terça-feira, 5 de dezembro de 2017

NOTÍCIA: A LUA NO BOLSO - FOLHA DE SÃO PAULO - COM GABARITO

Texto: A lua no bolso

        Noticiário elaborado com telegramas da AP, UPI e AFP.
        Exatamente às 23 horas, 56 minutos e 31 segundos (hora de Brasília), o comandante Neil A. Armstrong tocou o solo da Lua, descendo pela cabine do módulo lunar, 6h 38 depois de ter pousado na superfície do satélite natural da Terra. “A porta está se abrindo”, disse Armstrong às 23h 39. Um minuto depois o astronauta vislumbrava diretamente a superfície da Lua. Lentamente, com movimentos extremamente seguros, começou a descer a escadinha do módulo, pisando sempre com o pé esquerdo. Quando alcançou o segundo degrau a televisão começou a transmitir diretamente da Lua para a Terra, focalizando perfeitamente o astronauta. Já sobre o solo lunar, Armstrong afastou-se do módulo e começou a executar suas primeiras tarefas, tornando realidade um sonho milenar do homem. [...]
      Durante a descida, puxando um anel na fuselagem do módulo, Armstrong ligou uma câmera de televisão que transmitiu seu primeiro passo na Lua para a Terra.
        Armstrong disse ainda que “a superfície da Lua é fina e poeirenta, como carvão em pó sob meus pés. Posso ver as pegadas que minhas botas deixam nas finas partículas”. Comunicou que recolheu a primeira amostra e disse: “Agora vou tentar pegar uma pedra. Isso é muito interessante. A primeira impressão é de uma superfície muito branda. Mas agora parece ter muita consistência. Tentarei agora obter outra amostra”.
        Os médicos do Centro de Controle disseram que “a informação é boa e a tripulação lunar parece que vai bem”.
        Nas imagens vindas da Lua podia-se ver como pano de fundo o escuro do espaço e luminosamente branca – em contraste – a superfície da Lua sobre a qual a imagem de Armstrong parecia um tanto difusa em branco e preto.
        Caminhava como alguém que carrega um grande peso às costas.
        “É algo parecido com o deserto no Oeste dos Estados Unidos. Mas é muito bonito aqui fora”, acrescentou Armstrong.
        Disse que “estou achando difícil inclinar-me”, referindo-se aos movimentos que precisava fazer para apanhar as amostras, as quais começou a descrever.
        “Olhando para cima, para o módulo, eu estou diretamente na sombra. Agora estou vendo Buzz (Aldrin) nas janelas. Posso ver tudo muito claro”, disse Armstrong ao primeiro minuto do dia 21, hora de Brasília.
        Depois à zero e 16 minutos, Edwin Aldrin também desceu à superfície lunar.
        Antes de Aldrin descer, Armastrong fez uma rápida revisão visual no módulo, declarando que estava dando para ver tudo com clareza.
        “Ok, Buzz, você está pronto para descer?” perguntou Armstrong. Aldrin, em resposta, começou a descer vagarosamente a escada. “Precisamos tomar cuidado e inclinar-nos na direção em que queremos ir”, disse um dos astronautas para o outro. “Principalmente se você quer cruzar os pés.” Às vezes eles pareciam estar realizando exercícios físicos, especialmente com os braços. “Não se afunda mais que poucos centímetros quando se caminha”, acrescentou Aldrin. Os dois se comunicavam pelo rádio, pois com seus capacetes e trajes espaciais selados não poderiam conversar doutra forma. Houve problemas de falta de foco com a câmara e certas interrupções.

                                    Folha de São Paulo. São Paulo, 21 jul. 1969.
      In: Kauffmann, Carlos; Mota, Vinícius. Primeira página: Folha de São Paulo.
                                                                         São Paulo: Publifolha, 2006. p. 113. (Fragmento).
Interpretação do texto:
01 – O texto acima foi escrito para cumprir uma finalidade específica. Qual é ela?
      Informar como se deu a chegada do primeiro homem à Lua.

