sexta-feira, 27 de julho de 2018

ATIVIDADE DE GRAMÁTICA E ORTOGRAFIA - COM GABARITO

ATIVIDADE DE GRAMÁTICA E ORTOGRAFIA


01 – Circule os encontros vocálicos das palavras:

 Peneira    coração     fêmea     besouro     joelho    poeta   iguais     gaiola   
            

02 – Separe as sílabas das palavras e classifique os encontros vocálicos (ditongo, tritongo ou hiato):

Uruguai = U – ru – guai   -   tritongo.
Padeiro = Pa – dei – ro   -   ditongo.

Lua = Lu – a   -   hiato.
Carruagem = Ca – ru – a – gem   -   hiato.
Água = Á – gua   -   ditongo.
Saguão = As – guão   -   tritongo.
Saúde = Saú – de   -   ditongo.

03 – Separe as sílabas das palavras e classifique-as quanto ao número de sílabas (monossílaba, dissílaba, trissílaba, polissílaba)

Mês = Mês   -   monossílabo.
Construção = Cons – tru – ção   -   trissílaba.
Nascimento = Nas – ci – men – to   -   polissílaba.
Noite = Noi – te   -   dissílaba.
Sol = Sol   -   monossílaba.
Pacote = Pa – co – te   -   trissílaba.
Passarinho = Pas – sa – ri – nho   -   polissílaba.
Casca = Cas – ca   -   dissílaba.


04 – Agora você irá separar as sílabas e classificar as palavras quanto à sua tonicidade (oxítona, paroxítona, proparoxítona).

Armazém = Ar – ma – zém   -- oxítona.
Javali = Já – va – li   --   oxítona.
Cerimônia = Ce – ri – mô – ni – a   --   paroxítona.
Médico = Mé – di – co   --   paroxítona.
Cansaço = Can – sa – ço   --   paroxítona.
Freguês = Fre – guês   --   oxítona
Método = Mé – to – do   --   proparoxítona.
Peteca = Pe – te – ca   --   paroxítona.



05 – Reescreva as frases colocando-as no plural. Faça a concordância corretamente.

a – Esse estudante passou no teste.
      Esses estudantes passaram nos testes.

b – Aquele cão é manso e agradável com o vizinho.
      Aqueles cães são mansos e agradáveis com os vizinhos.

c – A empregada jogou o jornal velho no lixo.
      As empregadas jogaram os jornais velhos nos lixos.

d – O pastel que comprei na feira estava delicioso.
      Os pasteis que compramos nas feiras estavam deliciosos.

06 – Passe para o singular:

Lápis azuis = lápis azul.
Juízes honestos = Juiz honesto.
Répteis perigosos = Réptil perigoso.
Estações ferroviárias = Estação ferroviária.
Heróis nacionais = Herói nacional.

ATIVIDADES -- Sujeito e Predicado

01 – Relacione a 2ª coluna de acordo com a 1ª.

(1) Sujeito.
(2) Predicado.

(1) A Terra gira suavemente.
(2) Godofredo é muito gozador.
(1) Os testes foram cancelados.
(2) Os atletas ficaram felizes e emocionados.

02 – Separe os sujeitos e predicado das orações abaixo:

a) Na praia fazia muito calor.
Sujeito: Na praia
Predicado: fazia muito calor.

b) O ônibus escolar chegou cedo no ginásio.
Sujeito: O ônibus escolar
Predicado: chegou cedo no ginásio.

c) Ariana e Luana saíram de férias.
Sujeito: Ariana e Luana
Predicado: saíram de férias.

d) Havia cavalos, cabritos e patos no sítio do meu vizinho.
Sujeito: No sítio do meu vizinho
Predicado: havia cavalos, cabritos e patos.

e) Os animais foram bem cuidados no zoológico.
Sujeito: Os animais
Predicado: foram bem cuidados no zoológico.

f) A arara e o papagaio são duas aves brasileiras.
Sujeito: A arara e o papagaio
Predicado: são duas aves brasileiras.

g) O palhaço paçoquinha vive no Circo da Alegria.
Sujeito: O palhaço paçoquinha
Predicado: vive no Circo da Alegria.





