sábado, 28 de dezembro de 2024

CONTO: O ENFERMEIRO - MACHADO DE ASSIS - COM GABARITO

 Conto: O Enfermeiro 

           Machado de Assis

        Parece-lhe então que o que se deu comigo em 1860, pode entrar numa página de livro? Vá que seja, com a condição única de que não há de divulgar nada antes da minha morte. Não esperará muito, pode ser que oito dias, se não for menos; estou desenganado.

        Olhe, eu podia mesmo contar-lhe a minha vida inteira, em que há outras cousas interessantes, mas para isso era preciso tempo, ânimo e papel, e eu só tenho papel; o ânimo é frouxo, e o tempo assemelha-se à lamparina de madrugada. Não tarda o sol do outro dia, um sol dos diabos, impenetrável como a vida. Adeus, meu caro senhor, leia isto e queira-me bem; perdoe-me o que lhe parecer mau, e não maltrate muito a arruda, se lhe não cheira a rosas. Pediu-me um documento humano, ei-lo aqui. Não me peça também o império do Grão-Mogol, nem a fotografia dos Macabeus; peça, porém, os meus sapatos de defunto e não os dou a ninguém mais. 

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        Já sabe que foi em 1860. No ano anterior, ali pelo mês de agosto, tendo eu, quarenta e dois anos, fiz-me teólogo, — quero dizer, copiava os estudos de teologia de um padre de Niterói, antigo companheiro de colégio, que assim me dava, delicadamente, casa, cama e mesa. Naquele mês de agosto de 1859, recebeu ele uma carta de um vigário de certa vila do interior, perguntando se conhecia pessoa entendida, discreta e paciente, que quisesse ir servir de enfermeiro ao coronel Felisberto, mediante um bom ordenado. O padre falou-me, aceitei com ambas as mãos, estava já enfarado de copiar citações latinas e fórmulas eclesiásticas. Vim à Corte despedir-me de um irmão, e segui para a vila. 

        Chegando à vila, tive más notícias do coronel. Era homem insuportável, estúrdio, exigente, ninguém o aturava, nem os próprios amigos. Gastava mais enfermeiros que remédios. A dous deles quebrou a cara. Respondi que não tinha medo de gente sã, menos ainda de doentes; e depois de entender-me com o vigário, que me confirmou as notícias recebidas, e me recomendou mansidão e caridade, segui para a residência do coronel. 

        Achei-o na varanda da casa estirado numa cadeira, bufando muito. Não me recebeu mal. Começou por não dizer nada; pôs em mim dous olhos de gato que observa; depois, uma espécie de riso maligno alumiou-lhe as feições, que eram duras. Afinal, disse-me que nenhum dos enfermeiros que tivera, prestava para nada, dormiam muito, eram respondões e andavam ao faro das escravas; dous eram até gatunos! 

        — Você é gatuno? 

        — Não, senhor. 

        Em seguida, perguntou-me pelo nome: disse-lho e ele fez um gesto de espanto. Colombo? Não, senhor: Procópio José Gomes Valongo. Valongo? achou que não era nome de gente, e propôs chamar-me tão-somente Procópio, ao que respondi que estaria pelo que fosse de seu agrado. Conto-lhe esta particularidade, não só porque me parece pintá-lo bem, como porque a minha resposta deu de mim a melhor ideia ao coronel. Ele mesmo o declarou ao vigário, acrescentando que eu era o mais simpático dos enfermeiros que tivera. A verdade é que vivemos uma lua-de-mel de sete dias. 

        No oitavo dia, entrei na vida dos meus predecessores, uma vida de cão, não dormir, não pensar em mais nada, recolher injúrias, e, às vezes, rir delas, com um ar de resignação e conformidade; reparei que era um modo de lhe fazer corte. Tudo impertinências de moléstia e do temperamento. A moléstia era um rosário delas, padecia de aneurisma, de reumatismo e de três ou quatro afecções menores. Tinha perto de sessenta anos, e desde os cinco toda a gente lhe fazia a vontade. Se fosse só rabugento, vá; mas ele era também mau, deleitava-se com a dor e a humilhação dos outros. No fim de três meses estava farto de o aturar; determinei vir embora; só esperei ocasião. 

        Não tardou a ocasião. Um dia, como lhe não desse a tempo uma fomentação, pegou da bengala e atirou-me dous ou três golpes. Não era preciso mais; despedi-me imediatamente, e fui aprontar a mala. Ele foi ter comigo, ao quarto, pediu-me que ficasse, que não valia a pena zangar por uma rabugice de velho. Instou tanto que fiquei. 

        — Estou na dependura, Procópio, dizia-me ele à noite; não posso viver muito tempo. Estou aqui, estou na cova. Você há de ir ao meu enterro, Procópio; não o dispenso por nada. Há de ir, há de rezar ao pé da minha sepultura. Se não for, acrescentou rindo, eu voltarei de noite para lhe puxar as pernas. Você crê em almas de outro mundo, Procópio? 

        — Qual o quê! 

        — E por que é que não há de crer, seu burro? redarguiu vivamente, arregalando os olhos. 

        Eram assim as pazes; imagine a guerra. Coibiu-se das bengaladas; mas as injúrias ficaram as mesmas, se não piores. Eu, com o tempo, fui calejando, e não dava mais por nada; era burro, camelo, pedaço d’asno, idiota, moleirão, era tudo. Nem, ao menos, havia mais gente que recolhesse uma parte desses nomes. Não tinha parentes; tinha um sobrinho que morreu tísico, em fins de maio ou princípios de julho, em Minas. Os amigos iam por lá às vezes aprová-lo, aplaudi-lo, e nada mais; cinco, dez minutos de visita. Restava eu; era eu sozinho para um dicionário inteiro. Mais de uma vez resolvi sair; mas, instado pelo vigário, ia ficando. 

        Não só as relações foram-se tornando melindrosas, mas eu estava ansioso por tornar à Corte. Aos quarenta e dois anos não é que havia de acostumar-me à reclusão constante, ao pé de um doente bravio, no interior. Para avaliar o meu isolamento, basta saber que eu nem lia os jornais; salvo alguma notícia mais importante que levavam ao coronel, eu nada sabia do resto do mundo. Entendi, portanto, voltar para a Corte, na primeira ocasião, ainda que tivesse de brigar com o vigário. Bom é dizer (visto que faço uma confissão geral) que, nada gastando e tendo guardado integralmente os ordenados, estava ansioso por vir dissipá-los aqui. 

        Era provável que a ocasião aparecesse. O coronel estava pior, fez testamento, descompondo o tabelião, quase tanto como a mim. O trato era mais duro, os breves lapsos de sossego e brandura faziam-se raros. Já por esse tempo tinha eu perdido a escassa dose de piedade que me fazia esquecer os excessos do doente; trazia dentro de mim um fermento de ódio e aversão. No princípio de agosto resolvi definitivamente sair; o vigário e o médico, aceitando as razões, pediram-me que ficasse algum tempo mais. Concedi-lhes um mês; no fim de um mês viria embora, qualquer que fosse o estado do doente. O vigário tratou de procurar-me substituto. 