a)   Como essa finalidade é alcançada?
O texto informa, de modo detalhado, como o astronauta americano Neil Armstrong, primeiro, e depois seu companheiro Edwin “Buzz” Aldrin saem do módulo lunar e tocam a superfície da Lua. Traz também uma série de impressões de Neil Armstrong sobre a cobertura do solo lunar e o grau de dificuldade para se movimentar colher amostras, etc.
02 – O título do texto – “A Lua no bolso” – pode ser interpretado literalmente? Explique.
      Não. Porque não é possível colocar um satélite do tamanho da Lua no bolso, como também é absurda a ideia de que ela poderia ser “retirada” do espaço. O título precisa, portanto, ser interpretado de modo figurado. No contexto, a expressão pôr “a Lua no bolso” ganha uma conotação metafórica e significa conquistar a Lua.
a)   Que relação de sentido pode ser identificada entre o título e o texto?
Como o texto informa detalhadamente a “conquista” da Lua pelo homem, descrevendo o sucesso da primeira missão tripulada a aterrissar no satélite da Terra, o título antecipa, com uma metáfora, o resultado da missão. Como os homens conquistaram a Lua, estavam com ela “no bolso”.

03 – Releia o trecho abaixo para responder à questão.
        “Exatamente às 23 horas, 56 minutos e 31 segundos (hora de Brasília), o Comandante Neil A. Amstrong tocou o solo da Lua, descendo pela cabine do módulo lunar, 6h38 depois de ter pousado na superfície do satélite natural da Terra. “A porta está se abrindo”, disse Armstrong às 23h39. Um minuto depois o astronauta vislumbrava diretamente a superfície da Lua. Lentamente, com movimentos extremamente seguros, começou a descer a escadinha do módulo, pisando sempre com o pé esquerdo. Quando alcançou o segundo degrau a televisão começou a transmitir diretamente da Lua para a Terra, localizando perfeitamente o astronauta. Já sobre o solo lunar, Armstrong afastou-se do módulo e começou a executar suas primeiras tarefas, tornando realidade um sonho milenar do homem.”

a)   O autor do texto tomou o cuidado de oferecer, no primeiro parágrafo, uma série de informações que permitissem ao leitor responder a algumas perguntas: o quê? quem? quando? como? por quê? No caderno, transcreva do texto as respostas para tais perguntas.
O quê? A chegada do homem à Lua.
Quem? O astronauta americano Neil Armstrong.
Quando? Exatamente às 23 horas, 56 minutos e 31 segundos do dia 20 de julho de 1969.
Como? Descendo a escadinha do módulo lunar, depois de ter pousado na superfície do satélite natural da Terra.
Por quê? Para tornar realidade um sonho milenar do homem: a conquista da Lua.

04 – Agora, compare as informações apresentadas no primeiro parágrafo ao tipo de informação que consta das parágrafos seguintes. Podemos afirmar que elas cumprem funções diferentes. Por quê?
      As informações oferecidas no primeiro parágrafo ajudam o leitor a se situar diante do fato relatado. Nesse sentido, trazem dados precisos para responder às perguntas: “o quê? Quem? Quando? Como? Por quê? .
      Nos parágrafos seguintes, o texto traz informações mais ampliadas e detalhadas sobre o acontecimento relatado no parágrafo inicial. Os demais parágrafos do texto trazem novas informações que ajudam o leitor a compreender melhor as circunstâncias em que o fato noticiado ocorreu, mas não modificam o foco do texto, estabelecido no primeiro parágrafo.

05 – As aspas foram utilizadas com frequência ao longo do texto. Observe as seguintes passagens:
        “A porta está se abrindo”, disse Armstrong às 23h39.
        Armstrong disse ainda que “a superfície à Lua é fina e poeirenta, como carvão em pó sob meus pés. Posso ver as pegadas que minhas botas deixam nas finas partículas”.
        “É algo parecido como o deserto no Oeste dos Estados Unidos. Mas é muito bonito aqui fora”, acrescentou Armstrong.
a)   Analise o uso das aspas nas passagens acima. Pode se afirmar que, em todos os casos, elas foram utilizadas para atribuir a autoria de uma opinião ao astronauta Neil Armstrong? Explique.
NÃO. Na primeira passagem, as aspas foram utilizadas somente para indicar que foi Armstrong quem disse que a porta se abria. Suas duas falas seguintes, porém, refletem opiniões particulares sobre a sensação provocada pelos primeiros passos no solo lunar, algo que somente quem pisou naquela superfície poderia descrever; e sobre a impressão provocada pela paisagem lunar. Armstrong usa o recurso da comparação com algo terrestre conhecido para descrever o que vê a seus interlocutores. É interessante observar a preocupação do astronauta em afirmar a beleza do que via, como se temesse ser mal interpretado pela comparação feita.

