terça-feira, 7 de julho de 2020

POEMA: LUNDU DO ESCRITOR DIFÍCIL - MÁRIO DE ANDRADE - COM GABARITO

POEMA: LUNDU DO ESCRITOR DIFÍCIL

                 Mário de Andrade

Eu sou um escritor difícil
Que a muita gente enquizila,
Porém essa culpa é fácil
De se acabar duma vez:
É só tirar a cortina
Que entra luz nesta escurez.

Cortina de brim caipora,
Com teia caranguejeira
E enfeite ruim de caipira,
Fale fala brasileira
Que você enxerga bonito
Tanta luz nesta capoeira
Tal-e-qual numa gupiara.

Misturo tudo num saco,
Mas gaúcho maranhense
Que pára no Mato Grosso,
Bate este angu de caroço
Ver sopa de caruru;
A vida é mesmo um buraco,
Bobo é quem não é tatu!

Eu sou um escritor difícil,
Porém culpa de quem é!...
Todo difícil é fácil,
Abasta a gente saber.
Bajé, pixé, chué, ôh "xavié"
De tão fácil virou fóssil,
O difícil é aprender!

Virtude de urubutinga
De enxergar tudo de longe!
Não carece vestir tanga
Pra penetrar meu caçanje!
Você sabe o francês "singe"
Mas não sabe o que é guariba?
— Pois é macaco, seu mano,
Que só sabe o que é da estranja.

(ANDRADE, Mário. In: Poesias completas. São Paulo, Círculo do Livro, 1976. p. 286-7).

 

Entendendo o poema:

01 – Pesquise o significado das seguintes palavras:

·        Lundu: dança de origem africana segundo Aurélio Buarque de Holanda, desde meados do século XIX, lundu passou a ser também uma canção (modinha) de caráter cômico.

·        Enquizila: aborrece, importuna; variante da palavra quizila, de origem africana.

·        Escurez: o mesmo que escuridão; Mário de Andrade preferia as formas escurez e escureza.

·        Caipora: que traz azar; palavra de origem tupi (caa, ‘mato’; porá, ‘morando’, ‘habitante’) que designa um ente fantástico, o qual, segundo os indígenas brasileiros, provoca desgraças.

·        Capoeira: terreno roçado; assim como a palavra caipira, capoeira é de origem tupi.

·        Gupiara: palavra de origem tupi que designa, em regiões de exploração de ouro, o cascalho ralo que encobre as jazidas.

·        Caruru: palavra de origem africana que designa várias plantas de valor nutritivo, utilizadas em pratos típicos da comida afro-brasileira.

·        Bajé: cidade gaúcha.

·        Pixé: palavra de origem tupi que significa ‘mau cheiro’.

·        Chué: ordinário, de pouco valor.

·        Guariba: macaco.

02 – De que se trata o poema?

      O autor defende, com bom humor e ironia, a importância da cultura popular na formação de uma identidade genuinamente brasileira.

03 – No primeiro verso, o eu lírico se coloca na posição de um escritor que “incomoda muita gente”. A partir do que é apresentado nas demais estrofes, por que isso acontece?

     O incômodo acontece porque em seus poemas ele fala sobre diversas culturas.

04 – O Lundu também é conhecido como: landum; lundum e londu. Faz referência a um canto e dança que teve origem no continente africano e que, posteriormente, foi introduzido aqui no Brasil nosso país. Provavelmente foi trazido por escravos angolanos. Por que o autor usou este termo?

      Porque o termo possibilita ao poema o sentido de mistura de culturas.

05 – Explique o motivo da palavra “xavié” vir entre aspas e as palavras bagé, pixé e chué não?

      Porque foi usada na linguagem coloquial.

06 – Qual o tema principal tratado por Mário de Andrade? O que o poeta critica em seu poema?

      Mário de Andrade fala sobre as diferenças culturais. Critica o desconhecimento / a falta de respeito com nossa língua regional.

07 – No poema, há uma alteração estrutural no que se refere ao uso da:

a)   Métrica.

b)   Rima.

c)   Linguagem de dicionário.

d)   Linearidade do discurso.

08 – A estrofe: “Cortina de brim caipora, / Com teia caranguejeira / E enfeite ruim de caipira, / Fale fala brasileira / Que você enxerga bonito / Tanta luz nesta capoeira.”, escrito entre 1927 e 1928, o que o autor quis dizer?

      O autor ilustra bem o pensamento do escritor paulistano, que propunha a retirada de “cortinas” para que o diálogo entre vida, história, música e literatura iluminasse a cultura nacional.

09 – Leia atentamente as afirmações a seguir:

I – Neste poema, Mário de Andrade enfatiza o seu esforço de criação de uma expressão literária nacional, e, para tanto, utiliza vocabulário que resgata as regiões do Brasil.

II – Além da linguagem, Mário de Andrade resgata as raízes culturais do país, como a culinária e a representação artística.

III – Na primeira estrofe, Mário de Andrade faz uso da figura de linguagem antítese, ao empregar as palavras “difícil/fácil” e “luz/escurez”. Essas antíteses evidenciam a contradição vivenciada pelos intelectuais brasileiros que, com os olhos no estrangeiro, não conseguem compreender este poeta brasileiro.

É (são) correta(s) afirmação(ões):

a)   I e II.

b)   Todas.

c)   Apenas III.

d)   II e III.

10 – Leia atentamente as afirmações a seguir:

I – No próprio poema, Mário de Andrade identifica a solução para que os leitores não o considerem um escritor difícil: que falem e aprendam a “fala brasileira”.

II – No décimo verso, Mário de Andrade dá um conselho ao seu leitor, por meio do emprego do modo verbal imperativo.

III – Nos dois últimos versos, o escritor utiliza-se do discurso indireto para indicar o significado da palavra guariba. É (são) correta(s) a(s) afirmação (ões):

a)   I e II.

b)   Apenas I.

c)   Todas.

d)   II e III.

11 – Nos versos: “Não carece vestir tanga / Pra penetrar meu caçanje!”, no trecho em destaque há a seguinte figura de linguagem:

a)   Sinestesia.

b)   Assonância.

c)   Paradoxo.

d)   Metonímia.

 



 


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