        Vai ver o que aconteceu. Na noite de vinte e quatro de agosto, o coronel teve um acesso de raiva, atropelou-me, disse-me muito nome cru, ameaçou-me de um tiro, e acabou atirando-me um prato de mingau, que achou frio, o prato foi cair na parede onde se fez em pedaços. 

        — Hás de pagá-lo, ladrão! bradou ele. 

        Resmungou ainda muito tempo. Às onze horas passou pelo sono. Enquanto ele dormia, saquei um livro do bolso, um velho romance de d’Arlincourt, traduzido, que lá achei, e pus-me a lê-lo, no mesmo quarto, a pequena distância da cama; tinha de acordá-lo à meia-noite para lhe dar o remédio. Ou fosse de cansaço, ou do livro, antes de chegar ao fim da segunda página adormeci também. Acordei aos gritos do coronel, e levantei-me estremunhado. Ele, que parecia delirar, continuou nos mesmos gritos, e acabou por lançar mão da moringa e arremessá-la contra mim. Não tive tempo de desviar-me; a moringa bateu-me na face esquerda, e tal foi a dor que não vi mais nada; atirei-me ao doente, pus-lhe as mãos ao pescoço, lutamos, e esganei-o. 

        Quando percebi que o doente expirava, recuei aterrado, e dei um grito; mas ninguém me ouviu. Voltei à cama, agitei-o para chamá-lo à vida, era tarde; arrebentara o aneurisma, e o coronel morreu. Passei à sala contígua, e durante duas horas não ousei voltar ao quarto. Não posso mesmo dizer tudo o que passei, durante esse tempo. Era um atordoamento, um delírio vago e estúpido. Parecia-me que as paredes tinham vultos; escutava umas vozes surdas. Os gritos da vítima, antes da luta e durante a luta, continuavam a repercutir dentro de mim, e o ar, para onde quer que me voltasse, aparecia recortado de convulsões. Não creia que esteja fazendo imagens nem estilo; digo-lhe que eu ouvia distintamente umas vozes que me bradavam: assassino! assassino! 

        Tudo o mais estava calado. O mesmo som do relógio, lento, igual e seco, sublinhava o silêncio e a solidão. Colava a orelha à porta do quarto na esperança de ouvir um gemido, uma palavra, uma injúria, qualquer coisa que significasse a vida, e me restituísse a paz à consciência. Estaria pronto a apanhar das mãos do coronel, dez, vinte, cem vezes. Mas nada, nada; tudo calado. Voltava a andar à toa na sala, sentava-me, punha as mãos na cabeça; arrependia-me de ter vindo. — "Maldita a hora em que aceitei semelhante coisa!" exclamava. E descompunha o padre de Niterói, o médico, o vigário, os que me arranjaram um lugar, e os que me pediram para ficar mais algum tempo. Agarrava-me à cumplicidade dos outros homens.

        Como o silêncio acabasse por aterrar-me, abri uma das janelas, para escutar o som do vento, se ventasse. Não ventava. A noite ia tranquila, as estrelas fulguravam, com a indiferença de pessoas que tiram o chapéu a um enterro que passa, e continuam a falar de outra coisa. Encostei-me ali por algum tempo, fitando a noite, deixando-me ir a uma recapitulação da vida, a ver se descansava da dor presente. Só então posso dizer que pensei claramente no castigo. Achei-me com um crime às costas e vi a punição certa. Aqui o temor complicou o remorso. Senti que os cabelos me ficavam de pé. Minutos depois, vi três ou quatro vultos de pessoas, no terreiro espiando, com um ar de emboscada; recuei, os vultos esvaíram-se no ar; era uma alucinação. 

        Antes do alvorecer curei a contusão da face. Só então ousei voltar ao quarto. Recuei duas vezes, mas era preciso e entrei; ainda assim, não cheguei logo à cama. Tremiam-me as pernas, o coração batia-me; cheguei a pensar na fuga; mas era confessar o crime, e, ao contrário, urgia fazer desaparecer os vestígios dele. Fui até a cama; vi o cadáver, com os olhos arregalados e a boca aberta, como deixando passar a eterna palavra dos séculos: "Caim, que fizeste de teu irmão?" Vi no pescoço o sinal das minhas unhas; abotoei alto a camisa e cheguei ao queixo a ponta do lençol. Em seguida, chamei um escravo, disse-lhe que o coronel amanhecera morto; mandei recado ao vigário e ao médico. 

        A primeira ideia foi retirar-me logo cedo, a pretexto de ter meu irmão doente, e, na verdade, recebera carta dele, alguns dias antes, dizendo-me que se sentia mal. Mas adverti que a retirada imediata poderia fazer despertar suspeitas, e fiquei. Eu mesmo amortalhei o cadáver, com o auxílio de um preto velho e míope. Não saí da sala mortuária; tinha medo de que descobrissem alguma cousa. Queria ver no rosto dos outros se desconfiavam; mas não ousava fitar ninguém. Tudo me dava impaciências: os passos de ladrão com que entravam na sala, os cochichos, as cerimônias e as rezas do vigário. Vindo a hora, fechei o caixão, com as mãos trêmulas, tão trêmulas que uma pessoa, que reparou nelas, disse a outra com piedade: 

        — Coitado do Procópio! apesar do que padeceu, está muito sentido.  Pareceu-me ironia; estava ansioso por ver tudo acabado. Saímos à rua. A passagem da meia escuridão da casa para a claridade da rua deu-me grande abalo; receei que fosse então impossível ocultar o crime. Meti os olhos no chão, e fui andando. Quando tudo acabou, respirei. Estava em paz com os homens. Não o estava com a consciência, e as primeiras noites foram naturalmente de desassossego e aflição. Não é preciso dizer que vim logo para o Rio de Janeiro, nem que vivi aqui aterrado, embora longe do crime; não ria, falava pouco, mal comia, tinha alucinações, pesadelos... 

        — Deixa lá o outro que morreu, diziam-me. Não é caso para tanta melancolia. 

        E eu aproveitava a ilusão, fazendo muitos elogios ao morto, chamando-lhe boa criatura, impertinente, é verdade, mas um coração de ouro. E elogiando, convencia-me também, ao menos por alguns instantes. Outro fenômeno interessante, e que talvez lhe possa aproveitar, é que, não sendo religioso, mandei dizer uma missa pelo eterno descanso do coronel, na igreja do Sacramento. Não fiz convites, não disse nada a ninguém; fui ouvi-la, sozinho, e estive de joelhos todo o tempo, persignando-me a miúdo. Dobrei a espórtula do padre, e distribuí esmolas à porta, tudo por intenção do finado. Não queria embair os homens; a prova é que fui só. Para completar este ponto, acrescentarei que nunca aludia ao coronel, que não dissesse: "Deus lhe fale n’alma!" E contava dele algumas anedotas alegres, rompantes engraçados... 

        Sete dias depois de chegar ao Rio de Janeiro, recebi a carta do vigário, que lhe mostrei, dizendo-me que fora achado o testamento do coronel, e que eu era o herdeiro universal. Imagine o meu pasmo. Pareceu-me que lia mal, fui a meu irmão, fui aos amigos; todos leram a mesma cousa. Estava escrito; era eu o herdeiro universal do coronel. Cheguei a supor que fosse uma cilada; mas adverti logo que havia outros meios de capturar-me, se o crime estivesse descoberto. Demais, eu conhecia a probidade do vigário, que não se prestaria a ser instrumento. Reli a carta, cinco, dez, muitas vezes; lá estava a notícia. 