06 – Em alguns momentos, podemos identificar passagens descritivas no texto. A primeira delas aparece já no primeiro parágrafo. Qual a importância da descrição em uma notícia como esta?
      A descrição é essencial em uma notícia como essa, porque o fato relatado é algo inimaginável para os leitores. Trata-se da primeira vez que um homem pisa na Lua. Tudo o que acontece, portanto, é novo. Ao recorrer à descrição, o autor do texto oferece imagens que auxiliam os leitores a reconstituírem, mentalmente, os movimentos dos astronautas e, assim, a criarem representações visuais para o que aconteceu naquele histórico momento.


segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

MÚSICA(ATIVIDADES): DEUS E EU NO SERTÃO - VICTOR E LÉO - COM GABARITO

Música(Atividades): Deus e Eu No Sertão

                                        Victor e Léo
Nunca vi ninguém
Viver tão feliz
Como eu no sertão
Perto de uma mata
E de um ribeirão
Deus e eu no sertão

Casa simplesinha
Rede pra dormir
De noite um show no céu
Deito pra assistir
Deus e eu no sertão

Das horas não sei
Mas vejo o clarão
Lá vou eu cuidar do chão

Trabalho cantando
A terra é a inspiração
Deus e eu no sertão
Não há solidão

Tem festa lá na vila
Depois da missa vou
Ver minha menina

De volta pra casa
Queima a lenha no fogão
E junto ao som da mata
Vou eu e um violão
Deus e eu no sertão.

Entendendo a canção:
01 – Qual a temática apresentada pela música?
      Trata da felicidade que é viver no sertão.

02 – Em algum momento da história a vida no campo foi como a música diz?
      Sim. Até as décadas de 1960 à 1970.

03 – Ocorreram transformações no campo? Qual?
      Sim. A mecanização do campo.

04 – Que tipo de sentimentos a música despertou em você?
      Resposta pessoal do aluno.

05 – Você vê a vida no campo, conforme relata a música?
      Resposta pessoal do aluno.

06 – Como você vê a relação do eu lírico com Deus na letra?
      Resposta pessoal do aluno.

07 – Observe o trecho da música “Deus e eu no sertão”:
      “Das horas não sei
       Mas vejo o clarão
       Lá vou eu cuidar do chão.”
a)   No verso: “Das horas não sei”, a frase se encontra em que ordem?
Ordem indireta.

b)   Reescreva o verso acima na ordem direta.
Não sei das horas.

c)   A ordem indireta é mais ou menos sonora do que a direta?
A ordem indireta é mais sonora.

08 – Releia a seguinte estrofe, e explique com suas palavras o que você entendeu do verso destacado:
      “Casa simplesinha
       Rede pra dormir
       De noite um show no céu
       Deito pra assistir.”
      Resposta pessoal do aluno.

a)   No verso: “casa simplesinha”, o diminutivo negritado, significa que se trata de uma casa suja, desorganizada, mal cuidada? Explique.
Não. Significa uma casa pobre, simples e não tem nada a ver com mal cuidada.

09 – Como se caracteriza o eu lírico da música “Deus e eu no sertão?”
      Ele se caracteriza como uma pessoa feliz, pois no sertão ele encontra a paz, vive com humildade, admirando a natureza, sendo que o trabalho no campo é prazeroso e diante desta calmaria ele sente a presença divina “Deus”, por isso não sente solidão.

10 – A música faz descrições de lugares:
a)   Como são caracterizados os lugares na música?
São caracterizados poeticamente, pois vive perto da mata; do ribeirão; dorme na rede; a terra é sua inspiração; vai à missa e tem um violão.

b)   Como se sente o eu lírico diante desse quadro?
Se sente feliz com a calmaria no sertão, onde sente a presença Deus, por isso nunca está sozinho.

11 – Apesar da canção “Deus e eu no sertão” não ser um texto árcade ela possui características bem próximas do Movimento Literário Arcadismo. Identifique na música versos que ilustrem as seguintes características árcades:
a)   Valorização da vida no campo (fugere urbem) - Fugir da cidade.
A música fala de uma vida simples, longe da correria das grandes metrópoles.

b)   Simplicidade (aurea mediocritas).
Uma casa simplesinha, uma rede pra dormir e um fogão de lenha.

c)   Proximidade com a natureza.
Mostra os elementos da natureza como: o sol a lua e as estrelas e o contínuo contato do homem com a natureza.



