Texto: O povo
Eça de Queiroz
Há no mundo uma raça de homens com
instintos sagrados e luminosos, com divinas bondades do coração, com uma
inteligência serena e lúcida, com dedicações profundas, cheias de amor pelo
trabalho e de adoração pelo bem, que sofrem, e se lamentam em vão.
Estes homens são o Povo.
Estes homens, sob o peso do calor e do
sol, transidos pelas chuvas, e pelo frio, descalços, mal nutridos, lavram a
terra, revolvem-na, gastam a sua vida, a sua forca, para criar a pão, o
alimento de todos.
Estes são o Povo, e são os que nos
alimentam.
Estes homens vivem nas fábricas,
pálidos, doentes, sem família, sem doces noites, sem um olhar amigo que os
console, sem ter o repouso do corpo e a expansão da alma, e fabricam o linho, o
pano, a seda, os estofos.
Estes homens são o Povo, e são os que
nos vestem.
Estes homens vivem debaixo das minas,
sem o sol e as doçuras consoladoras da Natureza, respirando mal, comendo pouco,
sempre na véspera da morte, rotos, sujos, curvados, e extraem o metal, o
minério, o cobre, o ferro, e toda a matéria das indústrias.
Estes homens são o Povo, e são as que
nos enriquecem.
Estes homens, nos tempos de lutas e de
crises, tomam as velhas armas da Pátria e vão, dormindo mal, com marchas
terríveis, a neve, a chuva, ao frio, nos calores pesados, combater e morrer
longe dos filhos e das mães, sem ventura, esquecidos, para que nós conservemos
o nosso descanso opulento.
Estes homens são o Povo, e são os que
nos defendem.
Estes homens formam as equipagens dos
navios, são lenhadores, guardadores de gado, servos mal retribuídos e
desprezados.
Estes homens, são os que nos servem.
E por isso que os que tem coração e
alma, e amam a Justiça, devem lutar e combater pelo Povo.
E ainda que não sejam escutados, tem na
amizade dele uma consolação suprema.
O povo. José Maria Eça de
Queiroz. In: Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro.
Fonte: Livro – Encontro
e Reencontro em Língua Portuguesa – 8ª Série – Marilda Prates – Ed. Moderna,
2005 – p. 132/4.
Entendendo o texto:
01 – O autor apresenta “O
povo”. Que características são citadas?
Instintos
sagrados e luminosos, divinas bondades, inteligência serena e lúcida, com
dedicações profundas.
02 – O lamento do povo é em
vão? Por quê?
Seu lamento não é
ouvido pelas autoridades. Poucas reivindicações são atendidas.
03 – No desenvolvimento, o
autor se refere a quatro tipos de homens, com relação a sua profissão. Cite-os.
Lavradores,
operários, mineiros, soldados.
04 – Indique o tipo de vida
e de trabalho dos lavradores.
Os lavradores
sofrem com o calor do sol, com a chuva e o frio. Não têm boa alimentação e nem
vestimentas dignas.
05 – Fale sobre a vida dos
operários.
Os operários
vivem nas fábricas, pálidos porque não apanham a luz do sol. Muitas vezes sem
família e maiores alegrias.
06 – Como trabalham os
mineiros?
Os mineiros vivem nas minas, respirando
mal, sema luz do sol, e as belezas da natureza. Vivem sujos, rotos e curvados.
07 – A vida dos soldados é
dura? Comprove com frases do texto.
“Estes homens,
nos tempos de lutas e crises, tomam as velhas armas da Pátria, e vão, dormindo
mal, com marchas terríveis, à neve, à chuva, ao frio, nos calores pesados,
combater e morrer longe dos filhos e das mães, sem ventura, esquecidos...”
08 – Entre esses homens há
uma característica comum. Qual é ela?
A vida muita sofrida.
09 – Quem deve lutar por
esse povo sofrido?
Aqueles que têm coração e sentimento
(alma) e amam a justiça.
10 – Os que lutam pelo povo
podem não ser ouvidos em suas reivindicações. Por quem?
Pelas
autoridades.
11 – Mesmo não sendo
ouvidos, esses reivindicadores, em nome do povo, terão uma recompensa. Qual?
A amizade do
povo.
Escrito no século passado mas com uma actualidade como se fosse escrito hoje mesmo
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