Poema: A escrita
Sophia de Mello Breyner Andresen
No Palácio Mocenigo onde viveu
sozinho
Lord Byron usava as grandes
salas
Para ver a solidão espelho por
espelho
E a beleza das portas quando
ninguém passava.
Escutava os rumores marinhos do
silêncio
E o eco perdido de passos num
corredor longínquo
Amava o liso brilhar do chão
polido
E os tectos altos onde se
enrolam as sombras
E embora se sentasse numa só
cadeira
Gostava de olhar vazias as
cadeiras.
Sem dúvida ninguém precisa de
tanto espaço vital
Mas a escrita exige solidões e
desertos
E coisas que se veem como quem
vê outra coisa.
Pudemos imaginá-lo sentado à sua
mesa
Imaginar o alto pescoço espesso
A camisa aberta e branca
O branco do papel as aranhas da
escrita
E a luz da vela – como em certos
quadros –
Tornando tudo atento.
Sophia de Mello Breyner Andresen. Poemas escolhidos. (Organização Vilma
Arêas) São Paulo: Companhia das Letras, 2004, p. 261.
Fonte: Linguagem em
Movimento – língua Portuguesa Ensino Médio – vol. 1 – 1ª edição – FTD. São
Paulo – 2010. Izeti F. Torralvo/Carlos A. C. Minchillo. p. 91.
Entendendo o poema:
01
– Qual a principal imagem que o poema evoca e como ela se relaciona com a
escrita?
A principal
imagem evocada é a de Lord Byron em seu palácio, cercado por um grande espaço
vazio. Essa imagem simboliza a solidão e o isolamento necessários para a
criação artística. A escrita, assim como Byron em seu palácio, precisa de um
espaço próprio, livre de distrações, para que a imaginação possa fluir
livremente.
02
– Quais os sentidos que o poeta utiliza para descrever o ambiente em que Byron
escrevia?
O poeta utiliza
principalmente os sentidos da visão e da audição. A visão é explorada através
da descrição do palácio, das salas, das portas, do chão e dos tetos. A audição
é evocada pelos "rumores marinhos do silêncio" e pelo "eco
perdido de passos". Essa combinação de sentidos cria uma atmosfera rica e
detalhada, transportando o leitor para o ambiente em que Byron escrevia.
03
– Qual a importância da solidão para o processo criativo, de acordo com o
poema?
A solidão é fundamental para
o processo criativo, segundo o poema. Os "desertos" e as "coisas
que se veem como quem vê outra coisa" são elementos essenciais para a
escrita. A solidão permite que o escritor se conecte com seu mundo interior e
explore as profundidades de sua imaginação.
04
– Como a imagem da vela e do papel branco contribui para a compreensão do ato
de escrever?
A imagem da vela e do papel
branco representa a fragilidade e a intensidade do ato de escrever. A vela, com
sua luz tênue, simboliza a inspiração e a ideia que se acende na mente do
escritor. O papel branco, por sua vez, é uma tela em branco, pronta para
receber as palavras que darão vida à criação. A combinação dessas duas imagens
cria uma atmosfera intimista e concentrada, própria do momento da escrita.
05
– Qual o papel da memória e da imaginação na construção do poema?
A memória e a imaginação desempenham um papel fundamental na
construção do poema. O poeta se baseia em relatos sobre a vida de Lord Byron
para criar uma imagem vívida do poeta em seu ambiente de trabalho. Ao mesmo
tempo, ele utiliza a imaginação para preencher as lacunas e criar uma atmosfera
poética e sugestiva. A combinação de memória e imaginação permite que o poeta
construa um retrato rico e multifacetado do ato de escrever.
Nenhum comentário:
Postar um comentário