domingo, 28 de abril de 2019

ROMANCE: MACUNAÍMA - PIAIMÃ - FRAGMENTO - MÁRIO DE ANDRADE - COM GABARITO

Romance: MacunaímaPIAIMÃ – Fragmento 
             
     Mário de Andrade

        No outro dia Macunaíma pulou cedo na ubá e deu uma chegada até a foz do Rio Negro pra deixar a consciência na ilha de Marapatá. Deixou-a bem na ponta dum mandacaru de dez metros, pra não ser comida pelas saúvas. Voltou pro lugar onde os manos esperavam e no pino do dia os três rumaram pra margem esquerda da Sol.
        Muitos casos sucederam nessa viagem por caatingas rios corredeiras, gerais, corgos, corredores de tabatinga matos virgens e milagres do sertão. Macunaíma vinha com os dois manos pra São Paulo. Foi o Araguaia que facilitou-lhes a viagem. Por tantas conquistas e tantos feitos passados o herói não ajuntara um vintém só mas os tesouros herdados da icamiaba estrela estavam escondidos nas grunhas do Roraima lá. Desses tesouros Macunaíma apartou pra viagem nada menos de quarenta vezes quarenta milhões de bagos de cacau, a moeda tradicional. Calculou com eles um dilúvio de embarcações. E ficou lindo trepando pelo Araguaia aquele poder de igaras duma em uma duzentas em ajojo que-nem flecha na pele do rio. Na frente Macunaíma vinha de pé, carrancudo, procurando no longe a cidade. Matutava roendo os dedos agora cobertos de berrugas de tanto apontarem Ci estrela. Os manos remavam espantando os mosquitos e cada arranco dos remos repercutindo nas duzentas igaras ligadas, despejava uma batelada de bagos na pele do rio, deixando uma esteira de chocolate onde os camuatás pirapitingas dourados piracanjubas uarus-uarás e bacus de regalavam.
        Uma feita a Sol cobrira os três manos duma escaminha de suor e Macunaíma se lembrou de tomar banho. Porém no rio era impossível por causa das piranhas tão vorazes que de quando em quando na luta pra pegar um naco de irmã espedaçada, pulavam aos cachos pra fora d’água metro e mais. Então Macunaíma enxergou numa lapa bem no meio do rio uma cova cheia d’água. E a cova era que-nem a marca dum pé-gigante. Abicaram. O herói depois de muitos gritos por causa do frio da água entrou na cova e se lavou inteirinho. Mas a água era encantada porque aquele buraco na lapa era marca do pezão do Sumé, do tempo em que andava pregando o evangelho de Jesus pra indiada brasileira.  Quando o herói saiu do banho estava branco louro e de olhos azuizinhos, água lavara o pretume dele. E ninguém não seria capaz mais de indicar nele um filho da tribo retinta dos Tapanhumas.
        Nem bem Jiguê percebeu o milagre, se atirou na marca do pezão do Sumé. Porém a água já estava muito suja da negrura do herói e por mais que Jiguê esfregasse feito maluco atirando água pra todos os lados só conseguiu ficar com a cor do bronze novo. Macunaíma teve dó e consolou:
        -- Olhe, mano Jiguê, branco você ficou não, porém pretume foi-se e antes fanhoso que sem nariz.
        Maanape então é que foi se lavar, mas Jiguê esborrifara toda a água encantada pra fora da cova. Tinha só um bocado lá no fundo e Maanape conseguiu molhar só a palma dos pés e das mãos. Por isso ficou negro bem filho da tribo dos Tupanhumas. Só que as palmas das mãos e dos pés dele são vermelhas por terem se limpado na água santa. Macunaíma teve dó e consolou:
        -- Não se avexe, mano Maanape, não se avexe não, mais sofreu nosso tio Judas!
        E estava lindíssimo na Sol da Lapa os três manos um louro um vermelho outro negro, de pé bem erguidos e nus. Todos os seres do mato espiavam assombrados. O jacareúna o jacaretinga o jacaré-açu o jacaré-ururau de papo amarelo, todos esses jacarés botaram os olhos de rochedo pra fora d’água. Nos ramos das ingazeiras das aningas das mamoramas das embaúbas dos catauaris de beira-rio o macaco-prego o macaco-de-cheiro o guariba o bugio o cuatá o barrigudo o coxiú o cairara, todos os quarenta macacos do Brasil, todos, espiavam babando de inveja. E os sabiás, o o sabiacica o sabiapoca o sabiaúna o sabiapiranga o sabiagongá que quando come não me dá, o sabiá-barranco o sabiá-tropeiro o sabiá-laranjeira o sabiá-gute todos eles ficaram pasmos e esqueceram de acabar o trinado, vozeando vozeando com eloquência. Macunaíma teve ódio. Botou as mãos nas ancas e gritou pra natureza:
        -- Nunca viu não!
        Então os seres naturais debandavam vivendo e os três manos seguiram caminho outra vez.
        Porém entrando nas terras do Igarapé Tietê adonde o burbom vogava e a moeda tradicional não era mais cacau, em vez, chamva arame contos contecos milréis borós tostão duzentorréis quinhentorréis, cinquenta paus, noventa bagarotes, e pelegas cobres xenxéns caraminguás selos bicos-de-coruja massuni bolada calcáreo gimbra siridó bicha e pataracos, assim, adonde até liga pra meia ninguém comprava nem por vinte mil cacaus. Macunaíma ficou muito contrariado. Ter de trabucar, ele, herói... Murmurou desolado:
        -- Ai! Que preguiça! ...

