Existe por aí afora muito caboclinho esperto e safado. Imaginem que lá pras
bandas do Corgo Fundo tinha um que era tal e qual do jeito que estou falando.
Pois não é que o dito cujo deu de roubar coisas da igreja de lá? E virava e
mexia, o padre saía excomungando o tal, pois não conseguia pegá-lo com a boca
na botija, ou melhor, com a mão na mercadoria roubada.
E vai daqui e vai dali,
continuava sumindo coisa. Ora uma imagem, ora dinheiro dos cofrinhos... Enfim:
um despropósito de coragem pra furto.
Mas – sempre tem um mas – eis que o padre resolve botar um paradeiro na
roubança. Arma-se de um trabuco carregado e posta-se às escondidas no escuro da
igreja em altas horas e ali espera, atocaiado, pelo ladrãozinho que não deveria
demorar para aparecer. Devia ser umas 3 da madrugada quando o padre se depara com
um vulto esperto na escuridão. Engatilha o trabuco e aponta no rumo do vulto
que, percebendo, se esconde com a carinha de safado por detrás de uma estátua
grande de um anjo de asas...
Padre (falando alto) Quem está aí?
Ninguém, é claro, responde.
Padre (mais alto) Quem está aí?
Ninguém responde.
Padre (apontando a arma engatilhada) Pois bem. Pela última vez,
vou
perguntar: quem está aí? Se não responder, vou pregar fogo.
A voz (trêmula e disfarçada) É.. é...um anjo, seu vigário. Eu sô um
Anjo...
Padre (percebendo a malandragem) Que anjo o quê, seu idiota! Voa
Já daí!
A Voz (caipiresca) Num posso avuá, seu vigário. Eu sô fióti!
Conta-se que o padre, depois dessa resposta, resolveu ir dormir.
BOLDRIN,
Rolando. Brasil Almanaque de Cultura Popular, n. 75, jun. 2005.
1
- Em seu caderno, explique o significado dos seguintes trechos:
a) “Enfim:
um despropósito de coragem pra furto”.
Uma enorme
coragem, ousadia para roubar.
b) “Mas
– sempre tem um mas [...]”.
Sempre há
um entrave, uma contrariedade.
2
- No causo, o narrador não descreve fisicamente a personagem que
realiza os roubos na igreja, mas faz referência a ela de outras maneira. Em seu
caderno, transcreva todas as expressões que fazem uma descrição dessa
personagem.
“Caboclinho esperto e safado”; “um despropósito de coragem pra furto”;
“Ladrãozinho”; “Vulto esperto”.
3
- O fato de o padre identificar a personagem que roubava pela voz
tem uma intenção. Qual?
O fato de não revelar a identidade de quem furta o causo mais misterioso; é
como se o autor reforçasse o mistério de quem era o ladrão. Até o leitor fica
sem essa resposta.
4
- Se o padre continuasse insistindo até descobrir quem é a pessoa,
o causo perderia a graça? Por quê?
Sim. Porque a graça está justamente no fato de a identidade não ser revelada e
de o conto ser encerrado com o padre indo dormir. Se o padre insistisse, a
piada se estenderia e perderia o seu propósito.
5 - É
possível afirmar que o texto apresenta marcas de uma variedade linguística
específica?
Ao empregar os termos "Corpo Fundo",
"trabuco", "atocaiado", "Num posso avuá, seu vigário.
Eu sô fióti!", e a própria forma como o conto é conduzido, remete a
linguagem oral do povo do interior, caipiresca, portanto o texto apresenta
marcas de uma variedade linguística específica, a linguagem oral.
INTRODUÇÃO
Existe por aí afora muito caboclinho esperto e safado. Imaginem que lá pras
bandas do Corgo Fundo tinha um que era tal e qual do jeito que estou falando.
CONFLITO
Pois
não é que o dito cujo deu de roubar coisas da igreja de lá? E virava e mexia, o
padre saía excomungando o tal, pois não conseguia pegá-lo com a boca na botija,
ou melhor, com a mão na mercadoria roubada. E vai daqui e vai dali, continuava
sumindo coisa. Ora uma imagem, ora dinheiro dos cofrinhos... Enfim: um
despropósito de coragem pra furto.
CLÍMAX
Mas – sempre tem um mas – eis que o padre resolve botar um
paradeiro na roubança.
SOLUÇÃO
DO CONFLITO
Arma-se
de um trabuco carregado e posta-se às escondidas no escuro da igreja em altas
horas e ali espera, atocaiado, pelo ladrãozinho que não deveria demorar para
aparecer. Devia ser umas 3 da madrugada quando o padre se depara com um vulto
esperto na escuridão. Engatilha o trabuco e aponta no rumo do vulto que,
percebendo, se esconde com a carinha de safado por detrás de uma estátua grande
de um anjo de asas...
Padre (falando alto) Quem está aí?
Ninguém, é claro, responde.
Padre (mais alto) Quem está aí?
Ninguém responde.
Padre (apontando a arma engatilhada) Pois bem. Pela última vez,
vou
perguntar: quem está aí? Se não responder, vou pregar fogo.
DESFECHO
A voz (trêmula e disfarçada) É.. é...um anjo, seu vigário. Eu sô um
Anjo...
Padre (percebendo a malandragem) Que anjo o quê, seu idiota! Voa
Já daí!
A Voz (caipiresca) Num posso avuá, seu vigário. Eu sô fióti!
Conta-se que o padre, depois dessa resposta, resolveu ir dormir.