sábado, 5 de maio de 2018

POEMA - A BRUXA - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

POEMA -   A Bruxa
                          Carlos Drummond de Andrade

-  A Emil Farhat
                                            
     Nesta cidade do Rio,
De dois milhões de habitantes,
Estou sozinho no quarto
Estou sozinho na América.
          
    Estarei mesmo sozinho?
Ainda há pouco um ruído
Anunciou vida a meu lado.
Certo não é vida humana,
Mas é vida. E sinto a bruxa
Presa na zona de luz.
De dois milhões de habitantes!
E nem precisava tanto...
Precisava de um amigo,
Desses calados, distantes,
Que leem verso de Horácio
Mas secretamente influem
Na vida, no amor, na carne.
Estou só, não tenho amigo,
E a essa hora tardia
Como procurar amigo?

E nem precisava tanto.
Precisava de mulher
Que entrasse nesse minuto,
Recebesse este carinho,
Salvasse do aniquilamento
Um minuto e um carinho loucos
Que tenho para oferecer.

    Em dois milhões de habitantes,
    Quantas mulheres prováveis
Interrogam-se no espelho
Medindo o tempo perdido
Até que venha a manha
Trazer leite, jornal e calma.
Porém a essa hora vazia
Como descobrir mulher?

     Esta cidade do Rio!
Tenho tanta palavra meiga,
Conheço vozes de bichos,
Sei os beijos mais violentos,
Viajei, briguei, aprendi.
Estou cercado de olhos,
De mãos, afetos, procuras.
Mas me tento comunicar-me,
O que há é apenas a noite
E uma espantosa solidão.

    Companheiros, escutai-me!
Essa presença agitada
Querendo romper a noite
Não é simplesmente a bruxa.
É antes a confidência
Exalando-se de um homem.

           Carlos Drummond de Andrade. Antologia poética. 60. Ed.
                      Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. P. 28-29.  

     Entendendo o poema:
     01 – Na primeira estrofe, o eu lírico fala sobre o quê?
      O eu lírico, morador de uma grande metrópole, fala sobre sua solidão.

02 – Releia a segunda estrofe do poema.
a)   A partir desse momento, o eu lírico passa a refletir sobre o que? Com que objetivo ele faz isso?
      O eu lírico passa a questionar se está, de fato, sozinho em uma cidade de dois milhões de habitantes. Ele busca compreender o que se passa com ele.

b)   Quem é ou o que é a “Bruxa” mencionada na estrofe? Como você chegou a essa conclusão?
      A “bruxa” a que o eu lírico se refere é uma mariposa de cor escura. O eu lírico diz que escutou um ruído que anuncia vida, mas não vida humana.

c)   Observe esse trecho.
      [....] E sinto a bruxa/ presa na zona de luz.
      O verbo sinto sinaliza a relação que o eu lírico estabelece com a Bruxa. Como é essa relação?
      O eu lírico não vê a bruxa, mas a sente, isto é, ele estabelece uma relação de cumplicidade com ela.

     03 – No poema, o eu lírico fala sobre algumas de suas necessidades.
a)   Que necessidades são essas?
      O eu lírico fala sobre a necessidade de amizade e de amor.

      b) Por que não é possível ao eu lírico procurar aquilo de que precisa?
      - Releia as perguntas retóricas da terceira e da quinta estrofes.
      Porque ele se encontra em uma hora tardia e vazia, isto é, é tarde e não há o que fazer.

 c)O que acontece com o eu lírico quando ele tenta procurar o que precisa?
      - Releia principalmente a sexta estrofe.
      Ele não consegue se comunica com os outros.

     04 – No poema, a noite adquire aspecto negativo ou positivo? Justifique.
      A noite apresenta um aspecto negativo para o eu lírico, pois ela é caracterizada como “hora vazia”, angustiante, de “espantosa solidão”.

     05 – Releia o quinto e o sexto versos da quinta estrofe. Por que “leite, jornal e calma” aparecem juntos, relacionados à manhã?
      A manhã é um alento, um alívio para a angústia sentida principalmente durante a noite. O leite e o jornal remete às atividades rotineiras do eu lírico, com as quais se sentem confortável.

 06 – Releia este outro trecho:
                          “Quantas mulheres prováveis
                           Interrogam-se no espelho
                           Medindo o tempo perdido.”
     a) Essas mulheres foram percebidas pelo eu lírico como a bruxa, ou são fruto de sua reflexão?
      As “mulheres prováveis” são fruto da reflexão do eu lírico.

     b) Nesse trecho, o eu lírico demonstra crer que o sentimento de solidão é apenas dele? Explique.
    Não. Ele mostra crer que naquele momento, muitas mulheres provavelmente sentem-se igualmente solitárias.

07 – Os dois últimos versos dão ao poema um caráter confessional. Por que a confidência, algo tão íntimo, teria interesse para os leitores?
      Porque os temas abordados são abrangentes, de interesse geral, e porque a forma como a confidência se apresenta é atraente, com exploração de imagens poéticas. 
                                                                                 
08 – Esse poema foi escrito na década de 1930.
a)   O que ele revela sobre os homens e as mulheres daquele tempo?
      O poema fala de homens e mulheres solitários que não conseguem se comunicar, embora necessitam disso.

     b) Em sua opinião, essa caracterização vale ainda para os homens e as mulheres do nosso tempo?
Você compartilha ou já compartilhou dessa mesma sensação?
      Ainda hoje essa sensação de solidão é vivida pelos moradores dos grandes centros urbanos.

09 – Há, no poema, elementos que o aproximam das crônicas dos capítulos anteriores. Quais?
      O diálogo com o leitor, a subjetividade, o caráter episódico e uma reflexão mais genética.                   


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