ANDRADE, Mário de. Macunaíma: o herói sem nenhum caráter.
Ed. Crítica de Telê Porto A. Lopez. Rio de Janeiro/São Paulo:
Livros Técnicos e Científicos/Secretaria da Cultura, Ciência e Tecnologia. p. 33-4.

Entendendo o romance:
01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo.
·        Abicar: fazer chegar a proa da embarcação em terra.

·        Sumé: na mitologia dos índios Tupis e Guaranis, homem branco, barbado, que teria vivido entre os índios antes da chegada dos portugueses e que lhes havia transmitido uma série de ensinamentos. Os Jesuítas associaram essa figura a São Tomé, apóstolo que teria feito pregações ao redor do mundo, inclusive na América.

·        Burbom: café ou cafeeiro.

·        Grunha: parte côncava nas serras.

·        Icamiaba: referência a Ci, líder das índias icamiabas, com quem Macunaíma se casara e que virou estrela depois de morrer.

·        Igara: canoa escavada em um tronco de árvore.

·        Trabucar: trabalhar, labutar.

·        Lapa: grande pedra ou laje; gruta.

·        Ubá: o mesmo que cana-do-rio; planta da família das gramíneas que atinge até 10 metros de altura.

02 – Em Macunaíma, Mário de Andrade procurou fazer uso de uma “língua brasileira”, síntese da fusão do português com dialetos indígenas e africanos, mesclada de inúmeras variações linguísticas, com regionalismos, expressões coloquiais, estrangeirismos, etc.
Troque ideias com os colegas e tente descobrir a origem destas palavras e expressões:
a)   Ubá, Marapatá, mandacaru, tabatinga, igara, pirapitinga.
Origem indígena.

b)   Deu uma chegada, que-nem flecha, feito maluco, antes fanhoso que sem nariz, cinquenta paus, bolada.
Origem popular.

c)   Não se avexe.
Origem regional, nordestina.

d)   Burbom.
Origem na língua inglesa.

03 – Antes de escrever Macunaíma, Mário de Andrade viajou pelo Brasil, pesquisou e fez anotações relativas a diversos elementos da geografia, da fauna, da flora e da cultura das diferentes regiões do país. De que modo essa pesquisa se revela no trecho lido?
      Revela-se na aproximação de pontos geográficos distantes, como Rio Negro e São Paulo; na citação do nome de inúmeros peixes, aves e plantas típicos da natureza brasileira; na citação da lenda de Sumé.

04 – Observe o trecho em que os três irmãos se banham na água da cova feita pelo pé de Sumé.
a)   O que se explica, nessa cena, de forma folclórica?
A origem do negro, do índio e do branco, ou seja, as diferenças éticas no Brasil.

b)   Apesar de Jiguê ter se lavado, ele “só conseguiu ficar da cor do bronze novo”. E Macunaíma lhe diz: “branco você ficou não, porém pretume foi-se e antes fanhoso que sem nariz”. Na sua opinião, essa fala de Macunaíma é preconceituosa? Justifique sua resposta.
Resposta pessoal do aluno.

