sábado, 27 de agosto de 2022

TEXTO: PARIDADE DE GÊNERO - ONU MULHERES BRASIL - COM GABARITO

Texto: Paridade de gênero

        Em 2015, a Assembleia Geral das Nações Unidas adotou a Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável. Com 17 objetivos globais, os Estados-membros aprovaram um plano de ação para promover o desenvolvimento sustentável e a erradicação da pobreza. Foram definidas 169 metas globais com foco nas pessoas, no planeta, na prosperidade e na paz mundial. As metas para o alcance da igualdade de gênero estão concentradas no Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 5 e transversalizadas em outros 12 objetivos globais.

        Esta Agenda é um plano de ação para as pessoas, para o planeta e para a prosperidade. Ela também busca fortalecer a paz universal com mais liberdade. Reconhecemos que a erradicação da pobreza em todas as suas formas e dimensões, incluindo a pobreza extrema, é o maior desafio global e um requisito indispensável para o desenvolvimento sustentável.

        Todos os países e todas as partes interessadas, atuando em parceria colaborativa, implementarão este plano. Estamos decididos a libertar a raça humana da tirania da pobreza e da penúria e a curar e proteger o nosso planeta. Estamos determinados a tomar as medidas ousadas e transformadoras que são urgentemente necessárias para direcionar o mundo para um caminho sustentável e resiliente. Ao embarcarmos nesta jornada coletiva, comprometemo-nos que ninguém seja deixado para trás.

        [...]

        Em apoio à Agenda 2030, a ONU Mulheres lançou a iniciativa global “Por um planeta 50-50 em 2030: um passo decisivo pela igualdade de gênero”, com compromissos concretos assumidos por mais de 90 países. Construir um Planeta 50-50 depende que todas e todos – mulheres, homens, sociedade civil, governos, empresas, universidades e meios de comunicação – trabalhem de maneira determinada, concreta e sistemática para eliminar as desigualdades de gênero.

        [...]

ONU Mulheres Brasil. Por um planeta 50-50 em 2030: um passo decisivo pela igualdade de gênero. Disponível em: http://www.onumulheres.org.br/planeta5050-2030/. Acesso em: 3 ago. 2020.

     

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Em sentido horário, a atriz Camila Pitanga (1977-), a assistente social e ativista Lúcia Xavier (1959-) e a líder indígena e ativista Sonia Guajajara (1974-) em fotos da ciranda virtual “No #8M, marque uma mulher que faz um #Planeta5050”, parte da campanha da Organização das Nações Unidas (ONU) “Por um planeta 50-50 em 2030: um passo decisivo pela igualdade de gênero”, promovida para o Dia Internacional das Mulheres em 2017. Disponível em: http://www.onumulheres.org.br/noticia/camanhas/. Acesso em: 3 ago. 2020.

Fonte: Língua Portuguesa – Estações – Ensino Médio – Volume Único. 1ª edição, São Paulo, 2020 – editora Ática – p. 216-7.

Entendendo o texto:

01 – Você acha que é importante ser solidário e empático com o próximo? Quais causas você acredita que devem ser defendidas? Você se engajaria na luta de pessoas que não conhece?

      Resposta pessoal do aluno.

02 – Qual é o objetivo da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável?

      O objetivo é promover o desenvolvimento sustentável por meio da erradicação da pobreza, da promoção da paz e da igualdade de gênero, entre outros.

·        Você já conhecia essa iniciativa? Sabe quais são os demais Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)?

Resposta pessoal do aluno.

03 – Por que a igualdade entre homens e mulheres contribui para atingir a erradicação da pobreza?

      Pelo papel social e econômico ocupado pelas mulheres na sociedade atual. Não é possível falar em erradicação da pobreza sem falar em equiparação salarial entre homens e mulheres.

04 – Por que no nome da campanha há a expressão “50-50”?

      Porque a expressão “50-50” remete à paridade entre homens e mulheres e à equidade de direitos.

05 – O que foi feito no Brasil para disseminar essa campanha? Que valores e grupos estão representados nas imagens de divulgação dela?

      No dia 8 de março, artistas, celebridades e pessoas que participam de movimentos em prol dos direitos das mulheres compartilharam fotos em comemoração ao Dia Internacional das Mulheres. Alguns valores presentes nas imagens são os direitos das mulheres negras, a liderança de mulheres indígenas e o feminismo e os grupos representados são mulheres negras e indígenas.

·        Você se engajaria nessa campanha? Compartilhe com os colegas.

Resposta pessoa do aluno.

06 – A ciranda virtual do Dia Internacional das Mulheres, “No #8M, marque uma mulher que faz um #Planeta5050”, aconteceu em 2017. Na sua opinião, a causa promovida pela campanha ainda é relevante? Você acha que é importante incentivar as pessoas a refletir sobre igualdade de gênero?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: A atualidade da causa da paridade de gênero e identifiquem e valorizem mulheres que eles conhecem e que são referências de empoderamento feminino.

·        Se você tivesse participado dessa campanha, quem marcaria? E qual seria o motivo de sua escolha?

Resposta pessoal do aluno.

 

 

 


 

ESTATUTO DO IDOSO: LEI Nº 10.741, DE 1º DE OUTUBRO DE 2003 - COM GABARITO

 Estatuto do Idoso: Lei n° 10.741, de 1° de outubro de 2003.

        Dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá outras providências

        [...]

TÍTULO I

Disposições Preliminares

        Art. 1° É instituído o Estatuto do Idoso, destinado a regular os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.

        Art. 2° O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhe, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade.

        Art. 3° É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária.

        [...]

BRASIL. Lei n° 10.741, de 1° de outubro de 2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.741.htm. Acesso em: 15 jul. 200.

Fonte: Língua Portuguesa – Estações – Ensino Médio – Volume Único. 1ª edição, São Paulo, 2020 – editora Ática – p. 191.

Entendendo o estatuto:

01 – Você já pensou em como o seu comportamento durante a juventude e a idade adulta pode influenciar a sua qualidade de vida como idoso?

      Resposta pessoal do aluno.

02 – Qual a função de um estatuto?

      Estabelecer regras de convívio, direitos e deveres de uma parcela da sociedade. No caso do Estatuto do Idoso, a ideia é garantir direitos especificados à população com idade igual ou superior a 60 anos.

03 – Você considera importante debater as condições do idoso no Brasil? Na sua opinião, esse tema só diz respeito a quem tem 60 anos ou mais ou é do interesse de toda a sociedade? Justifique.

      Resposta pessoal do aluno.

04 – Além dos direitos citados no trecho lido, você conhece outros direitos que o idoso tem no Brasil? Dê exemplos.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Gratuidade no transporte público coletivo; acesso gratuito ou descontos em algumas medicações de uso contínuo; prioridade de atendimento em órgãos públicos ou privados; descontos ou gratuidade em eventos culturais, entre outros.

·        Acesse o texto do Estatuto do Idoso na íntegra, disponível no endereço eletrônico indicado na fonte do texto, par conhecer outros direitos dos idosos. Você descobriu algum direito que nem imaginava que existisse?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Sim, já que boa parte dos direitos específicos dos idosos é desconhecida dos próprios idosos.

05 – No seu dia-a-dia, você convive com pessoas idosas? Você vê os direitos dos idosos sendo postos em prática? Dê exemplos.

      Resposta pessoal do aluno.

06 – Discuta com os colegas: O que os jovens poderiam fazer para ajudar a garantir que os direitos dos idosos sejam respeitados?

      Resposta pessoal do aluno.

PRÓLOGO: ROMANCE ÚRSULA - (FRAGAMENTO) - MARIA FIRMINA DOS REIS - COM GABARITO

 Prólogo: Romance Úrsula – Fragmento

               Maria Firmina dos Reis

        [...]

        Mesquinho e humilde livro é este que vos apresento, leitor. Sei que passará entre o indiferentismo glacial de uns e o riso mofador de outros, e ainda assim o dou a lume.

        Não é a vaidade de adquirir nome que me cega, nem o amor próprio de autor. Sei que pouco vale este romance, porque escrito por uma mulher, e mulher brasileira, de educação acanhada e sem o trato e conversação dos homens ilustrados, que aconselham, que discutem e que corrigem, com uma instrução misérrima, apenas conhecendo a língua de seus pais, e pouco lida, o seu cabedal intelectual é quase nulo. 

        [...]

        Então por que o publicas? – Perguntará o leitor.

        Como uma tentativa, e mais ainda, por este amor materno, que não tem limites, que tudo desculpa – os defeitos, os achaques, as deformidades do filho – e gosta de enfeitá-lo e aparecer em toda a parte, mostrá-lo a todos os conhecimentos e vê-lo mimado e acariciado.

        O nosso romance, gerou-o a imaginação, e não no soube colorir, nem aformosentar. Pobre avezinha silvestre anda terra a terra, e nem olha para as planuras onde gira a águia.

        [...]

        Mas, ainda assim, não o abandoneis na sua humildade e obscuridade, senão morrerá à míngua, sentido e magoado, só afagado pelo carinho materno.

        Ele semelha à donzela, que não é formosa porque a natureza negou-lhe as graças feminis, e que por isso não pode encontrar uma afeição pura, que corresponda ao afeto da sua alma: mas que, com o pranto de uma dor sincera e viva, que lhe vem dos seios da alma, onde arde em chamas a mais intensa e abrasadora paixão, e que embalde quer recolher a corrução, move ao interesse aquele que a desdenhou e o obriga ao menos a olhá-la com bondade.

        [...]

        Deixai pois que a minha ÚRSULA, tímida e acanhada, sem dotes da natureza, nem enfeites e louçanias de arte, caminhe entre vós.

        Não a desprezeis, antes amparai-a nos seus incertos e titubeantes passos para assim dar alento à autora de seus dias, que talvez com essa proteção cultive mais o seu engenho, e venha a produzir cousa melhor, ou quando menos, sirva esse bom acolhimento de incentivo para outras, que com imaginação mais brilhante, com educação mais acurada, com instrução mais vasta e liberal, tenham mais timidez do que nós.

        [...].

                            REIS, Maria Firmina dos. Úrsula. 2. ed. Brasília: Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2019. p. 12-3.

Fonte: Língua Portuguesa – Estações – Ensino Médio – Volume Único. 1ª edição, São Paulo, 2020 – editora Ática – p. 170-1.

