Soneto: Sete estudos para a mão esquerda VI – Fragmento
Paulo Henriques Britto
Nenhuma lição nesta paisagem
que não o fartamente conhecido:
as coisas nos lugares,
engrenagens

do estar-em-si, do
tudo-é-relativo,
etc. A mesma grafitagem
inconsequente de sempre: rabisco
logo existo. — O mundo segue
opaco,
imune à consciência e seus
lampejos
de lógica, sua falta de tato,
sua avidez, seus deuses e
desejos.
(Aqui termina o sonho. Fim das
névoas,
caramelos e almofadas
formidáveis.
Daqui pra frente, as portas sem
remédio
e todas as maçãs assassinadas.)
Paulo
Fernando Henriques Britto – Rio de Janeiro RJ 1951.
Entendendo o soneto:
01
– Qual é a principal ideia expressa no soneto "Sete estudos para a mão
esquerda VI – Fragmento" de Paulo Henriques Britto?
O soneto aborda a
sensação de tédio e de repetição diante da mesmice da vida. O eu-lírico
expressa a percepção de que a paisagem e as experiências se tornaram familiares
e previsíveis, perdendo a capacidade de surpreender ou emocionar.
02
– O que significa a expressão "Nenhuma lição nesta paisagem / que não o
fartamente conhecido"?
Essa expressão
sugere que a paisagem, tanto física quanto metafórica, perdeu a capacidade de
ensinar ou revelar algo novo. Tudo se tornou "fartamente conhecido",
repetitivo e previsível, sem novidades ou desafios a serem explorados.
03
– Qual é a crítica presente na referência à "mesma grafitagem
inconsequente de sempre: rabisco / logo existo"?
Essa referência
critica a busca vazia por significado e reconhecimento através de ações
superficiais e repetitivas. A frase "rabisco logo existo" ironiza a
ideia de que a simples ação de deixar uma marca, um registro, garante a
existência ou a importância do indivíduo.
04
– O que o eu-lírico quer dizer com "O mundo segue opaco, / imune à
consciência e seus lampejos / de lógica"?
Essa passagem
expressa a frustração do eu-lírico diante da falta de sentido e da resistência
do mundo à sua compreensão. O mundo é descrito como "opaco", ou seja,
incompreensível e impenetrável à razão e à lógica. A consciência, com seus
"lampejos" de racionalidade, é impotente para dar sentido ao caos e à
complexidade da existência.
05
– Qual é o significado do último verso "Daqui pra frente, as portas sem
remédio / e todas as maçãs assassinadas"?
Esse verso final
marca o fim do sonho e da ilusão, confrontando o eu-lírico com a realidade crua
e implacável. As "portas sem remédio" simbolizam a falta de
oportunidades e de saídas para a situação de tédio e frustração. As "maçãs
assassinadas" representam a perda da inocência, da beleza e do potencial
de renovação. A imagem da maçã, tradicionalmente associada ao conhecimento e à
tentação, sugere que a busca por significado e a experiência da realidade levaram
à desilusão e à morte simbólica.