05 – Macunaíma é o imperador da mata virgem. Como tal, imagina chegar a São Paulo com muito cacau – que na floresta equivalia a dinheiro – e liderando uma comitiva de duzentas canoas.
a)   Na realidade, com quantas canoas Macunaíma chega à capital paulista?
Chega numa única canoa, acompanhado pelos irmãos.

b)   Que valor tinha na cidade o cacau que Macunaíma trouxera?
Nenhum valor.

c)   Como se posiciona Macunaíma diante da necessidade de trabalhar?
Não sente nenhuma vontade de trabalhar; mostra-se preguiçoso.

06 – As preocupações reveladas na obra Macunaíma quanto à busca dos elementos da paisagem nacional – a fauna, a flora, o homem, a língua e as tradições da cultura brasileira – lembram o projeto nacionalista do Romantismo. Comparando Macunaíma às obras indianistas românticas, responda:
a)   A personagem Macunaíma pode ser considerado um herói igual aos do Romantismo? Por quê?
Não. Macunaíma é uma espécie de anti-herói.

b)   Como conclusão do estudo feito, responda: O nacionalismo presente em Macunaíma é igual ao das obras do Romantismo? Justifique sua resposta.
Não. Mário procura valorizar os elementos nacionais, mas a partir de uma perspectiva crítica, mostrando as contradições tanto da realidade nacional quanto do homem brasileiro.


POEMA: JOGOS FLORAIS - CACASO - COM QUESTÕES GABARITADAS

Poema: Jogos florais
           
      Cacaso

Minha terra tem palmeiras
onde canta o tico-tico.
Enquanto isso o sabiá
vive comendo o meu fubá.

Ficou moderno o Brasil
ficou moderno o milagre:
a água já não vira vinho,
vira direto vinagre.
Minha terra tem Palmares
memória cala-te já.
Peço licença poética
Belém capital Pará.



Bem, meus prezados senhores
dado o avançado da hora
errata e efeitos do vinho
o poeta sai de fininho.
(Será mesmo com dois esses
que se escreve paçarinho?)

                        Cacaso. “Jogos florais”. In: Lero-lero, Rio de Janeiro, Cosac & Naify, 2002.

Entendendo o poema:

01 – Além da citação dos dois primeiros versos de Gonçalves Dias, que elementos rítmicos do poema de Cacaso trazem a “Canção do exílio” à memória do leitor?
      A metrificação (sete sílabas), a estrofação (quadras), a rima oxítona em à (sabiá / fubá; já / Pará).

02 – A partir do poema ufanista de Gonçalves Dias, o sabiá tornou-se símbolo das excelências da terra natal, enquanto, na tradição popular, o tico-tico representa a esperteza, por aproveitar-se do trabalho já feito por outros pássaros (numa conhecida música popular, o tico-tico rouba o fubá). Explique a utilização crítica desses símbolos no poema de Cacaso.
      No poema de Cacaso, o tico-tico, que não é um pássaro canoro, substitui o sabiá como símbolo da pátria; este, por sua vez, assume a esperteza do tico-tico. Há, portanto, uma versão irônica dos símbolos, como crítica ao nacionalismo ufanista do regime militar, usado como propaganda para enganar a população.

03 – Entende-se por “licença poética” a liberdade de linguagem que os poetas se concedem para atingir seus objetivos de expressão ou para atender às exigências da métrica, da rima, da estrofação, etc.
a)   Explique a licença poética “solicitada” por Cacaso na terceira estrofe.
O quarto verso seria “Pará capital Belém”. Esse verso não atenderia à sua única função, que é a de completar a estofe de quatro versos. Assim o poeta inverteu a ordem das palavras e as funções sintáticas, criando um verso absurdo e conseguindo a rima tônica em à, conformando-a ao modelo parodiado. Ironicamente, o verso absurdo e a rima forçada acentuam a crítica ao ufanismo nacionalista do texto original.

b)   Na terceira estrofe, outro símbolo nacionalista tirado da natureza – as palmeiras – é substituído por Palmares, com letra maiúscula. Escreva um pequeno comentário sobre essa estrofe, a partir dessa substituição.
Essa substituição, irônica, é um acrítica ao nacionalismo ufanista, que procura encobrir as mazelas de nossa história (“memória cala-te já”). Enquanto as palmeiras simbolizam o orgulho pelas belezas naturais da terra natal, Palmares, quilombo chefiado por Zumbi no século XVII, é o símbolo da resistência dos negros à escravidão, uma das maiores chagas em nossa memória coletiva.