        — Quanto tinha ele? perguntava-me meu irmão. 

        — Não sei, mas era rico. 

        — Realmente, provou que era teu amigo. 

        — Era... Era... 

        Assim por uma ironia da sorte, os bens do coronel vinham parar às minhas mãos. Cogitei em recusar a herança. Parecia-me odioso receber um vintém do tal espólio; era pior do que fazer-me esbirro alugado. Pensei nisso três dias, e esbarrava sempre na consideração de que a recusa podia fazer desconfiar alguma cousa. No fim dos três dias, assentei num meio-termo; receberia a herança e dá-la-ia toda, aos bocados e às escondidas. Não era só escrúpulo; era também o modo de resgatar o crime por um ato de virtude; pareceu-me que ficava assim de contas saldas. 

        Preparei-me e segui para a vila. Em caminho, à proporção que me ia aproximando, recordava o triste sucesso; as cercanias da vila tinham um aspecto de tragédia, e a sombra do coronel parecia-me surgir de cada lado. A imaginação ia reproduzindo as palavras, os gestos, toda a noite horrenda do crime... 

        Crime ou luta? Realmente, foi uma luta, em que eu, atacado, defendi-me, e na defesa... Foi uma luta desgraçada, uma fatalidade. Fixei-me nessa ideia. E balanceava os agravos, punha no ativo as pancadas, as injúrias... Não era culpa do coronel, bem o sabia, era da moléstia, que o tornava assim rabugento e até mau... Mas eu perdoava tudo, tudo... O pior foi a fatalidade daquela noite... Considerei também que o coronel não podia viver muito mais; estava por pouco; ele mesmo o sentia e dizia. Viveria quanto? Duas semanas, ou uma; pode ser até que menos. Já não era vida, era um molambo de vida, se isto mesmo se podia chamar ao padecer contínuo do pobre homem... E quem sabe mesmo se a luta e a morte não foram apenas coincidentes? Podia ser, era até o mais provável; não foi outra cousa. Fixei-me também nessa ideia... 

        Perto da vila apertou-se-me o coração, e quis recuar; mas dominei-me e fui. Receberam-me com parabéns. O vigário disse-me as disposições do testamento, os legados pios, e de caminho ia louvando a mansidão cristã e o zelo com que eu servira ao coronel, que, apesar de áspero e duro, soube ser grato. 

        — Sem dúvida, dizia eu olhando para outra parte. 

        Estava atordoado. Toda a gente me elogiava a dedicação e a paciência. As primeiras necessidades do inventário detiveram-me algum tempo na vila. Constituí advogado; as cousas correram placidamente. Durante esse tempo, falava muita vez do coronel. Vinham contar-me cousas dele, mas sem a moderação do padre; eu defendia-o, apontava algumas virtudes, era austero... 

        — Qual austero! Já morreu, acabou; mas era o diabo. 

        E referiam-me casos duros, ações perversas, algumas extraordinárias. Quer que lhe diga? Eu, a princípio, ia ouvindo cheio de curiosidade; depois, entrou-me no coração um singular prazer, que eu sinceramente buscava expelir. E defendia o coronel, explicava-o, atribuía alguma coisa às rivalidades locais; confessava, sim, que era um pouco violento... Um pouco? Era uma cobra assanhada, interrompia-me o barbeiro; e todos, o coletor, o boticário, o escrivão, todos diziam a mesma coisa; e vinham outras anedotas, vinha toda a vida do defunto. Os velhos lembravam-se das crueldades dele, em menino. E o prazer íntimo, calado, insidioso, crescia dentro de mim, espécie de tênia moral, que por mais que a arrancasse aos pedaços recompunha-se logo e ia ficando. 

        As obrigações do inventário distraíram-me; e por outro lado a opinião da vila era tão contrária ao coronel, que a vista dos lugares foi perdendo para mim a feição tenebrosa que a princípio achei neles. Entrando na posse da herança, converti-a em títulos e dinheiro. Eram então passados muitos meses, e a ideia de distribuí-la toda em esmolas e donativos pios não me dominou como da primeira vez; achei mesmo que era afetação. Restringi o plano primitivo: distribuí alguma cousa aos pobres, dei à matriz da vila uns paramentos novos, fiz uma esmola à Santa Casa da Misericórdia, etc.: ao todo trinta e dous contos. Mandei também levantar um túmulo ao coronel, todo de mármore, obra de um napolitano, que aqui esteve até 1866, e foi morrer, creio eu, no Paraguai. 

        Os anos foram andando, a memória tornou-se cinzenta e desmaiada. Penso às vezes no coronel, mas sem os terrores dos primeiros dias. Todos os médicos a quem contei as moléstias dele, foram acordes em que a morte era certa, e só se admiravam de ter resistido tanto tempo. Pode ser que eu, involuntariamente, exagerasse a descrição que então lhes fiz; mas a verdade é que ele devia morrer, ainda que não fosse aquela fatalidade... 

        Adeus, meu caro senhor. Se achar que esses apontamentos valem alguma coisa, pague-me também com um túmulo de mármore, ao qual dará por epitáfio esta emenda que faço aqui ao divino sermão da montanha: "Bem-aventurados os que possuem, porque eles serão consolados." 

ASSIS, Machado de. In: COUTINHO, Afrânio (org.). Machado de Assis: obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguillar, 1992. p. 528-535.

Fonte: Português – Literatura, Gramática e Produção de texto – Leila Lauar Sarmento & Douglas Tufano – vol. 2 – Moderna – 1ª edição – São Paulo, 2010, p. 181-186.

Entendendo o conto:

01 – Qual a principal motivação do narrador para contar essa história?

      O narrador, ao contar essa história, busca um alívio para sua consciência, confessando um crime que cometeu. Ele também parece querer justificar seus atos e encontrar algum tipo de paz interior.

02 – Qual a relação entre o narrador e o coronel?

      A relação entre o narrador e o coronel é marcada por tensão e conflito. O coronel é descrito como um homem cruel e exigente, enquanto o narrador se sente humilhado e explorado. Essa dinâmica culmina no assassinato do coronel.

03 – Qual o papel da culpa na história?

      A culpa é o motor central da narrativa. O narrador é atormentado pela culpa desde o momento do crime e busca constantemente justificativas e perdão. A culpa o leva a confessar o crime e a tentar reparar seus atos.

04 – Como a sociedade e a religião influenciam o narrador?

      A sociedade e a religião exercem uma forte influência sobre o narrador. A sociedade o pressiona a seguir as normas e a manter as aparências, enquanto a religião o leva a buscar o perdão e a redenção.

05 – Qual a importância do dinheiro na história?

      O dinheiro é um elemento central na história. A herança deixada pelo coronel transforma a vida do narrador, mas também o atormenta com a culpa. O dinheiro representa a corrupção e a perversão da moral.

06 – Qual o papel da ironia na narrativa?

      A ironia é um recurso constante na narrativa. O narrador utiliza a ironia para expressar seu cinismo e descrever a hipocrisia da sociedade. A ironia também serve para destacar a complexidade dos personagens e a ambiguidade da situação.