MÚSICA(ATIVIDADES): SEIO DE MINAS - PAULA FERNANDES - COM GABARITO

Música(Atividades): Seio de Minas

                                       Paula Fernandes
Eu nasci no celeiro da arte
No berço mineiro
Sou do campo, da serra
Onde impera o minério de ferro

Eu carrego comigo no sangue
Um dom verdadeiro
De cantar melodias de Minas
No Brasil inteiro

Sou das Minas de ouro
Das montanhas Gerais
Eu sou filha dos montes
Das estradas reais

Meu caminho primeiro
Vi brotar dessa fonte
Sou do seio de Minas
Nesse estado, um diamante

Eu nasci no celeiro da arte
No berço mineiro
Sou do campo, da serra
Onde impera o minério de ferro

Eu carrego comigo no sangue
Um dom verdadeiro
De cantar melodias de Minas
No Brasil inteiro

Sou das Minas de ouro
Das montanhas Gerais
Eu sou filha dos montes
Das estradas reais

Meu caminho primeiro
Vi brotar dessa fonte
Sou do seio de Minas
Nesse estado, um diamante.

Entendendo a canção:
Após realizar a leitura da letra da música, faça o que se pede:
01 – Grife as rimas presentes na letra da música.
      Gerais, reais, fonte, diamante, Mineiro, verdadeiro, inteiro, primeiro.

02 – Observe o mapa do Brasil abaixo:



        O estado representado no mapa pela cor verde é o mesmo mencionado na música. Qual o nome dele?
      Minas Gerais.

03 – Quais são as riquezas naturais e minerais que esse estado possui, de acordo com a música?
      Serra, ferro, ouro, campo, monte, fonte, diamante.

04 – A pessoa que fala na música compara o seu estado com uma joia. Que joia é essa?
      Ela compara o estado com o ouro.

05 – Qual é o local em que a personagem reside, de acordo com a música? Copie o verso que comprova isso.
      Ela reside no campo: “... sou do campo da serra...”.

06 – Qual é o significado do título da música? Explique.
      Seio – centro de Minas.

07 – Qual é o tema da música? Justifique.
      Uma pessoa que sente orgulho do seu estado e canta sobre as riquezas que ele possui.

08 – Faça um poema sobre seu estado contando sobre suas riquezas e seus sentimentos por morar nele. Não esqueça de dar um título interessante ao seu texto.
      Resposta pessoal do aluno.