04 – O “milagre econômico” dos anos 1970 era apresentado como a arrancada do Brasil como país emergente. Os problemas sociais, entretanto, eram aprofundados, como sugere, ironicamente, a segunda estrofe. Comente os dois últimos versos, colocados entre parênteses pelo autor.
      Esses versos sugerem, ironicamente, o aprofundamento de um dos maiores problemas brasileiros, a educação, na fase do “milagre econômico”. O poeta duvida da grafia de uma palavra comum, “passarinho”, e escreve-a incorretamente, com ç.


EDITORIAL: MENSAGEM PARA O UNIVERSO - BETH VOLPI - COM QUESTÕES GABARITADAS

EDITORIAL: Mensagem para o Universo
                
           Beth Volpi

        Dia desses, Ana Holanda chega com uma sugestão para o site de BONS FUÍDOS: “Vamos criar um espaço em que as pessoas expressem seus desejos e mandem para o Universo seus pedidos”. A ideia é favorecer a reflexão – se você tem claras as exigências da alma, dê um voto de fé, pois o vento tende a soprar a favor.
      A tal ferramenta na internet já nascia com um nome simpático: Mensagem na Garrafa. Claro, a sugestão foi aceita de pronto pela equipe. E não demorou nem meio dia para que as pessoas começassem a redigir seus recados.
        É interessante navegar nesse mar de intenções. Ali tem-se mesmo um panorama sobre os horizontes que almejamos. Encontros genuínos, afeto nas parcerias, convivência pacífica, auto aceitação, trabalho à vista para ser desenvolvido com dignidade... Há mudanças anunciadas, coragem prometida, pactos firmados consigo mesmo e sabedoria compartilhada.
        Vou aqui, então, ecoar tantos bons anseios e reproduzir a mensagem de algumas internautas. Uma descreve a felicidade: “Saber falar de si mesmo e ter coragem para ouvir um ‘não’. Ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta. Pedras no caminho? Guardo todas. Um dia vou construir u castelo”. Outra imagina um tempo “Onde todas as almas gêmeas possam se encontrar”. E outra ainda põe fé: “Se os amigos estiverem do nosso lado, tudo vai bem”.
        Nós, da redação, não duvidamos: os sonhos são como deuses e ganham realidade quando acreditamos neles. Até já!

                                   Beth Volpi. Revista Bons Fluídos, jun. 2007.
Entendendo o texto:
01 – Você já teve oportunidade de ler alguma edição da revista Bons Fluídos? Em caso afirmativo, o que você achou?
      Resposta pessoal do aluno.

02 – Se você não conhece essa revista, é possível saber pelo editorial aqui transcrito, e pelo título da publicação, de quais temas ou assuntos ela trata? Explique.
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Pelo editorial, é possível apenas inferir que a revista trata de assuntos ligados ao bem-estar das pessoas. Verifique apenas a coerência entre a resposta e a explicação fornecida.

03 – De acordo com o texto, o que é Mensagem na Garrafa?
      É o nome de um site em que internautas podem “depositar” suas mensagens.

04 – Por quem foi escrito o texto? Onde foi publicado?
      Beth Volpi. Publicado na Revista Bons Fluídos.

05 – Para você, o que a autora quis dizer com “Pedras no Caminho”? Explique.
      Resposta pessoal do aluno.

06 – Você concorda com a frase: “Se os amigos estiverem do nosso lado, tudo vai bem”. Justifique.
      Resposta pessoal do aluno.

sábado, 27 de abril de 2019

POEMA: OS SAPOS - MANUEL BANDEIRA - COM GABARITO

Poema: Os sapos
              Manuel Bandeira


Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.

Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
- "Meu pai foi à guerra!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".

O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado.

Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.

O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.

Vai por cinquenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A fôrmas a forma.

Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas..."

Urra o sapo-boi:
- "Meu pai foi rei!"- "Foi!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".

Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
- A grande arte é como
Lavor de joalheiro.

Ou bem de estatuário.
Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
Canta no martelo".

Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas,
- "Sei!" - "Não sabe!" - "Sabe!".

Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Veste a sombra imensa;

Lá, fugido ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No perau profundo
E solitário, é

Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio...
  
  Manuel Bandeira. Estrela da vida inteira. 2. ed. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1970. p. 51-2.