Entendendo o prólogo:

01 – De acordo com o texto, o que significa a palavra corução?

      É uma ave de hábitos noturnos que se alimenta de insetos. 

02 – Qual parece ser o objetivo do prólogo?

      Buscar apresentar a obra para o leitor, explicar o objetivo de sua publicação e fazer um apelo para que ele a leia.

03 – Como a autora justifica a escrita do livro e que ela espera de seus leitores?

      A autora afirma ter escrito o romance como uma tentativa, por amor à escrita. Ela declara que alguns leitores permanecerão indiferentes ao seu esforço e que outros vão criticá-la, porque é mulher, brasileira, de pouca instrução. Ainda assim, espera que acolham o romance, isto é, que o leiam. Ela busca, ainda, poder melhorar sua técnica a partir da crítica dos leitores e incentivar outras escritoras a escrever.

04 – O que a autora diz a respeito do romance?

      A autora diz que o romance é “mesquinho e humilde”, de pouco valor, e que não soube colori-lo nem enfeitá-lo. Compara sua obra a uma avezinha silvestre, que vive com os pés no chão e não tem grandes pretensões, e a uma donzela sem beleza ou enfeites, mas que tem vivacidade e se expressa com toda emoção e sinceridade.

05 – O que é possível destacar sobre a linguagem da autora já no prólogo?

      É possível destacar o uso da comparação e dos adjetivos para caracterizar o livro e da ironia ao tratar do olhar de outros escritores e críticos sobre ela.

terça-feira, 23 de agosto de 2022

POEMA: JUNTO AL FUEGO - SUSY DELGADO - COM GABARITO

 Poema: Junto al fuego

              Susy Delgado     

Carvão,

desperta e faz que desperte

no leito da cinza,

o fogo do lar.

Que iluminou

a voz profunda

de meu velho pai.

Carvão,

desperta com o fogo

e levanta-te,

desata-te, ri,

voa, despoja

as brasas da alegria.

Que reviva outra vez

o fogo do lar.

Que reviva o fogo,

que reviva a língua.

DELGADO, Susy. Tataypýpe/Junto al fuego. Assunção: Arandurã, 1994. p. 80-1. Apud Sulis, Roger; LENTZ, Gleiton. Uma chama, uma língua, uma tradução: Seis poemas traduzidos do guarani ao português de Susy Delgado. Eutonia – Revista Online de Literatura e Linguística. Disponível em: https://periodicos.ufpe.br/revistas/EUTOMIA/article/download/1833/1417. Acesso em: 17 jul. 2020.

Fonte: Língua Portuguesa – Estações – Ensino Médio – Volume Único. 1ª edição, São Paulo, 2020 – editora Ática – p. 299.

Entendendo o poema:

01 – De que maneira a presença do eu lírico se evidencia no poema?

      A presença do eu lírico se evidencia no sétimo verso, quando se refere a seu “velho pai”.

02 – Como o carvão é representado no poema de Susy Delgado? Justifique citando alguns versos.

      O carvão é representado como um elemento vivo, humanizado, capaz de despertar a alegria e os afetos (“desperta com o fogo / e levanta-te, / desata-te, ri, / voa, despoja / as brasas da alegria”).

03 – O livro no qual o poema foi originalmente publicado chama-se Tataypýpe. Esse termo guarani é bastante simbólico na cultura paraguaia e dá nome ao lugar nas habitações tradicionais dos camponeses, onde se acende e se mantém o fogo aceso.

a)   Que relações o eu lírico estabelece entre o fogo, o lar e a língua? Quais são os sentidos atribuídos a cada um desses termos no poema?

(Primeiro subitem) O lar é o lugar de proteção, de afetos, da memória. O eu lírico pede ao carvão que desperte o fogo do lar, ou seja, reacenda, reviva a tradição. Além de representar a tradição que vai reviver a língua, no penúltimo e no último versos, o fogo pode ser interpretado como a própria língua guarani, que deve ser mantida viva.

b)   A que língua o eu lírico se refere? Por que é necessário reviver/reacender essa língua?

O eu lírico refere-se ao guarani, língua original em que o poema foi escrito. Embora o guarani seja uma das línguas oficiais do Paraguai, tem sofrido um processo histórico de apagamento e ainda sofre preconceito, o que justifica o desejo do eu lírico de reviver/reacender a própria língua materna.

NOTÍCIA: ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL SERÁ MAIS CARA DO QUE A NÃO SAUDÁVEL A PARTIR DE 2026 (FRAGMENTO)- GUILHERME ZOCCHIO - COM GABARITO

 Notícia: Alimentação saudável será mais cara do que a não saudável a partir de 2026 – Fragmento

       O prognóstico assusta quem se preocupa com uma alimentação saudável. Carnes, frutas e verduras devem se tornar mais caras do que salsichas, doces e outras guloseimas de 2026 em diante. A constatação é de pesquisa conduzida por pesquisadores da Escola de Enfermagem que mediu e comparou a variação nos preços dos 102 tipos de alimentos mais consumidos no país no período entre 1995 e 2017.

        [...] Seis pesquisadores projetaram as oscilações no valor dos itens alimentares até 2030 com informações do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Eles encontraram um ponto de inversão no qual a comida saudável se torna mais cara do que a comida que também é conhecida como "porcaria".

