Poema: O guardador de rebanhos – Fragmento II e IX
Alberto Caeiro
II – O Meu
Olhar
O meu olhar é nítido como um
girassol.
Tenho o costume de andar pelas
estradas
Olhando para a direita e para
a esquerda,
E de vez em quando olhando
para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu
tinha visto,
E eu sei dar por isso muito
bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao
nascer,
Reparasse que nascera
deveras...
Sinto-me nascido a cada
momento
Para a eterna novidade do
Mundo...
Creio no mundo como num
malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso
nele
Porque pensar é não
compreender ...
O Mundo não se fez para
pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos
olhos)
Mas para olharmos para ele e
estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia: tenho
sentidos...
Se falo na Natureza não é
porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por
isso,
Porque quem ama nunca sabe o
que ama
Nem sabe por que ama, nem o
que é amar ...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não
pensar...
IX – Sou um
guardador de rebanhos
Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus
pensamentos
E os meus pensamentos são
todos sensações.
Penso com os olhos e com os
ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é vê-la e
cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o
sentido.
Por isso quando num dia de
calor
Me sinto triste de gozá-lo
tanto.
E me deito ao comprido na
erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado
na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.
Entendendo o poema:
01
– Qual a principal característica do olhar do eu lírico?
O olhar do eu
lírico é nítido, inocente e presente no momento. Ele se compara a um girassol,
sempre voltado para a luz, e tem a capacidade de ver o mundo com a mesma
maravilha de uma criança.
02
– Qual a relação entre o olhar e o pensar para o eu lírico?
Para o eu lírico,
pensar é uma atividade que distancia o indivíduo da experiência direta do
mundo. Ele prefere olhar e sentir, pois acredita que o pensamento pode nublar a
percepção da realidade.
03
– Qual a importância da natureza para o eu lírico?
A natureza é a
fonte de toda a sua sabedoria e alegria. Ele se conecta com ela através dos
sentidos, encontrando na simplicidade das coisas a maior complexidade.
04
– O que significa "amar é a eterna inocência" para o eu lírico?
Amar, para o eu
lírico, é uma experiência pura e livre de julgamentos. É aceitar o mundo como
ele é, sem questionamentos, com a mesma inocência de uma criança.
05
– Qual a metáfora central deste fragmento?
A metáfora central é a
comparação entre os pensamentos do eu lírico e um rebanho. Seus pensamentos são
como ovelhas que ele guia, e cada sensação é uma ovelha individual.
06
– Como o eu lírico pensa?
O eu lírico pensa
com todos os seus sentidos. Para ele, pensar é uma experiência sensorial e não
uma atividade puramente intelectual.
07
– Qual a relação entre o corpo e a mente no pensamento do eu lírico?
Corpo e mente são
inseparáveis para o eu lírico. Ele pensa com o corpo inteiro, e suas sensações
são a base de seu conhecimento.
08
– Qual o estado de felicidade alcançado pelo eu lírico?
A felicidade do eu lírico
surge da conexão profunda com a realidade. Ao se deitar na grama e sentir seu
corpo, ele experimenta uma sensação de plenitude e verdade.
09
– Qual a crítica implícita à forma tradicional de pensar?
O eu lírico critica o pensamento racional e abstrato, que o
afasta da experiência concreta do mundo. Ele defende uma forma de conhecimento
mais intuitiva e sensorial.
10
– Qual a principal característica do eu lírico presente em ambos os fragmentos?
A principal
característica é a sua capacidade de maravilhamento diante do mundo. Ele vê a
vida com olhos de criança, apreciando a simplicidade e a beleza das coisas.
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