07 – Como o tempo influencia a percepção do narrador sobre o crime?

      Com o passar do tempo, a percepção do narrador sobre o crime se transforma. Inicialmente, ele se sente culpado e arrependido. Com o tempo, porém, ele começa a justificar seus atos e a encontrar prazer na condenação do coronel.

08 – Qual a importância do cenário (a vila) na história?

      A vila é um microcosmo que reflete a sociedade como um todo. É um lugar onde a hipocrisia, a fofoca e a inveja são comuns. A vila também é o palco do crime e da posterior investigação.

09 – Qual a mensagem principal do conto?

      A mensagem principal do conto é a complexidade da natureza humana. O narrador não é um herói nem um vilão, mas um homem dividido entre o bem e o mal. A história nos mostra que a linha entre o certo e o errado pode ser tênue e que a culpa e a redenção são temas universais.

10 – Como o conto "O Enfermeiro" se encaixa na obra de Machado de Assis?

      "O Enfermeiro" é um conto típico de Machado de Assis, que explora temas como a psicologia humana, a hipocrisia social, a moralidade e a complexidade das relações humanas. A narrativa é marcada pela ironia, pela ambiguidade e pela profundidade psicológica dos personagens.

 

quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

SONETO: ÚLTIMA DEUSA - ALBERTO OLIVEIRA - COM GABARITO

 Soneto: Última Deusa

             Alberto Oliveira

Foram-se os deuses, foram-se, em verdade;

Mas das deusas alguma existe, alguma

Que tem teu ar, a tua majestade,

Teu porte e aspecto, que és tu mesma, em suma.

 

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjFrVfGnLcC67xrQmE6ZsrJGeMpDX3Dh8KhyphenhyphenZnP0AuKypObWOmRTkPxOhpCG9E3AtPc9WSBQB06x4PHLb_0txb_98VPu23zZqtrvokyWUxbQTNVHCoxCsJQ8VfhJNE9M32DG9Yz1s4WQRczJbDjp8mW5J2tND6J496UyiHaMzOsZYfvFTjUInaS_C7YSAo/s320/DEUSA.jpg

Ao ver-te com esse andar de divindade,

Como cercada de invisível bruma,

A gente à crença antiga se acostuma

E do Olimpo se lembra com saudade.

 

De lá trouxeste o olhar sereno e garço,

O alvo colo onde, em quedas de ouro tinto,

Rútilo rola o teu cabelo esparso...

 

Pisas alheia terra... Essa tristeza

Que possuis é de estátua que ora extinto

Sente o culto da forma e da beleza.

OLIVEIRA, Alberto. In: FISCHER, Luís Augusto. Parnasianismo brasileiro: entre ressonância e dissonância. Porto Alegre: Edipucrs, 2003. p. 201. (Coleção Memória das Letras, 13).

Fonte: Português – Literatura, Gramática e Produção de texto – Leila Lauar Sarmento & Douglas Tufano – vol. 2 – Moderna – 1ª edição – São Paulo, 2010, p. 201.

Entendendo o soneto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Bruma: névoa.

·        Olimpo: morada dos deuses na mitologia grega.

·        Garço: esverdeado.

·        Rútilo: brilhante.

·        Esparso: solto, espalhado.

02 – Qual a principal ideia transmitida pelo poema "Última Deusa"?

      O poema transmite a ideia de que a beleza feminina pode evocar a imagem de uma deusa, mesmo em um mundo onde a crença em deuses já não é comum. A mulher amada pelo poeta é comparada a uma divindade, despertando sentimentos de admiração e reverência.

03 – Qual a relação entre o passado mítico e o presente no poema?

      O poema estabelece uma ponte entre o passado mítico, marcado pela crença nos deuses do Olimpo, e o presente. A beleza da mulher amada evoca a memória dos deuses, sugerindo que a beleza feminina pode transcender o tempo e as mudanças históricas.

04 – Quais os atributos divinos atribuídos à mulher amada pelo poeta?

      A mulher amada é descrita com atributos divinos, como "olhar sereno e garço", "alvo colo" e "cabelo esparso". Esses atributos a elevam à condição de deusa, conferindo-lhe uma aura de perfeição e imortalidade.

05 – Qual o significado da "tristeza" que a mulher possui?

      A "tristeza" da mulher é interpretada como uma melancolia inerente à beleza e à perfeição. A deusa, mesmo em sua beleza, carrega consigo a tristeza de um mundo que já não a adora como antes. Essa tristeza também pode ser vista como uma metáfora para a passagem do tempo e a inevitabilidade da mudança.

06 – Qual a importância da forma e da beleza na poesia de Alberto Oliveira?

      A forma e a beleza são elementos fundamentais na poesia de Alberto Oliveira. O poeta busca a perfeição formal e a descrição precisa dos objetos e das sensações. A beleza da mulher amada é celebrada como uma manifestação da beleza universal, e a poesia serve como veículo para a sua exaltação.

 

 

POEMA: RECEITA DE OLHAR - ROSEANA MURRAY - COM GABARITO

 Poema: Receita de olhar

             Roseana Murray

Nas primeiras horas da manhã

desamarre o olhar

deixe que se derrame

sobre todas as coisas belas

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhlNLNUmkALrBsD3cfL3Eoe_BGfWCteh29R57dq_tto03xbYAUegJufPFTHa3NIXbbVwMDGM67HqT0LGD2dn6UGVOZApdnUBJXCdQZVp64pdGkVoXbkOM0Algy0VvkgaZpau8XJDlIoutWaB82v3j-JnDr7Q_bCAzVBp_TraooKN1Y6vfePZmKThmV7Pus/s1600/SORRIR.jpg



o mundo é sempre novo

e a terra dança e acorda

em acordes de sol

faça do seu olhar imensa caravela.

MURRAY, Roseana. Receitas de olhar. São Paulo: FTD, 1997. p. 44.

Fonte: Português – Literatura, Gramática e Produção de texto – Leila Lauar Sarmento & Douglas Tufano – vol. 2 – Moderna – 1ª edição – São Paulo, 2010, p. 399.

Entendendo o poema:

01 – Qual a principal ação proposta no poema?

      A principal ação proposta no poema é a de "desamarrar o olhar". Essa ação simboliza a libertação do olhar, permitindo que ele explore o mundo com mais liberdade e intensidade.

02 – Que imagem a poeta utiliza para descrever o ato de olhar?

      A poeta utiliza a imagem de uma "caravela" para descrever o ato de olhar. A caravela é uma embarcação que explora novos territórios, assim como o olhar que explora o mundo. Essa imagem evoca a ideia de aventura e descoberta.

03 – Qual o significado da expressão "o mundo é sempre novo"?

      A expressão "o mundo é sempre novo" sugere que o mundo está em constante transformação e que cada dia traz novas possibilidades de descoberta. O olhar renovado permite que percebamos a beleza e a novidade do mundo, mesmo nos lugares mais familiares.

04 – Qual a importância do sol na construção do poema?

      O sol é utilizado como uma metáfora para a vida, a energia e a renovação. A imagem do sol nascendo e despertando o mundo simboliza a esperança e a positividade. O sol ilumina o olhar e permite que a beleza do mundo seja percebida.

05 – Qual a mensagem principal do poema?