POEMA: SONETO 11 - LUÍS VAZ DE CAMÕES - COM GABARITO

Poema: SONETO 11
         Luiz Vaz de Camões

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
                                                        
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o amor?
                                                                          Luís Vaz de Camões.

Entendendo o poema:

01 – Nesse poema Camões fornece diversas definições para “amor”. Cite-as.
      Para Camões o amor é fogo, é ferida, é contentamento, é dor. Mas sempre procurando conceituar a natureza contraditória do amor. Por meio da razão, buscou analisar um sentimento vago, imensurável. Não havendo como separar o que sentia do que pensava, por serem movimentos antagônicos, o texto resulta em contradições e paradoxos.

02 – Você concorda com alguma dessas definições? Qual(is) e por quê?
      Resposta pessoal do aluno.

03 – No primeiro verso, o poeta diz que o “Amor é fogo que arde sem se ver”. Explique o porquê?
      Para o poeta o amor é como o fogo, forte, devastador, intenso. Mas por ser um sentimento, não o vemos, é algo interior, apenas sentimos.

04 – Explique o verso: “É um solitário andar por entre a gente”.
      Trata-se de mais um verso contraditório do poeta, que mesmo estando entre várias pessoas sente-se sozinho.

05 – De acordo com sua leitura e interpretação, como o autor entende o amor? Justifique sua resposta com passagens o texto.

      Resposta pessoal do aluno.

06 – Que tipo de amor o poeta está cantando, amor físico ou idealizado?
      Amor idealizado.

07 – O que vem a ser amor idealizado?
      É um amor muito planejado pela pessoa, na maioria das vezes todo perfeitinho, e que geralmente está longe de ser um amor real.

08 – O texto se apresenta em que gênero?
      Apresenta no gênero lírico.   

09 – Analise as afirmativas a seguir:
I – O poema explora o recurso da conotação. 
II – É possível perceber a intertextualidade no texto. 
III – Esse poema retrata uma época específica.
        É correto o que se afirma em:
a) apenas I.
b) apenas II.
c) apenas I e II.
d) apenas I e III.
e) apenas II e III.

10 – De acordo com o poema, qual é a palavra que inicia e termina o poema?
      A palavra é Amor.

11 – No verso: “É ferida que dói e não se sente”, qual é a parte que representa:
·        Exteriormente: “É ferida que dói.”
·        Interiormente: “E não se sente”.

12 – Como é formado este poema?
      É formado por dois quartetos e dois tercetos.

13 – Qual é o tipo de linguagem utilizado no poema?
      Linguagem antítese.

14 – Quanto a sua forma, o poema de Luís Vaz de Camões, é:
a)   Um soneto.
b)   Uma elegia.
c)   Um madrigal.
d)   Uma écloga.
e)   Uma ode.





FÁBULA: O BURRO QUE VESTIU A PELE DE UM LEÃO - ESOPO - COM GABARITO

Fábula: O burro que vestiu a pele de um leão
               ESOPO


        Um burro encontrou uma pele de leão que um caçador tinha deixado largada na floresta. Na mesma hora o burro vestiu a pele e inventou a brincadeira de se esconder numa moita e pular fora sempre que passasse algum animal. Todos fugiam correndo assim que o burro aparecia. O burro estava gostando tanto de ver a bicharada fugir dele correndo que começou a se sentir o rei leão em pessoa e não conseguiu segurar um belo zurro de satisfação. Ouvindo aquilo, uma raposa que ia fugindo com os outros parou, virou-se e se aproximou do burro rindo:
        —    Se você tivesse ficado quieto, talvez eu também tivesse levado um susto. Mas aquele zurro bobo estragou sua brincadeira!