Entendendo o poema:

01 – Os modernistas dos anos 1920 frequentemente tinham atitudes de ironia, deboche e crítica em relação à cultura oficial.
a)   Aponte no poema um exemplo de ironia ou deboche.
A própria crítica a poetas do passado, identificados como “sapos”; a provável referência ao pai de Olavo Bilac, herói na Guerra do Paraguai; o emprego de expressões como “parnasiano aguado”.

b)   Que movimento literário, visto como representante da cultura oficial, é satirizado? Comprove sua resposta com elementos do texto.
O Parnasianismo, que tinha uma concepção formalista de arte. A referência ao movimento se encontra na expressão “parnasiano aguado” e nos versos “—A grande arte é como / Lavor de Joalheiro”, que lembram o poema “A profissão de fé”, de Olavo Bilac.

c)   A fala do sapo-tanoeiro, delimitada pelas aspas, veicula o princípio básico do movimento literário satirizado. Qual é esse princípio?
O princípio da perfeição formal.

02 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:
·        Cético: cheio de dúvida.

·        Cognatos: termos que têm o radical em comum, como, por exemplo, pedra e pedreiro.

·        Frumento: o melhor trigo.

·        Joio: planta que nasce entre o trigo e prejudica seu desenvolvimento.

·        Perau: barranco, abismo.

·        Transido: penetrado, repassado de frio, dor ou medo.

03 – Explique a oposição feita entre poesia e artes poéticas na 7ª estrofe.
      Considerando que são os sapos que estão falando, poesia corresponde à “verdadeira poesia”, na concepção parnasiana, ou seja, perfeita formalmente; em oposição a ela, as “artes poéticas”, vistas com desprezo, correspondem à poesia de orientação modernista.

04 – Faça uma pesquisa, no dicionário ou com o professor de biologia, sobre os quatro tipos de sapo mencionados no poema: Sapo-boi; sapo-tanoeiro (ou ferreiro), sapo-cururu e sapo-pipa. Depois responda:
a)   De que modo o poeta sugere o som característico dos sapos?
Empregando expressões e versos bastante ritmados, que têm uma função onomatopeia no texto, “— ‘Não foi’ / -- ‘Foi’ / -- ‘Não foi!’”.

b)   Na hierarquia dos sapos, pelo critério da raridade, qual dos sapos mencionados é o mais simples e comum em nosso país?
O sapo-cururu.

c)   Nesse poema, os sapos são metáforas de tendências estéticas da literatura brasileira. Considerando-se a condição precária (“Sem glória, sem fé”) do sapo-cururu, o que ele pode representar no cenário cultural brasileiro?
Pode representar o nascer de uma nova poesia ou arte brasileira: simples, cotidiana e à margem da “grita” acadêmica.

05 – Que recurso sonoro o poeta utiliza na primeira estrofe para imitar a marcha saltitante dos sapos?
      O poeta utiliza a aliteração: papos, pulos, sapos.

06 – Em meio à algazarra dos medíocres, quem simboliza a solidão do artista superior?
      O sapo-cururu.

07 – Em que versos o poeta resume a sua denúncia do equívoco parnasiano de que a boa métrica e a rima constituiriam a excelência da forma e da poesia?
      Em “Reduzi sem danos / A formas a forma”.

08 – Qual dos sapos caracteriza a vaidade excessiva de alguns parnasianos?
      O sapo-pipa.

09 – Sabendo-se que os três primeiros sapos simbolizam os poetas parnasianos, quem estaria sendo simbolizado pelo sapo-cururu?

      Os poetas modernistas.



MENSAGEM ESPÍRITA: PEGADAS LUMINOSAS - JOANA DE ANGELIS - O LIVRO DOS ESPÍRITOS - ALLAN KARDEC - PROGRESSÃO DOS ESPÍRITOS - PARA REFLEXÃO

Mensagem: Pegadas Luminosas - Joana de Angelis


Se queres ser feliz, Auxilia!!!
Se desejas que te ouçam, Ouça!!!
Se queres ser amado, Ame!!!
Quando descobrires o caminho, e, ao,
indicá-lo fores desacreditado;


crê em ti e segue, pois
algum dia vislumbrarás bem distante
espontar pequenas luzes na estrada.
Assim é a vida!!!
Um longo caminho!!!
Um grande aprendizado!!!
Onde o correto, o verdadeiro por
vezes começa só, mas um dia
perceberá muitos a seguí-lo.
Portanto: Não te afastes de tuas
verdadeiras convicções!!!
Não questiones se fostes ouvido,
seguido ou amado!!!
Esta estrada a ser achada é individual.
É longa, cheia de percalços e para
muitos ainda está bloqueada!!!
Procura afastar as pedras
de teu caminho e se conseguires
afasta também as do teu próximo.
Sem que ele perceba
propicia-lhe um atalho.
Deixa o caminho pronto e segue!!!
Completa a tua Obra
e Crê naqueles que te enviam Luzes.
"Vive de tal forma, que deixes pegadas
luminosas no caminho percorrido,
como estrelas apontando
o rumo da felicidade"