      A mensagem principal do poema é um convite à contemplação e à apreciação da beleza do mundo. A poeta nos convida a olhar para o mundo com olhos de criança, com curiosidade e encantamento. Ao "desamarrar o olhar", podemos encontrar novas formas de ver o mundo e de experimentar a vida.

 

REPORTAGEM: NÍVEL DO MAR CRESCE 0,5 CM EM 5 ANOS - JAMIL CHADE E GENEBRA -COM GABARITO

 Reportagem: Nível do mar cresce 0,5 cm em 5 anos

          Aumento foi provocado pelo derretimento de 2 trilhões de t de gelo; 2008 foi o 10.º ano mais quente, diz ONU

Por Jamil Chade e GENEBRA – 10/03/2015 | 12h31 – Atualização: 17/12/2008 | 01h00

        Em apenas cinco anos, 2 trilhões de toneladas de gelo da Groenlândia, Alasca e Antártida derreteram e elevaram o nível do mar em 0,5 centímetro. Os dados, da Nasa, a agência espacial americana, foram apresentados simultaneamente ao anúncio das Nações Unidas de que 2008 será o 10º ano mais quente já registrado no planeta – desde que os cálculos começaram a ser feitos em 1850 – e que a década será a mais quente de que se tem notícia, com impacto também para o Brasil.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBh_KfS6xsLVxleqne0wuhVZCqywYo_ddWAHdeqqWMcJ67p7RuzSfooW_72UxLM6J24IWhyphenhyphenyXTqdWlsnCGy4Zgh38JXUjyzXk7qO8liDx8YDfYgj1g_GKsGPH9QmBWxf1IzN51N6wMa2BrgRSZfoJlKaxOtECpk9SpPbO2zh-MQoS0HcMehxCAqpQekRY/s320/nivel-do-mar.jpg


        Michel Jarraud, secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial (OMM, braço da ONU), alerta que o ano de 2007 foi o pior em termos de perda de cobertura de gelo no Ártico, abrindo rotas marítimas pelo Polo Norte e possibilitando o início de uma corrida pelo petróleo e gás na região. No ano passado, o gelo ártico cobria 4,3 milhões de km2. "Estamos vendo que a camada de gelo é cada vez mais fina", disse Jarraud.

        Segundo a ONU, 200 milhões de pessoas que vivem em regiões costeiras estariam ameaçadas pelo fenômeno nas próximas três décadas. O governo das Ilhas Maldivas, por exemplo, já começa a pensar em soluções como a pura e simples realocação de sua população.

        LIBERAÇÃO DE METANO

        Mais da metade do derretimento de gelo dos últimos cinco anos ocorreu na Groenlândia, região que começa a experimentar uma verdadeira revolução natural. Só o Alasca perdeu 400 bilhões de toneladas de gelo terrestre. Partes do Ártico teriam registrado temperaturas quase 10°C mais quentes que em 2007. Na Sibéria, o temor é com a emissão de metano, que estava congelado em lagos. Agora, o gás pode começar a se desprender se as temperaturas continuarem elevadas.

        Parte da redução da cobertura de gelo ocorre pelo aquecimento, acelerando graças às emissões de CO2. Dados divulgados há duas semanas mostraram que nunca a concentração de CO2 na atmosfera foi tão elevada como agora.

        RECORDES REPETIDOS

        O ano de 2008 registrou uma temperatura média de 14°C, 0,3 grau acima da média entre 1961 e 1990. Já 2005 foi o ano mais quente já registrado, com 14,8°C na média do planeta.

        O que preocupa a OMM é que a tendência não parece estar mudando e, a cada ano, há novos recordes. Na Austrália, por exemplo, foi registrado o calor mais intenso da série histórica, com uma máxima superior a 35°C durante duas semanas inteiras.

        "O que estamos vendo é que fenômenos meteorológicos extremos estão sendo cada vez mais frequentes", disse Jarraud.

        Em todo o mundo, o impacto dessas mudanças climáticas vem sendo sentido de forma diferente. Alguns países europeus vivem verões tropicais, enquanto o inverno foi menos frio na Escandinávia. Já na América do Sul, a Argentina registrou as temperaturas mais baixas.

        Os fenômenos extremos ainda são exemplificados na ONU com a alta em julho deste ano de 3 graus Celsius na Argentina, Paraguai, Bolívia e sul do Brasil em relação à média climática do mês de julho. No Caribe, os furacões continuam a aumentar de intensidade.

O Estado de São Paulo, São Paulo, 17 dez. 2008.

Fonte: Português – Literatura, Gramática e Produção de texto – Leila Lauar Sarmento & Douglas Tufano – vol. 2 – Moderna – 1ª edição – São Paulo, 2010, p. 460-461.

Entendendo a reportagem:

01 – Qual foi a principal causa do aumento de 0,5 cm no nível do mar nos últimos 5 anos, segundo a reportagem?

a) Expansão térmica dos oceanos.

b) Derretimento de geleiras na Groenlândia, Alasca e Antártida.

c) Aumento da precipitação global.

d) Atividade tectônica submarina.

02 – Qual foi o ano mais quente já registrado no planeta, de acordo com os dados da ONU?

a) 2007.

b) 2008.

c) 2005.

d) 1850.

03 – Qual das seguintes consequências do derretimento das geleiras NÃO foi mencionada na reportagem?

a) Aumento do nível do mar.

b) Liberação de metano.

c) Abertura de novas rotas marítimas no Ártico.

d) Intensificação de terremotos.

04 – Qual região do planeta experimentou uma redução significativa da cobertura de gelo nos últimos anos?

a) Antártida.

b) Ártico.

c) Andes.

d) Himalaia.

05 – Qual gás, presente em grandes quantidades no Ártico congelado, pode ser liberado com o derretimento do gelo e contribuir para o aquecimento global?

a) Ozônio.

b) Metano.

c) Hélio.

d) Nitrogênio.

06 – Qual o principal órgão internacional citado na reportagem que monitora as mudanças climáticas?

a) NASA.

b) IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas).

c) OMM (Organização Meteorológica Mundial).

d) WWF (Fundo Mundial para a Natureza).

07 – Qual o impacto mais preocupante para as populações costeiras, de acordo com a reportagem?

a) Aumento da frequência de terremotos.

b) Diminuição da disponibilidade de água doce.

c) Aumento do nível do mar.

d) Intensificação de atividades vulcânicas.