        Moral: Um tolo pode enganar os outros com o traje e a aparência, mas suas palavras logo irão mostrar quem ele é de fato.

Fábulas de Esopo. Tradução Heloisa Jahn.
São Paulo: Companhia das Letrinhas, 1.994. p. 70
Entendendo a fábula:
01 – No trecho “Mas aquele zurro bobo estragou sua brincadeira”, a palavra sublinhada refere-se à brincadeira:
(X) do burro.
(   ) do caçador.
(   ) do leão.
(   ) da raposa.

02 – O burro “não conseguiu segurar um belo zurro de satisfação” quer dizer que o burro soltou um som de:
(X) alegria.     
(   ) desanimo.
(   ) dúvida
(   ) espanto.

03 – Para entender o texto, é preciso saber que o burro é um animal:
(   ) bravo.
(X) esperto.
(   ) tolo.
(   ) feroz.

04 – O burro assustou os bichos quando:
(   ) encontrou uma pele de leão.
(   ) estragou a pele de um leão.
(   ) segurou a pele de um leão.
(X) vestiu a pele de um leão. 
      
05 – Todos os bichos fugiam correndo porque tinham medo de:
(   ) burro.
(   ) caçador.
(X) leão.
(   ) raposa.

06 – O ponto de exclamação em “Mas aquele zurro bobo estragou sua brincadeira!”, indica que a raposa está:
(   ) chorosa.
(X) gozadora.
(   ) irritada.
(   ) quieta.



CONTO: PESCARIA - JOSÉ PAULO PAES - COM GABARITO

Conto: Pescaria  


Um homem
Que se preocupava demais
Com coisas sem importância
Acabou ficando com a cabeça cheia de minhocas.
Um amigo lhe deu então uma ideia
De usar as minhocas
Numa pescaria
Para se distrair das preocupações,
O homem se distraiu tanto
Pescando
Que sua cabeça ficou leve


Como um balão
E foi subindo pelo ar
Até sumir nas nuvens.
Onde será que foi parar?
Não sei
Nem quero me preocupar com isso.
Vou mais é pescar.
PAES, José Paulo. Pescaria. In: ______.
Palavra de poeta. São Paulo: Ática, 2002.
Entendendo o conto:
01 – No verso “acabou ficando com a cabeça cheia de minhocas”, a expressão grifada poderia ser substituída por:
A) minhocas penduradas nos cabelos.
B) muitas dores na cabeça.
C) a cabeça cheia de preocupações.
D) muitas preocupações com as minhocas.

02 – A cabeça do homem ficou leve. A pescaria contribuiu para ele:
A) livrar-se dos problemas.
B) livrar-se das minhocas.
C) aprender a pescar.
D) esquecer quem ele era.

03 – De acordo com o texto, qual foi a ideia que um amigo deu-lhe?
      Usar as minhocas numa pescaria.

04 – O homem se distraiu tanto pescando, como ficou a cabeça dele?
      Leve feito um balão.    

05 – A pescaria foi tão boa, para acabar com suas preocupações. O que ele faz toda vez que fica preocupado?
      Ele vai pescar e esquecer dos problemas.

06 – Quem é o autor do texto?
      José Paulo Paes.