TEXTO: DO LUGAR ONDE A VIDA É DE MENTIRA E DOS MUITOS PAPÉIS - COM GABARITO


Texto: Do lugar onde a vida é de Mentira e dos muitos papéis

 Amados irmãos do vasto mar, muito teria o vosso humilde servo a vos contar para conhecerdes a verdade sobre a Europa. Para tanto, minha fala precisaria ser tal qual a cachoeira que corre da manhã à noite e, mesmo assim, não seria possível contar tudo pois a vida do Papalagui assemelha-se à vida do mar cujo princípio e fim jamais se pode ver com exatidão. A vida do Papalagui tem tantas ondas quanto o mar, a grande água, e pode ser tempestuosa, movimentada, sorridente, sonhadora. Tal qual homem algum conseguiria retirar a água do mar com o oco da mão, também não me é possível trazer-vos o grande mar que é a Europa com a pequenez do meu espírito.
        Mas não quero deixar de vos contar, pelo menos, que assim como o mar não existe sem água, assim não pode haver vida na Europa sem a vida de mentira [...].
        O lugar da vida de mentira! Não é fácil explicar-vos como é esse lugar que o Branco chama cinema; explicar-vos tão claramente que vos seja fácil compreender. Em todas as aldeias da Europa, existe est lugar misterioso, mais procurado do que a casa do missionário; que faz sonhar até as crianças e ocupa o seu espírito.
        O cinema é uma cabana maior do que a maior cabana de chefe de Upolu; muito maior até. Escura, mesmo durante o dia, e tão escura que ninguém conhece quem está perto; tão escura que se fica cego quando se entra e mais cego ainda quando de novo se sai. Por esta cabana as pessoas arrastam-se ao longo das paredes, às apalpadelas, até vir uma moça com um fogo na mão a fim de leva-los até onde há lugar. Os Papalaguis ficam sentados uns junto dos outros, na escuridão, sem se enxergarem; e a sala escura fica cheia de gente, todos calados; cada um sentado numa tábua estreita; e todas as tábuas estão dispostas na direção de uma mesma parede.
        Desta parede, embaixo, digamos assim, de uma garganta profunda, vem um zumbido, um barulho; e assim que os olhos se acostumam à escuridão, vê-se um Papalagui que, sentado, luta com um baú, batendo nele com os dedos abertos, batendo numas linguetas brancas e pretas, muitas linguetas, que o grande baú vai apresentando; e cada lingueta range alto, com vozes diferentes cada vez que é tocada, de tal forma que produz guinchos selvagens desordenados, tal qual uma briga na aldeia.
        Este barulho todo é para desviar nossos sentidos, para enfraquece-los, a fim de acreditarmos no que estamos vendo e não duvidamos de que é verdade. Na parede brilha um raio de luz, dando a impressão de uma lua cheia, onde se veem pessoas, de verdade, que parecem Papalaguis de verdade, vestidos como eles, movendo-se, andando para cá e para lá, correndo, rindo, saltando, tal qual existem em todos os lugares da Europa. É como se fosse a imagem da lua na lagoa, é a lua e não é; é apenas cópia. [...]
        Mas é certo que estes homens na parede são homens de mentira, não são homens de verdade. Se eu pudesse agarrá-los, ver-se-ia que são feitos apenas de luz, que não é possível pegar neles. Servem somente para mostrar ao Papalagui todos os seus prazeres e pesares, suas tolices e fraquezas. [...]
        Estas imagens sem vida, que não respiram, dão ao Papalagui muito contentamento. Nesta sala escura, ele pode se iludir com uma vida de mentira, sem sentir vergonha, sem ser visto pelos outros. O pobre faz-se de rico, o rico faz-se de pobre; o enfermo julga-se sadio, o fraco julga-se forte. Na escuridão, cada um vive uma vida de mentira, que jamais viveu, nem viverá na realidade.
        Entregar-se a esta vida de mentira tornou-se uma verdadeira paixão para o Papalagui. Tão grande, às vezes, que o faz esquecer de sua vida de verdade. É doentia esta paixão porque o homem saudável não vive a vida de mentira numa sala escura; vive a vida real, com calor, ao sol claro.

                 Scheurmann, Erich. O Papalagui: comentários de Tuiávii,
               Chefe da tribo Tiavéa, nos mares do sul. 7. ed. São Paulo:
                                             Marco Zero, s/d. p. 79-81. (gragmento).
Interpretação do texto:
01 – O texto apresenta a fala de um chefe samoano, Tuiávii. A quem ele se dirige?
      Tuiávii dirige-se a ‘seus irmãos”, ou seja, a outros nativos da ilha de Samoa.

a)   No caderno, copie do texto as passagens em que se pode identificar a quem se dirige Tuiávii.
Há diferentes passagens em que a presença dos ouvintes de Tuiávii é marcada: “Amados irmãos do vasto mar, muito teria o vosso humilde servo a vos contar para conhecerdes a verdade sobre a Europa”; “não me é possível trazer-vos o grande mar que é a Europa”; “não quero deixar de vos contar”; “Não é fácil explicar-vos como é esse lugar que o Branco chama cinema; explicar-vos tão claramente que vos seja fácil compreender”.

b)   Que termos, nessas passagens, marcam a presença dos ouvintes de Tuiávii no texto?
Além de um vocativo, observamos que a presença dos ouvintes de Tuiávii é marcada pelo uso de pronomes de 2ª pessoa do plural e de um verbo flexionado na mesma pessoa.

02 – Tuiávii procura descrever, de modo minucioso, algo que viu na Europa. O que está sendo descrito por ele?
      Tuiávii descreve o cinema. Considerando o momento em que Tuiávii teria passado pela Europa, trata-se de uma sessão de cinema mudo.

a)   Tuiávii utiliza uma expressão criada por ele para fazer referência àquilo que descreve. Que expressão é essa?
Segundo Tuiávii, o cinema é “o lugar da vida de mentira”.

b)   Essa expressão traduz algum juízo de valor? Por quê?
Sim. Quando define o cinema como “lugar da vida de mentira” o chefe samoano deixa clara a sua reprovação em relação à ilusão de realidade criada pelo cinema.