                                      Joana de Angelis

Mensagens Espírita: O livro dos Espíritos

ALLAN KARDEC – Tradução Matheus R. Camargo
Perguntas e respostas
                      Livro Segundo
MUNDO ESPÍRITA OU DOS ESPÍRITOS
                       Capítulo I
        SOBRE OS ESPÍRITOS
PROGRESSÃO DOS ESPÍRITOS

114 – Os Espíritos são bons ou maus por natureza, ou eles mesmos procuram melhorar-se?
      -- São os próprios Espíritos que melhoram. Melhorando, passam de uma ordem inferior a uma mais elevada.

115 – Entre os Espíritos, uns foram criados bons e outros maus?
      -- Deus criou todos os Espíritos simples e ignorantes, isto é, sem conhecimento. A cada um deu uma missão, com a finalidade de iluminá-los e de conduzi-los progressivamente à perfeição – pelo conhecimento da verdade –, para aproximá-los d’Ele. Para eles, a felicidade pura e eterna consiste nessa perfeição. Os Espíritos adquirem esses conhecimentos passando pelas provações que Deus lhe impõe. Alguns aceitam essas provações com submissão e alcançam mais rapidamente o objetivo de seu destino; outros não conseguem suportá-las sem lamento e, assim, por sua culpa, permanecem afastados da perfeição e da felicidade prometida.

115 a) De acordo com isso, os Espíritos parecem ser, em sua origem, como as crianças, ignorantes e sem experiência, mas que adquirem pouco a pouco os conhecimentos que lhes faltam, percorrendo as diferentes fases da vida?
      -- Sim, a comparação é justa; a criança rebelde permanece ignorante e imperfeita; ela se desenvolve mais ou menos de acordo com sua docilidade; mas a vida do homem tem um término, enquanto a dos Espíritos se estende ao infinito.

116 – Há Espíritos que permanecerão perpetuamente nos níveis inferiores?
      -- Não, todos irão tornar-se perfeitos. Eles mudam, mas isso demora; pois, como já dissemos, um pai justo e misericordioso não pode banir eternamente seus filhos. Pretenderíeis que Deus, tão grande, bom e justo, fosse pior que vós?

117 – Depende dos Espíritos acelerar seu progresso rumo à perfeição?
      -- Certamente. Eles chegam mais ou menos rapidamente, conforme seu desejo e submissão à vontade de Deus. Uma criança dócil não se instrui mais depressa que uma criança teimosa?

118 – Os Espíritos podem degenerar?
      -- Não; à medida que avançam, compreendem o que os afasta da perfeição. Concluindo uma provação, o Espírito adquire conhecimento e não o esquece. Pode permanecer estacionário, mas não retrocede.

119 – Deus não poderia liberar os Espíritos das provações que devem sofrer para chegar à primeira ordem?
      -- Se tivessem sido criados perfeitos, não teriam mérito para desfrutar dos benefícios dessa perfeição. Sem a luta, onde estaria o mérito? Aliás, a desigualdade que existe entre eles é necessária à sua personalidade, e, depois, a missão que cumprem nesses diferentes graus está nos desígnios da Providência, para a harmonia do Universo.
      Uma vez que, na vida social, todos os homens podem chegar aos primeiros postos, caberia também perguntar por que o soberano de um país não faz, de cada um de seus soldados, um general; por que todos os empregados subalternos não são superiores; por que todos os estudantes não são mestres? Ora, entre a vida social e a vida espiritual existe a diferença de que a primeira é limitada e nem sempre permite que se suba os degraus, enquanto a segunda é indefinida e concede a cada um a possibilidade de elevar-se ao posto supremo.

120 – Todos os Espíritos passam pelo caminho do mal para chegar ao bem?
      -- Não pelo caminho do mal, mas pelo caminho da ignorância.

121 – Por que certos Espíritos seguiram o caminho do bem e outros o do mal?
      -- Eles não têm seu livre-arbítrio? Deus não criou Espíritos maus, Ele os criou simples e ignorantes, ou seja, tão aptos para o bem quanto para o mal. Os que são maus tornaram-se assim por sua vontade.