        Em 2017, os alimentos saudáveis tinham preço médio de R$ 4,69 por quilograma e os não-saudáveis, de R$ 6,62 por quilo. Em 2026, o custo de ambos se tornaria igual, prevê a pesquisa. Em 2030, os cientistas calculam que a comida saudável teria valor de R$ 5,24 por quilo, enquanto a comida "porcaria" teria custo de R$ 4,34 por quilo.

        A carne, por exemplo, é um alimento que, segundo o estudo, tornou-se mais caro em relação à salsicha, considerada um substituto para proteínas de origem animal. No período entre 1995 e 2002, o embutido tinha um preço médio de R$ 10,30 por quilo, enquanto a carne, de R$ 9,08.

        No intervalo entre 2003 e 2010, o valor do quilo dos dois alimentos se aproxima. R$ 11,81 para as salsichas e R$ 11,28 para a carne. A pesquisa mostra que no período seguinte a posição dos dois itens se inverte. As salsichas passam a custar R$ 11,33 por quilo e as carnes, R$ 13,10 por quilo.

        [...]

        Os valores encontrados foram corrigidos de acordo com a inflação acumulada até 2017, último ano com dados disponíveis no estudo.

        [...]

        Na sequência, os pesquisadores dividiram e agruparam os 102 itens de maior consumo conforme a classificação do Guia Alimentar para a População Brasileira, um documento do Ministério da Saúde que oferece orientações sobre comer de forma adequada e saudável.

        O Guia Alimentar divide os alimentos em quatro grupos. Primeiro, in natura e/ou minimamente processados, como arroz, feijão, carnes frescas, frutas e verduras. Em segundo, os ingredientes culinários, como sal, açúcar e óleos usados para cozinhar. Depois, os processados, como pães frescos, massas, enlatados e geleias, que são tradicionalmente consumidos no Brasil e em outros países.

        Finalmente, há os ultraprocessados, como salsichas, salgadinhos, macarrões instantâneos e outras guloseimas também conhecidas como "porcaria". São itens obtidos a partir de fragmentos de outros alimentos, aditivos químicos e preparados com complexas técnicas industriais. Na prateleira, geralmente, são aqueles produtos com cinco ou mais ingredientes de nomes pouco familiares (maltodextrina, p.ex.) no rótulo.

        O documento do governo federal recomenda dar preferência aos alimentos in natura e/ou minimamente processados e diz para evitar os ultraprocessados.

        No estudo, essa foi a orientação que os pesquisadores utilizaram para dividir a comida entre saudável e não-saudável. Eles também se fundamentaram em evidências científicas que associam o consumo de ultraprocessados ao desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis, como câncer, diabetes, hipertensão, problemas cardiovasculares, etc.

        [...]

        Motivos desconhecidos

        Apesar do achado inédito, o estudo sobre a tendência de preços tem limitações, como ao não revelar os motivos que estão fomentando essas mudanças. Para explicar a tendência constatada, os pesquisadores fazem suposições. Os subsídios concedidos às empresas de refrigerantes em Manaus, segundo eles, pode ser uma das razões.

        Outra, o apoio que o governo federal oferece às produções de monoculturas como soja, milho e cana de açúcar, que servem de matéria-prima para os itens ultraprocessados. Os cientistas afirmam que a assistência governamental ao agronegócio é muito mais generosa da que à oferecida a agricultores familiares que produzem frutas e verduras.

        Uma última hipótese para explicar a variação dos preços tem relação com a otimização dos processos da fabricação de alimentos. O estudo começa em 1995, e de lá para cá, os avanços tecnológicos devem ter facilitado a produção de ultraprocessados.

        "A expansão das grandes redes de supermercado e da indústria tem colaborado para o acesso das pessoas aos ultraprocessados. A ausência de políticas públicas, também, permite o acesso sem qualquer tipo de regulação. São alimentos práticos, e no cotidiano as pessoas evitam gastar tempo na cozinha", declara Camila. [...]

        [...]

        O objetivo [dos pesquisadores] é ajudar a formular políticas públicas que possam reverter a tendência de preços e, assim, dar prioridade à comida saudável.

ZOCCHIO, Guilherme. Alimentação saudável será mais cara do que a não saudável a partir de 2026. Viva Bem. UOL, 29 jan. 2020. Disponível em: https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2020/01/29/alimentacao-saudavel-sera-mais-cara-do-que-a-nao-saudaavel-a-partir-de-2026.htm. Acesso em: 4 ago. 2020.

Fonte: Língua Portuguesa – Estações – Ensino Médio – Volume Único. 1ª edição, São Paulo, 2020 – editora Ática – p. 278-280.

Entendendo a notícia:

01 – Explique por que a primeira frase do texto diz que o prognóstico anunciado no título assusta quem se preocupa com uma alimentação saudável.

      O título anuncia que a partir de 2026 a alimentação saudável será mais cara que a não saudável, ou seja, é algo que prejudica diretamente aqueles que se preocupam em manter uma alimentação saudável.

02 – A pesquisa brasileira citada na notícia usa quais critérios para dividir os alimentos em saudáveis e não saudáveis?

      O nível de processamento. Quanto mais processados os alimentos, menos saudáveis eles são.