03 – Um mesmo recurso é utilizado por Tuiávii em várias descrições. Leia:
        [...] Minha fala precisaria ser tal qual a cachoeira que corre da manhã à noite e, mesmo assim, não seria possível contar tudo pois a vida do Papalagui assemelha-se à vida do mar cujo princípio e fim jamais se pode ver com exatidão.
a)   Que recurso é esse? Transcreva no caderno os trechos em que o recurso é empregado.
O recurso presente no trecho citado é a comparação: “minha fala precisaria ser tal qual a cachoeira que corre da manhã à noite”; “a vida do Papalagui assemelha-se à vida do mar”.

04 – Além do recurso identificado na questão anterior, um outro também está muito presente na fala do chefe samoano. Observe e trecho destacado.
        [...] não me é possível trazer-vos o grande mar que é a Europa [...].
a)   Que recurso foi usado?
No caso da passagem contada, Tuiávii recorre a uma metáfora e apresenta a Europa como um “grande mar”.

05 – Os dois recursos linguísticos utilizados por Tuiávii são figuras de linguagem. Por que ele recorre com tanta frequência a essas figuras, em seu texto?
      Logo no início do terceiro parágrafo Tuiávii afirma: “Não é fácil explicar-vos como é este lugar que o Branco chama cinema; explicar-vos tão claramente que vos seja fácil compreender”. A razão de ele recorrer a metáforas e comparações é justamente esta: criar referências visuais conhecidas dos samoanos para que eles tenham alguma base para elaborar representações visuais para aquilo que desconhecem.

06 – A leitura do texto permite concluir que Tuiávii tem um objetivo claro ao descrever, para seus irmãos samoanos, o “lugar onde a vida é de mentira”. Que objetivo é esse?
      A intenção de Tuiávii é criticar o comportamento do Papalagui. Como ele diz, logo no início, pretende que seus “amados irmãos” conheçam “a verdade sobre a Europa”. O chefe samoano constata que o Papalagui extrai grande prazer em viver uma vida de mentira, criada pela ilusão do cinema. Mas, para Tuiávii, “É doentia esta paixão porque o homem saudável não vive a vida de mentira numa sala escura; vive a vida real, com calor, ao sol claro.”

a)   Podemos afirmar que a opinião de Tuiávii explicita um conflito de valores. Explique.  
Ao longo da descrição que faz, por meio das comparações e metáforas que utiliza, Tuiávii parece exaltar tudo o que diz respeito à natureza e condenar os artefatos tecnológicos do Papalagui, que fazem com que ele mergulhe na fantasia, permitindo-se viver uma vida de ficção. Na perspectiva do chefe samoano, nada pode substituir a vida real, a natureza, e valorizar artefatos que sirvam somente para criar essa ilusão é uma grande tolice.



REPORTAGEM : SEM EMBURRECER - REVISTA VEJA - COM GABARITO

Texto: Sem Emburrecer    

  
  Não são todos os desenhos que desrespeitam a inteligência das crianças.
    Já se escreveu muita besteira sobre como os desenhos animados e as séries de televisão fazem mal para as crianças. Se isso fosse verdade, toda geração hoje na faixa dos 30 anos, que cresceu diante de aparelhos de TV, seria formada por seres limítrofes. [...] No Cartoon Network, da TV por assinatura, há vários desenhos novos, produzidos pelo próprio canal, cujo principal objetivo é entreter crianças e adolescentes, sem no entanto subestimar a inteligência deles. O melhor, e o que faz mais sucesso, chama-se O Laboratório de Dexter. Mas A Vaca e o Frango e As Meninas Superpoderosas também são ótimas surpresas.
        Criado por Gendy Tartakovsky, [...] O Laboratório de Dexter tem como principal triunfo a caracterização dos personagens centrais, o casal de irmãos Dee Dee e Dexter. Ela gosta de dançar. Ele adora ciências, e esconde nos subterrâneos de seu quarto um laboratório cheio de engenhocas avançadas. Mas nenhum deles se define apenas por esses traços. Eles são como crianças de verdade, e crianças de verdade, como se sabe, não são só cândidas e inocentes. Dexter, por exemplo: sua irritação com Dee Dee, que não para de invadir seu espaço, rende momentos engraçadíssimos. [...]
        Todos esses desenhos têm em comum o fato de brincar com o universo cultural das crianças dos dias de hoje. Há referências constantes, por exemplo, aos seriados japoneses, com seus monstrengos, guerreiros-robôs e super-heróis. Em outras palavras, um personagem como Dexter ajuda o espectador mirim a digerir de maneira mais esperta e bem-humorada a dieta de assuntos que a internet, a televisão e a publicidade lhe proporciona. Não se trata exatamente de fazer sátira de costumes, como no caso dos Simpsons. Mas aquilo que os professores chamam de “espirito crítico” não está ausente desses programas. “Fico louco da vida quando alguém que nunca assistiu a desenhos animados diz que eles emburrecem as crianças”, afirma Tartakovsky. Ele tem toda razão.