 

 

REPORTAGEM: UM ESTRANHO MERCADO - ADRIANA DIAS LOPES - COM GABARITO

 Reportagem: Um estranho mercado

          Em busca de clientes, os bancos particulares de sangue de cordão umbilical recorrem a estratégias agressivas de marketing

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0WsHU3bW11BQHrTobPrOvrAuz618hmSLGAmiO_rRNUBWHP6ncMcsQhZGaX_e_fmCqPYUgwSRqrf1Z-MD0FMENFjI0hDwbWlfUbbprbEfy3vLxdvvfu7skUZ_FBguh0NpEimKesbNo2kEiC3XvyCYdVXbmOD2aXOi8WXDY7R0pWk5KfDVi0nWGp12FO3U/s320/Celula-Tronco-1.jpg


        Nos últimos cinco anos, o Brasil registrou um crescimento extraordinário no número de bancos para o armazenamento de sangue do cordão umbilical. Riquíssimo em células-tronco, aquelas com capacidade de formar vários tecidos e órgãos do corpo humano, o sangue do cordão umbilical pode ser congelado em vinte centros – praticamente o triplo em relação a 2004. O aumento mais estrondoso ocorreu entre os bancos privados, responsáveis hoje pela manutenção de 70% de todas as amostras do país. O interesse dos brasileiros em guardar o sangue do cordão umbilical de seus bebês foi em grande parte despertado pelo marketing agressivo dos bancos particulares. A estratégia publicitária é bastante simples: sugere a ideia de que aquele tantinho de sangue, coletado rapidamente, ali mesmo na sala de parto, funciona como uma espécie de seguro-saúde, sem prazo de validade. No futuro, se o recém-nascido vier a sofrer de doenças graves, como leucemia, linfoma, diabetes, Alzheimer, Parkinson ou derrame, o sangue de seu cordão umbilical poderá representar a diferença entre a cura e uma vida de sofrimento – aventam os anúncios. Tudo isso por, em média, 3 500 reais pela coleta e 500 reais de anuidade. Quem resiste a uma promessa dessas?


        A bióloga Tatiana da Costa Silva, de 31 anos, é testemunha de como as investidas dos bancos privados de sangue de cordão umbilical vêm se acirrando. há cinco anos, depois de preencher os documentos necessários para o parto de Felipe, seu primeiro filho, ela foi abordada no saguão da maternidade por uma vendedora de um desses centros privados. A mocinha falou sobre a importância de Tatiana pensar no futuro da criança, garantiu facilidades no pagamento e mostrou um folheto com fotografias de celebridades que, zelosas da saúde de seus pimpolhos, optaram por preservar o sangue do cordão umbilical. "Além de constrangedora, essa abordagem é desrespeitosa", diz a bióloga. "O assédio dos vendedores acontece num momento de vulnerabilidade emocional do casal, quando a mulher está prestes a dar à luz." Três anos atrás, ao engravidar de Beatriz, Tatiana notou que o cerco havia se intensificado. No pré-natal, aonde quer que ela fosse, encontrava sempre o folheto de algum banco de cordão. era no consultório do obstetra, nos laboratórios, nas clínicas de exames de imagem... "eu só não aceitei porque sou bióloga e entendo um pouco de células-tronco", diz Tatiana. "Do contrário, teria sucumbido facilmente."

        O sangue extraído do cordão umbilical é de fato rico em células-tronco. Mas em um tipo de células-tronco, as hematopoiéticas.  Até agora, as pesquisas científicas mostraram que elas têm o poder de se transformar somente em células sanguíneas. De cerca de 500 000 células-tronco encontradas em 100 mililitros de sangue do cordão umbilical, apenas 0,1% pertence ao grupo das mesenquimais, que têm potencial para originar células de gordura, músculo, cartilagem e ossos. "Trata-se de um volume extremamente reduzido para surtir algum efeito terapêutico", diz a geneticista Mayana Zatz, pesquisadora da Universidade de São Paulo. Não bastasse a pequena quantidade de mesenquimais, nem todo cordão umbilical contém esse tipo de célula-tronco. em um estudo publicado em 2008 na revista americana Stem cells, Mayana demonstrou que, de cada dez amostras de sangue de cordão umbilical, só uma contém células mesenquimais. "O único uso clínico para o sangue de cordão umbilical comprovado até agora é o tratamento das doenças do sangue", afirma a geneticista.

        Todos os anos, cerca de 10.000 brasileiros recebem o diagnóstico de alguma doença do sangue, como leucemia, linfoma e mieloma, entre outras. Para 6.000 deles, o tratamento é a substituição das células sanguíneas doentes por células sadias. essa troca pode ser feita tanto pelo uso de células-tronco do sangue do cordão umbilical quanto pelo transplante de medula óssea, a estrutura responsável pela fabricação de sangue. Ao recorrerem a um banco particular, os pais estão teoricamente garantindo a seus filhos um tratamento sem o risco de rejeição e sem demora, já que elimina a necessidade de um doador. há que levar em conta, no entanto, que pelo menos 30% das doenças do sangue são de origem genética. Nesse caso, é grande a probabilidade de que as células-tronco coletadas na sala de parto também estejam doentes e, por isso, não possam ser usadas. Além disso, o volume de células-tronco disponível no sangue de um cordão umbilical é suficiente para o tratamento de pessoas com no máximo 50 quilos. Quem opta por estocar o sangue de cordão umbilical num centro particular tem de fazê-lo ciente de que aquele punhado de células-tronco, congelado em galões de nitrogênio líquido a 196 graus negativos, não é garantia de cura para todos os males – como, muitas vezes, alardeiam os vendedores nas maternidades, clínicas, consultórios...

LOPES, Adriana Dias. Veja, edição 2137, p. 118-120. 4 nov. 2009.

Fonte: Português – Literatura, Gramática e Produção de texto – Leila Lauar Sarmento & Douglas Tufano – vol. 2 – Moderna – 1ª edição – São Paulo, 2010, p. 482-484.

Entendendo a reportagem:

01 – Qual o principal motivo do crescimento dos bancos privados de sangue de cordão umbilical no Brasil?

a) Aumento da incidência de doenças sanguíneas.

b) Estratégias agressivas de marketing.

c) Maior conscientização da população sobre a importância das células-tronco.

d) Políticas públicas que incentivam a doação de sangue de cordão umbilical.

02 – Qual a principal promessa feita pelos bancos privados de sangue de cordão umbilical para atrair clientes?

a) Cura para todas as doenças.

b) Um seguro de vida para o futuro.

c) Melhor desenvolvimento físico e intelectual da criança.

d) Imortalidade.

03 – Qual a principal crítica da bióloga Tatiana da Costa Silva em relação às práticas dos bancos privados?

a) O alto custo do serviço.

b) A falta de informações claras sobre os riscos e benefícios.

c) A abordagem agressiva e invasiva dos vendedores.

d) A falta de comprovação científica da eficácia do armazenamento.

04 – Qual a principal função das células-tronco hematopoiéticas presentes no sangue do cordão umbilical?

a) Formar todos os tipos de células do corpo humano.

b) Formar células sanguíneas.

c) Reparar tecidos danificados.

d) Combater infecções.

05 – Qual a principal limitação do uso das células-tronco mesenquimais presentes no sangue do cordão umbilical?

a) A quantidade insuficiente para tratamentos eficazes.

b) A alta taxa de rejeição pelo organismo.

c) A falta de estudos científicos sobre sua aplicação.

d) O alto custo do armazenamento.

06 – Qual o principal motivo pelo qual o sangue do cordão umbilical não é uma garantia de cura para todas as doenças?

a) A falta de tecnologia para manipular as células-tronco.

b) A possibilidade de as células-tronco estarem doentes, caso a doença tenha origem genética.

c) A baixa qualidade do sangue coletado.

d) A falta de profissionais qualificados para realizar os transplantes.

07 – Qual o objetivo principal da reportagem?

a) Incentivar a doação de sangue de cordão umbilical.

b) Alertar sobre os riscos e benefícios do armazenamento de sangue de cordão umbilical.

c) Criticar os bancos de sangue de cordão umbilical.

d) Promover os avanços da medicina regenerativa.