CRÔNICA: QUALIDADE DE VIDA - MARTHA MEDEIROS - COM GABARITO

CRÔNICA: Qualidade de vida
                 
              Martha Medeiros

        Os anos 90 insistiram numa ideia que virou sonho de consumo de todo mundo: qualidade de vida. Até hoje dá vontade de entrar numa loja e perguntar: tem qualidade de vida? Provavelmente nos responderiam que está em falta, muita procura, mas pode deixar encomendado.
        Qualidade de vida, se pudesse ser filmada, teria a cara de um comercial de margarina. Família bela e saudável, uma casa aconchegante, um dia de sol, café da manhã farto, papai empregado e filhos na escola. Qualidade de vida é um modelo de comportamento, qualidade de vida é um carro com um bagageiro enorme.
        E a qualidade das nossas emoções? Compra-se também. As mais fortes são as que têm mais saída. Tudo pelo preço de um ingresso de cinema.
        As pessoas têm estado cansadas demais para produzir seus próprios sentimentos. Assustadas demais para olhar para dentro. Confusas demais para reconhecer seus medos e desejos. Passivas demais para transformar tudo o que sentem em ativo. Procuram artigos prontos em vez de fabricá-los.
        Qualidade não vem com facilidade, não conquistamos com um estalar de dedos. Qualidade, essa palavra difícil de conceituar, só se consegue fazendo as coisas com amor, e eu mesma não me suporto dizendo uma coisa tão piegas, mas é que a pieguice tem lá seu cabimento e às vezes exige nossa rendição. Não há qualidade sem tratamento, sem olho atento, sem uma bela intenção.
        Qualidade é tudo o que a gente ordena sem precisar gritar, é a maneira educada com que nos relacionamos com as pessoas, é o cumprimento de nossas tarefas com responsabilidade, é o compromisso que estabelecemos com a gente mesmo de fazer as coisas da maneira menos estabanada.
        Qualidade é a verdade dos fatos, é não teatralizar a vida. É reconhecer-se humilde diante das nossas falhas, tantas. E tentar errar menos.
        Qualidade é viver de acordo com nossas possibilidades, administrar a vida com a humanidade de que dispomos, chorar de ódio por sermos vulneráveis, mas pensar que melhor isso do que não termos sensibilidade alguma.
        Qualidade é amor que se sustenta, é amizade que não é um blefe, é confiança que não é traída, é demonstrar o que se sente, apertar a mão com firmeza, dizer não e dizer sim com a mesma honestidade, é a inocência de uma fé generalizada e crença na própria natureza.
        Parece uma oração, eu que sou quase agnóstica. Mas é isso. Qualidade é tudo o que não se desmancha facilmente.

MEDEIROS, Martha. Non-stop. Crônicas do cotidiano.
Porto Alegre: L&PM, 2001.
Entendendo o texto
01 – Qual é a primeira definição de qualidade de vida que aparece no texto?
      Qualidade de vida é um modelo de comportamento.

02 – Em que parágrafos da crônica relaciona-se qualidade de vida a consumismo?
      Qualidade de vida, se pudesse ser filmada, teria a cara de um comercial de margarina. Família bela e saudável, uma casa aconchegante, um dia de sol, café da manhã farto, papai empregado e filhos na escola.

03 – No quarto parágrafo, que situações caracterizam as pessoas e reforçam a ideia de que elas “Procuram artigos prontos em vez de fabricá-los.”?
      As pessoas têm estado cansadas demais para produzir seus próprios sentimentos. Assustadas demais para olhar para dentro. Confusas demais para reconhecer seus medos e desejos. Passivas demais para transformar tudo o que sentem em ativo.  

04 – Qual o sentido de “estalar os dedos”, no texto?
      Tem o sentido que nada se consegue na vida com facilidade.

05 – Que frase do texto a cronista considera piegas?
      Não há qualidade sem tratamento, sem olho atento, sem uma bela intenção.

06 – A que se referem os termos destacados em “E a qualidade das nossas emoções? “Compra-se também. As mais fortes são as que têm mais saída. Tudo pelo preço de um ingresso de cinema.”
      Refere-se ao nossos sentimentos.

07 – Qual é o tema do texto?
      É a qualidade de vida.

 08 – Retire do texto um trecho que revele ironia.
      Qualidade é a verdade dos fatos, é não teatralizar a vida. É reconhecer-se humilde diante das nossas falhas, tantas. E tentar errar menos.

09 – Quem é o autor do texto?
      Martha Medeiros.

10 – No 9° parágrafo, a autora fala de alguns sentimentos. Quais são?
      Fala de amor, amizade, confiança, honestidade, inocência e crença.