          Veja. São Paulo: Abril, ano 33, n. 1645, 16 abr. 2004. (Fragmento).
Interpretação do texto:

01 – O texto transcrito trata de uma questão polêmica: os supostos malefícios causados às crianças pelos desenhos animados. Qual a opinião apresentada na reportagem a respeito desse assunto?
      Segundo a reportagem, nem todos os desenhos animados fazem mal às crianças e adolescentes ou desrespeitam a inteligência deles.

a)   Que argumentos são utilizados no primeiro parágrafo para sustentar esse ponto de vista?
O primeiro argumento utilizado é o de que “toda geração hoje na faixa dos 30 anos, que cresceu diante de aparelhos de TV, seria formada por seres limítrofes”, se fosse verdade o fato de que os desenhos animados prejudicam as crianças.
O segundo é uma referência aos desenhos novos, produzidos pelo canal Cartoon Network, destinados a crianças e adolescentes. Tais programas entretêm sem subestimar a inteligência do público infantil.

02 – Quais são, segundo o texto, os aspectos que fazem com que os desenhos analisados contribuam para a formação de crianças e adolescentes?
      Segundo o texto, desenhos como os citados brincam com o universo cultural das crianças de hoje, fazendo referências constantes a assuntos que chegam ao conhecimento infantil via internet, televisão ou publicidade. Personagens como Dexter ajudam a criança a “digerir de maneira mais esperta e bem humorada” a quantidade de informações que recebe diariamente, já que o espírito crítico é parte integrante desse tipo de desenho animado. Além disso, em O Laboratório de Dexter, as personagens centrais, os irmãos Dee Dee e Dexter, são caracterizados como crianças de verdade, isto é, não são apenas “cândidas e inocentes”, mas apresentam traços como irritação ou desrespeito ao espaço do outro.

03 – O título já anuncia o ponto de vista que será defendido na reportagem. Explique.
      O título Sem emburrecer já indica que, na reportagem, será contestada a ideia de que os desenhos animados podem ser nocivos às crianças. O uso da preposição sem, que indica negação, associada ao verbo emburrecer, sugere a posição defendida na reportagem: nem todos os desenhos e programas destinados às crianças subestimam a inteligência delas.

a)   A palavra emburrecer, apresentada no título, exemplifica um determinado processo de formação de palavras. Qual é ele? Justifique.
Emburrecer é um verbo formado por derivação parassintética. Ao radical burr-, foram acrescentados, simultaneamente, o prefixo em- e o sufixo –ecer, dando origem ao termo usado no título do texto.


CRÔNICA: FOFOCA, UMA OBRA SEM AUTOR - MARTHA MEDEIROS - COM GABARITO

CRÔNICA: FOFOCA, uma obra sem autor
                      Martha Medeiros

   O próprio som da palavra dá a ela um certo ar de frivolidade. Fofoca, mexerico, coisa sem importância. Difamação é crime, mas fofoca é só uma brincadeira.