·        Que documento serviu como fonte de orientação para os pesquisadores na adoção desses critérios?

O documento que serviu como fonte de orientação para o estabelecimento desses critérios foi o Guia alimentar para a população brasileira, do Ministério da Saúde.

03 – Em seu dia a dia, você procura consumir alimentos mais saudáveis? Que critérios você utiliza para diferenciá-los dos não saudáveis? São os mesmos usados na pesquisa?

      Resposta pessoal do aluno.

04 – Na sua casa, quem é(são) a(s) pessoa(s) responsável(eis) pela compra de alimentos?

      Resposta pessoal do aluno.

·        Pergunte a ela(s) se foi possível perceber, nos últimos anos, uma tendência de aumento ou redução no preço dos alimentos consumidos em sua casa. A resposta confirma a análise da pesquisa ou se opõe a ela?

Resposta pessoal do aluno.

05 – O trecho final da notícia indica que os pesquisadores levantaram algumas hipóteses para explicar o que pode ter ocasionado a inversão entre os preços dos alimentos menos processados e os dos ultraprocessados. Quais são elas?

      Discuta com a turma todas as suposições, certificando-se de que eles compreenderam todas elas.

·        Quais outros aspectos você acredita que podem influir no preço dos alimentos processados e menos processados?

Contribua para que os estudantes levantem suposições a esse respeito.

 

 

 

NOTÍCIA: A MULHER NA PUBLICIDADE - PEDRO STRAZZA - COM GABARITO

 Notícia: A mulher na publicidade

             Campanha de Stabilo chama atenção para as mulheres invisíveis da História

             Campanha “Highlight the Remarkable” chamou a atenção das redes sociais por “grifar” mulheres que foram decisivas para os caminhos do mundo

Por Pedro Strazza



        A fabricante alemã de canetas Stabilo resolveu usar de seus famosos marcadores para relembrar as importantes mulheres da História do mundo. Uma série de propagandas lançadas pela marca chamou a atenção da internet nos últimos dias por conta da maneira eficiente com a qual evidencia aquelas que foram esquecidas pelo tempo.

        Criada pela DDB Group Germany e intitulada “Highlight the Remarkable” (algo como “Grife o Inesquecível” em português), a campanha é composta por três peças que aproveitam dos grifa-textos da empresa para denotar a participação discreta das mulheres em momentos históricos distintos. As pessoas e cenas escolhidas pela equipe são respectivamente Edith Wilson, ex-primeira-dama dos Estados Unidos que assumiu o comando quando o marido Woodrow Wilson sofreu um derrame; Katherine Johnson, matemática que foi fundamental na realização das missões espaciais americanas à Lua; e Lise Meitner, cientista que descobriu a fissão nuclear mas viu seu Nobel ser recebido pelo marido. Confira as artes abaixo.





        O que é curioso sobre “Highlight the Remarkable” é que a Stabilo lançou a campanha em abril na Alemanha, mas só agora ela parece ter chegado na internet. Foi um delay, porém, que não diminuiu o impacto da ideia proposta pela marca, com muitos usuários elogiando o caráter progressista da propaganda e o posicionamento da Stabilo.

STRAZZA, Pedro. Campanha de Stabilo chama atenção para as mulheres invisíveis da História. B9, 6 jul. 2018. Disponível em: https://www.b9.com.br/93552/stabilo-chama-a-atencao-da-internet-com-propaganda-que-marca-as-mulheres-invisiveis-da-historia/. Acesso em: 17 ago. 2020.

Fonte: Língua Portuguesa – Estações – Ensino Médio – Volume Único. 1ª edição, São Paulo, 2020 – editora Ática – p. 221-3.

Entendendo a notícia:

01 – Qual é o objetivo da campanha “Highlight the Remarkable”?

      Dar visibilidade a mulheres que foram importantes para a história mundial, mas esquecidas pelo tempo e pela história.

02 – Qual é a relação entre o objetivo da campanha e o produto anunciado?

      A campanha busca das destaque às mulheres que foram esquecidas, e o produto é uma caneta que serve para destacar informações importantes em textos ou imagens para que não sejam esquecidas.

03 – Busque mais informações sobre as mulheres destacadas pela campanha – Edith Wilson (1872-1961), Katherine Johnson (1918-2020) e Lise Meitner (1878-1968) – em fontes confiáveis e procure descobrir em que décadas do século XX os feitos dessas mulheres fizeram história e qual é a nacionalidade delas.

      Os feitos de Edith Wilson (estadunidense) fizeram história nas décadas de 1910 e 1920; os de Kathrrine Johnson (estadunidense), nas décadas de 1950 e 1960; os de Lise Meitner (austríaca), na década de 1940.

04 – Segundo o autor do texto, essas mulheres foram esquecidas pelo tempo. Na sua opinião, o tempo foi o único fator que colaborou para o esquecimento dessas mulheres? O que mais pode ter causado o apagamento dessas mulheres da história?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Mesmo na Europa e nos Estados Unidos, locais onde elas já tinham alcançado direitos que, no Brasil, estavam distantes, as mulheres não contavam com o mesmo reconhecimento e a mesma valorização que os homens.

05 – Se você fosse o responsável por lançar essa mesma campanha publicitária no Brasil, que mulher ou mulheres brasileiras usaria nas peças da campanha?