CONTO: VAI - IVAN ÂNGELO - COM GABARITO

CONTO: VAI    
              Ivan Ângelo

        Quer ir? Vai. Eu não vou segurar. Uma coisa que não dá certo é segurar uma pessoa contra a vontade, apelar pro lado emocional. De um jeito ou de outro isso vira contra a gente mais tarde: não fui porque você não deixou, ou: não fui porque você chorou. Sabe, existem umas harmonias em que é boa a gente não mexer. Estraga a música. Tem a hora dos violinos e tem a hora dos tambores.
   Eu compreendo, compreendo perfeitamente. Olha, e até admito: você muda pra melhor. Fora de brincadeira, acho mesmo. Eu sei das minhas limitações, pensei muito nisso quando estava tentando te entender. É, é um defeito meu, considerar as pessoas em primeiro lugar. Concordo. Mas não tem mais jeito, eu sou assim. Paciência.
        Sabe por que eu digo que você muda pra melhor? Ele faz tanta coisa melhor do que eu! Verdade. Tanta coisa que eu não aprendi por falta de tempo, de oportunidade – ora, pra que ficar me justificando? Não aprendi por falta de jeito, de talento, essa é a verdade. Eu sei ver as qualidades de uma pessoa, mesmo quando é um homem que vai roubar minha namorada. Roubar não: ganhar.
        Compara. Ele dança muito bem, até chama a atenção. Campeão de natação, anda de bicicleta como um acrobata de circo, é bom de moto, sabe atirar, é fera no volante, caça e acha, monta a cavalo, mete o braço, pesca, veleja, mergulha... Não tem companhia melhor.
        Eu danço mal, você sabe. Não consegui ultrapassar aquela fronteira larga entre a timidez e a ousadia, entre a discrição e o exibicionismo, que separa o mau e o bom bailarinos. Nunca fui muito além daquela fase em que uma amiga compadecida precisava sussurrar no meu ouvido: dois pra lá, dois pra cá.
        Atravessar uma piscina eu atravesso, uma vez, duas talvez, mas três? Menino de cidade, e modesto, não tive córrego nem piscina. É com olhos invejosos que eu o vejo na água, afiado como se tivesse escamas.
        Moto? Meu Deus, quem sou eu. Pra ser bom nisso é preciso ter aquele ar de quem vai passar roncando na frente ou por cima de todo mundo – esse ar ele tem.
        Montar? É preciso ter essa certeza, que ele tem, de que cavalo foi feito pra ser domado, arreado, freado e montado. Eu não tenho. Não tá em mim. Eu ia montar como se pedisse desculpas ao cavalo pelo incômodo, e isso não dá, não pode ser um bom cavaleiro.
        O jeito como ele dirige um carro é humilhante. Já viajei com ele, encolhido e maravilhado. Você conhece o jeitão, essa coisa de velocidade. Não vou ter nunca aquela noção de tempo, a decisão, o domínio que ele tem. Cada um na sua. Eu troquei a volúpia de chegar rapidinho pelo prazer de estar a caminho. No amor também.
        Caçar... Dar um tiro num bicho... Ele tem isso, a certeza de que o homem é o senhor do universo, tudo tá aí pra ele. Quem me dera. Quando penso naquela pelota quente de aço entrando no corpo do bicho, rasgando carne, quebrando ossos... Não, não tenho coragem.
        Ai é que eu estou perdido mesmo, no capítulo da coragem. Ele faz e acontece, já vi. Mas eu? Quantas vezes já levei desaforo pra casa. Levei e levo. Se um cachorro late para mim na rua, vou lá e mordo ele? Eu não. Mudo de calçada.
        Outra coisa: ele é mais engraçado do que eu. Fala mais alto, ri mais à vontade, às vezes chama até um pouco a atenção mas ...é da idade. Lembra aquela vez que ele levou um urubu e soltou na igreja no casamento do Carlinhos? E aquela vez que ele sujou de cocô de cachorro as maçanetas dos carros estacionados na porta da boate Lembra que sucesso? Os jornais falaram por dias naquilo. Não consigo ser engraçado assim. Não tá em mim. Por isso que eu não tenho mágoa. Ele é muito mais divertido. E mais bonito também.
        Vai.
        Olha, não quero dizer que o que eu vou falar agora tenha importância para você, que possa ter influído na sua decisão, mas ele tem mais dinheiro também, você sabe. Ele tem até, sabe? Aquele ar corajoso dos ricos, aquela confiança de entrar nos lugares. Eu não. Muito cristal me intimida. Os meus lugares são uns escondidos onde o garçom é amigo, o dono me confessa segredos, o cozinheiro acena lá do quadradinho e me reserva o melhor naco. É mais caloroso, mas não compensa o brilho, de jeito nenhum.
        Ele é moderno, decidido. Num restaurante não te oferece primeiro a cadeira, não observa se você tá servida, não oferece mais vinho. Combina, não é? Com um tipo de feminismo. A mulher que se sente, peça o que quiser, sirva-se, chame o garçom quando precisar. Também não procura saber se você tá satisfeita. Eu sei que é assim que se usa agora. Até no amor. Já eu sou meio antigo, ultrapassado, gosto de umas cortesias.
        Também não vou dizer que ele é melhor do que eu em tudo. Isso não. Eu sei, por exemplo, uns poemas de cor. Li alguns livros, sei fazer papagaios de papel, posso cozinhar uns dois ou três pratos com categoria, tenho certa paciência pra ouvir, sei uma ótima massagem pra dor nas costas, mastigo de boca fechada, levo jeito com crianças, conheço umas orquídeas, tenho facilidade pra descobrir onde colocar umas carícias, minhas camisas são lindas, sei umas coisas de cinema, não bato em mulher.
        E não sou rancoroso. Leva a chave para o caso de querer voltar.

