Texto: A
INVENÇÃO DO TELEFONE
Carlos Eduardo Novaes
Garotinho ainda, o escocês Graham Bell dizia aos
pais que quando crescesse queria ser inventor. Mas vocês sabem, querer ser
inventor na Escócia é algo assim como nascer com vocação para astronauta em São
Luís do Maranhão. A Escócia não é exatamente um país de inventores. Os poucos
que pretendiam sê-lo, no caminho de casa para a oficina acabavam sempre
entrando num bar e na oitava dose da maior invenção escocesa já não lembravam
mais o que queriam inventar. Graham Bell salvou-se porque não bebia. De
qualquer maneira não via muito futuro na Escócia onde tudo o que se poderia
inventar já tinha sido inventado: a bicicleta, o uísque, a gaita de fole e a
saia escocesa.
Contrariado com essa falta de
perspectiva, Bell um dia chegou em casa e anunciou que iria para os Estados
Unidos, “país onde estão inventando as coisas”. Arrumou sua maleta (parecida
com a dos funcionários da Telerj), passou uns tempos na Alemanha, no Canadá e,
finalmente, instalou-se em Boston onde depois de se naturalizar norte-americano
deu um pulinho no Registro de Inventos e Patentes e, muito seguro de si,
perguntou ao funcionário: “Por obséquio, eu gostaria de saber o que está
faltando ser inventado aqui”. O funcionário pediu para aguardar um pouco e
consultou uma longa lista: “Bem, ainda não apareceu ninguém para inventar o
telefone”.
– Então, deixa comigo – afirmou Bell
cheio de confiança.
Na realidade, Bell quase teve de
inventar outra coisa para ver seu nome nas enciclopédias. Antes dele outro
americano, Page, já desconfiava que as ondas elétricas podiam transmitir o som;
um francês, Bourseul, afirmou que as palavras podiam ser levadas tanto pelo
correio como pela eletricidade e o alemão João Felipe chegou a construir um
telefone e só não tirou patente porque seu dinheiro acabou e ele não pôde
construir o outro aparelho: com um aparelho só, como poderia falar no telefone?
Mas o grande adversário de Graham Bell
foi um eletricista de Chicago chamado Elisha Gray. No dia 12 de fevereiro de
1876 Bell entrou no Escritório de Registros de Invenções de Boston com seus
telefones debaixo do braço, sem saber que naquele mesmo dia Elisha fazia a
mesma coisa em Chicago. Os dois se proclamaram inventores do telefone. A
polêmica tomou conta do país e foi parar no tribunal, que deu vitória a Bell.
Segundo o juiz, Bell só se tornou o inventor oficial do telefone porque
conseguiu linha primeiro.
A invenção repercutiu por todo o mundo.
Dia seguinte já havia uma multidão na porta da casa de Graham Bell querendo
conhecer aquele aparelhinho misterioso. E formou-se então a primeira fila para
falar no telefone. Bell, que investiu todo o seu dinheiro na invenção, não
esperava tamanho sucesso. “Se soubesse que ia ser assim”, confidenciou a uns
amigos, “teria tratado de inventar antes a ficha do telefone”. As pessoas se
aproximavam entre curiosas e amedrontadas, observavam aquele aparelhinho em
cima da mesa e perguntavam a Bell: “Pra que serve mesmo?”
– Pra falar com outra pessoa.
– Posso tentar?
Bell deixava o cidadão à vontade. O aparelho,
evidente, era daqueles modelos antigos, com o bocal na própria haste, separado
da parte onde encaixa o ouvido. O cidadão pediu à sua mulher para que se
afastasse, pegou o aparelho e sem experiência no manejo colocou o bocal no
ouvido e o fone na boca. DE início tentou colocar dentro da boca, como se fosse
uma banana, mas, percebendo que o som não saía, afastou-o e disse: “Mulher,
está me ouvindo?”. A mulher, a três metros de distância, respondeu: “Estou”.
– Que que você acha desse telefone? (As
pessoas ainda não estavam familiarizadas com o nome do aparelho.)
– Maravilhoso! – exclamou parada,
enquanto observava o marido trêmulo segurando o aparelho.
– Incrível – berrou o marido, ao ouvir
a resposta da mulher. – É fantástico. Inacreditável. Ele ouve mesmo.
Bell, que havia se ausentado da sala,
voltou e perguntou ao cidadão: “Como é? Falou?”
– Falei. Claro que falei. Falei com
minha mulher. Ela ouviu tudinho.
– Mas esse aparelho é para você falar
com as pessoas à distância.
– Ela estava distante. Estava lá perto
da porta.
– Eu me refiro a longas distâncias.
– Ah, é? Então, Mary – ordenou o marido
-, vá lá para o outro lado da ponte.
– Não adianta – corrigiu Bell. – Ela
tem que ter um aparelho também.
– Também? Ora, então qual é a graça?
Assim qualquer um fala. Quero ver é você inventar uma conversa a longa
distância sem aparelho.
Carlos
Eduardo Novaes. A língua de fora. 2a Edição,
Rio de Janeiro,
Editorial Nórdica, 1979.
Entendendo
o texto:
01 – O Autor
é, sobretudo, irônico. O que quis dizer com “… querer ser inventor na Escócia é
algo assim como nascer com vocação para astronauta em São Luís do Maranhão.”?
Quis dizer que é uma aspiração quase
impossível de ser concretizada em decorrência da situação de desenvolvimento de
conhecimento existente no lugar.
02 – Se não
havia perspectiva na Escócia, o que Graham Bell decidiu fazer?
Saiu do país onde nasceu e foi para os
Estados Unidos.
03 – Por que
Graham Bell “… quase teve que inventar outra coisa para ver seu nome nas
enciclopédias”?
Porque vários cientistas também estavam
pesquisando no mesmo sentido do invento do telefone.
04 – O texto
informa que duas pessoas se proclamaram inventores do telefone. Quem foram?
Graham Bell e Elisha Gray.
05 – As pessoas
se sentiam à vontade ao experimentar o telefone?
Não. Achavam o invento maravilhoso mas
ficavam nervosas ao utilizá-lo.
06 – Para
você, o que representou a invenção do telefone?
Resposta pessoal do aluno.
07 – Que aspectos
da vida humana, na sua opinião, foram modificados pelo telefone? Justifique.
Resposta pessoal do aluno.
08 - Os
inventos, em geral, decorrem de uma necessidade. Se você fosse um inventor, que
tipo de invento você faria para ajudar as pessoas? Explique.
Resposta pessoal do aluno.
09 – Cite
três invenções que revolucionaram o mundo nos últimos cem anos.
Resposta pessoal. Há um grande
números de invenções que foram feitas durante o século XX em decorrência da
evolução da organização das sociedades. Ex.: a lâmpada elétrica, o avião, o
rádio, a televisão, os adubos químicos, a fogão a gás, a geladeira, a máquina
de lavar roupa, etc.
Nenhum comentário:
Postar um comentário