122 – Como os Espíritos, em sua origem, quando ainda não têm consciência de si mesmos, podem ter a liberdade de escolha entre o bem e o mal? Há neles um princípio, uma tendência qualquer que os leve mais para um caminho que para outro?
      -- O livre-arbítrio desenvolve-se à medida que o Espírito adquire a consciência de si mesmo. Não mais haveria liberdade se a escolha fosse provocada por uma causa independente da vontade do Espírito. A causa não está nele, e sim fora dele, nas influências a que cede, mas em virtude de sua vontade livre. Esta é a grande figura da queda do homem e do pecado original: uns cederam à tentação, outros resistiram.

122 a) De onde vêm as influências que são exercidas sobre ele?
      -- De Espíritos imperfeitos que procuram envolve-lo, dominá-lo, e que ficam felizes com o fato d fazê-lo sucumbir. Foi o que se quis simbolizar com a figura de satanás.

122 b) Essa influência só é exercida sobre o Espírito em sua origem?
      -- Ela o segue em sua vida de Espírito, até que ele tenha adquirido o domínio de si mesmo a ponto de os maus desistirem de obsidiá-lo.

123 – Por que Deus permitiu que os Espíritos pudessem seguir o caminho do mal?
      -- Como ousais pedir a Deus satisfações sobre Seus atos? Pensais poder invadir Seus desígnios? No entanto, podeis dizer isto: a sabedoria de Deus está na liberdade de escolha que Ele dá a cada um, pois cada um tem o mérito sobre suas obras.

124 – Por haver Espíritos que, desde o princípio, seguem a rota do bem absoluto, e outros a do mal absoluto, há sem dúvida gradações entre esses dois extremos?
      -- Certamente que sim – é a grande maioria.

125 – Os Espíritos que seguirem a rota do mal poderão chegar ao mesmo grau de superioridade que os outros?
      -- Sim, mas as eternidades serão mais longas para eles.
      Por essa palavra eternidades deve-se entender a ideia que os Espíritos inferiores têm da perpetuidade de seus sofrimentos, pois não lhes é permitido ver seu término, e essa ideia se renova em todas as provas em que sucumbem.

126 – Os Espíritos que chegam ao grau supremo após terem passado pelo mal, têm, aos olhos de Deus, menos mérito que os outros?
      -- Deus contempla os desgarrados com o mesmo olhar, e os ama a todos do mesmo modo. Eles são chamados de maus porque sucumbiram: até então, eram apenas Espíritos simples.

127 – Os Espíritos são criados iguais em faculdades intelectuais?
      -- São criados iguais, mas, por não saberem de onde vêm, é preciso que o livre-arbítrio siga seu curso. Eles progridem mais ou menos rapidamente, tanto em inteligência quanto em moralidade.
      Os Espíritos que seguem a rota do bem desde o princípio nem por isso são Espíritos perfeitos. Se não têm más tendências, nem por isso estão livres de ter de adquirir a experiência e os conhecimentos necessários à perfeição. Podemos compará-los às crianças que, não importa qual seja a bondade de seus instintos naturais, têm necessidade de se desenvolver e se instruir, e não o conseguem sem a transição da infância à idade madura. Porém, assim como existem homens que são bons e outros que são maus desde sua infância, também existem Espíritos que são bons ou maus desde sua origem. A diferença fundamental é que a criança tem seus instintos já formados, enquanto o Espírito, em sua transformação, não possui mais maldade do que bondade; ele tem todas as tendências, e torna uma ou outra direção devido a seu livre-arbítrio.



SONETO: EU CANTAREI DE AMOR TÃO DOCEMENTE - LUÍS VAZ DE CAMÕES - COM GABARITO

Soneto: Eu cantarei de amor tão docemente
                         
        Luís Vaz de Camões

Eu cantarei de amor tão docemente,
por uns termos em si tão concertados,
que dois mil acidentes namorados
faça sentir ao peito que não sente.

Farei que amor a todos avivente,
pintando mil segredos delicados,
brandas iras, suspiros magoados,
temerosa ousadia e pena ausente.


Também, Senhora, do desprezo honesto
de vossa vista branda e rigorosa,
contentar me hei dizendo a menos parte.

Porém, para cantar de vosso gesto
a composição alta e milagrosa,
aqui falta saber, engenho e arte.