      Resposta pessoal do aluno.

06 – Na campanha “Highlight the Remarkable”, as mulheres são representadas de forma positiva ou negativa? Justifique.

      De forma positiva, já que o objetivo é “consertar” um erro cometido, dando destaque a mulheres que foram de alguma maneira injustiçadas pela sociedade no passado.

a)   A campanha expressa um posicionamento e uma perspectiva de mundo por parte da empresa anunciante? Explique.

Sim, a campanha expressa um posicionamento relacionado à valorização da mulher e ao combate à desigualdade de gênero.

b)   Com que outros interesses, visões de mundo e ideologias o discurso dessa campanha dialoga?

A campanha estabelece uma relação interdiscursiva com outros interesses, visões de mundo e ideologias, como o machismo e o feminismo, e com outros discursos, como os discursos da história, das ciências e da política.

07 – Quais vantagens uma empresa pode obter ao fazer uma campanha publicitária que, além de ter como objetivo vender um produto, propague uma ideia como a valorização das mulheres? Reflita com os colegas e o professor sobre o assunto.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: A intencionalidade de empresas que utilizam pautas de minorias, de valores sociais e de defesa de animais ou do meio ambiente em suas publicidades. Ajudam na vendas dos produtos anunciados.

08 – Com base em sua experiência como consumidor e leitor ou espectador de campanhas publicitárias, você acha que a representação da mulher, em geral, é feita de forma positiva ou negativa na publicidade brasileira? Cite exemplos de campanhas que, na sua opinião, colaboram para a valorização da mulher e de campanhas que, por outro lado, ajudam a propagar preconceitos e estereótipos.

      Resposta pessoal do aluno. O objetivo desta questão é mobilizar os conhecimentos e as impressões prévias dos estudantes sobre o tema para depois aprofundar de modo mais criterioso essa análise com a atividade de pesquisa proposta a seguir.

 

 

 

 

 

POEMA: A ALMA - VERA DUARTE - COM GABARITO

 Poema: A alma

             Vera Duarte

Fiquei por aí plantada

À beira de um sábado prodigioso

Olhando a linha do horizonte

E um barco carregado de estrelas

Que não sei se partia

Não sei se chegava.

 

Ao meu lado

Em calor recente

Tu foste o centro e o tudo

E senti crescer em mim

O desejo d’eternidade.

Não quis mais partir!

 

Desvendando o segredo do amor

Quero permanecer na ilha

E navegar apenas em sonhos

Por caminhos redondos e concêntricos

Ao sabor de ti e do vento.

 

Não quero mais partir!

 

De malas desfeitas

Quebrarei na ilha

A prisão das ilhas

Com os pés fincados na areia

Que abrigou nossos corpos em tempos de festa.

                  DUARTE, Vera. Amanhã amadrugada. Lisboa: Veja; Praia: ICLD, 1993. p. 78-9. (Palavra Africana).

Fonte: Língua Portuguesa – Estações – Ensino Médio – Volume Único. 1ª edição, São Paulo, 2020 – editora Ática – p. 165-6.

Entendendo o poema:

01 – Você sabe quais são os países africanos em que o português é a língua oficial?

      Resposta pessoal do aluno.

02 – Em Cabo Verde, o clima difícil, com muitos períodos de seca, a terra árida e pouco produtiva, entre outros problemas, fazem com que muitos habitantes do país optem pela emigração. Esse é contexto do poema.

a)   Com base nessas informações e na leitura do poema, o que é possível saber a respeito do eu lírico? Onde ele está e o que está fazendo?

É possível saber que o eu lírico é feminino e está parado (“plantada”) numa praia, em um sábado, observando um barco no mar, que pode estar chegando ou partindo.

b)   Pelo último verso da segunda estrofe, é possível inferir que o eu lírico tinha uma intenção, mas muda de ideia. Que intenção era essa? E o que o eu lírico decide fazer? Por que mudou de ideia?

Ele tinha a intenção de partir da ilha, mas decide ficar. Ele mudou de ideia porque resolveu viver o amor que sente pela pessoa a quem se dirige no poema (“tu”) ficando junto dela.

c)   Comente a diferença entre o verso “Não quis mais partir!”, da segunda estrofe, e o verso “Não quero mais partir!”, na quarta estrofe. O que essa diferença expressa?

No verso da segunda estrofe, o eu lírico expressa seu desejo naquele momento, quando sentiu crescer o desejo de eternidade por estar ao lado de quem ama; por isso o uso do tempo pretérito perfeito (“não quis”). Já no verso da quarta estrofe, o eu lírico reafirma o que já tinha sentido, mas com veemência, como uma decisão final e categórica, por isso o uso do tempo presente (“não quero”).

 

 

CRÔNICA: VOLTANDO PARA CASA - DANIEL MUNDURUKU - COM GABARITO

Crônica: Voltando para casa

               Daniel Munduruku

   Nunca esqueci quem sou. Na infância e na juventude, tive vontade de negar a origem de minha família. Algumas vezes, esforcei-me para esquecer. Em outras ocasiões, simplesmente não lembrei. A vida foi me colocando por caminhos diversos. Eu segui esses conselhos sem questionar. Viver o presente faz a gente colher tempestade também. Algumas tantas vezes, as várias tarefas que a gente se impõe acabam nos levando para caminhos de esquecimento e isso empobrece o nosso espírito. 