SONETO: HORAS MORTAS - ALBERTO OLIVEIRA - COM GABARITO

 Soneto: Horas Mortas

             Alberto Oliveira

Breve momento após comprido dia
De incômodos, de penas, de cansaço
Inda o corpo a sentir quebrado e lasso,
Posso a ti me entregar, doce Poesia.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHy_PCGFaFf6-XSjaEFheRno4NT8012H4da_C24XquAdjeeEH1OhXlERd_BXzWIfj2o5i9y9n2LiBlMo8jR8mlC88nV2-U3xQlPwUCDsdfqrI9YfM1lR6i-N5Uy18AePUqWUYZP9JrzD1Zdy5-lr8bybZYorr1GnWTynTySutI-fuz7pNhOFHBW5lgaGU/s320/HORAS.jpg



Desta janela aberta, à luz tardia
Do luar em cheio a clarear no espaço,
Vejo-te vir, ouço-te o leve passo
Na transparência azul da noite fria.

Chegas. O ósculo teu me vivifica
Mas é tão tarde! Rápido flutuas
Tornando logo à etérea imensidade;

E na mesa em que escrevo apenas fica
Sobre o papel — rastro das asas tuas,
Um verso, um pensamento, uma saudade.

OLIVEIRA, Alberto. In: FISCHER, Luís Augusto. Parnasianismo brasileiro: entre ressonância e dissonância. Porto Alegre: Edipucrs, 2003. p. 187-188. (Coleção Memória das Letras, 13).

Fonte: Português – Literatura, Gramática e Produção de texto – Leila Lauar Sarmento & Douglas Tufano – vol. 2 – Moderna – 1ª edição – São Paulo, 2010, p. 201.

Entendendo o soneto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Lasso: cansado.

·        Ósculo: beijo.

·        Vivifica: reanima.

02 – Qual o momento do dia em que o poeta se dedica à poesia?

      O poeta se dedica à poesia nas "horas mortas", ou seja, no período após um dia de trabalho e incômodos, quando o corpo já está cansado e a mente busca descanso. É nesse momento de tranquilidade que ele se permite se entregar à inspiração poética.

03 – Qual a importância da noite e do luar para o ato de criar poesia?

      A noite e o luar proporcionam um ambiente propício para a criação poética. A luz suave da lua, a tranquilidade da noite e o silêncio criam uma atmosfera que favorece a concentração e a inspiração. A natureza noturna serve como pano de fundo para a imaginação do poeta, inspirando seus versos.

04 – Qual a relação entre o corpo e a alma do poeta no poema?

      O corpo do poeta está cansado após um dia de trabalho, enquanto a alma busca a renovação através da poesia. A poesia atua como um bálsamo para a alma, aliviando o cansaço e a tristeza. A dualidade entre o corpo físico e a alma poética é evidente no poema.

05 – Qual a natureza efêmera da inspiração poética para o eu lírico?

      A inspiração poética é descrita como algo fugaz e etéreo. A musa, representada pela poesia, chega e parte rapidamente, deixando apenas um rastro tênue de sua presença. Essa efemeridade da inspiração reforça a ideia de que a criação poética é um momento único e precioso.

06 – Qual o significado do "verso, um pensamento, uma saudade" que fica sobre o papel?

      O "verso, um pensamento, uma saudade" que fica sobre o papel representa o fruto do encontro entre o poeta e a musa. É o registro tangível da inspiração, um momento de conexão entre o mundo material e o mundo espiritual. A saudade expressa a melancolia que surge após a partida da musa, a consciência da fugacidade da inspiração.

 

 

CRÔNICA: SOMOS GENTE - FRAGMENTO - LYA LUFT - COM GABARITO

 Crônica: Somos gente – Fragmento

              Lya Luft

        Decretaram que pessoas com mais de sessenta anos merecem alguns benefícios.

        Há mais tempo decretaram que negro era gente. Há menos tempo que isso decretaram que mulher também era gente, pois podia votar.

        Mas voltando aos com mais de sessenta: decretaram coisas que deveriam ser naturais numa sociedade razoável. Não as vejo como benefícios, mas como condições mínimas de dignidade e respeito. Benefício tem jeito de concessão, caridade. Coisas como não lhes cobrarem mais pelo seguro saúde porque estão mais velhos, na idade em que possivelmente vão de verdade começar a precisar de médico, remédio, hospital, não deveriam ser impostas por decreto.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiDlgEBl4jSMIwQ74FuHbM6y-RwzYcr-Ajq2aoJ1cCnqQBC4ey7yeLCKLits3VlKRhh-zHdZOeadoUBsGRBDGBA5W-WxDf9EFRaYde8r9IRF_5-C4p2iCP4kb8Cf2nHnxVwr8wAxm0a4QnCi0T1vfUyKv3BJhPrgHBi82G0gPGkU0yT3H9TeCHzNvJ_HoI/s320/decreto3.jpg


        Decretaram também que depois dos sessenta as pessoas podem andar de graça no ônibus e pagar meia entrada no cinema. Perceberam, pois, que após os sessenta as pessoas ainda se locomovem e se divertem. Pensei que achassem que nessa altura a gente ficasse inexoravelmente meio inválido e... invalidado.

        Que sociedade esquisita esta nossa, em que é preciso decretar que em qualquer idade a gente é gente.

        [...]

             LUFT, Lya. Pensar é transgredir. Rio de Janeiro:
                                                                                             Record, 2005. p. 137. (Fragmento).

Fonte: Português – Literatura, Gramática e Produção de texto – Leila Lauar Sarmento & Douglas Tufano – vol. 2 – Moderna – 1ª edição – São Paulo, 2010, p. 396-397.

Entendendo a crônica:

01 – Qual a principal crítica presente no texto?

      A principal crítica presente no texto é a necessidade de leis e decretos para garantir direitos básicos à população, como saúde, transporte e lazer. A autora questiona por que é preciso legislar para garantir que pessoas idosas sejam consideradas cidadãos com os mesmos direitos que os demais.

02 – Qual a visão da autora sobre os "benefícios" para idosos?

      A autora não vê os "benefícios" para idosos como algo positivo, mas sim como uma necessidade básica. Ela argumenta que esses direitos não deveriam ser considerados como favores, mas como direitos fundamentais que garantem a dignidade e o respeito à pessoa idosa.

03 – Qual a ironia presente no texto?

      A ironia está presente na necessidade de leis para garantir que as pessoas sejam consideradas "gente". A autora questiona como uma sociedade pode chegar ao ponto de precisar legislar para garantir direitos básicos como saúde e transporte para todos os cidadãos, independentemente da idade.

04 – Qual a importância da idade na construção da argumentação da autora?

      A idade é utilizada como um exemplo para ilustrar a desigualdade e a discriminação que ainda existem na sociedade. Ao destacar os desafios enfrentados pelas pessoas com mais de 60 anos, a autora chama a atenção para a necessidade de garantir direitos iguais para todos, independentemente da idade, raça ou gênero.

05 – Qual a mensagem principal do texto?