                                                                           Ivan Ângelo.
Entendendo o texto:
01 – O texto se configura como um diálogo entre duas pessoas, embora só tenhamos acesso à fala do narrador.
a) Com quem o narrador fala, ou seja, quem é seu interlocutor?
      Com ele mesmo.

b) Sobre quem ele fala na maior parte do tempo?
      Fala da diferença entre ele e um amigo.   
 
02 – No 1° parágrafo, o narrador compara à musica o relacionamento que tem com a mulher. A que corresponderia, no relacionamento, a harmonia musical a que o narrador faz referência?
      Uma vez que o amor acaba, o melhor é deixar ir.

03 – No 2° parágrafo o narrador afirma ter compreendido a namorada e reconhece também que um de seus defeitos é pensar primeiro nos outros. Na sua opinião, esse hábito do narrador é, de fato, um defeito? Por quê?
      Resposta pessoal do aluno.   

04 – A partir do 3° parágrafo, o narrador justifica sua opinião de que ela está fazendo uma boa escolha.
a) Qual é a justificativa que ele apresenta inicialmente?
      Ele faz tanta coisa melhor do que eu!

b) Qual é a justificativa verdadeira, apresentada depois?
      Não aprendi por falta de jeito, de talento, essa é a verdade.

c) Que traços de seu caráter são evidenciados pela confissão que faz ao dar a verdadeira justi­ficativa?
      O reconhecimento do seu jeito de ser.

d) A frase ‘‘Roubar não: ganhar” comprova qual das duas justificativas? Por quê?
      Talento. Porque ele não teve a capacidade de cativar o namoro.