        Vejam isso como um balanço que faço. Sou um indígena. Trago no meu corpo os traços de minhas origens e, apesar do esforço que fiz em negar, foi por causa deles que não pude esquecer quem sou e de onde vim. Mas terei eu me esquecido de buscar no coração do meu povo uma atualização da minha origem? Não teria apagado de mim tudo o que sou ou esquecido propositadamente meu povo? Não teria usado minha origem para ganhar as benesses da sociedade? Estarei fazendo algo realmente por meu povo?

        Essas perguntas começaram a pipocar em minha cabeça no início da década de 1990. Eu já me firmava como educador e logo como escritor, mas essas indagações passaram a me acompanhar, lembrando que eu precisava voltar para casa, para os meus. Talvez precisasse mergulhar novamente na minha cultura ancestral para não perder de vista quem eu era e para quem vivia.

        Num desses dias de inquietação, passei pela Universidade de São Paulo (USP). Fui ao Departamento de Antropologia e me demorei lendo tudo o que estava exposto sobre as pesquisas acerca dos povos indígenas. Aquela andança me revelou que havia um certo Núcleo de Cultura Indígena coordenado por Ailton Krenak. Quis conhecê-lo. A sede estava lotada próximo à Pontifícia Universidade Católica (PUC). Não passava de uma sala que media três por três metros. Havia umas prateleiras repletas de livros. Nas paredes, cartazes e arte material de alguns povos. Atrás da única mesa, estava um jovem de cabelo desgrenhado, tez morena, olhos profundos, um pouco desfocados e com um sorriso torto. Observei tudo e me deu vontade de ir embora. O jovem, no entanto, percebeu meu embaraço e foi logo se erguendo. Apresentou-se como diretor da Instituição. Era Krenak. Eu cumprimentei sem jeito. Depois vi que era ele mesmo, porque havia pôsteres seus espalhados pela sala. Falei quem eu era e o que eu queria. Ele disse que entendia, mas que naquele lugar não havia espaço para mais ninguém. Se eu quisesse, poderia frequentar, mas ele não poderia se comprometer em me arranjar serviço. Disse a ele que não queria trabalho, mas fazer pesquisa, estudar, talvez uma pós-graduação. Ele mirou meus olhos. Depois escreveu um nome num papel e me entregou. Disse para procurar aquela pessoa no Departamento de Antropologia da USP, pois ela poderia me orientar. Peguei o papel e agradeci pela atenção. Ele sorriu para mim e voltou para sua cadeira atrás da mesa.

        Na semana seguinte, estava de volta à USP. Procurei a pessoa sugerida por Ailton. Mandaram-me falar com uma pessoa bem jovem, mas que tinha um sorriso imenso, como se os dentes não lhe coubessem na boca. Sorria fácil, com espontaneidade. Chamava-se Aracy Lopes da Silva. Contei a ela sobre minha visita ao NCI e sobre a rápida conversa com Ailton. Disse que eu era Munduruku, professor da rede de ensino e que queria voltar para casa. Ela riu de minha ingenuidade, mas parou por um longo minuto. Olhou-me com seriedade, perguntou se eu queria ser seu orientando no mestrado de Antropologia. Essa seria, segundo ela, a melhor maneira de voltar para casa. 

        Confessei à professora minha dificuldade na lida acadêmica. O curso de Filosofia não me deu o senso da pesquisa acadêmica e isso poderia dificultar os estudos. Disse o que pensava sobre antropologia e seus pesquisadores e que tinha receio de tornar-me um teórico. Foi ela quem me disse que antropologia era somente uma filosofia colocada na prática e que quem estuda Filosofia podia estudar qualquer coisa. Ela entendeu minha dificuldade, mas garantiu que poderia me ajudar a me ajudar. Lembrou-me bem de que tudo dependeria de mim e menos dela. Ela seria orientadora dos estudos, mas a realização destes seria minha. Perguntou se eu topava o desafio. Disse que sim. Ela me abraçou carinhosamente e me disse: "Vamos". 

        Foi assim que comecei a namorar o meu mestrado em Antropologia. Aracy me orientou com bravura até minha entrada oficial no curso, pois tive que passar pelo ritual dos exames de admissão. Foi ela que me deu a notícia de que estava aprovado e que poderia ser minha orientadora. Eu fiquei felicíssimo, claro, mas também apreensivo. Isso representava uma nova guinada na minha trajetória de vida. Um novo rito de passagem. Representava, também, a volta para a minha casa ancestral.

             Daniel Munduruku. Memórias de índio: uma quase autobiografia. Porto Alegre: Edelbra, 2016. p. 151-154.

Fonte: Língua Portuguesa – Estações – Ensino Médio – Volume Único. 1ª edição, São Paulo, 2020 – editora Ática – p. 160-1.

Entendendo a crônica:

01 – Você conhece o escritor da crônica? Qual é a sua origem?

      Resposta pessoal do aluno.