      A mensagem principal do texto é a necessidade de uma sociedade mais justa e igualitária, onde os direitos básicos sejam garantidos para todos os cidadãos. A autora defende a ideia de que a dignidade humana é um direito inalienável e que não deve ser dependente de leis ou decretos.

 

CRÔNICA: QUEM TEM OLHOS - MARINA COLASANTI - COM GABARITO

 Crônica: Quem tem olhos

              Marina Colasanti

        Eu vinha andando na rua e vi a mulher na janela. Uma mulher como as de antigamente. De cabeça branca e braços pálidos apoiados no peitoril. Sentada, olhava para fora. Uma mulher como as de antigamente, posta à janela, espiando o mundo.


Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjC66UmXX7Brq_6EO1PUr1BYDwAY4V3sYWAz2ycbd-0tr6XlW7_t5UyB_c3XlzIypVRxO9agXhPaWxSxqamGqY4o5cohlbsE1iSPwZd3a8LqT_gORtgL1vnFJ_3qGCmkuUjeDwovhLfPQr5jqkUm9F-nVq9ACyC0VRasSp585_Wewf1S3qpzlkqY1UbQvk/s320/JANELA.jpg

        Mas a janela não era ao nível da rua, como as de antigamente. Nem era de uma casa. Era acima da entrada do prédio, acima da garagem, acima do playground. Era lá no alto. E diante daquela janela a única coisa que havia para se ver era, do lado oposto da rua, a parede cega de um edifício.

        Não havia árvores. Ou outras janelas. Somente a parede lisa e cinzenta, manchada de umidade. Alta, muito alta.

        De onde estava, assim sentada, a mulher não podia ver a rua, o movimento da rua, as pessoas passando. Teria tido que debruçar-se para vê-los. E não se debruçava.

        Também não via o céu. Teria tido que esticar o pescoço e torcer a cabeça para vê-lo lá no alto, acima da parede cinzenta e do seu próprio edifício, faixa de céu estreita como uma passadeira. E a mulher mantinha-se composta, o olhar lançado para a frente.

        Serena, a mulher olhava a parede cinzenta.

        Não era como nas pequenas cidades onde ficar à janela é estar numa frisa ou camarote para ver e ser vista, é maneira astuciosa de estar na rua sem perder o recato da casa, de meter-se na vida alheia sem expor a própria. Não era uma forma de barricada de participação. Ali ninguém falava com ela, ninguém a cumprimentava ou via – a não ser eu que parada na calçada a observava – e não havia nada para ela ver.

        A mulher olhava a parede cinzenta. E parecia estar bem.

        E por um instante o bem-estar dela me doeu, porque acreditei que sorrisse em plena renúncia à vitalidade, que se mantivesse serena debaixo da canga de solidão e cimento que a cidade lhe impunha, tendo aberto mão de qualquer protesto. Desejei tirá-la dali ou dar-lhe uma vista. Depois, entendi.

        A mulher olhava a parede cinzenta, mas diante dela não havia uma parede cinzenta. Havia um telão. Um telão imenso, imperturbável, onde histórias se passavam. Que ela própria projetava, mas das quais era devotada espectadora e eventual personagem. Suas fantasias, suas lembranças, seus desejos moviam-se sobre a parede que já não era cinzenta, que era o suporte do mundo, ao vivo e em cores. Só ela os via. Mas com que nitidez!

        Bem diferente daquela cidadezinha da Dinamarca onde, em viagem, reparei que havia espelhos estrategicamente colocados nas janelas, permitindo que se visse a rua sem ter que abrir os vidros. Espelhos redondos, como retrovisores, onde às pessoas quase escondidas o mundo certamente aparecia pequeno e distorcido, enevoado pelos vidros e cortinas.

        A mulher da parede não, era grandiosa. Uma dama em seu elevado posto de observação. Teria podido passar a vida ali, se apenas alguém lhe desse comida.

        E vendo-a tão entretida diante do nada, e do tudo, ocorreu-me que muitas pessoas olham televisão exatamente como ela olhava a parede. Sem ver, vendo outra coisa. A família reunida na sala, aquela luz azulada banhando todos no mesmo tom lunar, imagens na tela pequena, e alguém em meio à família projetando por cima das imagens criadas em estúdio outras imagens, mais vívidas, pessoais, criadas no laboratório dos desejos. Ninguém, na sala, suspeita da sua fuga, ninguém a sabe ausente. Olhando para o mesmo ponto acreditam estar vendo a mesma coisa. E se tranquilizam na falsa semelhança.

        Olho da rua a mulher à janela e me alegro. Fechada num apartamento provavelmente pequeno, sem ninguém que lhe dê muita atenção, acima de uma rua estreita e sem árvores, diante de uma parede alta e cinzenta, ainda assim não está sozinha nem entediada. Tira de si, como um ectoplasma, as imagens que o mundo teima em lhe negar, as imagens da vida. E delas se alimenta. Cria, embora ninguém – talvez nem ela – lhe reconheça a criação. E com seu olhar planta árvores, acende luzes, faz festa.

        Quem tem ouvidos ouça, disse o profeta. E, ele não disse mas digo eu, quem tem olhos veja.

COLASANTI, Marina. In: PINTO, Manuel da Costa (Org.). Crônica brasileira contemporânea: antologia de crônicas. São Paulo: Moderna, 2005. p. 159-161.

Fonte: Português – Literatura, Gramática e Produção de texto – Leila Lauar Sarmento & Douglas Tufano – vol. 2 – Moderna – 1ª edição – São Paulo, 2010, p. 476-477.

Entendendo a crônica:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

Recato: recanto, esconderijo.

Canga: domínio, opressão.

Ectoplasma: espécie de substância que envolveria o espírito.

02 – Qual a principal característica da mulher observada pela narradora?

a) Sua solidão e isolamento.

b) Sua capacidade de criar um mundo interior rico.

c) Sua indiferença ao mundo exterior.

d) Sua tristeza e melancolia.

03 – O que a parede cinzenta representa na crônica?

a) Um obstáculo à felicidade.

a) Um símbolo da monotonia da vida urbana.

c) Uma tela para a imaginação da mulher.

d) Uma metáfora para a solidão.

04 – Qual a diferença entre a mulher da crônica e as pessoas que assistem televisão, segundo a narradora?

a) A mulher da crônica é mais feliz.

b) As pessoas que assistem televisão são mais passivas.

c) Não há diferença significativa entre elas.

d) A mulher da crônica é mais criativa.

05 – O que a narradora admira na mulher?

a) Sua capacidade de encontrar beleza em um lugar comum.

b) Sua resignação diante da vida.

c) Sua capacidade de se adaptar a qualquer situação.

d) Sua indiferença ao mundo exterior.

06 – Qual o significado da frase "Quem tem olhos veja"?

a) Uma exortação para enxergar além das aparências.

b) Uma crítica à passividade das pessoas.

c) Uma afirmação da importância da imaginação.

d) Todas as alternativas anteriores.

07 – Qual o tom geral da crônica?

a) Pessimista e melancólico.

b) Otimista e esperançoso.

c) Reflexivo e contemplativo.

d) Crítico e denunciador.

08 – Qual o tema central da crônica?

a) A importância da imaginação para superar a adversidade.

b) A alienação das pessoas diante da realidade.

c) A solidão na vida urbana.

d) A importância da arte na vida das pessoas.