           O que seria da vida sem um bom diz-que-me-diz-que, não?
        Não. Dispenso fofocas e fofoqueiros. Quando alguém se aproxima de mim, segura no meu braço e olha para o lado antes de começar a falar, já sei que vem aí uma lama que não me diz respeito. Se não tiver como fugir, deixo que a indiscrição entre por um ouvido e saia pelo outro, dando assim o pior castigo para o meu interlocutor: não passarei adiante nem uma palavra.
        Não recuso uma olhada na revista Caras, especialista em entregar quem come quem, quem traiu quem faliu, quem casou, quem separou. É a única publicação do gênero que passa alguma credibilidade, porque sei que os envolvidos foram escutados, deram declarações por vontade própria, deixaram-se fotografar. São fofocas profissionais, consentidas e quase sempre assinadas. Fofoca anônima é que é golpe baixo.
        A fofoca nasce da boca de quem? Ninguém sabe. Ouviu-se falar. É uma afirmação sem fonte, uma suspeita sem indício, uma leviandade órfã de pai e mãe. Quem fabrica uma fofoca quer ter a sensação de poder. Poder o quê? Poder divulgar algo seu, ver seu “trabalho” passado adiante, provocando reações, mobilizando pessoas. Quem dera o criador da fofoca pudesse contribuir para a sociedade com um quadro, um projeto de arquitetura, um plano educacional, mas sem talento para tanto, ele gera boatos.
        Quem faz intrigas sobre a vida alheia quer ter algo de sua autoria, uma obra que se alastre e cresça, que se torne pública e que seja muito comentada. Algo que lhe dê continuidade. É por isso que fofocar é uma tentação. Porque nos dá, por poucos minutos, a sensação de ser portador de uma informação valiosa que está sendo gentilmente dividida com os outros. Na verdade, está-se exercitando uma pequena maldade, não prevista no Código Penal. Fofocas podem provocar lesões emocionais. Por mais inocente ou absurda, sempre deixa um rastro de desconfiança. Onde há fumaça há fogo, acreditam todos, o que transforma toda fofoca numa verdade em potencial. Não há fofoca que compense. Se for mesmo verdade, é uma bala perdida. Se for mentira, é um tiro pelas costas.

                          Medeiros, Martha. Almas gêmeas, 20 set. 1999. Disponível em:
                                                                    http://almas.terra.com.br/martha/martha_2D_09.htm/
                                                                                                 Acesse em: 7 dez. 2005. 
Interpretação do texto:
01 – Para tratar da fofoca, a autora do texto cria uma metáfora. Qual é ela?
      Martha Medeiros diz que a fofoca é uma “obra sem autor.”

a)   Que argumentos são utilizados, no texto, para justificar essa metáfora?
Para justificar a ausência de autoria de uma fofoca, o argumento utilizado é o fato de não ser possível identificar a fonte da fofoca. A fofoca seria gerada pelo desejo de quem a criou de ter uma “obra” sua comentada por todos, de ter seu “trabalho” divulgado, “provocando reações, mobilizando pessoas”, assim como ocorre com as obras de arte.

b)   Por que, segundo o texto, a fofoca é tentadora?
Porque daria ao seu autor a sensação de poder, de “ser portador de uma informação valiosa que está sendo gentilmente dividida com os outros.”

c)   No final do terceiro parágrafo, a autora do texto deixa clara a sua opinião sobre aqueles que produzem fofocas. Qual é ela?
A autora considera os fofoqueiros pessoas sem talento que, incapazes de contribuir para a sociedade com obras realmente significativas, acabam produzindo boatos.

02 – Releia:
        “Não há fofoca que compense. Se for mesmo verdade, é uma bala perdida. Se for mentira, é um tiro pelas costas.”
a)   Nesse trecho, há outras duas metáforas para a fofoca. Quais são elas?
“Bala perdida” e “Tiro pelas costas”.

b)   O que significa cada uma delas, considerando o contexto?
No primeiro caso, a metáfora faz referência à inutilidade da fofoca caso o que se conte seja verdade, já que não será uma afirmação fundamentada, mas sim uma exposição “maldosa” de algo ocorrido com outra pessoa.
A segunda metáfora sugere a relação de semelhança entre a fofoca e uma traição, um ato covarde, que impossibilita a defesa da vítima.

c)   Explique de que maneira as metáforas destacadas contribuem para fortalecer a crítica da autora sobre o assunto tratado.
Ao tratar a fofoca como uma “obra sem autor”, uma “bala perdida” e “um tiro pelas costas”, Martha Medeiros enfatiza o caráter inútil, covarde e traiçoeiro de criar ou reproduzir fofocas.