Notícia: À luz das sombras
Uma mancha negra gigantesca escureceu e
apavorou Nova York. Era o ano de 1915 e acabara de ser erguido o primeiro
arranha-céu da cidade, o Equitable Building, com 40 andares. A sombra projetada
pelo prédio de 166 metros, na época o mais alto do mundo, engolia quatro
quarteirões, escurecia edifícios que o cercavam e deixava sem luz até pequenas
fazendas que ainda existiam na região. Os nova-iorquinos se enfureceram,
temendo que a cidade fosse devorada pelas sombras caso os construtores de
Manhattan decidissem seguir o modelo estabelecido pelo Equitable. O protesto
dos moradores resultou numa lei que regulamentou a altura das construções. A
partir de 1916, com o surgimento de um plano diretor, edifícios passaram a ser
projetados com um recuo à medida que os andares ficavam mais altos, levando-se
em consideração as sombras que eles não poderiam fazer nos vizinhos – daí a
origem da arquitetura característica da cidade, visível em construções como o
Empire State Building, que afina quanto mais alto fica.
O episódio da metrópole apavorada pela
penumbra descreve bem a má reputação que as sombras carregam. De um eclipse
lunar a uma silhueta se esgueirando sobre uma parede, as sombras sempre foram
consideradas entidades estranhas, cercadas de mistério, superstição e medo. Na
Guerra do Peloponeso, por exemplo, o general ateniense Nícios permitiu que suas
tropas fossem capturadas pelos espartanos após se recusar a bater em retirada
durante um eclipse lunar. Para os nativos da ilha de Wetar, na Indonésia, se a
silhueta de uma pessoa levar um golpe, ele certamente ficará doente nos dias
seguintes. Na África Subsaariana, o povo Songhay acredita que a sombra pode ser
atacada, roubada e até devorada em algum macabro ritual de bruxaria.
Mas o que exatamente são as sombras?
Essa é uma pergunta que nos fazemos desde crianças, quando ainda não somos
capazes de respondê-la. Um experimento realizado pelo psicólogo suíço Jean
Piaget revelou que a maneira como as crianças percebem as sombras varia de
acordo com a idade. A partir dos 5 anos, tendem a achar que são feitas do mesmo
material que a noite – a escuridão. Depois, entre os 6 e 8 anos, acreditam que
sejam objetos materiais. Só mais tarde, a partir dos 9 anos, é que elas
percebem que as sombras são fruto da relação entre os objetos e a luz. Já é
algo muito próximo do que entendemos quando nos tornamos adultos: sombras são
áreas escuras onde a luz foi bloqueada. E, apesar do costume de utilizarmos
esse conceito apenas quando vemos uma borda entre o claro e o escuro, essa
definição pode ser facilmente aplicada à noite, uma enorme sombra que ocupa o
céu por cerca de 12 horas do dia.
Superinteressante, ed. 201, jun. 2004.
Fonte: Português – José
De Nicola – Ensino médio – Volume 1 – 1ª edição, São Paulo, 2009. Editora Scipione.
p. 216.
Entendendo a notícia:
01
– A história de Nova York em 1915 demonstra uma preocupação com as sombras que
ultrapassa a mera estética. Qual a relação entre o medo das sombras e o
desenvolvimento urbano daquela época?
Essa pergunta incentiva
a reflexão sobre como os aspectos culturais e sociais influenciam a percepção e
o tratamento de fenômenos naturais, como as sombras, e como isso pode impactar
decisões urbanísticas.
02
– A crença de que as sombras podem ser atacadas ou roubadas é comum em diversas
culturas. Como você explica a persistência dessas crenças ao longo da história
e em diferentes sociedades?
Respostas pessoal do aluno.
Sugestão: A questão busca entender a dimensão simbólica e cultural das sombras,
explorando as razões pelas quais elas são associadas a conceitos como medo, mal
e o sobrenatural.
03
– O experimento de Jean Piaget revela diferentes estágios na compreensão das
sombras pelas crianças. Qual a importância de entender como as crianças
percebem o mundo para a educação e o desenvolvimento cognitivo?
A pergunta
direciona o foco para a psicologia do desenvolvimento, explorando a relação
entre a percepção das sombras e o desenvolvimento do pensamento abstrato nas
crianças.
04
– A notícia menciona a noite como uma "enorme sombra que ocupa o
céu". Essa metáfora pode ser estendida para outras áreas do conhecimento?
De que forma a noção de sombra pode ser utilizada para representar conceitos
abstratos?
Essa pergunta
incentiva a reflexão sobre o caráter metafórico das sombras, explorando suas
possíveis aplicações em diversas áreas, como a literatura, a filosofia e a
arte.
05
– A arquitetura de Nova York foi influenciada pela preocupação com as sombras.
Existem outros exemplos na história da arquitetura onde as sombras
desempenharam um papel importante na concepção dos edifícios?
A pergunta busca
explorar a relação entre a arquitetura e a luz, mostrando como as sombras podem
influenciar a forma e a função dos espaços construídos.
06
– As sombras são frequentemente associadas ao medo e ao desconhecido. No
entanto, elas também podem ser utilizadas para criar efeitos estéticos e
expressivos na arte e na fotografia. Como você explica essa dualidade da
sombra?
Essa questão
explora a natureza ambígua das sombras, mostrando como elas podem evocar tanto
emoções negativas quanto positivas.
07
– A notícia menciona a má reputação das sombras. No entanto, a ciência nos
permite compreender a formação das sombras de forma racional. Como você
concilia a explicação científica com as crenças e mitos associados às sombras?
A pergunta busca
promover uma reflexão sobre a relação entre a ciência e a cultura, explorando
como o conhecimento científico pode coexistir com as crenças e mitos que fazem
parte da história da humanidade.
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