Luís de Camões. In: Rimas. Edição de A. J. da Costa Pimpão.
Coimbra, Atlântida Editora, 1973.
Entendendo o soneto:
01 – Na 1ª estrofe do soneto de Luís de Camões, o eu-lírico expressa um desejo. Que desejo é esse?
a) De que as pessoas não devem amar, porque o amor só traz sofrimento e amarguras.
b) De que as pessoas consertem os seus erros e possam amar verdadeiramente.
c) De decifrar o amor, porque, para ele, é um sentimento misterioso.
d) De conseguir nesta vida um amor que possa lhe fazer feliz.
e) De que as pessoas que não amam, possam desfrutar desse sentimento único, que é o amor.

02 – Ao dizer “Farei que o amor a todos avivente”, o eu-lírico quer que:
a) o amor preencha o vazio da vida das pessoas.
b) o amor dê vida, alegria e transforme as pessoas.
c) o amor conquiste os que têm medo de amar.
d) as pessoas vivam exclusivamente pelo amor.
e) as pessoas não queiram amar, porque ele faz sofrer.

03 – No poema de Luís de Camões, podemos verificar uma das características do Classicismo. Que característica é essa?
a) A referência à mitologia greco-latina.
b) A reverência ao passado glorioso de Portugal e ao povo português.
c) A preferência por temas universais, como o amor.
d) A preocupação com os desconsertos do mundo.
e) O uso da medida velha, com versos de 5 e 7 sílabas poéticas.

04 – O eu-lírico reconhece, na última estrofe, que:
a) ele ama incondicionalmente a sua musa e nada pode mudar isso.
b) ele não é capaz de amar a senhora na intensidade que ela merece.
c) em seu coração não cabe amor tão grande e sublime.
d) ele não tem força para resistir a este amor que o maltrata.
e) ele não tem competência para descrever poeticamente os gestos da amada.

05 – Ao analisar o gênero literário poesia, de Luís de Camões, podem ser considerados corretos os itens:
I – O poema, conforme a sua estrutura, pode ser classificado como soneto.
II – Os três últimos versos são decassílabos.
III – Em todos os versos do poema, verificam-se rimas ricas.
IV – A primeira e a segunda estrofes são denominadas de quarteto.
V – As rimas das duas primeiras estrofes são, quanto à sua posição na estrofe, classificadas como paralelas.
a) I, II e IV.
b) I, III e V.
c) II, IV e V.
d) I, II e V.
e) II, III e IV.

06 – Ao analisar a expressão, “temerosa ousadia”, percebe-se o uso da figura de linguagem:
a) Eufemismo.
b) Metáfora.
c) Ironia.
d) Paradoxo.
e) Prosopopeia.

07 – Ao dizer “aqui falta saber, engenho e arte”, a palavra “engenho”, neste verso, pode ser substituída por:
a) sabedoria.
b) orientação.
c) habilidade.
d) humildade.
e) esperteza.  

08 – Para facilitar o entendimento do soneto, copie a primeira e terceira estrofes, desfazendo os versos e reorganizando o período na ordem direta.
      Eu cantarei de amor tão docemente, por uns termos em si tão concertados, que dois mil acidentes namorados, faça sentir ao peito que não sente. Também, Senhora, contentar-me-ei dizendo a menos parte do desprezo honesto de vossa ira branda e rigorosa.

09 – Qual o número de sílabas métricas dos versos do soneto?
      Dez sílabas métricas.

10 – Utilizando letras, faça o esquema das rimas do soneto.
      ABBA – ABBA – CDE – CDE.

11 – O tema deste soneto é a própria poesia lírica amorosa.
a)   Primeira estrofe: Qual é o propósito anunciado pelo sujeito lírico?
É o propósito de fazer um canto de amor tão doce e tão harmonioso que até os corações insensíveis se emocionem.

b)   Segunda estrofe: Enumerando as características com que o amor será descrito em seu canto, o poeta utiliza dois paradoxos. Reconheça-os.
“Brandas iras” e “Temerosa ousadia”.

12 – Nos dois tercetos, o poeta diz como será, em seu canto, a descrição da mulher amada.
a)   Como ele vê a mulher: de modo realista ou idealizado?
De modo idealizado.

b)   Qual a principal característica da mulher?
O pudor, o recato.

c)   O poeta diz que conseguirá descrever apenas parcialmente o comportamento honesto e recatado de sua amada. No último terceto ele idealiza também a sua beleza física (o rosto). Ele se julga capaz de retratá-la? por quê?
Ele não se julga capaz de retratar a beleza física de sua amada porque, para isso, são insuficientes o seu saber, o seu talento e a sua eloquência.