02 – Você já se fez questionamentos parecidos com os que inquietaram o escritor? Já se preocupou em conhecer suas origens ou se perguntar sobre elas? Converse com os colegas sobre isso.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Trata-se de um autoquestionamento sobre a identidade indígena do autor. Depois de algum tempo trabalhando como educador e escritor, ele sentiu a necessidade de retomar o contato com suas raízes e concluiu que deveria “voltar para casa”, ou seja, conhecer melhor e valorizar sua ancestralidade.

03 – De acordo com o texto, a professora Aracy Lopes da Silva diz a Munduruku que um mestrado em Antropologia seria a melhor maneira de ele voltar para casa. Procure informações sobre essa ciência e seu campo de estudo. Em seguida, explique o que a professora quis dizer.

      Sugestão: Oriente os estudantes a conversa com os professores da área de Ciências Humanas e Sociais ou pesquisar em fontes confiáveis, como sites de universidades ou periódicos científicos, para informar-se sobre a Antropologia e seu campo de estudo.

04 – Explique o título da crônica: “Voltando para casa”. Ele tem sentido literal ou metafórico? Que caminhos o autor precisava percorrer de volta e por quê?

      O título tem sentido metafórico. De acordo com o primeiro parágrafo, ele precisava percorrer de volta os caminhos do esquecimento sobre suas origens, sobre quem ele era, porque esse esquecimento, segundo o autor, empobrece nosso espírito.

PREFÁCIO: POEMA-PIADA - (FRAGMENTO) - GREGÓRIO DUVIVIER - COM GABARITO

 Prefácio: Poema-piada – Fragmento      

            Gregório Duvivier

     Em 2017, a Ubu lançou Poema-piada: breve antologia de poesia engraçada, organizada por Gregório Duvivier. Este é o prefácio do livro, escrito pelo organizador, que fala sobre a relação entre humor e poesia.

 

        À primeira vista, o poeta e o humorista pertencem a mundos diversos. O poeta-albatroz vê o mundo como o Google Earth: do alto do satélite ou da torre de marfim. O céu é do poeta — como o chão é do humor.

        O humorista, ao contrário, vive na lama — ou na sarjeta. Mendigo, bêbado ou caipira, o humorista tradicional é aquele que enxerga o mundo sem qualquer transcendência ou metafísica. Tudo merece, pra ele, a mesma quantidade de falta de respeito. Entre transcendência e imanência, nuvens e sarjeta, céu e chão, a poesia e a piada não se encontrariam nunca, como duas retas paralelas.

        Mas pra isso é preciso entender poesia de uma forma muito estrita – pra não dizer chata. A ideia de que a poesia fala de temas mais nobres que a prosa, ou de que o poeta é um ser iluminado (ou, pra usar um termo atual: diferenciado), acabou junto com a tuberculose. A torre de marfim deu lugar a uma quitinete na praça Roosevelt.

        A graça, por sua vez, deixou de ser sinônimo de distração e passou a ser pensada, cada vez mais, como “cosa mentale”, um exercício de inteligência — como as outras artes. Ainda há, claro, quem ache que a poesia humorística é um gênero menor — “sorte a nossa”, dizia o Antônio Candido sobre a crônica, “assim ela fica mais perto da gente”.

        [...]

DUVIVIER, Gregório (Org.). Prefácio. In: Poema-piada: breve antologia da poesia engraçada. São Paulo: Ubu Editora, 2017.

Fonte: Língua Portuguesa – Estações – Ensino Médio – Volume Único. 1ª edição, São Paulo, 2020 – editora Ática – p. 103-4.

Entendendo o prefácio:

01 – Você gosta de poesia? E de piada? Acha possível aproximar piada e poesia?

      Resposta pessoal do aluno.

02 – Por que Duvivier afirma que os poetas veem o mundo do alto do satélite ou da torre de marfim? A que tipo de estereótipo essa afirmação faz referência?

      A ideia de que os poetas veem o mundo de cima está relacionada a uma concepção de que a pessoa trata de dilemas existenciais e de temas sublimes e profundos, como o amor e a morte. Essa afirmação faz referência ao estereótipo do poeta como um ser iluminado, superior às outras pessoas, guiado por uma inspiração divina.

03 – Segundo o autor, o humorista vive na lama, na sarjeta. O que isso significa?

      Duvivier diz que o humorista vive na lama, na sarjeta, porque, ao contrário do poeta, fala de temas ordinários e, por vezes, condenados pela sociedade, o que o desqualificaria.

04 – De acordo com Divivier, por suas características, a poesia e a piada não se encontrariam nunca. Por que, no entanto, elas se aproximam?

      Porque, de um lado, houve uma mudança na concepção de poesia, que passou a tematizar assuntos do cotidiano. De outro lado, a piada, como humor, passou a ser um exercício de inteligência e não apenas de distração, ou seja, o humor no poema faz o leitor refletir sobre determinada situação e não apenas rir de forma despretensiosa, como se poderia pensar.

05 – Converse com o professor e os colegas: Por que há quem diga que a poesia humorística e a crônica são gêneros menores? Como Duvivier contrapõe essa ideia?

      Alguns críticos consideram a poesia humorística e a crônica gêneros menores justamente por causa do humor, já que o riso acabaria ressaltando o lado frágil e/ou ruim da sociedade e do ser humano. Duvivier contrapõe essa ideia com a afirmação de Antônio Candido de que, justamente por serem “menores”, esses gêneros se aproximam das pessoas e da realidade.