05 – No 4° parágrafo, o narrador cita várias qualidades de seu rival. Do 5° ao 10° parágrafos, comenta como ele próprio se sai nessas atividades em que o adversário se destaca.
a) Observe: o antagonista é bom ou exímio em:
Dança: Ele dança muito bem, até chama a atenção.
Natação: Campeão de natação.
Ciclismo: Anda como um acrobata de circo.
Motociclismo: Passa roncando na frente ou por cima de todo mundo.
Automobilismo: O jeito como ele dirige um carro é humilhante.
Vela: muito bom.
Mergulho: excelente.
Agora conclua: de que tipo são as atividades em que ele se destaca?
      Atividades esportivas.

b) Como o narrador se sai nesse tipo de atividades? Ele também se destaca ou tem um desempenho comum?
      Ele tem um desempenho comum.

06 – O narrador ainda cita mais algumas qualidades de seu rival: a coragem, o dinheiro, a beleza, a modernidade e o senso de humor. Essas qualidades, somadas às anteriores, são socialmente bem?
      Sim.    
 
07 – Observe as situações de humor comentadas no 1° parágrafo.
a) Se você fosse vítima dessas brincadeiras, você gostaria?
      Resposta pessoal do aluno.

b) Na sua opinião, essas situações demonstram senso de humor ou falta de respeito por parte do rival?
      Resposta pessoal do aluno. 
   
08 – Depois de discorrer sobre as qualidades do adversário por doze parágrafos (do 4° ao 15°), o narrador reúne todas as suas qualidades num único parágrafo, o penúltimo.
a) Que traço de sua personalidade esse fato revela?
      Que ele é uma pessoa culta, dedicado e atencioso.

b) Observe as qualidades do narrador, mencionadas nesse parágrafo:
Sabe poemas de cor; gosta de livros e cinema
Tem habilidades manuais (faz massagem e papagaios de papel)
Sabe cozinhar
É paciente para ouvir o outro
Tem bom-gosto para roupas
É educado e carinhoso
Conhece flores
Se dá bem com as crianças.

Com base nessas qualidades, caracterize o narrador como pessoa.
      Uma pessoa simples e dedicado.            
c) Compare essas qualidades do narrador às de seu rival. Quais são mais valorizadas socialmente, para você?
      Resposta pessoal do aluno.

09– O narrador e seu rival têm características bastantes diferentes.
a) Qual dos dois lhe parece ser mais humano e próximo do indivíduo comum? Cite algumas características que comprove a resposta.
 O narrador: -- Gostar de livros e cinema.
                    -- É paciente para ouvir os outros.
                    -- É educado e carinhoso.
                    -- Se dá bem com as crianças.
b) Qual dos dois se aproxima mais do tipo “ideal” de homem, “fabricado” pela TV, pelo cinema e pela propaganda? Comprove sua resposta com algumas características dessa personagem.
      O rival:  -- Rico.
                   -- Moderno.
                   -- Decidido.
                   -- Egoísta.

10 – Apesar de apresentar um tom bem-humorado, o texto faz críticas sociais.
a) Numa situação de separação amorosa, é normal haver brigas e ofensas entre o casal e, principalmente, críticas destrutivas ao rival que prejudica o relacionamento. Surpreendentemente, nesse texto isso não se verifica. Que efeito esse fato provoca?
      Mostra que com inteligência e sabedoria se vive bem melhor.
b) De forma sutil, o texto vai mostrando ao leitor que alguns valores humanos, mais interiores e profundos, são esquecidos socialmente. E, ao mesmo tempo, lança críticas a certos valores socialmente bem-aceitos. Quais são esses valores criticados?
      * As brincadeiras de mau gosto.
      * A arrogância.
      * O egoísmo.
      * A falta de humildade.     

11 – Ao descrever as “qualidades” de seu rival, o narrador sutilmente inverte a situação e acaba transformando essas qualidades em defeitos.
Embora não explícita, qual é a verdadeira intencionalidade do texto do narrador?
      Fazer a relação das diferenças entre os dois.
a) Que frase, da parte final do texto, comprova sua resposta anterior?
      “E não sou rancoroso.”
b) Considerando a verdadeira intencionalidade do texto, qual deveria ser o seu título?
      Resposta pessoal do aluno