terça-feira, 7 de julho de 2020

POEMA: SEGUNDA CANÇÃO DE MUITO LONGE - MÁRIO QUINTANA - COM GABARITO

Poema: Segunda canção de muito longe

              Mário Quintana

Havia um corredor que fazia cotovelo:

Um mistério encanando com outro mistério, no escuro...

 

Mas vamos fechar os olhos

E pensar numa outra cousa...

 

Vamos ouvir o ruído cantado, o ruído arrastado das correntes no algibe,

Puxando a água fresca e profunda.

Havia no arco do algibe trepadeiras trêmulas.

Nós nos debruçávamos à borda, gritando os nomes uns dos outros,

E lá dentro as palavras ressoavam fortes, cavernosas como vozes de leões.

Nós éramos quatro, uma prima, dois negrinhos e eu.

Havia os azulejos reluzentes, o muro do quintal, que limitava o mundo,

Uma paineira enorme e, sempre e cada vez mais, os grilos e as estrelas...

Havia todos os ruídos, todas as vozes daqueles tempos...

As lindas e absurdas cantigas, tia Tula ralhando os cachorros,

O chiar das chaleiras...

Onde andará agora o pince-nez da tia Tula

Que ela não achava nunca?

A pobre não chegou a terminar a Toutinegra do Moinho,

Que saía em folhetim no Correio do Povo!...

A última vez que a vi, ela ia dobrando aquele corredor escuro.

Ia encolhida, pequenininha, humilde. Seus passos não faziam ruído.

E ela nem se voltou para trás!

Mario Quintana.

Entendendo o poema:

01 – No poema, o eu lírico retorna à infância embalado pelas recordações do passado, que é evocado em uma linguagem subjetiva. Na primeira estrofe, ocorre-lhe a imagem de um corredor. A partir da leitura desse trecho, pode-se inferir que:

a)   Como esse corredor era escuro e terminava numa curva fechada (dificilmente enxergamos o que vem depois dela), a intersecção dele com o outro corredor era um ponto de mistério.

b)   O mistério deixa de existir quando o eu lírico encontra seus amigos do outro lado da curva fechada.

c)   O corredor é, somente, um pretexto para que o eu lírico fique afastado das brincadeiras.

d)   O eu lírico nunca atingira o outro lado do corredor.

02 – A partir da segunda estrofe, o eu lírico continua a convocar o leitor a acompanha-lo em suas novas lembranças. Tendo em vista tal citação, pode-se concluir que a palavra que marca uma mudança dos fatos entre a primeira e as demais estrofes é ......................., apresentando o sentido de ...............................

a)   E / adição.

b)   Vamos / convite.

c)   Mas / oposição.

d)   Olhos / realidade.

03 – Que temática é abordada no poema, se baseando no título?

      O título direciona a temática para um passado distante, perdido ou esquecido na memória do sujeito poético.

04 – O poeta abre a sua produção com o verbo “haver” no pretérito imperfeito que se repete ao longo do texto em três versos seguintes para evidenciar o quê?

      Que embora a ação seja passada, ela permanece ressoando no presente, pois trata-se de fatos inacabados e, portanto, ainda persistentes.

05 – Nos versos: “Havia os azulejos reluzentes, o muro do quintal, que limitava o mundo”. O que o sujeito poético nos fala no verso sublinhado?

      Que o muro do quintal limita o mundo exterior e interior. O exterior configura-se no desconhecido, no mundo perigoso, já o mundo interior sintetiza a proteção o acalanto e os prazeres da infância protegida.

06 – Por que o corredor é símbolo de mistério?

      Porque a dimensão da casa é percebida pela indicação do corredor, que fazia cotovelo, aumentando o enigma do espaço, pois não se podem vislumbrar fatos que ocorrem no seu final.

07 – Que ruídos da infância o sujeito poético nos conduz?

      A água do poço, o chiar das chaleiras liga-se à ideia do aconchego do lar e ao preparo de refeições.    

 

 


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