar por mais nada.

d)   Lucas Micheletto Sobral, 22 anos.

Beleza; Emagreceu 20 Kg; As pessoas ficam mais interessadas no que as pessoas bonitas têm a dizer.

e)   Viviane Vicente.

Beleza; Redução da mama, reconstrução do umbigo, dez lipos nas costas, lipoescultura e redução de estômago; Atende-se ao padrão autoimposto pelos jovens.

03 – Nas situações abordadas pela reportagem, a preocupação dos jovens entrevistados é com a satisfação pessoal ou com a opinião dos outros? Justifique sua resposta.

      Com exceção de Viviane, que aprendeu que o que importa é estar bem consigo mesma, os demais pensam na beleza como forma de conquistar as demais pessoas, seja essa conquista profissional ou afetiva.

04 – De 1 a 5, que grau de importância você atribui a beleza?

1 = nenhuma; 2 = alguma; 3 = moderada; 4 = grande; 5 = excessiva.

      Resposta pessoal do aluno.

05 – Ao longo da reportagem, verificamos que a autora apresenta um contraponto a cada depoimento, a fim de questionar algumas ideias comuns entre os jovens. Indique no caderno os trechos em que ela rebate cada um dos depoimentos transcritos a seguir:

        Depoimento 1: “Claro que não queria ficar burra, mas acho que, sei lá, se trocasse um pouco da minha inteligência por um pouco de beleza não ia ter que ficar me matando por um monte de coisas [...]” (Regiane Ferreira).

a)   Opinião da autora.

“Não é exagero, pra dizer o mínimo, aceitar de bom grado trocar inteligência por beleza, ainda mais sabendo que a beleza estética é limitada pelo tempo e a inteligência não?”.

b)   O que pensa o grupo? É um “bom negócio” trocar inteligência por beleza?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: O mais importante é que os alunos relacionem os dados e formem uma opinião sobre o assunto, ainda que limitada a princípio.

        Depoimento 2: “Pode ver, todo mundo é pressionado por essa ditadura da magreza, está sempre fazendo mil dietas, se acabando na academia”. (Regiane Ferreira).

a)   Opinião da autora.

“A busca por um visual mais decolado, magro e malhado parece ter mais importância do que ser inteligente, acumular conhecimento, se embrenhar em cursos legais e aprender línguas pelo mundo.”

b)   O que pensa o grupo? A busca por um visual bonito é mais importante que a busca pelo conhecimento, pelo desenvolvimento da inteligência?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: É possível aliar beleza e conhecimento/inteligência. O problema é quando a beleza passa a tomar todos os espaços da vida da pessoa.

        Depoimento 3: “Fiz várias cirurgias, redução de mama, reconstrução de umbigo, dez lipos nas costas, lipoescultura e até redução de estômago. Não pensava em mais nada, parei de sair com meus amigos. Só queria ser magra e bonita”. (Viviane Vicente).

a)   Opinião da autora.

“O problema é a busca pelo padrão de beleza se tornar o único projeto de vida de uma pessoa. Porque as loucuras, doenças e obsessões que vêm como efeito colateral não costumam ser nada belas.”

b)   O que pensa o grupo? Vale tudo para ser mais bonito?

Resposta pessoal do aluno.

06 – No quarto parágrafo são apresentadas informações que reforçam as constatações dos três parágrafos anteriores. Em que se baseiam as informações do quarto parágrafo?

      Na versão 2005 do Dossiê Universo Jovem, uma pesquisa da MTV feita com brasileiros de 15 a 30 anos.

07 – De acordo com os dados do Dossiê Universo Jovem, mais de 50% dos jovens abriria mão de 25% da inteligência para ser 25% mais bonito?

      Não. Segundo o Dossiê, 350 dos 2.359 entrevistados fariam isso, ou seja, cerca de 15%.

08 – Copie no caderno a(s) alternativa(s) correta(s): A reportagem “Inteligência é fundamental” apresenta os seguintes elementos:

·        As causas da valorização da beleza.

·        Um histórico sobre o assunto.

·        Depoimentos de pessoas que nunca se preocuparam com o padrão de beleza vigente e nunca foram infelizes por isso.

·        Depoimentos de pessoas que jamais trocariam a inteligência pela beleza.

·        Provas de que as consequências da busca desenfreada pelo padrão de beleza não são nada agradáveis.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Nenhuma das alternativas estão corretas.

09 – Com base na sua resposta ao exercício anterior, copie no caderno a afirmativa correta.

a)   O texto trata o tema de forma aprofundada, mostram-se resultados de uma rigorosa pesquisa sobre o assunto, confronto de ideias, depoimentos de especialistas.

b)   O texto trata o tema de forma superficial, restringindo-se a apresentar depoimentos com praticamente o mesmo ponto de vista.

 

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